sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
-
cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Palin vs Clinton



Tina Fey as Sarah Palin in the last "Saturday Night Live". Boy, that's was funny...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O homem-bolha

"(...) O homem cria bolhas para viver (...), refugiado de tudo, escondido de si. Bolhas de lã, bolhas de lona, bolhas de cabedal, bolhas de seda e polyester, de cimento e tijolo, de ferro e aço, de vidro e plástico, bolhas de ar, invisíveis, bolhas imaginárias e intocáveis, bolhas que não existem, virtuais, paranóicas e esquizofrénicas... O homem vive num tubo de ensaio a ensaiar-se a si próprio."

Alex Weytjens
do texto "Conversas (interiores) de café",
23.12.2005
(in Os Cadernos do Gaspar, vol. I)

sábado, 20 de setembro de 2008

When i'm coming to town












Pois é, quando chego ao Luxemburgo, é sempre assim. Obrigado aos papparazzis do site www.goodidea.lu :-)))

Rodange: flash to my past 1973-1984

Regresso ao passado, algo perturbador. A minha aldeia natal, entalada entre três fronteiras, transfigura-se.
A antiga escola primária Ecole des Garçons mudou de nome, chama-se "Neiwiss" agora. A escola está a ser renovada, os arredores estão em obras, toda a localidade está a mudar.
Construiram um centro desportivo no largo onde montavam a quermesse, onde eu pescava patinhos de plástico e onde eu aprendi a andar de bicicleta. O forte e o comboio em madeira do parque infantil onde eu brincava foram arrasados, substituidos por balancés e escorregas ergonómicos de cores ultra-berrantes e modernas, onde náo vi nenhuma criança. A mini-cascata que para mim parecia imensa foi abaixo e no lugar está um parque de estacionamento. Já ninguém se detém diante da velha locomotiva mineira, vestígio do património siderúrgico local, antes admirada, hoje grafitada impunemente.
A casa da minha infância foi demolida. Era um velho hotel, com salão de baile e tudo, no canto da rue de la Gendarmerie com a route de Longwy (n°67), que teve os seus tempos auréos no princípio do século passado. O que poderia ter sido considerado património municipal não foi recuperado. No local está a nascer uma residência com vários apartamentos. Uma residência igual a que foi construída no terreno baldio em frente, onde jogava à bola, à barra, às escondidas, ao apanha com os meus primeiros amigos, o Mário, o Narciso, o Tó-Luís, o Miguel, o Rui, a Chantal, o Jerôme...

sábado, 13 de setembro de 2008

"E pur si muove"

"Velhos do Restelo com os seus maus augúrios obscurantistas virão sempre tentar deter o progresso. 'E no entanto, ela move-se...'. Galileu não falava apenas da Terra, mas da Humanidade. E apesar de haver saltos para trás, estamos aqui para nos compreendermos, para entedermos este calhau e o universo que o rodeia. E se no final nada tiver sentido, isso terá dado sentido às nossas vidas. Foi o que pensou por certo Galileu e todos os Galileus do nosso tempo. Felizmente que os há ou ainda estaríamos a riscar paredes toscas com sangue de boi."


Comentário que deixei a 13.09.08, 7h58, no site do Público a propósito dos comentários iluminados de certos fanáticos que gritam histéricos que não se deve tocar no universo nem "chatear" Deus, reagindo assim à colocação em funcionamento do acelerador de partículas sub-atómicas (LHC) na quarta-feira em Genebra.

A maior máquina do mundo criada pelo Homem foi construída a 100 metros de profundidade no subsolo entre a fronteira suíça e francesa, envolve o trabalho de 6 mil cientistas de todo o mundo e visa recriar as condições do universo um bilionésimo de segundo após o Big Bang. É também o lugar mais frio do sistema solar e do universo conhecido, onde a temperatura atinge os 271,25 graus negativos, perto do zero absoluto. Nesses tubos com 60km de circunferência as partículas de hadrões (partículas sub-atómicas regidas por uma interacção forte) foram lançadas a uma velocidade muito próxima da velocidade da luz (299 792 458 metros por segundo) para se tentar entender como nasceu o universo e a primeira pulsão de matéria.
Os detractores do projecto avisam que se os cientistas perderem o controlo sobre o LHC, este pode explodor e criar um buraco negro que aspirará primeiro o planeta Terra e depois todo o sistema solar, incluindo o sol.

O LHC foi construído a 100 metros de profundidade no subsolo entre a fronteira suíça e francesa e começou a funcionar no dia 10.09.2008

Hannah - Belle ou la nouvelle libertine


O Gaspar que há em mim descobriu hoje uma série inglesa deliciosa: Secret Diary of a Call Girl.

Hannah (a actriz e cantora Billie Piper) veste todos os dias, várias vezes por dia, a pele de Belle. "Prostituta, escort lady, pêga, puta, dama de companhia, call girl, é apenas uma questão de semântica", como ela própria se apresenta.

Hannah não se droga, não foi violada quando era criança, não provém de uma família destroçada. "Sou preguiçosa, gosto de ser a minha própria patroa...ah, e gosto de sexo!", afirma peremptória, alegre e assumidamente. Belle não tem tabus no sexo, está sempre pronta a concretizar as fantasias mais dementes e loucas dos seus clientes. Estes revelam-se, no entanto, mais humanos que tarados sexuais. Demasiado frequentemente ao gosto de Hannah, que prefere ser amante profissional do que confidente. E é aqui que Belle quase deixa cair a máscara ao afirmar: "Prefiro os clientes com quem sou uma pessoa completamente diferente de mim, quanto mais diferente melhor". Por detrás daquele desembaraço libertino todo de Belle, - que destoa do flegma britânico de alguns dos seus clientes e essas cenas têm muita piada - há afinal a miúda - Hannah - que tem medo que os pais e o melhor amigo descubram a profissão que exerce.

A vida deverá levá-la a compreender que a separação dessas gémeas siamesas não é assim tão fácil (nem salutar) e que ela é as duas na mesma pessoa e que é isso que deve assumir. Belle tem um corpo esculpido para o pecado, Belle tem olhar de criança. Hannah e Belle. Aliás, penso que a escolha dos dois nomes da personagem principal pelos argumentistas da série não foram inocentes, já que se conjugam na perfeição para dar origem a uma terceira, evolução/fusão das duas primeiras: Annabelle.

Só vi dois episódios, mas é isto que adivinho sejam as cenas dos próximos capítulos... Juro que não li o livro em que a série se inspira (teria gostado, por certo!), escrito ao que sei por uma anónima cujo pseudónimo era "Belle de Jour" e retraçaria a sua própria experiência de vida. Em Portugal saiu um livro semelhante há um par de anos que obteve muito sucesso. Bom, mas não é por adivinhar o que se segue que vou deixar de ver a série. É a única novidade neste segmento após Sex in the City e Nip/Tuck. Isto agora só torna a coisa ainda mais interessante. "A beleza não está no destino, mas no caminho", não é o que preconiza o velho adágio filosófico? Será que Confúcio estaria a pensar nas séries ligeiramente picantes do princípio do século XXI quando aventou esta máxima? Gosto de pensar que na sua extrema e omniconsciente clarividência que sim ;-)

Hanna ou Belle... ou prefere two in one, Annabelle?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Da Arquitectura III : Luxembourg - Biennale di Architettura di Venezia

Luxemburgo promove debate sobre arquitectura europeia e mundial

O Luxemburgo está representado na XI Bienal Internacional de Arquitectura de Veneza, que abre hoje e decorre até 23 de Novembro, com a mostra "Pontos de vista. 4 perguntas. 44 respostas". A exposição propõe uma plataforma de debate crítico em torno da arquitectura europeia e mundial. Doze 12 referências do mundo da arquitectura europeia respondem a quatro perguntas sobre como vêem arquitectura actualmente. Dizem os organizadores - a Fundação Luxemburguesa da Arquitectura e o Ministério da Cultura - que com as respostas pretendem "repensar a estratégia urbanística e arquitectónica do Grão-Ducado", por forma a "criar a identidade e a cultura arquitectónica de uma sociedade em vias de globalização". I surely hope so!

No pavilhão quer-se ainda da obra "LX Architecture - Contemporary Architecture from the Heart of Europe", que sem ser exaustiva apresenta 75 obras do país e é já considerada uma referência a nível nacional (32 pág., 400 fotos, disponível em inglês, francês, alemão e chinês).


"L'onde" no Fort Lambert restaurado (parc de la ville), cidade do Luxemburgo (Foto: JLC)

"Stroossefestival Stroossen" - 12 e 13 de Setembro

Zap Mama e Claudine Muno
no festival de rua de Strassen

Zap Mama, Claudine Muno & The Lunaboots e Nouvelle Vague são três dos grupos cabeças-de-cartaz do "Festival de Rua de Strassen" que a zona central daquela localidade recebe na sexta e no sábado.

Além da "world music" da belgo-zairense Zap Mama (antes uma banda, hoje apenas constituído pela cantora Marie Daulne) e da pop acidulada dos luxemburgueses Claudine Muno & The Lunaboots, no total são 40 grupos de música e companhias de artistas, saltimbancos, malabaristas, acrobatas e funâmbulos que vão invadir as ruas de Strassen com concertos, animações, teatro e artes circenses.

Lançado em 2002 e organizado de dois em dois anos, o Festival de Rua de Strassen, ou "Stroossefestival Stroossen", regressa para uma quarta edição, num evento que é já passagem obrigatória para moradores da localidade e zonas circundantes. A festa começa sexta-feira, dia 12, a partir das 19h, e prolonga-se pela noite dentro, na zona junto ao edifício da comuna e na mega-tenda "Blues", montada para a ocasião no parque Barblé contíguo ao recinto.

Do cartaz musical fazem ainda parte bandas como Nouvelle Vague (new wave/França), KMG's (acid-jazz/Bruxelas), Trio Philip Catherine (jazz/Bélgica), entre outros. À semelhança do ano passado, a banda soul luxemburguesa FunkyP estará presente na tenda "Blues". É aí que, ao fim da noite, amantes e DJs de música electrónica encontrarão asilo.

Os que preferirem um programa alternativo devem dirigir-se na sexta, pelas 19h, ao Centro Cultural Paul Barblé, onde os organizadores propõem o espectáculo musical patético-cómico intitulado "Furioso", que nos traz de França a troupe "Framboise frivole". No dia seguinte, à mesma hora, o grupo de teatro "De Spiegel" exibe o musical infantil "Tuishi Pamoja", que conta a história de uma amizade entre uma girafa e uma zebra. Mais informações e pormenores em www.strassen.lu, na internet.

JLC, in Contacto, 10.09.08

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Da Arquitectura II

ArQuiTeCtura
...
"(...) não é inspiração mas transpiração."

arquitecto Eduardo Souto Moura, in "Expresso", 06.09.08

Dancing House in Prag....wishing the same architectural boldness for Luxembourg!


Pudessem os arquitectos deste calhau alcantilado ser assim tão inspirados e arrojados. Debalde vou esperando.

Du caractère

"Il faut avoir beaucoup de caractèrepour ne jamais le montrer."

("Le huitième prophète", p. 141, Franz-Olivier Giesbert)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Reading Monte-Cristo

Estou, de momento, a ler "O Conde de Monte-Cristo", numa velha edição da colecção Europa-América comprada num alfarrabista de Estói este Verão.
Já não me lembrava do cheiro característico destes livros e de como se despedaçam nas nossas mãos se os abrimos demais. Nem de tudo tenho saudades...

Mas é bom voltar a mergulhar nesta colecção das minhas primeiras leituras, em que descobri maravilhado a(s) literatura(s). Nos anos 80, eu não tinha dinheiro para primeiras edições e livros de capa dura, não havia de toda a maneira muitas outras colecções de bolso e foi a maneira mais barata de correr alguns clássicos. Ainda tenho nesta colecção Os Maias (já todos desfiados) que comprei quando andava no liceu. Os meus primeiros livros do Pessoa, Alexandre Herculano, Nietzsche, Kafka, Edgar Allan Poe e Charles Dickens, estes dois últimos num precioso volume de Contos Vitorianos que a EA decidiu em boa hora publicar. E até a República e o Crítias de Platão, quando andava na minha fase "Atlântida". E claro Alexandre Dumas. Foi com ele que fui Mosqueteiro e Tulipa Negra, antes de ser, ...muitos anos mais tarde... Indiana Jones.

Volto agora a deixar deliciar-me pelo seu universo, pela sua maneira de contar, de dizer as coisas. Ao lado, tenho uma versão francesa, que vou esporadicamente folheando para apreciar o trabalho do tradutor dos anos 70...

Já há tanto tempo que andava a protelar esta leitura. O Conde de Monte-Cristo é daqueles livros que havia posto há muito anos de lado e dissera de mim para mim: "É para ler mais tarde", mas acabei por nunca ter tempo para ele, como para muitos outros, aliás. Mas a este...vou fazer-lhe justiça.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Visita guiada ao Museu Nacional de História Militar, em Diekirch + Influências portuguesas no Luxemburgo durante a Segunda Guerra Mundial

"Não glorificamos a guerra, cultivamos o dever de memória"

Visitei um dos espaços museológicos ainda desconhecidos por muitos no Luxemburgo: o Museu Nacional de História Militar, em Diekirch.

O lugar é já muito frequentado por luxemburgueses mas igualmente por estrangeiros (cerca de 30 mil visitantes anuais). Estes últimos fogem, no entanto, às características habituais do turista que o país costuma acolher. Vindos sobretudo da Bélgica, Holanda, Alemanha, e um terço de mais longe ainda, dos Estados Unidos, são soldados veteranos, muitos já octogenários, que num périplo peregrino até ao Grão-Ducado com filhos, netos e até bisnetos, encetam um regresso ao passado comovente e por vezes doloroso. Voltam com o desejo de pisar o solo do país que libertaram entre 1944 e 1945 do jugo nazi, querem ver se reconhecem sítios e lugares, se se cruzam com rostos familiares, ao mesmo tempo que recordam onde caíram irmãos de armas.

Fundado em 1982 por um grupo de amadores, o Museu Militar de Diekirch especializou-se na memória da Batalha das Ardenas (de 16 de Dezembro de 1944 a 25 de Janeiro de 1945), dos aliados libertadores e dos luxemburgueses que a seu lado combateram. E por extensão, com o passar dos anos, a instituição passou a ser a referência em termos de história militar nacional, ou não fosse a cidade ainda hoje dotada de uma guarnição e de uma escola militar no Herrenberg vizinho. A visita a este museu faz aliás parte da formação de base dos recrutas.

Roland Gaul, curador e fundador do museu, começa por esclarecer: "Nas visitas guiadas, sobretudo quando se trata de turmas de jovens, a primeira mensagem que lhes é transmitida é que este não é um lugar para glorificar a guerra, mas para cultivar o dever de memória. Recordamos e contamos às novas gerações o que aconteceu para que a História não se repita". Na visita guiada, somos conduzidos por Roland Gaul e por Daniel Jordão, um jovem luso-descendente, membro e colaborador científico benévolo da instituição (ver artigo infra).

A guerra em tamanho real

Ao entrarmos, algo que logo nos interpela são os "dioramas" – quadros fidedignos de momentos quotidianos da Batalha das Ardenas, com manequins vestidos a rigor, material, máquinas, veículos e armas da época em tamanho real.

Um dos quadros onde os visitantes mais se detêm é o que recria o Dia de Acção de Graças festejado pelas tropas norte-americanas no Luxemburgo no Inverno de 1944 e em que se pode ver um peru recheado a ser assado num fogão improvisado e os soldados a confraternizarem com a população local.

Mais à frente, o maior diorama do museu reconstitui a difícil travessia do rio Sûre para a libertação definitiva de Diekirch, em Janeiro de 1945, operação conduzida num dos Invernos mais rigorosos de que há memória, com temperaturas que chegaram aos 23 graus negativos. Uma recriação apenas possível graças ao generoso donativo, em 1987, de 200 mil dólares por parte de um milionário americano, Harry Gray, ele próprio mobilizado nas Ardenas em 1945 [n.d.R.: Gray foi um dos administradores da "United Technologies Corporation", conglomerado que constrói elevadores (OTIS) mas também helicópteros e motores de avião (para a Boeing e para o exército americano, por exemplo)].

"Os quadros foram conseguidos através de um minucioso trabalho de reconstituição a partir de fotos, documentos e entrevistas com particulares e soldados veteranos", explica-nos Roland Gaul. O responsável faz questão de frisar que estas são sempre "representações ponderadas", ou seja, quer se trate de representar soldados alemães, aliados ou a população civil, "a preocupação é sempre de o fazer com a máxima objectividade possível".

Numa das salas foi recriado um campo de prisioneiros soviético onde as tropas vermelhas haviam detido luxemburgueses que envergavam uniformes nazis, mas que haviam sido alistados à força. "Infelizmente os luxemburgueses eram incapazes de se fazer entender pelos soldados russos e ficaram presos até ao fim da guerra", conta.

"Os visitantes gostam sobretudo de ficar a conhecer as histórias humanas, de saber o que pensava o soldado anónimo, como vivia o dia-a-dia na frente de combate, o que comia, como fazia para sobreviver perante as condições rudes e os ataques inimigos. Interessam-se curiosamente também pelo conteúdo das rações. Por exemplo, gostam de ver exemplares das chicletes, das barras de chocolate e das garrafas de Coca-Cola que faziam parte de algumas das rações dos soldados americanos, produtos que estes partilhavam com os autóctones, que não conheciam ainda alguns desses alimentos", revela.

Reduto da História Militar Nacional

O museu reparte-se sobre quatro andares, num total de 3.200 m2, e tem 28 mil artigos catalogados, distribuídos por diversas exposições temáticas. Patente está, por exemplo, uma colecção de todos os uniformes usados até hoje pelas tropas grã-ducais, desde a Primeira Guerra Mundial até às recentes missões humanitárias e de paz. "O próprio grão-duque Jean, o antigo soberano, doou já uniformes seus ao museu", frisa orgulhoso Roland Gaul. Muito do vasto espólio militar exposto foi aliás doado pelo Exército luxemburguês.

O numeroso material bélico distribui-se não só pelas exposições temáticas mas igualmente num dos primeiros hangares em que o visitante penetra e que mais parece de um armazém militar, o que, desde logo, impressiona. São peças de artilharia ligeira e pesada usadas na Segunda Guerra Mundial, blindados alemães, tanques, jeeps americanos, pára-quedas, um exemplar da máquina "Enigma" (utilizada pelos Alemães para enviar mensagens codificadas durante a guerra), material médico e de transmissão, velhas metralhadoras, bazucas, espingardas, revólveres, munições, obuses, granadas, entre outros.

Estes dois últimos items são aliás dos mais doados pela população civil (depois de o Exército intervir para proceder à sua desactivação, como foi o caso nos últimos dias com bombas da Segunda Guerra Mundial encontradas na estrada CR342, em Hosingen, e no campo de futebol Op Flohr, em Grevenmacher), que ainda hoje, mais de 60 anos depois do fim da guerra, os vão encontrando semi-soterrados em caminhos florestais ou de cada vez que alguém escava fundações para construir uma casa. Segundo o curador, há quase todas as semanas doações de bens familiares da época da guerra, como capacetes, botas militares, fotos, correspondência, etc.

O museu dispõe de 15 mil documentos, entre livros e fotos, que estarão brevemente disponíveis ao público na futura biblioteca e no centro de documentação, as duas novas secções em preparação.

Dado o excesso de material que lhes é trazido, é de bom grado que o responsável direcciona os doadores para os outros três museus que tratam igualmente da Segunda Guerra Mundial, cada um com a sua especificidade: o Museu da Resistência, em Esch/Alzette, o da Deportação, em Hollerich, e Museu o da Segunda Guerra Mundial, propriamente dita, em Ettelbruck.

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Segundo Daniel Jordão, colaborador do Museu Militar
"Estamos a repensar o museu"

Daniel Jordão é um dos colaboradores do Museu Nacional de História Militar de Diekirch (ver artigo principal) e está, em conjunto com o curador Roland Gaul e a restante equipa de voluntários, a repensar a forma de dispor todo o espólio recorrendo a formas mais modernas, suportes audiovisuais, apresentações mais interactivas. "Há demasiado material exposto, é preciso fazer escolhas criteriosas para as visitas não se tornarem fastidiosas", explica.

Informático de profissão, o jovem luso-descendente de 28 anos interessou-se pela Segunda Guerra Mundial durante uma viagem à Normandia, quando viu nomes luxemburgueses inscritos nas placas comemorativas que celebravam o Dia do Desembarque (Dia D: 6 de Junho de 1944).

"Afinal havia luxemburgueses no Desembarque?". Daniel quis saber mais e percebeu que esse aspecto era um dos menos documentados na história luxemburguesa. Contactou o Museu de Diekirch e disponibilizou-se para dar o seu contributo benévolo. Confia que o que o motiva é tentar entender como jovens, como ele, fizeram na altura para "fazer face à situação e resistir ao invasor". Nos seus tempos livres, à noite ou ao fim-de-semana, lê tudo o que pode sobre o assunto. Para o museu, entrevista veteranos, filma testemunhos, recolhe arquivos privados. Além disso, efectua pesquisas precisamente sobre os antigos combatentes luxemburgueses que lutaram ao lado dos aliados, em uniforme francês ou inglês, que pertenciam à Resistência ou que participaram no Desembarque.

"Conhecer o passado, os horrores da guerra, para saber dar valor à actual paz em que vivemos", conclui Daniel, recordando palavras do pai. Este esteve quase três anos em Moçambique, durante a guerra colonial portuguesa, integrado na Segunda Companhia de Fuzileiros. Palavras que até podem nem ter sido ditas assim a Daniel, mas que já transportavam uma mensagem importante: a do dever de memória.

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Portugal e o Luxemburgo na Segunda Guerra Mundial

Influências portuguesas

A história do Luxemburgo durante a Segunda Guerra Mundial também se cruz a com destinos portugueses, em pelo menos duas ocasiões: a fuga da Grã-Duquesa Charlotte para o exílio, em 1940, e a promessa feita a Nossa Senhora de Fátima, em 1945, por um grupo de moradores de Wiltz.

Bastante conhecidos são os laços de sangue que unem as casas reais luxemburguesa e portuguesa. O grão-duque Henri é bisneto da sexta filha de D. Miguel I de Portugal, Mariana de Bragança, nascida na Áustria (em 1861) após o pai ter sido exilado pelo irmão D. Pedro I (em 1834). Mariana viria a casar com o grão-duque Guillaume IV do Luxemburgo em 1893, do qual teve duas filhas, ambas grã-duquesas: Adelaïde, soberana de 1912 a 1919, e Charlotte, que reinou de 1919 a 1964.

As famílias permanecem aliás bastante próximas. Ainda em Agosto, os duques de Bragança gozaram uma semana de férias com os primos do Grão-Ducado, na casa de férias que a família grã-ducal tem na Côte d'Azur.

A Grã-Duquesa Charlotte e o cônsul Sousa Mendes

Menos conhecido é o facto de a Grã-Duquesa Charlotte, ao escapar do Luxemburgo em 1940 para não ser capturada pelo ocupante alemão, se ter dirigido ao Consulado de Portugal em Bordéus, na esperança de obter um visto para Lisboa, considerada a única porta de saída na Europa em guerra. O visto foi-lhe emitido pelo cônsul português em posto, Aristides de Sousa Mendes.

Com o visto, a grã-duquesa, o príncipe Jean (futuro grão-duque) e alguns membros do Governo luxemburguês conseguiram chegar à capital portuguesa e dali exilar-se em Londres.

Porque escolheu a grã-duquesa o Consulado português? Teria ouvido o rumor de que aquela chancelaria estava a passar vistos de forma indiscriminada, sem olhar a quem, de maneira a salvar o maior número possível de fugitivos do jugo nazi?

Salazar, preocupado em manter a neutralidade portuguesa, havia dado a Sousa Mendes ordens claras: "não passar vistos a apátridas, judeus (...) e estrangeiros com nacionalidade indefinida". O diplomata teria decidido desde 1939 contrariar a ordem. "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus", dissera. Atitude que lhe valeu a ira de Salazar e a posterior demissão do posto. O "cônsul injustiçado", como ficou conhecido, é hoje considerado pelo Estado de Israel como um dos "Justos", por ter salvo igualmente a vida de muitos judeus que fugiam aos nazis.

Terá Sousa Mendes chegado a saber que estava a salvar uma descendente da coroa portuguesa, ter-lhe-á a grã-duquesa dito que era neta de D. Miguel ou essa conversa nunca aconteceu? Mais... terão o grão-duque Jean e o Governo luxemburguês pensado nessa "dívida" a Portugal quando decidiram em 1970 assinar um contrato com o Governo português que abria as portas do Grão-Ducado à imigração lusa?

A Promessa

A 13 de Janeiro de 1945, numa das derradeiras operações da Ofensiva das Ardenas (ver artigo principal), Wiltz ocupada pelos nazis viu-se cercada no meio dos combates. Dez pessoas refugiam-se na cave do Presbitério e prometem erigir no sítio "op Bässent" um santuário em honra de Nossa Senhora de Fátima, se escaparem ilesos. As tropas alemães retiram-se sete dias mais tarde, derrotadas pelos aliados.

Em 13 Setembro de 1947, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, em visita ao Grão-Ducado, passa por Wiltz. Uma primeira missa é celebrada no alto do monte, na presença de sete mil pessoas: luxemburgueses, franceses e belgas. Nesse dia é colocada a primeira pedra do futuro santuário. Segundo noticiava o Luxemburger Wort da altura, o bispo do Luxemburgo, Joseph Philippe, teria agradecido a vinda da santa ao país, como se fosse o retribuir da visita que a Grã-Duquesa Charlotte fizera a Portugal em 1940, na sua fuga a caminho de Londres. O santuário viria a ser terminado em 1952 e consagrado a 13 de Julho desse ano pelo bispo Léon Lommel.

Mas é só nos anos 60, quando os primeiros imigrantes portugueses chegam ao país, que descobrem a existência do santuário. A primeira peregrinação acontece em 1968. Quatro anos depois, o arcebispo Jean Hengen oferece à paróquia de Niederwiltz uma imagem de Nossa Senhora, o que veio reforçar a devoção dos peregrinos. Desde daí, anualmente, no Dia da Ascensão, Wiltz enche-se de milhares de portugueses vindos dos quatros cantos do Luxemburgo e dos países vizinhos.

José Luís Correia, in Contacto, 03.09.08

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Carta do meu sobrinho ao senhor Vladimir

Carta do meu sobrinho ao senhor Vladimir

Nestas últimas semanas, o meu sobrinho tem- -me feito bastantes perguntas sobre a guerra de que ouve falar na televisão, referindo-se à escalada militar que se tem vivido no Cáucaso.

Comecei por lhe mostrar, num mapa, onde se situavam a Geórgia, a Ossétia do Sul, a Abcásia e a Rússia. Tentei depois explicar-lhe, em termos simples, o que estava em questão. A influência que a Rússia, saudosista da potência da era soviética, não quer perder naquela região, por onde passam oleodutos e gasodutos, pormenores que não o são. O direito de cada povo que se sente nação, como parece ser o caso dos ossetas e dos abecases, de aspirar à independência. A integridade territorial de um país como a Geórgia que não pode ser violada. A diplomacia inteligente a que a UE e os Estados Unidos terão de fazer apelo se se pretendem moderadores numa crise política que pode conduzir, no melhor dos casos, a uma Segunda Guerra Fria, e, no pior dos cenários, a um conflito armado de grande escala, que pode inclusive estender-se ao resto da Europa.

Guerras houve que começaram por menos. Enfim, não é fácil explicar a uma criança uma crise internacional da qual nem os analistas políticos entendem bem todos os contornos e muito menos podem prever o que dali pode advir?

No fim da minha explicação, o meu sobrinho fitava-me com grande olhos e acenou positivamente com a cabeça como se tivesse entendido tudo. Confesso que pensei que o tivesse apenas feito para eu ficar por ali com a minha complicada lição de política internacional. "Coisas de gente grande...", deve ter pensado. Imaginei que para ele a questão estivesse terminada e tivesse voltado às suas ocupações de criança.

Mas não. Dias mais tarde, entregou-me um envelope fechado, pedindo-me para o meter no correio. No lugar do remetente, podia ler-se: "Para o senhor Vladimir Putin, chefe da Rússia". Intrigado, não resisti a abrir a carta, que passo a transcrever:

"Senhor Vladimir,

Eu sempre gostei muito da Rússia porque quero ser cosmonauta pois um dia li num livro que o primeiro homem que foi ao espaço era russo e eu também quero fazer como ele quando for grande.

Mas hoje tou zangado com a Rússia porque não percebo porque o senhor quer fazer guerra com os seus vizinhos e até com nós os europeios
. [dixit]

O meu tio disse que podia haver guerra fria e guerra quente. Eu só percebi que nem uma nem outra são coisas boas porque podem matar muitas pessoas de verdade, pois não é como na playstation em que temos muitas vidas.

Mas compreendi bem que todos querem o petróleo porque é com isso que se faz a gasolina para os carros. Só não entendo porque todas as pessoas se queixam que a gasolina está cara, mas todos continuam a comprar carros a gasolina? Tenho que perguntar ao meu tio...

O senhor não acha que o petróleo chega para toda a gente? O meu pai e a minha mãe dizem-me sempre que é preciso saber partilhar. Um dia, um menino da minha escola esqueceu-se da lancheira e a professora Alice pediu-nos para partilharmos com ele. Se cada um de nós lhe desse um bocadinho da nossa merenda, disse ela, não nos fazia diferença e ele também podia lanchar nesse dia. Eu dei-lhe algumas das minhas bolachas e apesar de nesse dia ter comido menos, sentia-me mais contente.

Por isso não percebo como o senhor, que mora num país tão grande, mais grande que o Luxemburgo e até que a América (eu fui ver ao mapa!), não quer partilhar o petróleo que vem do mar. A professora Alice explicou-nos que a paz no Mundo só será possível quando toda a gente entender que as coisas que a Natureza nos dá, não pertencem a um só país mas a toda a Humanidade. Ou o senhor não gosta da paz?

Eu quero a paz, porque assim posso ser amigo de todos e já não há brigas no recreio e um dia mais tarde todos os cientistas do mundo podem juntar-se e fazer naves mais super-tecnológicas para podermos todos viajar no espaço e descobrir novos mundos a quem podemos ensinar a paz".

Mais palavras para quê? As crianças têm o dom natural de simplificar o que os adultos teimam em codificar e complicar. Reflexão feita..., e porque não? Colei um selo, corrigi a morada e enfiei a carta num marco de correio.

JLC, in Contacto, 03.09.08

terça-feira, 2 de setembro de 2008

The future of civilization



Theoretical physicist Michio Kaku speculates on the future of civilization. This was downloaded at itunes as a free Discovery channel video pocasts. He talks about the inevitability of a type 1 culture, language, political system and why is our generation the most important to walk the face of earth. I think this clip forms part of the movie "2057".

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Tempête

Tempête

Un crépuscule de juillet. Il pleut comme à la fin du monde.

J’expérimente les eaux et le froid sur mon corps.

De petites mers se déversent en de grandes gorgées dans le caniveau,

le vent fuit les impasses, le tonnerre traverse le ciel hanté et moi ma vie.

Si tu étais ici maintenant, me sentirais-je plus heureux ?

Si tu m’enlaçais en cette heure, aurais-je encore peur ?

Le ciel impénétrable oublie le monde trempé…

Et toi, où es-tu ? Enroulée dans ton gilet en laine, lisant mon livre, à la lumière de l’abat-jour ? As-tu déjà écouté l’eau ?

L’océan s’ouvre à l’envers et chaque goutte cherche le sol comme le salut,

têtes penchées les arbres nettoient lourdement leur visage sur l’asphalte,

des silhouettes dans la pénombre passent comme des fantômes à mes pieds.

Sans défense sous la pluie, le vent cherche mon échine,

la voûte céleste se déchire

sur mes tempes, chaque goutte qui m’atteint à quelle vitesse tombe-t-elle,

à quelle vitesse explose-t-elle sur ma peau ?

La douleur, après le cri. Le nef céleste se tord en convulsion,

une clarté fugace rompt l’arc. Ce n’est pas Dieu agacé,

ne sont pas les nuages qui se déchargent, ce n’est pas le cycle se perpétuant.

C’est le ciel voulant se voir, comme Narcisse, au miroir.

Moi aussi, j’ai découvert le chemin me menant vers toi.

Je ne me suis tout simplement pas encore décidé à le prendre.


JLC/07.2003

Jihad

Jihad

Les pointes des étoiles brûlent la lune rouge qui croît
Le ciel en feu griffe le visage bleu
d'Orient arrivent de nouveaux rois mages du mot,
mais tout ce qui brille n'est pas d'or.
J'entends le vacarme des batailles qui ont commencé
quand les eaux du déluge n'avaient même pas encore séché
les terres. Aujourd'hui, c'est le sang qui ne séche plus.

Et moi, apeuré par les nouvelles invasions barbares
et les promesses vides que le crépuscule renferme
je me cache derrière la croix d'or indigo, j'assiste aux fous sans dire mot
et ils me poussent vers l'abîme.
La caravane impassible passe, pendant que les chiens n'aboient pas,
se préparent. Je sens l'odeur du désert.
Je suis assoiffée de mandarines d'argent, d'ivoire,
de cannelle, de menthe psychotique et de safran.

Avec mes bagages je dégringole
les escaliers de l'hotel
mes burnes bourrés à rabord.
Je comprends enfin que l'enfant est otage de la perfection,
que la sérénité et la clareté de l'impasse sombre,
que sont l'idéalisme dogmatique et acnéique,
dépendent uniquement de l'égotisme, de la tolérance
et de la lutte qui doit toujours commencer du dedans
avec ma propre jihad.

Ce n'est ni une faute, ni un recul.
C'est prendre de l'élan, un horizon plus grand,
pour sauter plus loin.

Socrates pointe son nez à ma porte
et répète qu'il ne sait rien sur rien.
Je regarde ma montre de éon
les flèches de l'Halocène clignotent
la brise du matin retarde ses ailes.
La nuit grise et brumeuse va encore s'attarder.

AGW aka JLC 140807

Bullet proof

Bullet proof

Quand je ferme les yeux

la douleur disparaît

le bruit s’éteint

le monde se tait

j’oublis le corps immonde


je ne vois plus le cratère noir et nauséabond que la balle à laissé sur ma poitrine

le trou putride sur ma nuque par ou on m’a arraché le cœur

les images sordides ne me tourmentent plus le cerveau en décomposition

les vils instants ne grouillent plus sur mes paupières comme des insectes dégueulasses

l’abject venin ne m’immobilise plus le sang souillé dans mes artères


je m’étends sur le drap blanc sur la table de la cuisine

à sang froid, je rebrousse ma peau, je tire les veines,

j’extrait tout le poison qui reste dans les blessures encore ouvertes

dans la bassine le sang averse et haineux dégouline en pus perfide


je secoue l’enveloppe maculée

je l’expose à la lumière du jour

je prends une aguille d’argent

et je recous les trous béants

le corps purifié et prêt

pour d’autres


et si je fermais les yeux à cette vitesse

maintenant sur l’autoroute ?

ni même mil hordes d’anges en furie

accrochés à mes bras

ne me sauverait de moi-même !


AGW aka JLC 140807

échafaud II

échafaud II

quand l’épée te traverse aussi soudainement, tu la sens toujours?

quand la dague s’est plantée tellement profondément que tu ne sais plus si c’est de la douleur , ressens-tu toujours le coup porté?

quand le sang te coule encore chaud des mains, le reconnais-tu comme tien?

quand tu n’entends plus le vaccarme du coup de feu e que tu constates le trou noir sur ta poitrine fumante, est-ce le moment opportun pour savoir que tu dois mourir?

quand le brûlis dévaste une nouvelle fois la terre est qu’elle n’est plus combustible, que reste-t-il à brûler?

quand tu perds pied e que tu sais que la mer va te remplir la gueule et les narines et les orbites des yeux, es-tu encore en vie pour penser à tout celá?

quand le désert te brûle les poumons avec sa poussière, as-tu encore soif?

quand tu passes en vol plané par le dixième étage en fonçant droit sur le sol, sens-tu encore tes veines qui pulsent à l’envers?

quand tu te désintègres en un seul souffle d’explosion, que deviens-tu?

quand le soleil se noircit e il ne fait plus jour ni nuit, où es-tu?

quand tous te disent que tu es un monstre, dois-tu continuer à vivre?

Docilement, tu t’agenouilles devant tes bourreaux,

les yeux bien ouverts tu aperçois la vérité dans les leurs,

tu couches ta tête sur le bout de poutre

tu remets ta nuque à la justice

la foule en délire se taît haletante

le ciel respire une, deux fois,

pendant quelques brefs instants tu as la sensation que tu arrives a entendre le soleil qui brûle.

Soudain, tu n’entends ni ne sens plus rien.

La main de l’ange est-elle intervenue pour toi, stoppant net le dernier instant?

Tu peux lever les yeux?

Si ton sang ne coule pas autour de toi, est-ce bon signe?

S’il n’y a plus de foule, ni de lame, ni de ciel,

et que le soleil est noir e qu’il ne fait plus jour ni nuit, où es-tu?



AGW aka JLC 170807