sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Madredeus na Abadia de Neumünster: 20 anos a cantar a alma portuguesa

É a quarta vez que os Madredeus actuam no Luxemburgo Fotos: Guy Wolff
O grupo português com o maior reconhecimento internacional – os Madredeus – , passou pelo Grão-Ducado, no seu quarto concerto memorável neste país, desta feita no Grund, num lugar de encanto: o adro da Abadia de Neumünster.

Cantam Lisboa, a alma e a poesia portuguesa. Uma guitarra portuguesa alada (José Peixoto), uma viola clássica sublimada (Pedro Ayres Magalhães), um baixo providencial (Fernando Júdice) e teclas inspiradas (Carlos Maria Trindade) enquadram a composição para uma voz única e inconfundível, a de Teresa Salgueiro.

Um domingo ao entardecer, num cenário idílico. Os Madredeus são o grupo português mais internacional de sempre e a prová-lo, mais uma vez, foi o público – 1.200 pessoas das mais diferentes nacionalidades e origens – que assistiu no domingo ao concerto no adro da Abadia de Neumünster, no Grund, no âmbito do Festival OMNI 2006, promovido pelo Centro Cultural de Encontro (CCRN).

É a quarta vez que os Madredeus passam pelo país, do qual guardam a boa recordação do concerto em Wiltz, em 2000, e do primeiro, em 1992, "porque era uma das duas primeiras actuações que faziamos fora de Portugal", conta-nos Pedro Ayres Magalhães, mentor do grupo.

"Do palco, não fazemos distinções entre o público. É normal em Paris ou no Luxemburgo haver mais portugueses do que noutras cidades, mas os portugueses até costumam ser a minoria. A obra do grupo – temos cerca de 120 canções –, continua a ser pouco conhecida, mesmo se o nome é famoso!", lamenta Pedro Ayres, mentor e membro-fundador do grupo.

Lisboa e Teresa

Os Madredeus são uma fantasia musical erudita de raiz genuinamente portuguesa, segundo uma definição de Pedro Ayres. Move o grupo o culto da composição em português. A grande fonte de inspiração é Lisboa. Mas também a própria Teresa Salgueiro.

"Fazemos música para guitarra, para a voz da Teresa e para ser cantada em português", explica o guitarrista. Virtuoso, para quem o soube apreciar no domingo, e que continua a ser, 20 anos depois da criação do grupo, o principal letrista e compositor das canções.

Em 20 anos mudaram muito? "Não mudámos, evoluímos!", corrige. E acrescenta: "Cultivámos um estilo, apurámos, sofisticámos um tipo de encenação, a solenidade nos concertos, a importância da voz, da poesia e da guitarra clássica".


"Madredeus é uma orquestra de bolso", diz Pedro Ayres Magalhães
"Os Madredeus querem estimular o conhecimento da cultura portuguesa através de um reportório musical versátil, familiarizar os povos do mundo com a nossa língua e a nossa nação. Motiva-nos também criar uma expressão da diáspora portuguesa no Mundo. Já o conseguímos de certa maneira, mas devíamos continuar nesse sentido. Ainda não chegámos a essa fase, não sei se vamos conseguir fazê-lo... O que falta também à obra dos Madredeus é criar descendência, outros grupos com uma arte como a nossa. Mas não nos cumpre a nós fazer isso...", diz o líder do grupo, com saudades do futuro.

Esta "orquestra de bolso", como Pedro Ayres lhe costuma chamar, "já atingiu tudo ou quase tudo o que havia para atingir".

"Em termos de popularidade e de reconhecimento internacional conseguimos o que nenhum outro grupo português conseguiu. Fizemos música para cinema (n.d.R.: Wim Wenders e Maria de Medeiros, por exemplo), tocámos com orquestras, em catedrais, em salas das mais prestigiadas do mundo. Em Portugal, somos um dos grupos cujos concertos mais bilhetes vendem e mesmo a nível europeu, somos os únicos no nosso género a tocar em 36 países há 20 anos."

Actualmente, todos os elementos do grupo evoluem noutros projectos colectivos ou a solo. O único a dedicar-se totalmemte aos Madredeus é Pedro Ayres, que foi também quem teve a ideia de criar o grupo em 1986. E lembra a génese, para juntar ao mito do grupo: "Quando eu andava em concerto pelo país (n.d.R.: leia-se, no tempo dos Heróis do Mar), via os teatros fechados e fiquei com vontade de criar um grupo com guitarras acústicas que pudesse tocar nesses sitíos." O resto já faz parte da história oficial. Foi assim que nasceu a ideia. Vinte anos depois está mais do que nunca viva e recomenda-se.

Depois de mais de 120 cidades do mundo, foi a vez do Luxemburgo ficar a conhecer o concerto onde divulgam as músicas dos dois últimos álbuns: "Faluas do Tejo", de 2005 e "Um Amor Infinito", de 2004. Isto porque não há temas novos nem estão a preparar nenhum álbum para celebrar os 20 anos de carreira.

Num incontornável "bis" no final da noite, regressaram ao palco para oferecer ao público temas de álbuns anteriores como "No céu da Mouraria" e "Haja o que houver".

José Luís Correia,
in CONTACTO, 19/07/2006

quinta-feira, 6 de julho de 2006

tous les matins
Tous les matins, douce décevance, j'aspire aux confessions de ton âme, aux céléstes pourpris de ton coeur, mais tu n'a pas écris, mon bel enfant. N'importe, j'attendrais jusq'au petit matin tes lettres d'amour.
"We followed the snake, the endless snake, trough the desert of our commun faith. My pretty child, my lovely child, the blue bus is calling us, where is he taking us?..." (Jim Morrison, The Doors, "The End")

quarta-feira, 5 de julho de 2006

promesse du jour suivant
La promesse m'avait parue absurde, enfantine, obsolète, chimère d'un passé utopique effacé. Il y a des choses importantes que l'on oubli sans trop sans rendre compte, tant le quai de la gare nous semble froid et nous glace les muscles jusq'au os.La nuit paraissait infranchissable, mais j'ai suivi, comme les rois d'antan, les étoiles de l'enfant, mais sans trop y croire.Mais soudain, une pluie d'étoiles s'est deversée sur la voie lactée. La nuit devint pâle d'abord, translucide ensuite. J'ai cru y perdre mes sens. La rosée sucrée s'est posée sur mes lêvres et l'aube inattendue arriva enfin. La lumière finit par m'éclabousser et une merveilleuse et belle journée, comme un nouvel amour, s'est levée.
o interseccionismo segundo Orfeu, antes da chuva oblíqua
Os domingos s.o.s.

Os domingos à tarde,

que costumávamos passar a fazer amor
misturando os nossos corpos insuspeitos e cadentes
deitando a nossa alma insustentável
no cobertor infinito das nossas promessas à flor da pele
maltratando as horas ciumentas e vis
que nos fitavam de soslaio do canto escuro do quarto da mansarda
e nós alheios a esses mecanismos
que teimam em dividir o dia mesmo se ele sempre nasce inteiro,

são indolentes sem ti
são cascas de noz vazias
que estalam na cova da minha mão
e me devolvem o eco fragmentado
dos teus passos no soalho velho do meu passado.

A sós, entregue à turba cruel
das minhas vozes que se amotinam,
deixo-as morderem-me os dedos, roerem a mordaça,
comerem o pano, cravarem-me os dentes nas jugulares
e destilarem-me veneno nas artérias.

Num gesto violento
faço um garrote à minha alma
aperto-o bem
dedilho a veia sediciosa
espeto a seringa
como uma lança de guerra
e injecto afecto no objecto cardíaco.

Sei que para salvar-te basta abraçar-te.
Mas quem me resgata a mim?
A geografia explicada ao amor

Não descures o fogo, amor
que é a verdadeira razão do mundo
e o eixo incandescente desta esfera
e a dorsal atlântica dos meus paralelos.

É o fogo, amor
que atrai os dois pólos opostos
e os sustenta em frágil equilíbrio
e toda a terra em volta.

É o fogo, amor
que mantém este continente
e evita a deriva,
apesar dos tsunamis na minha boca
e dos sismos que me atravessam como cicatrizes.

Mas nem a insistência dos ventos
nem a memória das marés
nem o sopro das águas
hão-de extinguir as chamas
que lavram esta queimada
e preparam a terra prometida.
A floresta virgem foi lá atrás no meu passado.

É o fogo, amor
e precisa arder
como o sol teimoso
agrarrado a este braço de galáxia.

Sou fogo, amor
e preciso arder
e das tuas águas
que lavem as minhas feridas abertas
e dêem de beber ao meu chão em pousio.

E as águas hão-de ser sangue
e penetrar as camadas profundas do meu corpo
e os aluviões da minha alma.

E a alma é fogo, amor
que na rota das tuas mãos
na nebulosa da tua nuca
e na travessia do teu peito
sofre de combustão espontânea
deflagra e perpetua o ciclo.

1

ervas daninhas comendo o chao, derramando seiva na terra arida

2

dança da chuva, céu que não responde por despeito, nuvem arrogante que esqueceu a memória da água, gotas como gumes gelados que se suicidam sobre a minha pele, infiltram os meus poros

meu sangue transvasado, minhas células explodindo como supernovas no vazio sideral do meu corpo, universo do meu verso único em mim, árido e estéril como um deserto de sal, almejo

3

luzes mortas que me penetram, passageiros petrificados, soltos os capuzes e os lábios despertos, espero o vento morno na nuca, virás para alem do mar?, e eu reconhecerei o teu sorriso?, o ganges ainda corre?, e as nuvens atormentadas?

adornos incontornáveis a que tento escapar, tento fugir ao pântano que teima em me atrair, as sombras que me assombram, os teus dedos acalentam-me, cobres-me com o teu corpo, sossegas a minha intranquilidade, terias feito bem ao bernardo

sim, quero acreditar nos dados, no tapete verde, nos números, sai o 9, volto a jogar, o 1 gira até esbarrar contra a tabela, ganhei? tens a certeza? pensas que jogo todos os dias? apenas na tua roleta russa, meu amor!

Fórum "Luxemburgo, terra de acolhimento": Mais apoio aos alunos e um diálogo sistemático entre pais e professores


Marion Bur (La Voix du Luxembourg), Pierre Lorang (Luxemburger Wort), Luís Barreira (Rádio Latina) e José Luís Correia (CONTACTO) moderaram o debate Foto: Guy Jallay
Vários media do grupo saint-paul lançaram um fórum de discussão em torno do desafio escolar dos alunos portugueses no sistema de ensino luxemburguês.

Uma maior participação e incentivo dos pais na carreira escolar do aluno, professores mais sensibilizados para ajudar as crianças em dificuldade e um maior diálogo entre os corpos docentes e os encarregados de educação foram alguns dos principais pontos discutidos num debate livre e aberto promovido pelo CONTACTO, Rádio Latina, "Wort" e "Voix du Luxembourg", que decorreu no edifício-sede do grupo, em Gasperich, em 29 de Junho último.

Neste primeiro fórum "Luxemburgo, terra de acolhimento" sobre a temática dos alunos portugueses que frequentam o sistema de ensino luxemburguês, foram também vários os intervenientes a sublinhar a importância de adaptar melhor a escola luxemburguesa à chegada constante de alunos estrangeiros (e não apenas portugueses!), de forma a não os canalizar inevitavelmente para o insucesso escolar.

Para isso, o Luxemburgo deve definitivamente assumir-se como país de acolhimento, opinaram os participantes, e não apenas com uma terra de imigração e de passagem. Alertou-se ainda para que os pais tomem também consciência de que, ao emigrarem, se torna necessário acompanhar com maior atenção o percurso escolar dos seus filhos.

Para estes, a mudança é vivida, frequentemente, de forma perturbadora. Dependendo da idade, a maior ou menor dificuldade de adaptação ao novo país passa sobretudo pelo sucesso escolar, que continua a ser a melhor garantia de integração, de realização pessoal e de bases sólidas para o futuro.

A questão das línguas na escola luxemburguesa, as turmas de acolhimento, a escola de tronco comum, as aulas integradas de Português, as barreiras culturais e sócio-políticas, foram igualmente abordados. Um suplemento detalhado sobre este debate será publicado brevemente no CONTACTO.

Marcaram presença neste fórum mais de duas dezenas de convidados, entre representantes das autoridades portuguesas no Luxemburgo e do Ministério da Educação luxemburguês, Coordenação do Serviço de Ensino do Português, Centro de Psicologia e de Orientação Escolar (CPOS), associações de pais de alunos portugueses, associações federativas que trabalham com o movimento associativo português (CLAE, ASTI, CASA, APL, etc.), sindicatos, além de outras entidades e colectividades.

Os próximos fóruns "Luxemburgo, terra de acolhimento", previstos para Setembro e Novembro próximos, abordarão a integração sócio-política da comunidade portuguesa e a problemática do movimento associativo português.

in CONTACTO, 05/07/2006