sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 26 de setembro de 2009

Da Política

O filho fala para o pai:

- Pai, eu preciso fazer um trabalho para a escola. Posso fazer-te uma pergunta?

- Claro, meu filho. Qual é a pergunta?

- O que é a política, pai?

- Bem, vou usar a nossa casa como exemplo. Sou eu quem traz dinheiro para casa, então eu sou o "capitalismo". A tua mãe administra o dinheiro, então ela é o "Governo". Somos nós que cuidamos de tudo o que tu precisas, o que faz de ti o "Povo". A nossa empregada é a "classe trabalhadora", e o teu irmão bebé é "o Futuro". As relações entre todas essas pessoas é a política. Percebeste, meu filho?

- Mais ou menos, pai. Vou pensar no assunto.

Naquela noite, acordado pelo choro do irmão, a criança foi ver o que se passava com este. Descobriu que o bebé tinha feito na fralda. Foi ao quarto dos pais e a sua mãe estava a dormir um sono muito pesado. Foi ao quarto da empregada e viu, através da fechadura, o pai na cama com esta. Ele ainda bateu à porta, mas ambos estavam tão absorvidos pelo que estavam a fazer que nem o ouviram. Voltou para a cama e adormeceu.
Na manhã seguinte, ao pequeno-almoço, o filho voltou a falar com o pai sobre política.

- Pai, agora acho que já percebi o que é a política!

- Muito bem, meu filho! Então, explica-me lá com as tuas palavras.

- Bom, pai, enquanto o capitalismo fode a classe trabalhadora, o governo dorme profundamente, o povo é totalmente ignorado e o futuro está na merda!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Se todo o ser ao vento abandonamos

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
(…)

„Poesia„ de Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fórum de discussão: Oportunidades para uma Nova Ordem Social

"Oportunidades para uma Nova Ordem Social" é o tema a que estão subordinadas as "Jornadas Sociais do Luxemburgo 2009", organizadas há quatros anos por um grupo de individualidades do mundo católico do país e que decorrem nesta sexta e sábado, 25 e 26 de Setembro.

Este ano, as jornadas contam com Elmar Brok como convidado de honra e orador principal. Brok é eurodeputado desde 1980 pela CDU ("Christlich-Demokratische Union", União Democrata Cristã, partido de Angela Merkel, actualmente no poder na Alemanha). Brok foi coordenador da delegação do Partido Popular Europeu (PPE) durante a Convenção sobre o futuro da Europa e representante do Parlamento Europeu (PE) nas conferências intergovernamentais em que foram negociados os tratados europeus de Maastricht, Amesterdão, Nice e Lisboa. Fez ainda parte da Convenção para uma Constituição Europeia e do Comité dos Assuntos Constitucionais. Entre 1999 e 2007, foi presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros do PE. Depois de presidir a rede alemã "Europa Union", é hoje administrador do grupo "Les Amis de l'Europe". É ainda presidente da União Europeia dos Trabalhadores Democratas-Cristãos, membro do secretariado-geral da CDU e presidente da Comissão Federal da CDU para a política estrangeira, europeia e de defesa.

No primeiro dia das jornadas, há uma conferência pública entre as 18 às 20h, na grande sala "Rotonde" do Liceu Aline Mayrisch (38, bld Pierre Dupong), em Merl, na capital. Depois do discurso de boas-vindas de Léon Zeches, director das publicações do grupo saint-paul (grupo que edita o CONTACTO), Brok explanará as suas ideias sobre a temática deste ano.

Depois disso, o orador responderá a questões colocadas pelos alunos daquele liceu, num debate moderado por Théo Peporte, chefe do gabinete de imprensa da Igreja Católica no Luxemburgo. Seguem-se questões por parte do resto da assistência.

O primeiro dia termina com uma intervenção do primeiro-ministro Jean-Claude Juncker e um jantar com todos os convidados no Hotel Cravat.

O segundo dia decorre no Hotel Parc Bellevue, também em Merl, com a constituição de grupos de trabalho para discutir o tema em análise. O dia fecha pelas 13h com um discurso de François Biltgen, ministro da Justiça, das Comunicações e Media, do Ensino Superior e Investigação, e da Função Pública, e presidente do Partido Cristão-Social luxemburguês (CSV).

Entre os organizadores das jornadas contam-se, além de François Biltgen e Léon Zeches, Erny Gillen, presidente da Caritas-Luxemburgo, o vigário episcopal Henri Hamus, o vigário geral Mathias Schiltz (presidente do conselho de administração do grupo saint-paul), o padre Raymond Streweler e Robert Weber, presidente do sindicato cristão-social LCGB.

JLC
(in Contacto, 23.09.2009)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

9/11: Há 8 anos o Mundo acordava com estas imagens


Conspiração ou terrorismo, estas imagens fazem já parte da história.

O que me surpreende é, oito anos depois, no país das equipas super cientificamente apetrechadas tipo CSI, FBI, CIA, NCIS e outras agências com acrónimos que ficam bem nas t-shirts, muita gente continuar a duvidar dos autores que perpetraram verdadeiramente os ataques terroristas.

Nasceu mais um enigma Kennedy, que durante as décadas vindouras suscitará as mais recambolescas teorias da conspiração. É mais um filão inesgotável de dólares para os romancistas e para a indústria de Hollywood.

No "ground zero" nada parece ter mudado, o cratera ainda lá está. Fisicamente. E moralmente. Os projectos imobiliários megalómanos com pretensões de devolver a glória ao país do Tio Sam e à Grande Maçã não saem do chão. A cicatriz que desfigurou Nova Iorque e o orgulho pátrio continua nua e aberta.

Os historiadores, os analistas políticos e os jornalistas (historiadores do presente) dizem que esse novo tipo de guerra foi o sinal que marcou o início do século XXI, já que o século XX havia terminado com a queda do muro de Berlim, em 1989, e que a década de 90 servira apenas de fase de transição para um novo milénio.

Em oito anos, o mundo mudou. Deu uns solavancos para a frente, uns saltos para trás, uns passos hesitantes.

Um negro chegou à Casa Branca, com a esperança de todo um planeta atrás de si, para que fizesse esquecer a pior presidência da história norte-americana, e que tanto afectou negativamente o mundo.

E apesar de muitos radicais, dos mais diversos campos, de ambos os hemisférios, quererem aproveitar o pós-11 de Setembro e esse "sismo humano" para voltar a acordar velhos fantasmas do choque de culturas e civilizações, Obama profetizava: "As nações estão condenadas a colaborar umas com as outras. Não por opção, mas por necessidade. Porque só um futuro comum é um futuro viável!"

Ao mesmo tempo, paradoxalmente, a Rússia, através do saudosista do KGB, Putin, inventava a "democracia à russa", uma ditadura travestida, uma "demokratura", como lhe chama o jornalista do "The Guardian", Timothy Garton Ash, no seu livro "Facts are subversive".

A França não fazia melhor e seguia esses passos imperialistas: de chiraquiana oportunista virava ainda mais à direita, convertendo-se ao sarkozismo napoleónico.

Nesse entretanto, Portugal, sebastianista por vocação - porque a mudança vem forçosamente dos outros, nunca de nós mesmos - deixava-se credulamente entreter por uma política de passes mágicas, socialista apenas no nome.

E quando o país deu por si, estava de ressaca, à crise tinha apenas sucedido outra crise, os 20 anos de dinheiros europeus haviam-se esfumado em políticas pontuais e auto-estradas desertadas (porque, no final de contas, ninguém conseguia pagar as portagens!), apenas alguns parcos tostões haviam chegado à Educação, à Formação e à Saúde, que são afinal as verdadeiras sementeiras do futuro. O fruto nascia seco antes de amadurecer.

Muitos portugueses abanavam a cauda porque cada bom português tinha um "Magalhães", mas, na realidade, viviam todos a crédito, com dinheiro que não tinham, com um futuro hipotecado, com os salários e as reformas mais baixos da Europa, e continuavam no "pelotão dos últimos" em muitos campos, atrás de recém-chegados como ....os eslovenos.

A audácia da esperança


Nem todas as mudanças deixaram esperança. Mas se é verdade que a estupidez, a cretinice e a crueldade humanas têm apenas como limite a imaginação dessa mesma Humanidade, por entre as densas nuvens que pairam há, de vez em quando, rasgos de luz. Porque, afinal, nada é mais humano, igualmente, do que acreditar que melhores dias virão e que a esperança é a última a morrer.

Neste 11 de Setembro, a única mensagem de esperança veio, mais uma vez, do filho mestiço da América. A efeméride vinha carregada de luto mas não trazia vingança no olhar, não era uma infantil vendetta bushiana, uma glorificante cruzada de justiça divina nem tão pouco uma guerra santa contra um eixo qualquer.

Obama veio apenas desejar, pedir, dizer que a melhor maneira de recordar e honrar as vítimas do 9/11 era cada concidadão americano prestar serviço comunitário ou trabalho de voluntariado no seu bairro, cidade ou região.

Hoje apetece-me voltar a citar o que um editorialista do "Le Monde" disse há oito anos: HOJE SOMOS TODOS AMERICANOS! Ou devíamos ser, para acatarmos o pedido de Obama.

A Humanidade, esse ideal que tantas vezes sucumbe aos seus próprios e terríveis pesadelos, é, afinal, capaz de ter e concretizar belos sonhos.

Basta querer/crer.

O estado da Filosofia em Portugal...




Quem melhor analisa a situação ainda são os Gato Fedorento, num sketch de antologia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pecar é natural

"Quando o Homem erra diz-se que é pecado.
Quando Deus erra chama-se-lhe a natureza!"


Jack Nicholson no papel de Daryl Van Horne, em "The Witches of Eastwick", 1987

domingo, 6 de setembro de 2009

Da existência

"É viver e deixar de viver que são soluções imaginárias. A existência está alhures."

André Breton, in "Manifesto do Surrealismo", 1924

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Anacrónicos e Diacrónicos

Estes são os tempos

O Verão está a acabar. É um lugar comum dizê-lo, mas quase um contra-senso se olharmos pela vidraça e observarmos o tempo solarengo que este pequeno burgo nos tem proporcionado nas últimas semanas, contra tudo o que é habitual nestas latitudes e nesta altura do ano. Consequência ou apanágio das alterações climáticas?

Se o Verão, tempo de farniente e de ócio, termina no calendário a 21 de Setembro, não acaba para todos na mesma data. Para os trabalhadores da construção, as férias duraram até 21 de Agosto. Noutros sectores, terminaram no domingo. Para os alunos, o seu último dia de Verão acontecerá dia 14, antes de encetarem um novo período lectivo. Este ano, os mais novos, do pré-primário e do primário, integram o novo regime da escola fundamental. Os parlamentares luxemburgueses recomeçam a trabalhar na segunda terça-feira de Outubro, mas as comissões parlamentares reúnem já em Setembro. Em Portugal, a Assembleia da República retoma os trabalhos na terceira semana deste mês, à semelhança do Parlamento Europeu.

Mas se para muitos as férias estão a findar, para outros nem chegaram a começar e muitos nem descansaram. Os bombeiros da Europa do Sul não puderam resfolgar com os incêndios que lavraram, e alguns ainda lavram, de Portugal à Grécia, em mais uma calamidade ecológica. E se para a maioria de nós o período estival permitiu-nos relaxadamente fazer muita prainha e dourarmo-nos com um belo "bronze", para os soldados da paz esse mesmo mercúrio em alta significou uma verdadeira descida aos infernos.

O CONTACTO também não foi "a banhos", atentos que estamos às mudanças dos comportamentos sociais dos nossos leitores que já não fazem férias apenas no "querido mês de Agosto". Cada vez são mais os que decidem, nesta altura, ficar por cá. Além disso, a informação não "fecha" para férias.

Os políticos portugueses podem até faltar durante o resto do ano às sessões do Parlamento (infelizmente, não chumbam por faltas!), mas no Verão é vê-los, sempre a aparecer nos jornais, na televisão e até nas revistas cor-de-rosa. Como se temessem que passássemos bem sem eles! Como se a política fosse algo que não pudesse tirar (ou dar-nos) férias. Melhor que isso, inventaram as universidades de Verão, que mais não são do que antecâmaras da rentrée política, comícios interpartidários que servem para testar ideias e argumentos em ambiente controlado, e para rodar novos "protegidos" a apresentar em Setembro, como se tudo isso pudesse trazer um pouco de ar fresco aos seus prolixos discursos remastigados e mofentos.

Em Portugal, vive-se já uma verdadeira pré-campanha eleitoral, o mundo político está em polvorosa com as legislativas de 27 de Setembro e as autárquicas de 11 de Outubro. Apesar de uma impopularidade crescente, o Executivo Sócrates recusa-se a exalar o seu último estertor. Mas a oposição não tem propriamente sabido profilar-se nem convencer os eleitores, que não parecem prontos a acreditar numa Ferreira Leite como no Sócrates sebastianista, em 2005. Muitos vêem nela um possível regresso ao Cavaquismo. Ou pior.

No Luxemburgo, o reeleito governo cristão-social/socialista vai debater-se com vários dossiês espinhosos: a reforma do ensino secundário; a legalização do casamento homossexual e do aborto (que o Executivo prometeu legalizar nesta legislatura); e a luta contra a recessão económica. Por enquanto, propostas de solução concretas houve poucas por parte do governo, a oposição criticou isso mesmo, mas o Executivo outorgou-se da maioria obtida nas eleições e disse que saberia dar conta do recado. Resta esperar para ver.

Enquanto que os primeiros assuntos ameaçam dividir a opinião pública num país tradicionalmente conservador, dirigido pelo mesmo partido de direita há 30 anos, a crise, que parece (desta vez?) estar mesmo a chegar ao Grão-Ducado, pode dissolver-se de si mesma. Isto se se confirmar, como alguns analistas desconfiam, que tudo não passou de especulação virtual por parte dos altos líderes da macroeconomia, o que veio minar a confiança das empresas e dos consumidores.

E se é verdade que no Luxemburgo os desempregados aumentaram 40 % num ano, que as falências têm vindo a acontecer em catadupa e muitas empresas têm optado por cortes orçamentais nos projectos e no pessoal, é necessário investigar e sancionar os casos em que a crise serve de alibi aos patrões para "fecharem negócio" ao encerrarem empresas, sem cuidar dos trabalhadores que põem na rua, considerados simples "baixas colaterais" da crise económica mundial.

José Luís Correia, in Contacto, de 2 de Setembro de 2009