sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Manuel Luís Goucha: "Faz-me uma certa impressão ver portugueses a viverem em circuitos fechados"

Foto: Manuel Dias
O CONTACTO soube que um dos mais populares apresentadores da televisão portuguesa, Manuel Luís Goucha, estava de passagem pelo Luxemburgo. Não quisemos perder a oportunidade de trocar umas breves palavras com a companhia que nos preenche os fins das manhãs na RTPi, de segunda a sexta, em directo da cidade invicta, embora ele seja originário de Lisboa.

CONTACTO: Esta sua passagem pelo Luxemburgo é uma visita de trabalho para o programa „Praça da Alegria“... 

Manuel Luís Goucha: Para enriquecer o programa pensámos fazer uma série de reportagens sobre portugueses de sucesso nos países de acolhimento. Já fizemos umas dez em Paris. Vamos fazer umas quinze aqui no Luxemburgo. São conversas muito curtas, que passarão à razão de uma reportagem por programa.

CONTACTO: : Estão assim a pensar também nos espectadores que vos vêem pela RTP internacional ... 

M.L.G.: A 'Praça da Alegria' é primeiro um programa da RTP, que passa depois na RTP internacional. Os milhões de espectadores espalhados pelo mundo que nos vêem através da RTPi foram ganhando importância no programa. Deles recebemos chamadas diariamente. Mas o programa tem também uma componente muito ligada à cultura popular que é igualmente vocacionada para esse público. Estas rubricas, que estamos agora a fazer, estão, se calhar, até mais vocacionadas para o público que nos está a ver em Portugal continental e nas ilhas, porque estamos a dar a conhecer que há portugueses de sucesso por esse mundo fora nas mais diversas áreas. Não há só portugueses na construção civil e nos serviços de limpeza. É essa ideia que queremos passar para um público alvo, que neste caso é o de Portugal continental e ilhas.

CONTACTO: : Qual é a imagem que tem do Luxemburgo e da comunidade portuguesa aqui residente? 

M.L.G.: É a segunda vez que venho ao Luxemburgo. Passei por aqui uns três ou quatro dias há 25 anos. Fiquei com a ideia que a cidade do Luxemburgo era uma cidade muito bonita, muito verde, com uma grande qualidade de vida, também em termos ambientais. Tinha também uma imagem do Luxemburgo muito ligada a uma segunda geração de emigrantes. A comunidade portuguesa no Luxemburgo supreende-me muito porque na minha opinião é uma comunidade jovem, e os jovens já estão bem integrados neste país. Mas faz-me uma certa impressão ver ainda portugueses a viverem em circuitos fechados: frequentam as associações recreativas e os clubes desportivos portugueses, vão aos restaurantes de cozinha portuguesa ... Eu penso que a integração dos portugueses nos países de acolhimento tem que passar pela atitude que têm face às sociedades de acolhimento. Mas acredito que para a nova geração de portugueses, que já vai falando o luxemburguês, a integração vai ser mais fácil . A integração será plena quando os portugueses tiverem contactos diários com os luxemburgueses e quando fizerem parte de associações culturais luxemburguesas.
José Luís Correia entrevista Manuel Luís Goucha Foto: M. Dias


CONTACTO: Por seu lado, programas como o seu e a RTPi em geral têm dado uma outra imagem de Portugal aos jovens luso-descendentes... 

MLG.: Portugal é um país que evoluiu muito de há 25 anos a esta parte, é um país que se está a modernizar, é um parceiro privilegiado da União Europeia em termos históricos, com 800 anos de história, com muito para dar em termos de cultura. É importante que essa imagem seja passada para as comunidades de acolhimento.

CONTACTO: Como é que se sente a apresentar um dos programas mais populares das manhãs portuguesas? 

MLG: Sinto-me bem. São três horas em directo (mais três horas de preparação), é um programa divertido com muito ritmo, as conversas são muito curtas. É um programa onde me sinto bem, é o meu palco! É um programa que está para durar, vai fazer mil emissões em Setembro, e outras mil virão ...

CONTACTO: Numa carreira tão longa e diversificada como a sua, o que sente que ainda lhe falta fazer? 

M.L.G.: Falta fazer muita coisa ... Eu gasto o meu dinheiro todo em viagens. Eu vivo para viajar. Mas acho que não vou ter tempo de fazer as viagens todas que quero. Em termos profissionais ... não tenho grandes ambições. Vou seguir esta linha porque sei que o que estou a fazer agora é onde me sinto melhor e onde sou eficaz. Vou manter-me fiel a este tipo de programas de „conversa e de afecto“. Acho que encontrei o meu caminho na „Praça da Alegria“. Depois, vou continuar a aceitar outros convites especiais como para apresentar o Festival da Canção, o Natal dos Hospitais ...

CONTACTO: Continua a publicar livros sobre cozinha? 

MLG.: Sim , mas em parcerias. Tenho uma equipa de cozinheiros, de fotógrafos que trabalha comigo, e eu só tenho que fazer a parte de texto. Por isso continuo a sair com livros. Sai à razão de um livro por ano. Recentemente saiu um sobre massas, e já há um outro previsto para o ano ...

CONTACTO: Gostaria de deixar alguma mensagem especial para os portugueses do Luxemburgo? 

M.L.G.: Que se sintam orgulhosos de ser portugueses, mas que se integrem bem nas comunidades de acolhimento. Tem que ser feito um esforço para que se integrem para que não se sintam estranhos num país que não é o deles, e para conseguirem transmitir aos outros a imagem de um Portugal mais moderno e solidário. Têm tudo a ganhar em não viver em ghettos, em circuito fechado. Esta é a grande mensagem que gostaria de deixar ...
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Manuel Luís Goucha e a sua equipa estiverem no Luxemburgo a fazer uma série de reportagens sobre homens de sucesso no Luxemburgo para a „Praça da Alegria“. Estiverem na União Centro Cooperativo com José Trovão, depois passaram pelo Instituto Camões onde falaram com Rui Dias Costa. Visitaram igualmente a Rádio Latina, os Estabelecimentos Primavera, a loja Hugo Boss de Manuel Silva, o Restaurante The Good Friend. Manuel Luís Goucha pode ainda entrevistar „Os Apolos“, por ocasião dos 20 anos deste conjunto musical. Estas pequenas reportagens serão difundidas brevemente, pela RTPi, no programa „Praça da Alegria“ (de segunda a sexta, das 11h às 14 horas).

José Luís Correia 
in CONTACTO, 20/04/1999

sábado, 9 de abril de 2005

Adesão à UE a 1 de Maio: Eslováquia, optimismo moderado

O redactor do CONTACTO José Luís Correia (o primeiro, em cima, à esquerda), com um grupo de jovens eslovacos: Jana, Viera, Juraj e Daniel (da esq. p/ a dta) Fotos: JLC

Chegamos a Bratislava com a representação luxemburguesa da Comissão Europeia e do Ministério dos Negócios Estrangeiros luxemburguês que têm vindo a promover viagens de imprensa para apresentar os países que se tornarão membros da União Europeia (UE) a partir de 1 de Maio próximo.

Em Bratislava vivem 461.616 mil dos 5,4 milhões de habitantes (dados de 2003) que o país (com 49.035 km2) conta.

A capital, com mais de 2.000 anos de história, é também a cidade com mais jovens do país. Os prédios não muito altos, as charmosas ruas pedonais, os amplos e múltiplos largos e o rio Danúbio dão-lhe um ar de pequena cidade meridional.

A Eslováquia foi o últimos dos dez novos candidatos a provar que estava pronto a aderir à UE, depois de profundas reformas económicas e sociais, algo impopulares. O sistema das pensões foi reformado, a idade da reforma passou a ser mais tardia (aos 62 anos), os abonos familiares foram revistos em baixa, o ensino deixará de ser gratuito a partir de 2005, o custo das consultas médicas vai aumentar, os impostos também, enquanto que o ordenado mínimo continua a rondar os 150 euros/mês (cerca de 6.000 coroas eslovacas) e o ordenado médio não ultrapassa os 400 euros, o que deixa alguns eslovacos cépticos ou de um optimismo moderado quanto à futura adesão à UE.

Os eslovacos mais idosos argumentam que na época soviética não havia desemprego. que hoje ronda os 16%, com picos de 34% no leste do país. 50% dos eslovacos vive no limite da pobreza. Arrendar um apartamento pode custar entre 180 e 300 euros, o que faz com que a maioria dos jovens só saia de casa dos pais, casados. Não há habitações sociais, só casas e apartamentos privados. Quem não os possui, mal consegue pagar a sua renda.

Numa visita até Trnava, uma simpática pequena vila e centro católico do país, e logo à saída da capital, deparamo-nos com o "país real": pequenas aldeias que os jovens abandonam em prol da capital, uma população pobre que vive em casas vetustas e uma agricultura de subsistência marcada por pequenas hortas particulares.

Em Dubová, na planície ao sopé dos pequenos Cárpatos, encontramos Jaroslaw, de 43 anos, que está a cuidar das maçãs na sua horta. Como outros eslovacos com quem conversámos, Jarosloaw queixa-se dos salários baixos e que "na Europa ganha-se mais". Pensa por isso que a a UE "é capaz de ser uma coisa boa", mas não sabe bem o que espera o seu país e a sua gente num futuro próximo.

Mas se os eslovacos se queixam, mais mal ainda vive a minoria húngara (9,7% da população) no sul do país, que se sente discriminada e reivindica a autonomia em matéria de educação e cultura.
Bratislava, uma capital com um ar de pequena cidade meridional




O "problema cigano"

Pior ainda são os 400 mil ciganos, também discriminados no acesso ao emprego pela cor da pele ou porque têm um baixo nível de escolaridade. Segregados desde os anos 70 (pelo governo soviético e pelos que o sucederam) em mais de 600 ghettos urbanos no leste do país, mais de 150 mil ciganos passam fome e vivem na maior miséria (em barracas e casas sem as mínimas condições de higiene e de salubridade), sobretudo depois da reforma das ajudas sociais que foram diminuídas em cerca de um terço desde o início de 2004. Por vezes, a segregação degenera em marginalidade.

Em Fevereiro último houve vagas de pilhagens por parte de ciganos nas lojas de Kosice e Presov, o que fez aumentar ainda mais o forte sentimento anti-cigano dos eslovacos. "Os ciganos não fazem esforços para se adaptar à sociedade, pilham os campos, destroem as florestas para roubar a madeira", acusam.

Para Gunter Verheugen, comissário europeu para o alargamento, esta questão só se pode resolver pela educação e integração da comunidade cigana. Michal Vasecka, director do Instituto dos assuntos públicos, que se ocupa das minorias, denuncia os homens de estado eslovacos que não querem resolver o problema cigano, porque isso seria mal visto pela população e equivaleria a um suicídio político.

Lembra, no entanto, que o Conselho da Europa aprovou uma decisão para que os governos europeus favoreçam a ideia de que os ciganos são sobretudo cidadãos europeus, por forma a evitar que uma eventual futura emancipação identitária desta etnia resulte na reclamação de um espaço territorial no seio da UE.

Entretanto, todos esperam que a futura adesão e os dinheiros de Bruxelas sirvam para a inserção social desta comunidade. Jovens eslovacos optimistas com a UE Zuzana, 16 anos, diz que espera que a UE melhore a situação financeira do país, mas leu na imprensa que só em 2032 o seu país chegará ao nível europeu. Quando acabar os estudos não pensa emigrar, mas procurará trabalho na capital.

Numa esplanada, falamos com Tomas, 22 anos, empregado de mesa. Queixa-se do desemprego e da falta de dinheiro, mas gaba-nos a vida nocturna de Bratislava e "as mulheres mais bonitas da Europa de Leste". Afiança-nos que emigrará assim que puder para a Irlanda ou Reino Unido, únicos países que não impõem restrições à imigração dos novos estados membros de Leste. Os eslovacos emigram sobretudo para a República Checa, em melhor situação económica, Áustria e Canadá. Este último por incarnar o "sonho americano" e porque "continuamos a fornecer as equipas de hóquei em patins canadianas em novos talentos", gostam de lembrar os eslovacos.

Entrosamos conversa com Juraj, 24 anos, à porta da vetusta Universidade "Komenského" de Bratislava, que arbora uma sóbria arquitectura comunista de outros tempos. No átrio encontramos prospectos que gabam a continuação dos estudos na UE e nos Estados Unidos.

O estudante no 4°ano de Filsosofia começa por nos confiar que gostaria de se formar em Oxford. É originário de Tyrdosin (Norte do país) e estuda há sete anos na capital. Até agora, os estudos eram gratuitos, mas a partir de Janeiro próximo chegam as propinas. Juraj não está preocupado, diz simplesmente que terá que trabalhar mais para pagar os estudos, que poderão custar entre 3.000 e 20.000 coroas/ano.

O jovem reconhece que há lados positivos e negativos na adesão à UE. "A economia vai crescer, o desemprego está a baixar constantemente e deverá ainda baixar mais 2% nos próximos dois anos", diz-nos, convicto que não haverá emigração massiça após 1 de Maio.

Apesar de ser a favor da adesão à UE, diz que percebe o sentimento de optimismo moderado dos seus compatriotas, porque "as pessoas não sabem o que a UE vai mudar no seu quotidiano". Apesar de uma identidade milenar, a Eslováquia é independente há apenas 10 anos: a "Revolução de veludo" separou o país da República Checa, em 1993.

O jovem lembra-nos que a Eslováquia já foi húngara, turca, checoeslovaca, soviética, e que as pessoas consideram que, afinal, pertencer à UE é apenas mais um passo e esperam somente que lhes reserve uma vida melhor.

Entretanto chegam alguns amigos seus: Viera (29 anos), Janka e Daniel (27 anos). Janka é professora de Sociologia na mesma universidade, onde ganha pouco mais de 250 euros/mês. Consciente dos problemas que o país enfrenta, esta jovem fala-nos da UE com optimismo, porque acredita que as coisas só podem melhorar.

Surpeende-se pelo nosso interesse no seu país e propõe-nos uma visita guiada. Fala-nos dos cafés da rua Venturska, a Broadway de Bratislava, onde se encontram actores e artistas.

"Bratislava é a cidade mais jovem do país graças aos seus 45 mil estudantes e isso repercute-se na vida cultural e nocturna da cidade", conta.

Daniel, funcionário na administração da Universidade, elogia os bons vinhos brancos do seu país e propõe-nos que provemos a "borovicka" (álcool de genebra). Juraj apresenta-nos a "kofola" (refrigerante eslovaco) e gaba o queijo fresco "bryndza" da sua região, que devemos provar no pão ou com o prato nacional eslovaco, o "bryndzov é halusky", uma mistura de batatas com farinha, acompanhada de queijo de cabra fresco e toucinho frito. Saboroso, mas um tanto ou quanto pesado.

Indústria automóvel aposta no país 

Para muitos estrangeiros, a Eslováquia é um país propício para investimentos, considerado estratégico devido ao triângulo Praga-Viena-Budapeste, do qual é vizinha a capital eslovaca (a 60km de Viena).

Os eslovacos, esses, contam sobretudo com a indústria automóvel para sair o país da situação financeira onde se encontra actualmente. A Volkswagen está já fortemente implementada no país. Quanto ao primeiro automóvel a sair da fábrica Peugeot-Citroën na Eslováquia está previsto para 2006. E a Hyundai também optou pela Eslováquia, chegando em 2007, o que tornará o país o maior produtor de carros do mundo, per capita.

José Luís Correia,
in CONTACTO, 09/04/2004

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Com Nuno Gama


José Luís Correia em entrevista com José Campinho e Nuno Gama, por ocasião da abertura da loja do estilista portuense na cidade do Luxemburgo Foto: Anouk Antony
in CONTACTO, Abril de 1997