sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
-
cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 31 de maio de 2008

Kin

"Kin hnè ouie dn
àlj anf m àavm
Rudv héaj vj jjàf kilth
J'zjao lbef gokb"



"Nos montes de Kin
vi uma ave queimar as asas
quisera eu outro destino
mas já prendeste meu coração"


in "Os Poemas Galácticos de Kila Dah" de Jah-lil baar
Tradução: JLC/A.Weytjens (2002/2003)

Quadrado de Água

"Sou apenas um quadrado
de água num planeta morto
sonhando apenas um dia
ser engolido para ser vida."


in "Os Poemas Galácticos de Kila Dah" de Jah-lil baar
Tradução: JLC/A.Weytjens (2002/2003)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pensamento do dia (parafraseando Fernando Pessoa)

"Tudo vale a pena,
quando a idade não é pequena!"




Ou seja, quanto mais velho és, mais aprecias certas coisas, melhor escolhes o que preferes e te concentras naquilo que realmente vale a pena
;-)
Ideograma chinês da sabedoria

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O ódio de Norbert Jacques pelo Luxemburgo ou Os Ignorados pelo Burgo


"Tenho por vezes a impressão que o ódio que sinto é tão forte que poderia abafar este maldito pequeno país [o Luxemburgo ] entre as minhas mãos"

Citação de Norbert Jacques (1880-1954) sobre o Luxemburgo. Ignorado no Grão-Ducado, para vingar teve que emigrar para a Alemanha, onde mais tarde se tornou defensor da causa nazi. Jornalista e escritor luxemburguês que escreveu, entre outras, a obra "Dr. Mabuse, der Spieler" (1921), que Fritz Lang viria a adaptar para o cinema. Durante muito tempo, nem foi sequer tido em conta como contribuidor para as letras luxemburguesas.


Relembro aqui o caso de dois outros emigrantes luxemburgueses que só lá fora tiveram sucesso: Edward Steichen e Hugo Gernsback. Ambos granjearam fama e sucesso na terra do Tio Sam.

O primeiro tornou-se um fotógrafo famoso das estrelas de Hollywood de então, como Greta Garbo e outras, tendo sido publicado em revistas das celebridades. Foi o grande conceptor da mega-exposição sobre a humanidade "The Family of Man", que viria a doar ao Luxemburgo nos anos 60 (e que o Luxemburgo começou por recusar!) e que está em exposição permanente no Castelo de Clervaux.

O segundo é considerado o pai da ficção-científica moderna, e que a baptizou, inclusive, inventando o termo "ficção-científica". Ainda estudante, inventou uma pilha que ninguém quis comercializar no Luxemburgo. Emigrou para os EUA, onde lançou a sua pilha e uma revista sobre electricidade, máquinas eléctricas e historias e contos sobre como essas invenções poderiam um dia mudar o nosso futuro. Depressa a revista evoluiu de "Modern Electrics" para a "Amazing Stories" e lançou autores como Robert Heinlein, Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e outros não menos famosos. Os Prémios Hugo, que anualmente distinguem na Califórnia os melhores filmes e livros de ficção-científica, são uma homenagem à sua memória.
Só em 2004, é que Hugo Gernsback teve direito a uma rua em seu nome
no Luxemburgo (atrás do complexo cinematográfico Utopolis), mas permanece um ilustre desconhecido para 95% dos luxemburgueses.


MANIFESTO
Para que não voltem a acontecer episódios destes que em nada engrandecem a história e a memória luxemburguesas, está mais do que na altura de alguns autóctones perderem as palas que os tornam ceguetas em relação às potencialidades do país e sobretudo da matéria humana que o país hoje dispõe. Está, na altura, de deixarem de "pensar pequenino". É necessário, para isso, que deixem de querer continuar a ser o que são ("Mir wëlle bleiwen wéi mir sinn", lema nacional adoptado por oposição ao ocupante nazi, mas que hoje, retirado do contexto histórico é redutor e tem vindo a significar vontade doentia de status quo da sociedade e lançado como oposição/diferenciação em relação aos estrangeiros) para ambicionarem ser melhor do que são ("Mir wëlle besser ginn!"). Yes, we can!

Proposta minha, sei lá. É alarve?

Movimento Ecológico estabelece tabela: quais os 10 carros menos poluentes?

Movimento Ecológico estabelece tabela

Quais os 10 carros menos poluentes?

Os automobilistas que querem saber se o seu estimado automóvel é ecológico ou nem por isso e os futuros detentores de um quatro-rodas que pretendam adquirir um "carrito" que seja o mais amigo possível do ambiente dispõem agora de um portal na internet que poderá tornar-se numa ajuda preciosa nessa missão.

O Movimento Ecológico e o Oeko-Zenter (Centro Ecológico), lançaram em finais de Janeiro, em colaboração com o Ministério do Ambiente, o site "Oeko Top Ten" ("Top 10 Ecológico"), que faz uma listagem dos dez modelos menos poluentes de cada categoria: citadinos, pequenos polivalentes, compactos, familiares, grandes cilindradas, monoespaços até cinco lugares e monoespaços com seis lugares e mais. No portal www.oeko-topten.lu , o internauta é convidado a comparar 74 marcas de automóveis entre si, segundo os diferentes modelos, categorias e cilindradas, de modo a verificar quais os menos poluentes.

Nas tabelas comparativas, o usuário pode ainda ver quais os níveis de poluição sonora de cada automóvel, quais beneficiam de uma ajuda financeira do Estado por serem considerados automóveis pouco poluentes, o consumo de cada modelo, a taxa automóvel que se aplica a cada modelo, preços, etc. Saliente-se que o site dispõe igualmente de rubricas dedicadas aos electrodomésticos e aos televisores, comparando-os também entre si, relativamente ao consumo de electricidade, eficácia energética, preços recomendados, entres outras informações práticas.

JLC (in Contacto, 20.02.2008)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

o hábito não faz a monja

Estrangeiros residentes já são mais de 200 mil no Luxemburgo

2007-2008/ Segundo os últimos números do Statec
Luxemburgo: 3 mil novos portugueses num só ano

Segundo os últimos números do Instituto luxemburguês de estatísticas, Statec, divulgados em 22 de Maio, o número de portugueses que residem oficialmente no Grão-Ducado subiu de 73.700 para 76.600 pessoas, entre 2006 e 2007.
Apesar de oficiosamente se calcular que esse número ultrapasse já os 80 mil, o crescimento oficial registado foi de cerca de três mil portugueses.
Se analisados os números do Statec nos últimos 30 anos referentes à imigração portuguesa no Luxemburgo, o número de pessoas com nacionalidade lusa aumentou cerca de duas vezes e meia entre 1981 e 2008, destacando-se uma verdadeira "explosão" exponencial nos últimos anos.
Enquanto a população portuguesa no Luxemburgo cresceu em cerca de 10 mil indivíduos entre 1981 e 1991, duplicou esse crescimento nos dez anos seguintes (1991-2001) e precisou de apenas quatro anos (entre 2002 e 2006) para que voltasse a aumentar para mais 10 mil pessoas, com especial destaque para o ano de 2004, em que num só ano se registaram mais 3.500 indivíduos.

PORTUGUESES NO LUXEMBURGO

1981: 29.300
1991: 39.100 (+ 9.800)
2001: 58.700 (+ 19.700)
2002: 59.800 (+ 1.100)
2003: 61.400 (+ 1.600)
2004: 64.900 (+ 3.500)
2005: 67.800 (+ 2.900)
2006: 70.800 (+ 3.000)
2007: 73.700 (+ 2.900)
2008: 76.600 (+ 2.900)
(* segundo o Statec)

Habitantes do Luxemburgo são quase 500 mil
O peso da imigração no país: estrangeiros residentes ultrapassam pela primeira vez a fasquia dos 200 mil


Segundo o Repertório Geral das Pessoas Físicas, o saldo migratório no Luxemburgo em Janeiro de 2008 era positivo, com + 6.001 pessoas, ou seja, 16.675 chegadas e 10.674 partidas.
A 1 de Janeiro de 2008, o número de estrangeiros residentes ultrapassou pela primeira vez a fasquia das 200 mil pessoas, registando o Grão-Ducado actualmente 205.900 cidadãos não luxemburgueses no seu território.
Entre os estrangeiros residentes, foi a comunidade portuguesa a que maior aumento demográfico verificou (ver texto acima).

Os italianos residentes (cerca de 19 mil) têm vindo a estagnar desde 1991 e os belgas mantêm o mesmo número que em 2005 e 2006 (cerca de 16.500). Entre 2007 e 2008, os franceses residentes passaram de 25.200 para 26.600 (+ 1.400) e os alemães de 11.300 para 11.600 (+ 300).

"A população autóctone estagnou e sem as naturalizações o seu número teria mesmo diminuído", garante Statec

O Statec recorda que em 30 anos, a população total residente no Grão-Ducado aumentou em mais de 120 mil habitantes: o país contava 364 mil habitantes em 1981; 384 mil, em 1991; e 439 mil, em 2001. Segundo os últimos dados divulgados na quinta-feira passada pelo Statec, a população total do Luxemburgo era em 1 de Janeiro de 2008 era de 484 mil habitantes. Um ano antes, a população total residente contava 476 mil pessoas.

Comparativamente aos países vizinhos, este crescimento demográfico pode ser considerado excepcional, sublinha o Statec, destacando o papel preponderante da imigração na demografia.
"A população autóctone viu os seus efectivos estagnar e sem as naturalizações o seu número teria mesmo diminuído", frisam os responsáveis daquele organismo. Efectivamente, o número destes nem chegou a subir uma dezena de milhar nas três últimas décadas: os cidadãos nacionais eram 268.800 em 1981, e são actualmente cerca de 277.900.
A média anual do saldo migratório no Luxemburgo na década de 1990-2000 era superior a 10 ‰ (dez por mil), enquanto no resto da União Europeia dos 15 esse número se ficava pelos 2,3 ‰.

José Luís Correia (in Contacto, 28.05.08)

(Foto: JLC/Junho de 2006, Dois a três mil portugueses costumavam juntar-se junto à Gare da cidade do Luxemburgo para celebrar as vitórias de Portugal no Mundial de 2006. O mesmo "ameaça" repetir-se a partir de 7 de Junho :-)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Jardim das Borboletas em Grevenmacher

Em Grevenmacher, existe um lugar muito especial

Já alguma vez visitou
o país das borboletas?

As andorinhas chegam com a Primavera, mas no Luxemburgo são as borboletas que fazem sensação. E que melhor lugar para observar as suas asas coloridas e brilhantes, os seus voos majestosos e encantadores do que o Jardim das Borboletas, em Grevenmacher, que reabriu ao público a 21 de Março.

Quando entram no Jardim das Borboletas, o que cativa desde logo os visitantes são as 250 plantas e as dezenas de espécies de "lepidópteros" (nome científico deste insecto) que voam em liberdade pela estufa, alimentando-se alegremente do néctar das flores.

Baseando-se na ideia que o inglês Robert Goodey tivera no séc. XIX quando criou uma estufa onde deixava em liberdade diferentes espécies de mariposas (o outro nome pelo qual é conhecida a borboleta) para o belo prazer de nobres e burgueses da época, um projecto semelhante nasceu em Grevenmacher há 19 anos. Desde então é a mesma equipa que ainda hoje cuida da manutenção ecológica da fauna e da flora daquele espaço protegido. O clima húmido e quente da estufa do Jardim das Borboletas é o habitat ideal para muitos parasitas. Estes não podem ser eliminados com produtos químicos, sob risco de prejudicar as borboletas. Assim, a equipa resolveu recorrer a predadores naturais que eliminam esses organismos nefastos eficazmente, embora mais demoradamente do que um produto industrial.

O local dispõe igualmente de uma loja de recordações em torno de todo o maravilhoso mundo das borboletas. O Jardim das Borboletas fica situado na route de Trèves, em Grevenmacher e está aberto ao público diariamente, das 9h30 às 17h (até 15 de Outubro). Pode contactar o Jardim das Borboletas pelo e-mail bmstm@pt.lu ou em www.papillons.lu , na internet.

José Luís Correia (in Contacto, 02.04.2008)

Entrevista com Helena Noguerra e Paulo Correia

Helena Noguerra e Paulo Correia no Luxemburgo
para participar em peça adaptada do filme "Faces" de John Cassavetes

Helena Noguerra e Paulo Correia. Ela é irmã de Lio, canta, escreve e experimenta agora as lides do palco. Ele é actor e encenador de teatro. Ambos fazem parte do elenco da peça "Faces" que esteve em representação de 17 a 22 de Maios no Grande Teatro do Luxemburgo, numa encenação de Daniel Benoin, a partir do filme homónimo de 1968 de John Cassavetes. "Faces" é a uma tragi-comédia sobre um casal à beira da ruptura. Cansados da rotina do casamento, ambos vão procurar junto de dois profissionais do sexo o carinho que já não lhes é dado pelo parceiro. Helena e Paulo desempenham precisamente dois dos principais papéis da peça: Jeannie e Chet, a prostituta e o "gigolo".

Paulo confia que aceitou o convite porque gostou do elenco e porque além de adorar Cassavetes, achou interessante a ideia de o teatro "recuperar ideias do cinema, assim como a sétima arte o fez no seu início". Mas também porque era natural participar numa co-produção entre os Teatros da Cidade do Luxemburgo, a Primavera das Artes de Monte Carlo e o Teatro Nacional de Nice, cidade francesa onde vive e trabalha.

Helena, rosto conhecido da cena musical francesa desde 1989

- data do seu primeiro single "Lunettes Noires", banda sonora da famosa emissão "Lunettes noires pour nuits blanches" que Thierry Ardisson apresentou entre 1988 e 1990 -,

confia que, por sua parte, queria viver experiências novas, tentar fazer teatro e trocar Paris por Nice (onde a peça estreou em Setembro de 2007).

Apesar de ter já participado em alguns filmes, confessa-se novata nestas artes do palco e diz que não foi fácil desligar-se da forte impressão que lhe tinha deixado Gena Rowlands, a actriz que originalmente interpretava o papel no filme de Cassavetes e literalmente "habitava" a personagem.

Ambos confiam-se seduzidos pelos personagens que encarnam. Os dois prostitutos revelam-se pessoas bastante ternurentas e ironicamente mais tementes a Deus do que os outros personagens. "A peça fala de pessoas que vendem ou compram sexo, mas que procuram, na verdade, amor ou apenas carinho", analisa Helena. "Cassavetes tenta explorar todas as formas de amor, e até a fé como expressão de amor sublime". "Eu, gosto da história porque não é maniqueísta. Nenhum dos personagens é simplesmente bom ou mau", diz, por seu lado, o actor.

Confiam que "a peça é bastante física!". É que a encenação de Benoin coloca os espectadores, sentados numa vintena de sofás no meio do palco, no espaço em que os actores contracenam. Estes têm que utilizar quase todo o espaço, falar mais alto, correr. "Quando o actor está no meio do público, está em constante estado de tensão. Em palco, no fim de uma cena podemos ir para os bastidores e respirar. Ali não. Quando a acção se desloca para outro lado da sala, nós ficamos no meio do público e devemos continuar a nossa interpretação", explica Paulo.

Helena que além de cantora, também escreve (peças e romances) diz que "ser actriz é ter férias de si mesmo, é ser outro. Escrever é suportar-se!". Paulo concorda. "Os ensaios são difíceis, mas quando as deixas estão sabidas, ser actor é fácil, mais do que, por exemplo, encenador, que é alguém que tem de ocupar-se de quase tudo numa peça", diz o actor da sua experiência como encenador.

Das várias actividades que fazem o que peferem?, interpelamo-los.

"Utilizo suportes diferentes, mas é sempre para fazer a mesma coisa, contar histórias, seja quando canto, quando escrevo canções ou romances, ou como actriz, quando sou o vector de outra pessoa para contar uma história. Não tenho a impressão de ser padeira um dia e no outro astronauta. Sinto-me mais 'legítima' na música onde comecei, mas gosto de tudo o que faço e não gosto de hierarquizar", diz Helena.

Paulo, que começou como encenador, também gosta de mudar: ser actor um dia, no outro encenador. "É a liberdade de quem gosta do que faz e faz o que gosta!", concluem em uníssono.

Paulo já traduziu e encenou peças portuguesas, como "Às vezes neva em Abril"de João Santos Lopes, "que chegou a ser representada no Luxemburgo", diz. O actor conhece aliás o Grão-Ducado por ter por aqui passado integrando o elenco da peça "Festen", de Thomas Vinterberg, em 2003. Actualmente, está a traduzir uma outra peça de João Santos Lopes: é a história de dois casais com a questão da sida em pano de fundo.

O seu projecto imediato (estreia a 29 de Maio, em Nice) é "Stop the tempo", da autora romena, Gianina Carbunaru, e a que o actor quer imprimir "uma encenação cinematrogáfica de filme B", diz. A peça deve estrear em Janeiro de 2009 no Teatro des Capucins no Luxemburgo, que participa na produção. A actriz Valérie Bodson, conhecida dos palcos luxemburgueses, participa na aventura (bem como em "Faces").

Helena também já trabalhou com artistas portugueses. "A aventura com Rodrigo Leão (no álbum "Cinema", de 2004, canta dois temas) foi um acaso", relembra. O Rodrigo precisava de uma voz francesa. Ligou para o seu editor francês que achou boa ideia sugerir várias vozes, entre as quais a minha", conta. Rodrigo terá sucumbido ao charme da sua voz e fez a escolha. Quando a cantora chegou a Lisboa e se dirigiu ao compositor em português, ele ficou surpreendido e chegou a dizer-lhe: "Mas eu pedi uma francesa e mandam-me uma portuguesa?!" Finalmente foi muito positiva a participação sensual e acidulada da voz de Helena no álbum de Rodrigo Leão.

Para breve, a cantora tem dois concertos agendados para a digressão do álbum "Fraise Vanille" (2007), e está a adaptar a sua primeira peça para o cinema. Entretanto, Canal+ propos-lhe passar atrás da câmara para realizar um filme pornográfico (uma média metragem). E Paulo Correia, que não conhecia antes de "Faces", deverá ser um dos convidados para uma duas suas curtas-metragens, a que gosta de chamar "os meus pequenos filmes pop".

Contracenam ainda em "Faces", Valérie Kaprisky, François Marthouret, Valérie Bodson e Catherine Marques, entre outros.

Por esta ocasião, a Cinemateca do Luxemburgo está a propor até Julho uma retrospectiva da obra completa de John Cassavetes.

Os dois artistas confiam ter Lisboa no coração

Quando perguntamos a este filhos de emigrantes portugueses o que lhes vem directamente à ideia quando lhes falamos de Portugal, Helena Noguerra responde instintivamente "Carne de porco à alentejana!" e Paulo Correia grita "Sporting!".

Os pais de Helena são da Beira Alta: a mãe, Lena (hoje já falecida), era de Mangualde e o pai, Alberto, de Arganil. A mãe estava grávida de Helena quando fugiram os três – com a pequena Wanda (Lio, que tinha na altura seis anos) para Bruxelas, onde Helena nasceu em 1968. Emigraram não só porque o pai de Helena era opositor ao regime de Salazar, mas porque a mãe deixara o pai de Wanda, Fernando, e o divórcio era interdito durante a ditadura (segundo a biografia de Lio no seu site internet).

Paulo Correia nasceu no bairro de Benfica em 1970, mas é sportinguista como o avô. Viveu em Lisboa até aos sete anos, após o que seguiu os pais quando estes emigraram para França.

Paulo, que ainda hoje guarda "orgulhosamente", diz-nos, a nacionalidade e o passaporte portugueses, mantém contacto com a cultura portuguesa através do teatro e de amigos como João Santos Lopes, de quem já traduziu e adaptou várias peças para francês.

Tanto Helena como Paulo adoram Lisboa, sobretudo deambular pelas ruas dos bairros típicos. Hoje assumem plenamente as suas raízes. Mas nem sempre foi assim.

"Comecei por negar as minhas raízes durante muito porque em miúdo queria ser como os meus colegas na escola. Havia muitas ideias preconcebidas em relação aos portugueses e durante muitos anos eu nem quis comer bacalhau, recusava falar português e tudo o que era português, nem queria ouvir falar em coisas como a Linda de Suza", conta.

Foi graças ao filme de Wim Wenders "Lisbon Story" (1994) que Paulo ficou com vontade de redescobrir a sua Lisboa natal. "Foi um processo edipiano", analisa, "primeiro tive que romper com a cultura e o Portugal dos meus pais, para depois poder redescobrir por mim próprio as minhas raízes culturais".

Helena teve um percurso idêntico, confessa, como aliás muitos filhos de emigrantes portugueses. Mas à nossa frente, é com saudade que ambos recordam as intermináveis viagens de carro para Portugal, com os pais, quando chegavam as férias de Verão.

Helena fala português como se de um código secreto se tratasse, revela. "Falo português com o meu pai e a minha irmã quando não queremos que outras pessoas percebam. Falo com a família quando vou a Portugal, mas em França, quando me falam em português, respondo instintivamente em francês", diz. "Até aos 30 anos, conhecia apenas o Portugal dos meus pais e não me interessava muito. Um dia, fui a Lisboa para a rodagem de um filme e redescobri a cidade e Portugal", recorda.

Explica-nos ainda que a adopção do nome artístico Noguerra, em detrimento do Nogueira baptismal, não foi por ter vergonha de ser portuguesa, mas porque é mais simples de pronunciar para os franceses, que constantemente lhe deturpavam o apelido. Mas também porque gostou da ideia que veiculava: "não à guerra - no guerra" (dixit).

A pergunta espinhosa: Helena e a sua irmã, Lio

Quando lhe falamos da irmã, Lio – de seu verdadeiro nome Wanda de Vasconcelos, estrela pop dos anos 80 e actualmente um dos membros do júri do programa "La Nouvelle Star", no canal M6 –, Helena diz que, durante as entrevistas, as perguntas recorrentes sobre a irmã já não a chateiam. Mas quando nos preparamos para o fazer, começa por dizer que "não se chateia… quando a previnem!". Confessa que já ultrapassou a questão da celebridade da irmã num dos romances que escreveu e que lhe serviu de catarse.

Apesar de no início da sua carreira ter dificuldades em separar a sua imagem da da irmã, após seis álbuns, seis filmes, dois romances, passagens pela televisão (como apresentadora da M6, na emissão "Plus vite que la musique", no fim dos anos 90) e pelo teatro, ao longo de quase 20 anos de carreira ("Lunettes Noires" data de 1989), Helena Noguerra soube conquistar o seu lugar ao sol no mundo do espectáculo e afirmar o seu talento e a sua personalidade muito próprios.

Um dos sonhos que ainda alimenta é ver o seu nome em grande no cartaz luminoso do Olympia de Paris e aí apresentar um dos seus álbuns.

José Luís Correia (in Contacto, 21.05.08)

UE: Luxemburgueses são os que mais andam a pé, portugueses no fim do pelotão

UE: Luxemburgueses são os que mais andam a pé, portugueses no fim do pelotão

É comum vermos no Luxemburgo pessoas, na maioria das vezes luxemburgueses, a usufruírem aos domingos dos inúmeros trilhos pedestres e veredas florestais que abundam num país que deixa de repente de parecer tão pequeno.

Um estudo da Agência Europeia do Ambiente vem agora quantificar esses passeios e posicionar os habitantes do Luxemburgo como aqueles que mais andam a em toda a União Europeia (UE): cerca de 457 km por pessoa e por ano. A média europeia fica-se pelos 382 km/ano.

Portugal é, em contrapartida, o país da Europa onde menos se anda a , percorrendo cada português, em média, por ano, 342 km, segundo o mesmo estudo, citado a 5 de Março pela organização ambientalista portuguesa Quercus.

"Portugal apresenta o quinto pior resultado da Europa dos 27 no que diz respeito ao aumento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) associadas ao sector do transporte, com um aumento de 96 % (entre 1990 e 2005), só ultrapassado por países como a República Checa, Chipre, Irlanda e Luxemburgo", adianta a Quercus, citando o relatório.

"Quanto ao uso da bicicleta, Portugal ocupa o terceiro pior lugar com uma média baixíssima de apenas 29 km por pessoa / ano (cerca de 1 % da população), ao passo que nos países que apresentam melhores resultados neste indicador, os seus cidadãos usam a bicicleta para percorrer, em média, 936 km na Dinamarca ou 848 km na Holanda. A média comunitária é de 188 km por pessoa/ano", refere ainda organização ambientalista portuguesa.

Paradoxalmente, o Luxemburgo é, com 654 automóveis por cada mil habitantes, o país mais motorizado da UE.

Talvez o grande número de automóveis ou a falta de verdadeiras pistas cicláveis nos centros da maioria das cidades (a capital só há pouco tempo se dotou de algumas pistas) explique que os luxemburgueses sejam também os europeus que menos usam a bicicleta (apenas 0,6 %).

"Nós vamos passear, os outros têm de estudar..."

Os resultados estatísticos que apontam os habitantes do Luxemburgo como os europeus que mais andam a (ver artigo principal) surpreendem menos quando se sabe que os amantes da caminhada dispõem no Luxemburgo de 5.000 km e mais de 500 trilhos e caminhos balizados, fazendo do pequeno Grão-Ducado um dos países com uma das redes de passeios mais densas de toda a Europa.

A par dos 171 circuitos auto-pedestres que o Gabinete Nacional do Turismo (ONT) propõe, há também os trilhos das Pousadas de Juventude, os roteiros CFL (dos Caminhos de Ferro Luxemburgueses), os passeios transfronteiriços, sem esquecer os itinerários temáticos. Só na cidade do Luxemburgo, existem três: Wenzel, City Safari e o recém-inaugurado "Mil anos de História das Mulheres no Luxemburgo" (ver também artigo na pág. 4).

O Ministério do Turismo apresenta no seu site internet (em www.mdt.public.lu/action/infrastructure/sentiers/index.html#1 ) todo o arsenal de guias e brochuras com informações práticas sobre esses 5 mil km de caminhos.

Mas a caminhada no seio da Natureza abundante e verdejante é no Luxemburgo sobretudo um traço cultural, algo que se inculca desde cedo nas crianças como uma prática que não só faz bem à saúde como desperta nos mais novos o primeiro reflexo ecológico. É sobretudo nas escolas primárias luxemburguesas que os professores habituam os alunos desde tenra idade a passeios frequentes pelas matas e florestas que o Estado soube tão inteligentemente preservar até hoje. Tão frequentemente que inspirou a estes a conhecida cantilena infantil luxemburguesa "Mir gi spazéieren, déi aner musse léieren..." ("Nós vamos passear, os outros têm de estudar!"), que alegremente entoam quando o docente tem a boa ideia de trocar a tradicional aula por uma caminhada ("e Spazéiergang").


José Luís Correia (In Contacto, 12.03.08)

sábado, 24 de maio de 2008

Eurovision 2008: the 12 points from the luxemburgish jury go to...



Good Evening Belgrade, Luxembourg calling: The 12 points of the luxemburgish jury go to Sébastien Chabal, ...huh, sorry...we ment... Sébastien Tellier. France, who uses to be so irritating with the franco-french culture, dared this year to send a contestant singing in english. He's song 'Divine' is simply divine, too cool, full of selfderision, good rythm and good vibes.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Debate sobre o futuro do jornalismo no Luxemburgo

Recordo o debate de hoje, às 18h30, no CCRN-Abadia de Neumünster (sala A11), no Grund, cidade do Luxemburgo, subordinada à temática: "Quelles perspectives pour la presse écrite au Luxembourg?"

Com:
- Léon Zeches, director-geral do grupo editorial saint-paul luxembourg e chefe de Redacção do "Luxemburger Wort"
- Alvin Sold, director-geral do grupo editorial Editpress e chefe de Redacção do "Tageblatt"
- Claude Karger, chefe de Redacção do "Lëtzebuerger Journal"
- Aly Ruckert, chefe de Redacção do "Zeitung vum Lëtzebuerger Vollek"

Moderado por: Marco Goetz, jornalista da RTL.
Org.: por ocasião dos 60° aniversário do Lëtzebuerger Journal"

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Hoje, recepção extraordinária de livros de poesia

Tornei-me Leitor + da jovem Cosmorama Edições, da Maia, e que me merece um carinho especial porque aposta nos poetas jovens ou ainda desconhecidos do grande público. Hoje chegaram os livros a que tenho direito como membro aderente :-)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

-"Horizonte e ocidente" do grande António Ramos Rosa (n. Faro, 1924)
- "Cabeças", de Pedro Marqués de Armas, um poeta cubano (n. Havana, 1965) residente em Barcelona
- "Sobre as imagens" e "O Bosque Cintilante", de Amadeu Baptista (n. Porto, 1953) (foto em baixo)
- "A Vocação dos Homens Silenciosos", de Sandra Costa (n. São Mamede de Coronado, Trofa, 1971)
- "Ao fundo do silêncio" de Rui Amaral Mendes (n. Vila Nova de Gaia, 1975)
- "Escrito em osso", de Caudio Daniel (n. São Paulo, Brasil, 1962)
- "Sobre fio de lume", de Luís Soares Barbosa
- "Zerbino", de José Rui Teixeira (n. Porto, 1974)
- "Saudade Minha-Poesias Escolhidas", de Guilherme de Faria (n. Guimarães, 1907-1929) (foto em cima)
- Colector Cosmorama "Poetas e Poéticas" n°7, sobre Guilherme de Faria e Jorge Melícias

- e o "pornografia erudita", do valter hugo mãe, que ele próprio fez a gentileza de me oferecer quando cá esteve em Abril


Amei também as capas dos livros, sóbrios e com escolha de fotografias de jovens talentos ainda ignotos, o que prova não só o bom gosto dos editores, como a aposta nas novas gerações de artistas além da fronteira da poesia (se bem que essa geografia exista ou seja mesmo desejável).

Esta foto (ao lado) é uma das minhas capas preferidas, assinada pela talentosa fotógrafa arménia Lilya Corneli (n. 1978, Yerevan, Arménia).

Depois há as da portuense Inês d'Orey (n. 1977, Porto). Aproveito para informar, à passagem, que a artista inaugura daqui a dois dias (24 Maio, às 16h) uma exposição colectiva, com Nelson d'Aires e Virgílio Ferreira (o jovem fotógrafo e não o seu homónimo o escritor, que faleceu em 1996!) na Fábrica Social/Fundação Escultor José Rodrigues, Rua da Fábrica Social, no Porto. Se morasse mais perto, passava por lá...

Há ainda fotos de Antoine Pimentel (o ex-baterista dos Belle Chase Hotel, reconvertido na fotografia?) e de Cristiana Pimenta.

Não há dúvida, vou passar um excelente resto de dia e de semana. Vou folhear, deleitar-me, ler, descobrir, perder-me...

Ah, que prazer ter um livro para ler... sorry, Nandinho!

A televisão e nós, os telespectadores, no divã!

"A promessa dos géneros televisuais: ou como vemos nós a televisão?"
é o tema de uma conferência que tem lugar hoje, pelas 18h30, na Universidade do Luxemburgo, Campus de Limpertsberg (sala 1.03, Departamento das Ciências), na cidade do Luxemburgo.
Conferencista: François Jost, professor na Universidade da Nova Sorbonne Paris III, dirige o Centro de Estudos sobre a Imagem e o Som Mediáticos (CEISME) e ensina a análise da televisão e a semiologia audiovisual.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Croisette: Manoel de Oliveira fala em novo filme baseado em conto de Eça de Queiroz



Foi ontem. Entretanto, Manoel de Oliveira anunciou que já está a preparar o seu próximo filme baseado no conto "Singularidades de Uma Rapariga Loura" de Eça de Queiroz.

E para os que nunca leram ou já não se lembram, fica aqui um excerto do conto, e uma das passagens mais deliciosas da história:

"(...)
Macário estava então na plenitude do amor e da alegria.
Via o fim da sua vida preenchido, completo, radioso. Estava quase sempre em casa da noiva, e um dia andava-a acompanhando, em compras, pelas lojas. Ele mesmo lhe quisera fazer um pequeno presente, nesse dia. A mãe tinha ficado numa modista, num primeiro andar da Rua do Ouro, e eles tinham descido, alegremente, rindo, a um ourives que havia em baixo, no mesmo prédio, na loja.
O dia estava de Inverno, claro, fino, frio, com um grande céu azul-ferrete, profundo, luminoso, consola
dor.
- Que bonito dia! - disse Macário.
E com a noiva pelo braço, caminhou um pouco, ao comprido do passeio.
- Está! - disse ela. - Mas podem reparar, nós sós...
- Deixa, está tão bom...
- Não, não.

E Luísa arrastou-o brandamente para a loja do ourives.
Estava apenas um caixeiro, trigueiro, de cabelo hirsuto..
Macário disse-lhe:
- Queria ver anéis.
- Com pedras - disse Luísa - e o mais bonito.
- Sim, com pedras - disse Macário. - Ametista, granada. Enfim, o melhor.
E, no entanto, Luísa ia examinando as montras forradas de veludo azul, onde
reluziam as grossas pulseiras cravejadas, os grilhões, os colares de camafeus, os anéis de armas, a
s finas alianças, frágeis como o amor, e toda a cintilação da pesada ourivesaria.
- Vê, Luísa - disse Macário.
O caixeiro tinha estendido, na outra extremidade do balcão, em cima do vidro da montra, um reluzente espalhado de anéis de ouro, de pedras, lavrados, esmaltados; e Luísa, tomando-os e deixando-os com as pontas dos dedos, ia-os correndo e dizendo:
- É feio. É pesado. É largo.
- Vê este - disse-lhe Macário.
Era um anel de pequenas pérolas.
- É bonito - disse ela. - É lindo!
- Deixa ver se serve - disse Macário.
E tomando-lhe a mão, meteu-lhe o anel devagarinho, docemente, no dedo, e ela ria, com os seus brancos dentinhos finos, todos esmaltados.
- É muito largo - disse Macário. - Que pena !
- Aperta-se,
querendo. Deixe a medida. Tem-no pronto amanhã.
- Boa ideia - disse Macário - sim senhor. Porque é muito bonito. Não é verdade? As pérolas muito iguais, muito claras. Muito bonito! E estes brincos? - acrescentou, indo ao fim do balcão, a outra montra. - Estes brincos com uma concha?
- Dez moedas - disse o caixeiro.
E, no entanto, Luísa continuava examinando os anéis, experimentando-os em todos os dedos, revolvendo aquela delicada montra, cintilante e preciosa.
Mas, de repente, o caixeiro fez-se muito pálido, e afirmou-se em Luísa, passando vagarosamente a mão pela cara.
- Bem - disse Macário, aproximando-se - então amanhã temos o anel pronto. A que horas?
0 caixeiro não respondeu e começou a olhar fixamente para Macário.
- A que horas?
- Ao meio-dia.
- Bem, adeus
- disse Macário. E iam sair. Luísa trazia um vestido de lã azul, que arrastava um pouco, dando uma ondulação melodiosa ao seu passo, e as suas mãos pequeninas estavam escondidas num regalo branco.
- Perdão! - disse de repente o caixeiro.
Macário voltou-se.
- 0 senhor não pagou.
Macário olhou para ele gravemente.
- Está claro que não. Amanhã venho buscar o anel, pago amanhã.
- Perdão! - disse o caixeiro. - Mas o outro...
- Qual outro? - disse Macário com uma voz surpreendida, adiantando-se para o balcão.
- Essa senhora sabe – disse o caixeiro. - Essa senhora sabe.
Macário tirou a carteira lentamente.
- Perdão, se há uma conta antiga...
O caixeiro abriu o balcão, e com um aspecto resoluto:
- Nada, meu caro senhor, é de agora. É um anel com dois brilhantes que aquela senhora leva.
- Eu! - disse Luísa, com a voz baixa, toda escarlate.
- Que é? Q
ue está a dizer?
E Macário, pálido, com os dentes cerrados, contraído, fitava o caixeiro colericamente.
O caixeiro disse então:
- Essa senhora tirou dali um anel. - Macário ficou imóvel encarando-o. - Um anel com dois brilhantes. Vi perfeitamente. - O caixeiro estava tão excitado, que a sua voz gaguejava, prendia-se espessamente.- Essa senhora não sei quem é. E tirou-o dali...
Macário, maquinalmente, agarrou-lhe no braço, e voltando-se para Luísa, com a palavra abafada, gotas de suor na testa, lívido:
- Luísa, dize... - Mas a voz cortou-se-lhe.
- Eu... - disse ela. Mas estava trémula, assombrada, enfiada, descomposta.
E tinha deixado cair o regalo ao chão.
Macário veio para ela, agarrou-lhe no pulso fitando-a: e o seu aspecto era tão resoluto e tão imperioso, que ela meteu a mão no bolso, bruscamente, apavorada, e mostrando o anel:
- Não me faça mal - disse, encolhendo-se toda.
- Macário ficou com os braços caídos, o ar abstracto, os beiços brancos; mas de repente, dando um puxão ao casaco, recuperando-se, disse ao caixeiro:
- Tem razão. Era distracção. Está claro! Esta senhora tinha-se esquecido. É o anel. Sim, sim, senhor, evidentemente... Tem a bondade. Toma, filha, toma. Deixa estar, este senhor embrulha
-o. Quanto custa?
- Abriu a carteira e pagou.
Depois apanhou o regalo, sacudiu-o brandamente, limpou os beiços com o lenço, deu o braço a Luísa e dizendo ao caixeiro: «Desculpe, desculpe», levou-a, inerte, passiva, extinta e aterrada.
Deram alguns passos na rua. Um largo sol aclarava o génio feliz: as seges passavam, rolando ao estalido do chicote: figuras risonhas passavam, conversando: os pregões ganiam os seus gritos alegres: um cavalheiro de calção de anta fazia ladear o seu cavalo, enfeitado de rosetas; e a rua estava cheia, ruidosa, viva, feliz e coberta de sol.
- Macário ia maquinalmente, como no fundo de um sonho. Parou a uma esquina. Tinha o braço de Luísa passado no seu; e via-lhe a mão pendente, ora de cera, com as veias docemente azuladas, os dedos finos e amorosos: era a mão direita, e aquela mão era a da sua noiva! E, instintivamente, leu o cartaz que anunciava para essa noite, «Palafoz em Saragoça».
De repente, so
ltando o braço de Luísa, disse-lhe baixo:
- Vai-te.
- Ouve!... - disse ela, com a cabeça toda inclinada.
- Vai-te. - E com a voz abafada e terrível: - Vai-te. Olha que chamo. Mando-te para o Aljube. Vai-te.
- Mas ouve, Jesus - disse ela.
- Vai-te! - E fez um gesto, com o punho cerrado.
- Pelo amor de Deus, não me batas aqui - disse ela, sufocada.
- Vai-te,
podem reparar. Não chores. Olha que vêem. Vai-te!
E chegan
do-se para ela disse baixo:
- És uma
ladra!
E voltando-lhe as costas, afastou-se, devagar, riscando o chão com a bengala.
À distância, voltou-se: ainda viu, através dos vultos, o seu vestido azul.
Como partiu nessa tarde para a província, não soube mais daquela rapariga loura."

Excerto
retirado do conto "Singularidades de Uma Rapariga Loura, da colectânea "Contos" de Eça de Queiroz, n°9, Edição Livros do Brasil, Lisboa, 1987, págs. 30-34)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Cannes: Aos 100 anos, Manoel de Oliveira recebe Palma de Ouro. FINALMENTE !!!

O realizador português Manoel de Oliveira recebeu hoje (finalmente) a Palma de Ouro no 61° Festival Internacional de Cinema de Cannes, numa homenagem que lhe foi dedicada pela integridade da sua obra e por ser, com 100 anos de idade (que completa no próximo dia 12 de Dezembro), o realizador mais velho do Mundo ainda em actividade.

Manoel de Oliveira recebeu o prémio esta tarde das mãos do actor francês Michel Piccoli, numa cerimónia que contou com a presença do actor e realizador norte-americano Clint Eastwood, o presidente da Cinemateca Portuguesa, João Bénard da Costa, bem como dos membros do júri do Festival de Cannes deste ano, entre os quais se encontravam o actor e realizador norte-americano Sean Penn (presidente do júri desta edição), a autora de banda desenhada e realizadora iraniana Marjane Satrapi, e a actriz Natalie Portman. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, também esteve presente.

Durante a cerimónia, a organização do festival fez questão de exibir o filme "Um dia na vida de Manoel de Oliveira", assinada pelo presidente do festival, Gilles Jacob, e a curta-metragem documental "Douro faina fluvial", o primeiro filme realizado por Manoel de Oliveira, em 1931.

Facto menos conhecido é que Manoel de Oliveira começou na sétima arte como actor, ainda nos tempos do cinema mudo, o que lhe valeria aos 25 anos contracenar com Beatriz Costa, Vasco Santana e António Silva na famosa película "A Canção de Lisboa". A última vez que aceitou ser actor foi para ser dirigido por Wim Wenders no filme "Lisbon Story" (1994).

Kufa goes Flamenco

3° Festival de Flamenco, de 22 a 31 de Maio na Kuturfabrik, em Esch/Alzette com:
- Clube de Baile Español
- Escola de Dança Pascale Schmit
- Bulería, de Pedro Ricardo Miño (piano)
- Bailaora, de Pepa Montes (dança) e Ricardo Miño (guitarra)
- Espectáculo de dança de Patricia Pérez Guerrero (com apenas 17 anos, a jovem bailarina natural de Grenada venceu o Prémio El Desplante 2007, concurso de dança do Festival Internacional del Cante de las Minas)
- Estágios de flamenco (dança, canto, guitarra e palmas) com Fran Espinosa, Antonio Plantón Moreno "El Güeñi", Alberto Lucena e Luis Dorado.

Mais informações e inscrições para as aulas de flamenco junto da Kulturfabrik ou pelo tel. 554493-1.

domingo, 18 de maio de 2008

Ao domingo, gosto de pornografia (4)


"Um corpo bom como um figo,

não se fode vestido!"




in "Da Sedução - Poemas Eróticos de Bertolt Brecht, com gravuras de Pablo Picasso" (1999, Ed. Bizâncio). Uma prendinha que a minha querida Carla P. me ofereceu em boa hora, porque hoje o livrinho está esgotado.

Ao domingo, gosto de pornografia (3)


Pablo Picasso, "Duas figuras e um gato", 1902

Ao domingo, gosto de pornografia (2)


"Hercules et Omphale", François Boucher, 1735 (alegoria sobre a relação adúltera de Onfala, rainha da Lídia, com o semi-deus Hercules)

Ao domingo, gosto de pornografia


a língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

Carlos Drummond de Andrade (in "O Amor Natural", 1992)

sábado, 17 de maio de 2008

Little, a nova lolita da pop francesa


É o primeiro single do álbum epónimo de Little, lançado em Abril. A cantora francesa de origem vietnamita com apenas 21 anos e cujo nome de baptismo é Aurélie Nguyen assina assim o seu álbum de estreia. A primeira canção intitula-se "Je veux des violons" (aqui em versão acústica, se preferem a versão super-produzida, cliquem aqui).


Outra talento à vista é Soko, uma míúda de 23 anos que com o seu acidulado "I'll kill her" promete ser também uma das novas lolitas da música hexagonal.

A lógica simplista norte-americana do "Good guys, bad Guys !"

As declarações de quinta-feira, diante do Knesset (parlamento israelita), de George W. Bush sobre Barack Obama, lamentando que este candidato democrata à presidência tivesse dito que era necessário negociar com o governo iraniano para tentar evitar uma nova guerra, comparando-o aqueles que pactuaram com Hitler durante a II Guerra Mundial (ver post anterior), são reveladores da unilateralidade de pensamento e acção da Administração Bush.

Para esta Administração

- prefiro dizer "Administração" porque, além de ser a tradução literal do termo norte-americano para Governo (administration), assenta que nem uma luva a um Executivo que tem mais preocupações económico-financeiras e comerciais com os parceiros que o colocaram no poder e a quem tem essa factura para pagar (leia-se os grandes conglomerados industriais do petróleo e das armas), do que propriamente sociais, ou senão vejamos como o comum dos fellow citizens é tratado nos Estados Unidos a nível de protecção social (who cares!, é o cada um por si, como mostrou o filme de Michael Moore, "Sicko"!) ou como a Casa Branca geriu a tragédia das cheias na Nova Orleans (2005), mais alerta aos furtos nas vivendas afortunadas do que nas condições que os sobreviventes (a maioria oriunda das classes pobres) tinham que enfrentar -,

(desculpem-me o longo intróito!

para a Administração Bush, dizia eu, as coisas definem-se sempre assim: ou é branco ou preto!

Nem estou a (mas até poderia!) fazer referência ao segragacionismo, mas reparem como desde sempre os governos norte-americanos optaram por explicar aos seus cidadãos que só existem dois lados para uma questão: a boa, que é forçosamente aquela que o "nós, colectivo americano" defende, e a deles, "a má", a dos bad guys. Como os índios e os cobóis. Se uns são os bons, os outros só podem ser os vilões. E assim foram durante muito tempo retratados no cinema. A mensagem era simples e o público engolia estupidez às colheradas.

Quando, logo em 2001, a Administração Bush optou pelo termo "eixo do mal" para definir as "forças malignas" que haviam estado na origem dos atentados do 11 de Setembro e designou um "mau da fita", que, por acaso se chama Osama Ben Laden (este até foi treinado pela CIA, mas bem podia ser outro!), não o fez inocentemente! Entendeu e bem que era a maneira mais fácil de reunir à sua volta o maior consenso possível e obter "carta branca" para tudo o que viesse a decidir para erradicar esse "mal". Para a opinião pública norte-americana, nas iris dos quais ainda fumegavam as cinzas das torres gémeas, a solução estava encontrada. Os corações amargurados nem podiam ser um dia acusados de vendetta porque, neste caso, era mesmo justiça que se iria fazer.

E foi com o mesmo "espírito" que os EUA "alegremente" decidiram a invasão do Iraque em 2003. Supostamente para encontrar armas de destruição massiça e derrubar um ditador sanguinário. Recordo que as temíveis armas não foram descobertas e ditaduras duras, infelizmente, há outras. Embora reconhecendo a repressão e a barbárie que Saddam Hussein exercia contra o seu povo, considero que esta intervenção se fez da forma errada e que cabia às Nações Unidas executar o que fosse decidido pela maioria dos países com assento na instituição. O policiamento não cabe aos EUA. Nem eles são a cavalaria que chega de trompete em riste, nem os iraquianos são os índios.

Isto faz-me pensar num interssante diálogo no filme "Good Morning Vietnam" (Barry Levinson, 1987) quando Robin Williams, que interpreta o locutor de rádio Adrian Cronauer, das forças militares norte-americanas, descobre que o jovem amigo vietnamita Tuan (o actor Tung Thanh Tran), com quem tinha travado amizade (e que o faz escapar, inclusive, a dois atentados) é afinal um viet-cong. O diálogo foi mais ou menos este:

Locutor: Fiz-te confiança e descubro que fazes parte da porra do inimigo?

Vietnamita: Inimigo, inimigo, quem eu? Tu, que vens de tão longe para matar o meu povo, chamas-me de inimigo?

(diálogo completo aqui, nos últimos dez minutos do filme)


Não vos faz lembrar nada? (Does this ring a bell to you?)

A Guerra do Vietname, em que os Estados Unidos tinham embarcado supostamente para libertar o país do jugo comunista que pairava, transformou-se num lodaçal onde morreram cerca de um milhão e meio de vietnamitas e quase 60 mil soldados americanos. Um guerra que durou 15 anos.
Hoje, quando oiço o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, dizer que, segundo as suas previsões "a Guerra no Iraque pode ser ganha até 2013", fico deveras preocupado com um Vietname bis, seja no Iraque ou no Irão, e a consequente onda de choque económica e securitária a nível mundial que a todos já nos afecta mas pode vir a ser reforçada. E tudo se vai decidir nas futuras eleições presidenciais norte-americanas a 4 de Novembro. Daí a importância que se fale, se discuta e reflicta sobre estas eleições, que não são apenas "domésticas", como os americanos gostam de defender, mas dizem respeito a todos nós, apesar de nós.


Foto: Ali Yussef/AFP

Autor desconhecido (foto encontrada aqui)

Fotografias, com a devida vénia: "mão ensanguentada", foto de Ahmeed Rasheed (Associated Press); "snipers iraquianos atacam soldados americanos", foto de João Silva / New York Times.
N.B.: As fotos serão retiradas se os autores assim o exigirem.

Bush Calls Obama A Nazi Appeaser - a última asneirada de Bush (e McCain subscreveu!)



May, 15 / in Israel

OBAMA'S ANSWER:




May 16 / in South Dakota

AND THE ANALYST'S COMMENTS...


sexta-feira, 16 de maio de 2008

A menina adiou para amanhã :-(


Vou passar a noite sorumbático e inane...

My date tonight!




Hoje tenho
encontro marcado
com este borracho.
Hum... Depois conto ;-)

Algarve Digital



Algarve Digital - Um projecto inteligente, finalmente, para o meu Algarve. E uma ferramenta útil, no mínimo. Mas com certeza um convite a rumar ao Sul para descobrir que há mais Algarve no Allgarve que muita gente poderia à partida pensar ou sequer imaginar.
Para muitos não é novidade, já que o projecto foi lançado no final do ano passado, mas por uma vez que escrevo e que não é para lamentar que a construção de um mamarracho está a destruir dunas, falésias ou matas, deixem-me fazer
promoção à minha região. Se um blog também não serve para este tipo de coisas, então, que diacho, não percebo nada disto ;-)

Gasóleo + caro do que a Gasolina 98 octanas ou o Homem como produto em saldos

Enquanto as catástrofes naturais destroem a outra metade do Mundo, deste lado o tsunami é económico: hoje, pela primeira vez desde sempre, o gasóleo ultrapassa o preço da gasolina normal 95 octanas e passa a custar 1,267 euros. É exactamente o dobro do que custava que há cinco anos. Só por isto se vê o que o Mundo mudou desde 2003. O petróleo arrasta todo o resto da economia atrás de si com as consequências das altas de preços e da perda do poder de compra das classes média e baixa que se vêem, alargando ainda mais o fosso entre as classes modestas que possuem cada vez menos meios e as classes abastadas que auferem cada vez mais altos rendimentos.

Nós, aqui no Luxemburgo, ainda somos dos mais privilegiados, protegidos nesta ilha, agora quase-ilha, tornando-se a pouco e pouco uma península. Mas a onda de choque do continente económico há-de também abater-se aqui.

Aproveito para aconselhar o excelente texto "Le Bazar Gobal", uma leitura bastante justa e analítica do momento socioeconómico actual no blog do Paulo Lobo, "Voyagens en Suspens", porque apesar de frequentemente ausente em viagem (imaginária ou interior), nem a ele escapa este difícil parto que está a ser o século XXI. Considero inclusive o título muito apropriado, clarividente e de interpretação dupla: "bazar" enquanto sinónimo na gíria popular francesa de "caos, confusão", mas também como sinónimo de "loja onde tudo está à venda e pode ser comprado".
O mundo globalizado quer dizer afinal que (e o Paulo compreendeu-o bem!) o mundo está à venda e nós todos também fazemos parte do "brinde". E se os senhores do mundo, os magnatas dos grandes conglomerados multinacionais, que monopolizam ("monolitizam") a economia global, quiserem subir os bens de consumo em alta não haverá como definir-lhes limites. Nem se nos quiserem vender a nós ao desbarato haverá fuga possível aos saldos globais.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Filme de Carlos Saura: "Fados" no Cinema Utopia

Filme de Carlos Saura "Fados" chega finalmente ao Luxemburgo

O filme "Fados", que o realizador espanhol Carlos Saura lançou em 2007, chega finalmente ao Luxemburgo, estreando esta sexta-feira, no Cinema Utopia, na capital.

Contando com a participação de Mariza, Camané, Carlos do Carmo, Argentina Santos, Ana Sofia Varela, Pedro Moutinho (irmão de Camané), integrando igualmente artistas estrangeiros como as cabo-verdianas Cesária Évora e Lura, bem como os brasileiros Caetano Veloso e Chico Buarque de Hollanda, entre outros, o filme "Fados" (93 min.) que o realizador espanhol Carlos Saura lançou em 2007 chega esta sexta-feira ao Luxemburgo.

No filme, o realizador aventa, por exemplo, que o Fado teria surgido no Brasil. Saura sempre se defendeu, afirmando que o filme não se pretendia um documentário sobre as origens e a história do fado mas antes uma reflexão artística muito pessoal sobre este género musical tipicamente luso. A ideia terá surgido de uma conversa entre Carlos Saura e Carlos do Carmo quando discutiam sobre os vários tipos de fados, daí o plural do título.

O filme é uma co-produção luso-brasileira que contou com, entre outros, a produtora "Fado Filmes" de Luís Galvão Teles, produtor e realizador que residiu durante largos anos no Luxemburgo.

"Fados" finaliza uma trilogia que Saura iniciara com dois filmes sobre o Flamenco e o Tango.

José Luís Correia, in Contacto, 14.05.08

"Quelles perspectives pour la presse écrite au Luxembourg?"

Debate na sexta-feira, 23 de Maio, às 18h30, no CCRN-Abadia de Neumünster (sala A11), no Grund, cidade do Luxemburgo, subordinada à temática: "Quelles perspectives pour la presse écrite au Luxembourg?"

Com:
- Léon Zeches, director-geral do grupo editorial saint-paul luxembourg e chefe de Redacção do "Luxemburger Wort"
- Alvin Sold, director-geral do grupo editorial Editpress e chefe de Redacção do "Tageblatt"
- Claude Karger, chefe de Redacção do "Lëtzebuerger Journal"
- Aly Ruckert, chefe de Redacção do "Zeitung vum Lëtzebuerger Vollek"

Moderado por: Marco Goetz, jornalista da RTL.
Org.: por ocasião dos 60° aniversário do Lëtzebuerger Journal"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cannes Ouverture: "Blindness", de José Saramago e Fernando Meirelles



O filme chama-se "Blindness" e abriu hoje o 61° Festival de Cannes. É a adaptação para cinema do best-seller internacional "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago, Prémio Nobel da Literatura 1998. O filme é assinado pelo cineasta brasileiro, Fernando Meirelles (cf. "A Cidade de Deus", etc.).
Nos principais papéis encontramos grandes nomes do grande ecrã como Julianne Moore, Gael Garcia Bernal, Danny Glover e Mark Ruffalo.

Num primeiro tempo, diz-se que Saramago começou por opor-se a uma adaptação do seu romance por considerar que "o cinema destrói a imaginação", mas o escritor acabou depois por aceitar trabalhar estreitamente com Meirelles.

Os críticos dizem que o filme não capta o público, o visionamento de hoje em Cannes deixou a desejar. O filme fica aquém da narração de Saramago e o público que assistiu disse que esperava que as cenas tivessem a carga dramática do livro, que visivelmente o filme não consegue transmitir.

Penso que deve ser o primeiro blockbuster hollywoodiano realizado a partir de um romance português, salvo erro, o que, só por si, já é muito bom, para a projecção a nível internacional da literatura lusa. Opino eu, sei lá!

O filme sai nos Estados Unidos no Outono. Deverá chegar às salas escuras da Europa antes do Verão (em França sai em Julho), mas a Portugal apenas em Novembro.

Da ubiquidade : expo dos irmãos Godinho no Instituto Camões


Instalação "Sometimes be here and there at the same place", com sonorização plástica, da autoria de Marco Godinho (instalação) e Fábio Godinho (sonorização) no Instituto Camões-Centro Cultural Português no Luxemburgo (8, boulevard Royal, na cidade do Luxemburgo), até 5 de Junho.

Na instalação "Sometimes be here and there at the same place", o artista plástico Marco está em Echternach (a cidade onde mora e trabalha) com um mapa da cidade do Luxemburgo à sua frente. Conectado ao irmão (através de Skype!) tenta dirigir Fábio, o actor, pelas ruas de Paris, como se as duas realidades geográficas fizessem parte de uma mesma cartografia sobreposta e deslocada. Em Paris, Fábio filma o seu périplo, imagens que Marco não pode ver, e que o visitante da instalação visiona, atónito, perante uma geografia penetrando outra, como um interseccionismo pessoano reanimado e reinventado para a época das tecnologias da informação e da comunicação.

É aliás a partir de um verso de Fernando Pessoa sobre "por vezes, estar aqui e além, no mesmo lugar", que Fábio - durante a inauguração da instalação, e enquanto a tela continua a exibir em pano de fundo o seu itinerário parisiense -, experimenta derivas textuais da sua autoria a partir do escrito pessoano, variações musicais que compôs para a ocasião e uma interpretação dramática para um actor só, que se procura, que busca um sentido, os sentidos, as direcções, desenha uma rosa-dos ventos no chão e deseja a ubiquidade, a vontade de estar em dois lugares ao mesmo tempo, e de, durante o processo, inventar um terceiro: uma realidade geográfica onde coubessem as duas primeiras, como se de um continente imaginário se tratasse (embora ainda não reportoriado por Alberto Manguel no seu "Dicionário dos Lugares Imaginários").


Bios:

A obra plástica de Marco Godinho, um jovem português de 29 anos, que aos nove deixou Salvaterra de Magos rumo ao Luxemburgo, tem sido particularmente bem recebida por instituições artísticas em França e no Luxemburgo. As suas obras fazem parte da colecção de prestigiados Museus, de que se destaca o Museu da Cidade do e o Museu de Arte Moderna do Luxemburgo. Com uma formação artística polivalente, a sua obra vai da pintura, escultura, fotografia, passando pelo desenho, pelo vídeo, pela instalação e design gráfico, concluiu a sua formação académica na Faculdade de Belas Artes de Nancy. Foi vencedor da Bienal de Artes Plásticas no Luxemburgo, o que lhe proporcionou acesso directo à "Cité International des Arts", em Paris.

Fábio Godinho tem 22 anos, frequenta o 2° ano de Formação Teatral na Escola de Arte Dramática "Cours Florent" e o 1° ano da licenciatura em Estudos Teatrais na Sorbonne, em Paris.

Sobre Marco Godinho, aconselho-vos ainda a hiperligação para um texto sobre o artista publicado na revista "Magazine Artes" (Julho/Agosto 20007) e assinado pela jornalista Susana Paiva

APRENDI A LER NÃO NO TEU SILÊNCIO: Marco Godinho

APRENDI A LER NÃO NO TEU SILÊNCIO: Marco Godinho

As mulheres são o que são e os homens nunca hão-de mudar!

"Há três tipos de homens que não entendem nada de mulheres: os jovens, os velhos e os que estão entre os dois!" (provérbio irlandês)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Novo blog luxemburguês sobre os Media


Foi lançado este mês um novo blog luxemburguês Medialux-Blick in die Welt der Medien, que se propõe como objectivo a reflexão sobre o papel da comunicação social e media em geral no Luxemburgo.
Interessante e necessário, e a única coisa nova que apareceu na matéria desde o livro "Les journaux au Luxembourg, 1704-2004",de Romain Hilgert (2004).
A ver vamos até que ponto a análise pode ajudar a desentorpecer o micro-clima jornalístico e media em que o país vive.
Para já, único ponto negativo: ser apenas redigido em alemão.

Helena Noguerra em "Faces" no Grande Teatro do Luxemburgo

A cantora e actriz luso-belga (embora residindo e trabalhando em França) Helena Noguerra (n. 1969), de quem já tinha tido oportunidade de falar neste blog a 9 de Janeiro e por quem me apaixonei ao ouvir a prestação no álbum "Cinema" de Rodrigo Leão vai estar a partir de sábado no Luxemburgo, fazendo parte do elenco da peça "Faces", uma adpatação cénica de Daniel Benoin do filme homónimo de John Cassavetes.
A peça, que vai estar no estúdio do Grande Teatro do Luxemburgo, em Limpertsberg, de 17 a 22 de Maio, sempre às 20h, conta ainda, nos principais papéis, com Valérie Kaprisky e François Marthouret. Da parte luxemburguesa incluem o elenco Caty Baccega, Valérie Bodson, Paul Chariéras, Paulo Correia (não sei ainda quem é!) e Catherine Marques (adoptou o nome de família do marido, que é português).

Por esta ocasião, a Cinemateca da cidade do Luxemburgo está a propôr, desde a semana passada e até ao mês de Junho uma retrospectiva da obra completa do realizador.

"Acessoriamente", Helena Noguerra é irmã da famosa cantora Lio (Wanda Vasconcelos de seu verdadeiro nome), intérperete do estrondoso sucesso juvenil pop "Banana Split", nos tops em França, corria o ano de 1980. Actualmente Lio é júri no concurso "Nouvelle Star" (equivaente aos "Ídolos" franceses), difundido semanalmente no canal francês M6.