sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 17 de maio de 2008

A lógica simplista norte-americana do "Good guys, bad Guys !"

As declarações de quinta-feira, diante do Knesset (parlamento israelita), de George W. Bush sobre Barack Obama, lamentando que este candidato democrata à presidência tivesse dito que era necessário negociar com o governo iraniano para tentar evitar uma nova guerra, comparando-o aqueles que pactuaram com Hitler durante a II Guerra Mundial (ver post anterior), são reveladores da unilateralidade de pensamento e acção da Administração Bush.

Para esta Administração

- prefiro dizer "Administração" porque, além de ser a tradução literal do termo norte-americano para Governo (administration), assenta que nem uma luva a um Executivo que tem mais preocupações económico-financeiras e comerciais com os parceiros que o colocaram no poder e a quem tem essa factura para pagar (leia-se os grandes conglomerados industriais do petróleo e das armas), do que propriamente sociais, ou senão vejamos como o comum dos fellow citizens é tratado nos Estados Unidos a nível de protecção social (who cares!, é o cada um por si, como mostrou o filme de Michael Moore, "Sicko"!) ou como a Casa Branca geriu a tragédia das cheias na Nova Orleans (2005), mais alerta aos furtos nas vivendas afortunadas do que nas condições que os sobreviventes (a maioria oriunda das classes pobres) tinham que enfrentar -,

(desculpem-me o longo intróito!

para a Administração Bush, dizia eu, as coisas definem-se sempre assim: ou é branco ou preto!

Nem estou a (mas até poderia!) fazer referência ao segragacionismo, mas reparem como desde sempre os governos norte-americanos optaram por explicar aos seus cidadãos que só existem dois lados para uma questão: a boa, que é forçosamente aquela que o "nós, colectivo americano" defende, e a deles, "a má", a dos bad guys. Como os índios e os cobóis. Se uns são os bons, os outros só podem ser os vilões. E assim foram durante muito tempo retratados no cinema. A mensagem era simples e o público engolia estupidez às colheradas.

Quando, logo em 2001, a Administração Bush optou pelo termo "eixo do mal" para definir as "forças malignas" que haviam estado na origem dos atentados do 11 de Setembro e designou um "mau da fita", que, por acaso se chama Osama Ben Laden (este até foi treinado pela CIA, mas bem podia ser outro!), não o fez inocentemente! Entendeu e bem que era a maneira mais fácil de reunir à sua volta o maior consenso possível e obter "carta branca" para tudo o que viesse a decidir para erradicar esse "mal". Para a opinião pública norte-americana, nas iris dos quais ainda fumegavam as cinzas das torres gémeas, a solução estava encontrada. Os corações amargurados nem podiam ser um dia acusados de vendetta porque, neste caso, era mesmo justiça que se iria fazer.

E foi com o mesmo "espírito" que os EUA "alegremente" decidiram a invasão do Iraque em 2003. Supostamente para encontrar armas de destruição massiça e derrubar um ditador sanguinário. Recordo que as temíveis armas não foram descobertas e ditaduras duras, infelizmente, há outras. Embora reconhecendo a repressão e a barbárie que Saddam Hussein exercia contra o seu povo, considero que esta intervenção se fez da forma errada e que cabia às Nações Unidas executar o que fosse decidido pela maioria dos países com assento na instituição. O policiamento não cabe aos EUA. Nem eles são a cavalaria que chega de trompete em riste, nem os iraquianos são os índios.

Isto faz-me pensar num interssante diálogo no filme "Good Morning Vietnam" (Barry Levinson, 1987) quando Robin Williams, que interpreta o locutor de rádio Adrian Cronauer, das forças militares norte-americanas, descobre que o jovem amigo vietnamita Tuan (o actor Tung Thanh Tran), com quem tinha travado amizade (e que o faz escapar, inclusive, a dois atentados) é afinal um viet-cong. O diálogo foi mais ou menos este:

Locutor: Fiz-te confiança e descubro que fazes parte da porra do inimigo?

Vietnamita: Inimigo, inimigo, quem eu? Tu, que vens de tão longe para matar o meu povo, chamas-me de inimigo?

(diálogo completo aqui, nos últimos dez minutos do filme)


Não vos faz lembrar nada? (Does this ring a bell to you?)

A Guerra do Vietname, em que os Estados Unidos tinham embarcado supostamente para libertar o país do jugo comunista que pairava, transformou-se num lodaçal onde morreram cerca de um milhão e meio de vietnamitas e quase 60 mil soldados americanos. Um guerra que durou 15 anos.
Hoje, quando oiço o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, dizer que, segundo as suas previsões "a Guerra no Iraque pode ser ganha até 2013", fico deveras preocupado com um Vietname bis, seja no Iraque ou no Irão, e a consequente onda de choque económica e securitária a nível mundial que a todos já nos afecta mas pode vir a ser reforçada. E tudo se vai decidir nas futuras eleições presidenciais norte-americanas a 4 de Novembro. Daí a importância que se fale, se discuta e reflicta sobre estas eleições, que não são apenas "domésticas", como os americanos gostam de defender, mas dizem respeito a todos nós, apesar de nós.


Foto: Ali Yussef/AFP

Autor desconhecido (foto encontrada aqui)

Fotografias, com a devida vénia: "mão ensanguentada", foto de Ahmeed Rasheed (Associated Press); "snipers iraquianos atacam soldados americanos", foto de João Silva / New York Times.
N.B.: As fotos serão retiradas se os autores assim o exigirem.

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