sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Não se engane no sapatinho!
Sugestões de prendas de Natal:
Para os amigos altruístas: Apadrinhe em nome de um amigo os asilos de animais de Gasperich ou de Esch/Alzette, ou uma associação de solidariedade. Basta enviar um cheque ou depositar a quantia na conta de uma dessas instituições com um valor determinado mas no nome do seu amigo. Esse tipo de instituições agradecem sempre, por carta, todas as ajudas financeiras. A carta que receber, mete-a por sua vez num envelope para dar no dia de Natal ao seu amigo. É a única forma de saber se o seu amigo é mesmo sincero quando se insurge contra o mercantilismo selvagem do Natal e vitupera contra quem gasta dinheiro em prendas fúteis e materialistas. Para si, o presente é, além disso, deduzível nos impostos! Dois em um!
Para os amigos egoístas: Ofereça um iPad! Segundo um estudo feito a 20 mil pessoas pela revista Wired, considerada a bíblia tecnológica da Silicon Valley, os proprietários do mais recente brinquedo tecnológico da Apple são considerados "egoístas", "elitistas", "sofisticados" e "gozando de condições financeiramente confortáveis". Ou seja, em época de crise generalizada, os outros vêem com maus olhos que lhes acene com a sua nova extravagância de 700 euros. Se não se importa com invejas alheias, faz bem, e em vez de oferecer um iPad, compre um para si!
Para a pessoa amada: Oferecer cassetes com compilações está fora de moda, não está? Então faça um upgrade desta ideia dos eighties. Ofereça um iPod à pessoa amada com uma compilação de canções que marcaram este ano ou o tempo que já passaram juntos. Pode até incluir poemas ou mensagens de amor entre as músicas, evocando a que momento se refere a canção e o que representou para si ou para ambos. É uma prenda tecnológica, e íntima ao mesmo tempo. Dois em um! Natal romântico assegurado. Se já comprou prenda, pode usar esta dica para daqui a dois meses, no S. Valentim.
Nota Bene: Não convem é enganar-se ao colocar as prendas no sapatinho, pode dar azo a confusões. Imagine que oferece um iPad à sua namorada. Ora se ela sabe que você é o geek infomático lá em casa e que ela não percebe nada de tecnologia, é como se se estivesse a oferecer uma prenda a si mesmo. Passa por egoísta, avarento e a consoada pode tornar-se bera. Pior ainda se oferecer um iPod com mensagens de amor a um amigo seu. Natal dúbio em perspectiva.
José Luís Correia
in CONTACTO (22.12.2010)
Para os amigos altruístas: Apadrinhe em nome de um amigo os asilos de animais de Gasperich ou de Esch/Alzette, ou uma associação de solidariedade. Basta enviar um cheque ou depositar a quantia na conta de uma dessas instituições com um valor determinado mas no nome do seu amigo. Esse tipo de instituições agradecem sempre, por carta, todas as ajudas financeiras. A carta que receber, mete-a por sua vez num envelope para dar no dia de Natal ao seu amigo. É a única forma de saber se o seu amigo é mesmo sincero quando se insurge contra o mercantilismo selvagem do Natal e vitupera contra quem gasta dinheiro em prendas fúteis e materialistas. Para si, o presente é, além disso, deduzível nos impostos! Dois em um!
Para os amigos egoístas: Ofereça um iPad! Segundo um estudo feito a 20 mil pessoas pela revista Wired, considerada a bíblia tecnológica da Silicon Valley, os proprietários do mais recente brinquedo tecnológico da Apple são considerados "egoístas", "elitistas", "sofisticados" e "gozando de condições financeiramente confortáveis". Ou seja, em época de crise generalizada, os outros vêem com maus olhos que lhes acene com a sua nova extravagância de 700 euros. Se não se importa com invejas alheias, faz bem, e em vez de oferecer um iPad, compre um para si!
Para a pessoa amada: Oferecer cassetes com compilações está fora de moda, não está? Então faça um upgrade desta ideia dos eighties. Ofereça um iPod à pessoa amada com uma compilação de canções que marcaram este ano ou o tempo que já passaram juntos. Pode até incluir poemas ou mensagens de amor entre as músicas, evocando a que momento se refere a canção e o que representou para si ou para ambos. É uma prenda tecnológica, e íntima ao mesmo tempo. Dois em um! Natal romântico assegurado. Se já comprou prenda, pode usar esta dica para daqui a dois meses, no S. Valentim.
Nota Bene: Não convem é enganar-se ao colocar as prendas no sapatinho, pode dar azo a confusões. Imagine que oferece um iPad à sua namorada. Ora se ela sabe que você é o geek infomático lá em casa e que ela não percebe nada de tecnologia, é como se se estivesse a oferecer uma prenda a si mesmo. Passa por egoísta, avarento e a consoada pode tornar-se bera. Pior ainda se oferecer um iPod com mensagens de amor a um amigo seu. Natal dúbio em perspectiva.
José Luís Correia
in CONTACTO (22.12.2010)
Rótulo :
na imprensa
domingo, 19 de dezembro de 2010
Ruben A. sobre o perigo da massificação da humanidade (1964)
É preciso viver em estado de prevenção. Não ir na enxurrada do colectivismo e morrer afogado num bairro económico ou numa colónia balnear, resistir às pressões políticas mirabolantes, quer sejam de uma banda ou de outra, manter a condição do homem-artista em luta com o homem-massa foi sempre o que em mim se tornou claro desde que aos poucos tomei posse da minha personalidade. É fatal que se caminhe para a sanidade de vida das classes baixas, é humano que isso se faça, no entanto também é humano, mais talvez, que se lute desesperadamente para que a condição mais sagrada do homem evolua libertando-se das massas satisfeitas com a assistência médica, televisão e funeral pago. Essa massa vai criar um novo espírito animal, vai catalogar-se em Darwin e, convencidos que essa massa está feliz, constatamos ao fim de pouco tempo que esses grandes grupos de populações standardizadas deixaram de pensar e o seu sentir é apenas tactual, sem nada de sublimação em momentos mais íntimos.
O mundo que pensa, do artista e do intelectual, tem de libertar-se do incómodo desses homens que trouxeram como contribuição para a humanidade uma ideia abstracta do colectivo em marcha, que passaram a emitir sons, como pequenas estações emissoras, que não precisam de se articular em palavras, bastando-lhes os gestos. Ao fim e ao cabo aqueles que julgaram ter contribuído para a evolução da humanidade, dessa massa informe, é com tristeza, se ainda forem vivos, que constatam o facto de terem criado mais uma categoria animal, símios aperfeiçoados, em substituição do processo normal e não aflitivo do homem que evolui gradualmente dentro da sua própria missão de homem.
(...)
A tragédia é a cristalização da massa humana, tão perigosa como a estagnação do espírito do homem que se torna académico ou fenece por falta de entusiasmo. Gostava de saber quantas pessoas pensam em macacos durante o correr de um dia? Quantas? O homem-massa, num futuro próximo - em relações antropológicas o próximo leva geralmente centenas de anos - transformar-se-á num novo espectáculo de jardim zoológico. Em vez de jaula e aldeias de símios, ele terá balneários públicos e campos para habilidades desportivas, com ocasionais jogos nocturnos. Dará palmas em delírio ouvindo ainda o som distante da sineta tocada pelo elefante num acto máximo de inteligência paquidérmica. Terá circuitos fechados, com pistas perfeitamente cimentadas, para passear o tédio da família aos domingos, circulará repetidamente em metropolitanos convencido de que cada nova paragem é diferente da anterior.
E estou absolutamente crente que do naufrágio calamitoso apenas se hão-de salvar os que pela porta do cavalo fugirem ao triturar das grandes colectividades humanas, ou os que por força invencível e instintiva se libertarem para uma nova categoria de homem, ou, melhor dizendo, para a sua verdadeira categoria de homem, de homem-pensamento, na linha directa de um Platão, de um Homero, de um Aristófanes, de um Plutarco.
A humanidade dá-nos, assim, um triste espectáculo de andar para trás, melhora em lepra social, colectiviza-se e baixa logo na escala humana, retrocedendo para uma classe entre os antropopitecos e o erectus, a que chamarei Màchomem.
E todos os dias o mundo assiste ao melancólico desfile de milhares de seres que passam a Màchomens, na satisfação plena da sua jaula colectiva sem grades. E como os macacos, os elefantes, os cães e mais bicharia, os Màchomens passam imediatamente a falar a sua língua universal, sem necessidade de tradução, estendendo actividades físicas e associativas desde a Polinésia ao sul de Itália, trocando saudações, mensagens, hinos, desfiles, comícios, e tantas outras indigestões apaixonadas dos grupos de seres que deixaram de ter fronteiras e vocábulos regionais. O cão que ladra nas margens do Danúbio assemelha-se aos poderosos Serra da Estrela, sem distinção de maior que nos faça ter preferências por qualquer um destes ladrares. O Màchomem da Amadora em muito pouco se virá a distinguir do Màchomem de Detroit, Chicago, Manchester, Dusseldorf.
Ruben A. (aliás Ruben Andresen Leitão),
in "O Mundo À Minha Procura I", (1964)
O mundo que pensa, do artista e do intelectual, tem de libertar-se do incómodo desses homens que trouxeram como contribuição para a humanidade uma ideia abstracta do colectivo em marcha, que passaram a emitir sons, como pequenas estações emissoras, que não precisam de se articular em palavras, bastando-lhes os gestos. Ao fim e ao cabo aqueles que julgaram ter contribuído para a evolução da humanidade, dessa massa informe, é com tristeza, se ainda forem vivos, que constatam o facto de terem criado mais uma categoria animal, símios aperfeiçoados, em substituição do processo normal e não aflitivo do homem que evolui gradualmente dentro da sua própria missão de homem.
(...)
A tragédia é a cristalização da massa humana, tão perigosa como a estagnação do espírito do homem que se torna académico ou fenece por falta de entusiasmo. Gostava de saber quantas pessoas pensam em macacos durante o correr de um dia? Quantas? O homem-massa, num futuro próximo - em relações antropológicas o próximo leva geralmente centenas de anos - transformar-se-á num novo espectáculo de jardim zoológico. Em vez de jaula e aldeias de símios, ele terá balneários públicos e campos para habilidades desportivas, com ocasionais jogos nocturnos. Dará palmas em delírio ouvindo ainda o som distante da sineta tocada pelo elefante num acto máximo de inteligência paquidérmica. Terá circuitos fechados, com pistas perfeitamente cimentadas, para passear o tédio da família aos domingos, circulará repetidamente em metropolitanos convencido de que cada nova paragem é diferente da anterior.
E estou absolutamente crente que do naufrágio calamitoso apenas se hão-de salvar os que pela porta do cavalo fugirem ao triturar das grandes colectividades humanas, ou os que por força invencível e instintiva se libertarem para uma nova categoria de homem, ou, melhor dizendo, para a sua verdadeira categoria de homem, de homem-pensamento, na linha directa de um Platão, de um Homero, de um Aristófanes, de um Plutarco.
A humanidade dá-nos, assim, um triste espectáculo de andar para trás, melhora em lepra social, colectiviza-se e baixa logo na escala humana, retrocedendo para uma classe entre os antropopitecos e o erectus, a que chamarei Màchomem.
E todos os dias o mundo assiste ao melancólico desfile de milhares de seres que passam a Màchomens, na satisfação plena da sua jaula colectiva sem grades. E como os macacos, os elefantes, os cães e mais bicharia, os Màchomens passam imediatamente a falar a sua língua universal, sem necessidade de tradução, estendendo actividades físicas e associativas desde a Polinésia ao sul de Itália, trocando saudações, mensagens, hinos, desfiles, comícios, e tantas outras indigestões apaixonadas dos grupos de seres que deixaram de ter fronteiras e vocábulos regionais. O cão que ladra nas margens do Danúbio assemelha-se aos poderosos Serra da Estrela, sem distinção de maior que nos faça ter preferências por qualquer um destes ladrares. O Màchomem da Amadora em muito pouco se virá a distinguir do Màchomem de Detroit, Chicago, Manchester, Dusseldorf.
Ruben A. (aliás Ruben Andresen Leitão),
in "O Mundo À Minha Procura I", (1964)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Carlos Pinto Coelho, 1944-2010 - in memoriam
O jornalista português Carlos Pinto Coelho morreu ontem à noite, aos 66 anos, na sequência de uma intervenção cirúrgica à aorta.
Jornalista desde 1968, depois de ter passado pela imprensa e pela rádio, Pinto Coelho dedicou-se também ao pequeno ecrã onde foi um grande divulgador e vulgarizador da cultura e da literatura.
Entre 1994 e 2003 apresentou o programa "Acontece", na RTP2, que foi durante muito tempo um dos únicos magazines culturais televisivos diários do mundo.
Jornalista desde 1968, depois de ter passado pela imprensa e pela rádio, Pinto Coelho dedicou-se também ao pequeno ecrã onde foi um grande divulgador e vulgarizador da cultura e da literatura.
Entre 1994 e 2003 apresentou o programa "Acontece", na RTP2, que foi durante muito tempo um dos únicos magazines culturais televisivos diários do mundo.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Wikileaks: Urso italiano abatido por não se integrar na cultura alemã
NOTICIA LIDA NO JORNAL "PUBLICO"
A morte do urso alemão
Um dos assuntos a receber atenção dos telegramas vindos da Alemanha em 2006 foi a novela à volta de Bruno, o primeiro urso selvagem a entrar na Alemanha em 170 anos, que acabou morto por caçadores na Baviera, diz a revista alemã “Der Spiegel”. As declarações do governador bávaro, Edmund Stoiber, foram restransmitidas a Washington pelo consulado de Munique. Stoiber discorreu sobre as várias categorias de ursos – “o urso normal, o urso maldoso e o urso problemático”. Disse que a Baviera teria “todo o gosto em acolher” o “urso normal”, “um urso que normalmente vive na floresta, não sai de lá e mata provavelmente uma ou duas ovelhas por ano”. No entanto Stoiber declarou que Bruno, que tinha vindo dos Alpes italianos, era “um urso problemático”. E assim, foi abatido. Análise dos diplomatas: o urso foi abatido porque não estava disposto a “adaptar-se à cultura e tradições alemãs”, como exige aos imigrantes repetidamente o ministro do Interior da Baviera. E os alemães, concluíram , apesar da capa ecológica e “verde”, ainda tem dificuldade em aceitar “natureza não domada”.
in Público 04.12.2010 ver link aqui
(artigo será retirado se o editor assim o solicitar)
A morte do urso alemão
Um dos assuntos a receber atenção dos telegramas vindos da Alemanha em 2006 foi a novela à volta de Bruno, o primeiro urso selvagem a entrar na Alemanha em 170 anos, que acabou morto por caçadores na Baviera, diz a revista alemã “Der Spiegel”. As declarações do governador bávaro, Edmund Stoiber, foram restransmitidas a Washington pelo consulado de Munique. Stoiber discorreu sobre as várias categorias de ursos – “o urso normal, o urso maldoso e o urso problemático”. Disse que a Baviera teria “todo o gosto em acolher” o “urso normal”, “um urso que normalmente vive na floresta, não sai de lá e mata provavelmente uma ou duas ovelhas por ano”. No entanto Stoiber declarou que Bruno, que tinha vindo dos Alpes italianos, era “um urso problemático”. E assim, foi abatido. Análise dos diplomatas: o urso foi abatido porque não estava disposto a “adaptar-se à cultura e tradições alemãs”, como exige aos imigrantes repetidamente o ministro do Interior da Baviera. E os alemães, concluíram , apesar da capa ecológica e “verde”, ainda tem dificuldade em aceitar “natureza não domada”.
in Público 04.12.2010 ver link aqui
(artigo será retirado se o editor assim o solicitar)
Rótulo :
actu_mundo
Time elege fundador do Facebook para Pessoa do Ano 2010
O fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, 26 anos, foi hoje eleito Personalidade do Ano pela revista norte-americana Time, anunciou a direção da publicação.
Entre os finalistas desta escolha anual dos leitores da revista estavam também o fundador da WikiLeaks Julian Assange e a cantora Lady Gaga.
Julian Assange, recentemente detido em Londres e ameaçado de extradição para a Suécia, é o terceiro classificado, surgindo depois do movimento conservador americano ‘Tea Party’.
“A rede social que Mark Zuckerberg criou colocou em contacto 500 milhões de pessoas. O Facebook tornou-se o terceiro maior país do mundo, representando quase um décimo do planeta”, afirmou o diretor da Time, Richard Stengel, que anunciou a escolha no canal de televisão NBC.
Em 2009, a revista Time elegeu o presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Ben Bernanke, a personalidade do ano.
Entre os finalistas desta escolha anual dos leitores da revista estavam também o fundador da WikiLeaks Julian Assange e a cantora Lady Gaga.
Julian Assange, recentemente detido em Londres e ameaçado de extradição para a Suécia, é o terceiro classificado, surgindo depois do movimento conservador americano ‘Tea Party’.
“A rede social que Mark Zuckerberg criou colocou em contacto 500 milhões de pessoas. O Facebook tornou-se o terceiro maior país do mundo, representando quase um décimo do planeta”, afirmou o diretor da Time, Richard Stengel, que anunciou a escolha no canal de televisão NBC.
Em 2009, a revista Time elegeu o presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Ben Bernanke, a personalidade do ano.
Rótulo :
actu_mundo
sábado, 11 de dezembro de 2010
Estórias de Café 7
Um café e um croissant
- Aqui fazemos o melhor café da Europa!
- Pois, nós em Portugal também dizemos isso, eh eh...
- Mas fomos nós que introduzimos o café na Europa, sabias?
- Foram os turcos, queres tu dizer...
- Sim, mas foi graças a um polaco!
- Como assim?...
- Quando os otomanos foram derrotados às portas de Viena em 1683 e fugiram, deixando para trás acampamentos militares inteiros montados, uma das coisas que lá foi encontrado foram sacos de café, que um polaco que ali morava logo comprou, para vender na sua taberna. E foi a partir de Viena que o café chegou ao resto da Europa. E é por isso que ainda hoje café em polaco se chama kawa, uma palavra muito próxima do árabe qahvah e do turco khave.
Mariusz, o empregado da café onde me refugiei do frio e da neve de Novembro, em Cracóvia, contou-me então como o rei polaco Jan Sobieski e 30 mil homens tinham ajudado o Império Austro-Húngaro e a Europa contra a segunda invasão turca. O que é um facto histórico. Já quanto à história do café, fiquei com as minhas dúvidas, mas achei curiosa a convicção.
Eram três e meia da tarde, a noite tinha já descido sobre Cracóvia, quando me assolou um intenso desejo de café com xarope de avelãs. Tentando encontrar o meu caminho entre a neblina fina, nem sequer me detive diante dos quadros dos artistas expostos na Porta de São Floriano, e enfiei-me na primeira kawiarnia que encontrei. Os cracovitas gostam de dizer que a sua cidade é conhecida por ter mais igrejas do que dias tem o ano e que só o número de cafés se equipara ao dos templos. Mas enquanto os primeiros são procurados para aquecer a alma, os segundos são-no para acalentarem os corpos.
E com esta conversa, Mariusz conseguiu convencer-me a provar o "café à turca", que os polacos ainda hoje costumam servir, e que é bardzo melhor que essas invenções starbuckianas de café com... avelãs.
A kawiarnia estava instalada numa cave, com paredes em tijolos, e eu tinha escolhido uma mesa num canto, tão pequena que não conseguia arrumar os jornais e os braços em cima do tampo de mogno quadrado. Na parede estavam suspensos velhos capacetes de bombeiros que alguém teve a luminosa ideia de adaptar com uma lâmpada para serem utilizados como candeeiros.
- E foi também graças a essa vitória sobre que nasceram os croissants, ainda hoje chamado viennoiserie. Um pasteleiro de Viena achou graça pôr os viennenses a comerem o símbolo da lua crescente dos turcos", interrompeu Mariusz os meus pensamentos, servindo-me o café e um croissant, "oferta da casa".
- Então é isto a famosa hospitalidade polaca?
- Pois, porque não são só vocês portugueses que têm a fama de serem hospitaleiros.
- Aqui fazemos o melhor café da Europa!
- Pois, nós em Portugal também dizemos isso, eh eh...
- Mas fomos nós que introduzimos o café na Europa, sabias?
- Foram os turcos, queres tu dizer...
- Sim, mas foi graças a um polaco!
- Como assim?...
- Quando os otomanos foram derrotados às portas de Viena em 1683 e fugiram, deixando para trás acampamentos militares inteiros montados, uma das coisas que lá foi encontrado foram sacos de café, que um polaco que ali morava logo comprou, para vender na sua taberna. E foi a partir de Viena que o café chegou ao resto da Europa. E é por isso que ainda hoje café em polaco se chama kawa, uma palavra muito próxima do árabe qahvah e do turco khave.
Mariusz, o empregado da café onde me refugiei do frio e da neve de Novembro, em Cracóvia, contou-me então como o rei polaco Jan Sobieski e 30 mil homens tinham ajudado o Império Austro-Húngaro e a Europa contra a segunda invasão turca. O que é um facto histórico. Já quanto à história do café, fiquei com as minhas dúvidas, mas achei curiosa a convicção.
Eram três e meia da tarde, a noite tinha já descido sobre Cracóvia, quando me assolou um intenso desejo de café com xarope de avelãs. Tentando encontrar o meu caminho entre a neblina fina, nem sequer me detive diante dos quadros dos artistas expostos na Porta de São Floriano, e enfiei-me na primeira kawiarnia que encontrei. Os cracovitas gostam de dizer que a sua cidade é conhecida por ter mais igrejas do que dias tem o ano e que só o número de cafés se equipara ao dos templos. Mas enquanto os primeiros são procurados para aquecer a alma, os segundos são-no para acalentarem os corpos.
E com esta conversa, Mariusz conseguiu convencer-me a provar o "café à turca", que os polacos ainda hoje costumam servir, e que é bardzo melhor que essas invenções starbuckianas de café com... avelãs.
A kawiarnia estava instalada numa cave, com paredes em tijolos, e eu tinha escolhido uma mesa num canto, tão pequena que não conseguia arrumar os jornais e os braços em cima do tampo de mogno quadrado. Na parede estavam suspensos velhos capacetes de bombeiros que alguém teve a luminosa ideia de adaptar com uma lâmpada para serem utilizados como candeeiros.
- E foi também graças a essa vitória sobre que nasceram os croissants, ainda hoje chamado viennoiserie. Um pasteleiro de Viena achou graça pôr os viennenses a comerem o símbolo da lua crescente dos turcos", interrompeu Mariusz os meus pensamentos, servindo-me o café e um croissant, "oferta da casa".
- Então é isto a famosa hospitalidade polaca?
- Pois, porque não são só vocês portugueses que têm a fama de serem hospitaleiros.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Estórias de Café 6
Manhã de Inverno 2
Cai a neve, sem querer saber, sobre a multidão absorta, na mais pura indiferença polar. Corro ao acaso, refugio-me do papão chamado solidão, sonhando com um anjo do Daugava que um dia longíquo, na idade da inocência, cantou para mim canções da Primavera.
As pessoas gulosas nas lojas repletas das últimas novidades prepararam gordo o Natal. Querem peúgas pesadas suspensas nas chaminés, querem sapatinhos recheados como perus, querem, como se o querer bastasse e não o crer. Não acreditam nem reparam que a lareira está apagada e fria, que ninguém cuidou de alimentar a chama e que os sapatos há muito estão sem sola.
Casacos grossos e quispos, gorros e luvas de lã para não deixar entrar a realidade. O homem cria bolhas para viver assim, refugiado de tudo, escondido de si. Bolhas de lã, bolhas de lona, bolhas de cabedal, bolhas de seda e poliéster, de cimento e tijolo, de ferro e aço, de vidro e plástico, bolhas de ar, invisíveis, bolhas imaginárias e intocáveis, bolhas que não existem, virtuais, paranóicas e esquizofrénicas... O homem vive num tubo de ensaio a ensaiar-se a si próprio.
Passa uma ambulância, a mãe ralha com o menino que deixou cair o gaufre com creme no chão, um casal discute, outro beija-se, uma rapariga olha-se ao espelho no reflexo da montra de vestidos de noiva, um puto de auscultadores nas orelhas, vestido de baggy-trousers, arrasta os ténis all-stars pelo passeio, fugitivo virtual de um mundo que não o quer e do qual ele foge por não o querer que não o quer por ele fugir dele. De um tímpano ao outro, a grande doses de decibéis, injectando revolta, inventa revoluções que não passarão de grandes teorias e do estado semi-onírico porque é demasiado difícil mudar o mundo, mas ainda é mais difícil mudar-se a si próprio. “Toda a gente pensa em mudar a Humanidade, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo”, já era assim no tempo de Tolstoi.
Pensar que o erro nunca está em nós é o primeiro erro. Pensar que o erro está sempre em nós é anemia da alma. A virtude está no meio. Algures no meio de nós. Como o coração.
Duas adolescentes de quispos fluorescentes, jeans rebaixados e apertados, botinas cor de rosa berrantes, rimel egípcio nos olhos, conversam sobre pães, emoções, sentimentos, amor e sexo, deitando-se assim de costas sobre a sua infância, tentando ainda escapar-lhe ilesas. Todos nós tentamos sobreviver à nossa infância, à nossa adolescência, à nossa família. A idade adulta chega quando nos voltamos a reconciliar com todos eles e connosco também. Há quem nunca fique adulto. Há quem nem sequer tenha consciência disso.
Pensando na minha vida, cruzando as artérias principais da minha alma. Sorvo o café, como o faço com a vida, amarroto o guardanapo de papel como os meus dias, lambo o colher como a esperança, rasgo aos bocadinhos o pacote do açúcar como a minha alma que espalho sobre a mesa em pó. Sujei o pires e a mesa de mármore preto com migalhas da minha existência.
A empregada adolescente limpa a mesa. Asiática, gira, demasiado magra, tem dentes salientes que lhe estragam os sorrisos demasiado frequentes, como se quisesse sempre agradar. Peço outro cappuccino, numa chávena grande. Ela esmera-se. Demora um minuto e vinte segundos a servir-me, com um largo, rasgado, aberto, inocente, generoso, acolhedor, hospitaleiro, caloroso, servil sorriso. A chávena já não é a mesma. Tem o meu nome estampado. Sorrio da coincidência e da inconsciente clarividência. O que a fez escolher está chávena mais do que outra qualquer? Foram as energias universais que canalizaram as ondas fraquejantes emanando do meu cerebelo ao impulso eléctrico do neurónio que comandou a sua retina e a sua mão na direcção desta xícara? Estas coisas acontecem todos os dias...
Jogado num canto, inventado fins do mundo, como se o mundo lá fora não chegasse, torturo a mão, a caneta e este papel que mais tarde será feixes electrónicos de luz num ecrã de computador, mas merecia melhor sorte, não merecia?, como ser origami ou caderno ordenado de aluno assíduo que ainda acredita que o mundo é redondo. Em vez disso é antro, receptáculo alacre e sedento, baú de inépcias tempestuosas, mundo quadrado e fechado, introspectivo, introvertido, frustrado...
.
“O que transportas aí?...”, interpela-me o divino, com a cabeça fora da máquina e o dedo inquisidor, apontando o meu colo.
Segurando o meu caderninho imbecil contra o meu peito febril, como um idiota, respondo timidamente num orgulho dissimulado e arrogante:
“São letras, Senhor!”
E num gesto grandiloquente e generoso, como o fez ao mar, abre o meu colo e brotam poemas e prosas como rosas.
“É milagre, Senhor!”
“Não idiota, sou Eu que escrevo direito por linhas tortas!”
in blogue "Cadernos do Gaspar, vol.1"
(http://cadernosgaspar2.blogspot.com)
Cai a neve, sem querer saber, sobre a multidão absorta, na mais pura indiferença polar. Corro ao acaso, refugio-me do papão chamado solidão, sonhando com um anjo do Daugava que um dia longíquo, na idade da inocência, cantou para mim canções da Primavera.
As pessoas gulosas nas lojas repletas das últimas novidades prepararam gordo o Natal. Querem peúgas pesadas suspensas nas chaminés, querem sapatinhos recheados como perus, querem, como se o querer bastasse e não o crer. Não acreditam nem reparam que a lareira está apagada e fria, que ninguém cuidou de alimentar a chama e que os sapatos há muito estão sem sola.
Casacos grossos e quispos, gorros e luvas de lã para não deixar entrar a realidade. O homem cria bolhas para viver assim, refugiado de tudo, escondido de si. Bolhas de lã, bolhas de lona, bolhas de cabedal, bolhas de seda e poliéster, de cimento e tijolo, de ferro e aço, de vidro e plástico, bolhas de ar, invisíveis, bolhas imaginárias e intocáveis, bolhas que não existem, virtuais, paranóicas e esquizofrénicas... O homem vive num tubo de ensaio a ensaiar-se a si próprio.
Passa uma ambulância, a mãe ralha com o menino que deixou cair o gaufre com creme no chão, um casal discute, outro beija-se, uma rapariga olha-se ao espelho no reflexo da montra de vestidos de noiva, um puto de auscultadores nas orelhas, vestido de baggy-trousers, arrasta os ténis all-stars pelo passeio, fugitivo virtual de um mundo que não o quer e do qual ele foge por não o querer que não o quer por ele fugir dele. De um tímpano ao outro, a grande doses de decibéis, injectando revolta, inventa revoluções que não passarão de grandes teorias e do estado semi-onírico porque é demasiado difícil mudar o mundo, mas ainda é mais difícil mudar-se a si próprio. “Toda a gente pensa em mudar a Humanidade, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo”, já era assim no tempo de Tolstoi.
Pensar que o erro nunca está em nós é o primeiro erro. Pensar que o erro está sempre em nós é anemia da alma. A virtude está no meio. Algures no meio de nós. Como o coração.
Duas adolescentes de quispos fluorescentes, jeans rebaixados e apertados, botinas cor de rosa berrantes, rimel egípcio nos olhos, conversam sobre pães, emoções, sentimentos, amor e sexo, deitando-se assim de costas sobre a sua infância, tentando ainda escapar-lhe ilesas. Todos nós tentamos sobreviver à nossa infância, à nossa adolescência, à nossa família. A idade adulta chega quando nos voltamos a reconciliar com todos eles e connosco também. Há quem nunca fique adulto. Há quem nem sequer tenha consciência disso.
Pensando na minha vida, cruzando as artérias principais da minha alma. Sorvo o café, como o faço com a vida, amarroto o guardanapo de papel como os meus dias, lambo o colher como a esperança, rasgo aos bocadinhos o pacote do açúcar como a minha alma que espalho sobre a mesa em pó. Sujei o pires e a mesa de mármore preto com migalhas da minha existência.
A empregada adolescente limpa a mesa. Asiática, gira, demasiado magra, tem dentes salientes que lhe estragam os sorrisos demasiado frequentes, como se quisesse sempre agradar. Peço outro cappuccino, numa chávena grande. Ela esmera-se. Demora um minuto e vinte segundos a servir-me, com um largo, rasgado, aberto, inocente, generoso, acolhedor, hospitaleiro, caloroso, servil sorriso. A chávena já não é a mesma. Tem o meu nome estampado. Sorrio da coincidência e da inconsciente clarividência. O que a fez escolher está chávena mais do que outra qualquer? Foram as energias universais que canalizaram as ondas fraquejantes emanando do meu cerebelo ao impulso eléctrico do neurónio que comandou a sua retina e a sua mão na direcção desta xícara? Estas coisas acontecem todos os dias...
Jogado num canto, inventado fins do mundo, como se o mundo lá fora não chegasse, torturo a mão, a caneta e este papel que mais tarde será feixes electrónicos de luz num ecrã de computador, mas merecia melhor sorte, não merecia?, como ser origami ou caderno ordenado de aluno assíduo que ainda acredita que o mundo é redondo. Em vez disso é antro, receptáculo alacre e sedento, baú de inépcias tempestuosas, mundo quadrado e fechado, introspectivo, introvertido, frustrado...
.
“O que transportas aí?...”, interpela-me o divino, com a cabeça fora da máquina e o dedo inquisidor, apontando o meu colo.
Segurando o meu caderninho imbecil contra o meu peito febril, como um idiota, respondo timidamente num orgulho dissimulado e arrogante:
“São letras, Senhor!”
E num gesto grandiloquente e generoso, como o fez ao mar, abre o meu colo e brotam poemas e prosas como rosas.
“É milagre, Senhor!”
“Não idiota, sou Eu que escrevo direito por linhas tortas!”
in blogue "Cadernos do Gaspar, vol.1"
(http://cadernosgaspar2.blogspot.com)
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Estórias de Café 5
"A conversa do costume, no café do costume"
No fim-de-semana, regressei ao café do costume com a Edviges. Apetecia-me uma fatia bem espessa do “Schwarzwälder” que eu lá tinha vislumbrado dias antes. Uma bomba em termos calóricos, mas eu tinha cá coisas a compensar e a Edviges andava a jogar à defesa.
“Désolé, Monsieur, nous n’en avons plus ! Puis-je vous proposer notre tarte aux pommes ?”, anuncia-me despudorado o empregado.
Puije, mas que puije? Eu quero é o meu bolo de chocolate já aqui a saltar do prato para a goela!!! Ó destemperança, aquieta-te em meu palato claudicante, olvida a ignomínia inenarrável, o vitupério arrojado ao teu celeste almejo, abstem-te da ambrósia asteca, cala no teu humano peito a ávida ânsia ardente…
Humpf! Contentei-me com um éclair de limão.
Pus termo a essas diatribes e pedi também um cappuccino italiano, se faz favor! Não essas imitações para gulosos com montanhas indecentes de chantilly povilhados de cacao. Ao longo dos anos extra-muros fui-me libertando do jugo da bica lusitana. Deixei de a tomar em posologia terapêutica - uma vez ao acordar, depois de almoço e ao jantar, e transitei, aos poucos, para o expresso e, com a idade, suavizei a dose de cafeína com macchiato e finalmente com o dolce cappuccino.
"Estás cada vez mais bonita, Edviges!", comecei, para quebrar o gelo.
Ela fala-me do namorado. Diz que gosta muito dele, que estes encontros têm que acabar. Mas depois envereda a falar-me dos defeitos dele, das atenções que ele sempre tinha e agora esquece, dos serões que passa sozinha, dos jantares aborrecidos com os mesmos casais amigos, da rotina que mina. Eu mostro-me compreensivo, digo-lhe que ela pode contar sempre comigo, que sabe muito bem que a nossa amizade conta muito para mim e que...
"Amizade? Tu chamas a isto 'amizade'? É o que isto é para ti? E eu, o que sou para ti? Diz-me, afinal, o que é que os homens querem?", fuzila-me.
Olha a pergunta que vale um milhão. Eu até poderia dizer-te, Edviges, mas acho que não ias gostar da resposta.
Como fico calado, ela amua. Quando volto a abrir a boca é para falar por circunstância, de coisas banais, mas o ambiente está minado. Penso em abrir o jogo, mas já é tarde demais. Atolo-me no meu éclair de limão. Num gesto de impaciência, ela esmaga no cinzeiro o quinto cigarro fumado pela metade e despede-se de maneira fria. "Tu lá sabes o que andas a fazer!", e sai, sem um beijo sequer.
in blogue "Cadernos do Gaspar, vol.1"
(http://cadernosgaspar.blogspot.com)
No fim-de-semana, regressei ao café do costume com a Edviges. Apetecia-me uma fatia bem espessa do “Schwarzwälder” que eu lá tinha vislumbrado dias antes. Uma bomba em termos calóricos, mas eu tinha cá coisas a compensar e a Edviges andava a jogar à defesa.
“Désolé, Monsieur, nous n’en avons plus ! Puis-je vous proposer notre tarte aux pommes ?”, anuncia-me despudorado o empregado.
Puije, mas que puije? Eu quero é o meu bolo de chocolate já aqui a saltar do prato para a goela!!! Ó destemperança, aquieta-te em meu palato claudicante, olvida a ignomínia inenarrável, o vitupério arrojado ao teu celeste almejo, abstem-te da ambrósia asteca, cala no teu humano peito a ávida ânsia ardente…
Humpf! Contentei-me com um éclair de limão.
Pus termo a essas diatribes e pedi também um cappuccino italiano, se faz favor! Não essas imitações para gulosos com montanhas indecentes de chantilly povilhados de cacao. Ao longo dos anos extra-muros fui-me libertando do jugo da bica lusitana. Deixei de a tomar em posologia terapêutica - uma vez ao acordar, depois de almoço e ao jantar, e transitei, aos poucos, para o expresso e, com a idade, suavizei a dose de cafeína com macchiato e finalmente com o dolce cappuccino.
"Estás cada vez mais bonita, Edviges!", comecei, para quebrar o gelo.
Ela fala-me do namorado. Diz que gosta muito dele, que estes encontros têm que acabar. Mas depois envereda a falar-me dos defeitos dele, das atenções que ele sempre tinha e agora esquece, dos serões que passa sozinha, dos jantares aborrecidos com os mesmos casais amigos, da rotina que mina. Eu mostro-me compreensivo, digo-lhe que ela pode contar sempre comigo, que sabe muito bem que a nossa amizade conta muito para mim e que...
"Amizade? Tu chamas a isto 'amizade'? É o que isto é para ti? E eu, o que sou para ti? Diz-me, afinal, o que é que os homens querem?", fuzila-me.
Olha a pergunta que vale um milhão. Eu até poderia dizer-te, Edviges, mas acho que não ias gostar da resposta.
Como fico calado, ela amua. Quando volto a abrir a boca é para falar por circunstância, de coisas banais, mas o ambiente está minado. Penso em abrir o jogo, mas já é tarde demais. Atolo-me no meu éclair de limão. Num gesto de impaciência, ela esmaga no cinzeiro o quinto cigarro fumado pela metade e despede-se de maneira fria. "Tu lá sabes o que andas a fazer!", e sai, sem um beijo sequer.
in blogue "Cadernos do Gaspar, vol.1"
(http://cadernosgaspar.blogspot.com)
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Estórias de Café 4
José Luís Correia (aka Alexandre G. Weytjens) by Paulo Lobo
"Café aos bocados"
É para isto que serve um café, para repousar do dia, refugiar-me do mundo e atestar-me em jornais e literatura. Ler, ler, ler e bebericar cappuccinos entre páginas. Alguns amigos nunca conseguiram perceber porque perco eu os poucos instantes do dia a ler! Não perco tempo, ganho, ganho anos de vida, amigos, aventuras, viajo. E eles ficam sempre desconcertados a ponderar na minha insanidade.
Enquanto conversa comigo, Peter, o patrão do café prepara-me um capuccino. Numa chávena pré-aquecida deita um espresso dopio, leite quente, com uma capa de espuma de leite. O acabamento é feito com perícia: uma flor desenhada na espuma ao juntar o leite. "Tem que ser à primeira", diz-me, contando-me que a arte do cappuccino lhe foi transmitida por um torrefactor de Florença, que ainda hoje lhe fornece o café.
Provo e compreendo porque aqui regresso. Está delicioso! Um grande, genuíno e generoso cappuccino à italiana, com uma compacta camada de espuma de leite, num café bem encorpado.
"No cappuccino, o importante é dominar os três 'M': Máquina, Mistura e Mão", continua Peter. "É preciso conhecer a máquina e saber manipulá-la para tirar o melhor café. Depois, é preciso saber que quantidades de café e espuma de leite misturar. A mão que prepara tem de saber fazer o resto, a espessura da espuma, por exemplo", mostra-me. A dose de espresso que o cappuccino leva também tem o seu segredo. "As pessoas pensam que espresso quer dizer 'feito à pressa', mas a verdade é que significa feito 'espressamente' [expressamente] para uma pessoa ou ocasião, ao contrário do café, que antigamente era feito em grande quantidades", explica Peter. E mais não quer dizer, ou não fosse o segredo a alma do negócio. Mas deixa escapar que usa sempre água filtrada para o café, nunca demasiada mineralizada, e leite fresco, gordo, sem ser reaquecido. "Tudo isso influencia o sabor", revela. Depois há as preferências: cappuccino polvilhado com pó de cacau, chocolate ou xarope de caramelo, piccolo cappuccino, marocchino e por aí fora, num cardápio que parece nunca mais acabar de variedades de café misturado com tudo o que se possa imaginar de saboroso.
Um dos pecados que costumo cometer quando aqui me perco é o "white moccha", leite quente, espresso, com chocolate branco no fundo do copo, ou o "monte bianco", leite quente, espresso, pó de cacau, servido num cálice. "O Peter faz o melhor mocchaccino da cidade", lança sonora uma loira, de olhos azuis, que interrompe o nosso ritual. Americana, pela pronúncia. Veio sentar-se ao meu lado e mete-se na conversa. Cruza a perna na cadeira alta, ajusta a saia do tailleur vermelho até ao joelho, o lenço no pescoço alvo não desvenda o decote, alisa o cabelo atrás da orelha e sorri-nos: "O café que aqui fazem dá vontade de molhar o dedo e comer aos bocados".
(texto publicado no catálogo da exposição "Coffee Talks", de Paulo Lobo, patente de 17 de Novembro a 20 de Dezembro de 2010, no Instituto Camões, Luxemburgo)
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Vitral digital
Vitral do séc. XXI? I love it!
______________________
Autor: Daniel J. Skråmestø (aka Daniel Barradas)
in blogue "Actas do pequeno-almoço"
(com a devida vénia ao autor)
Rótulo :
livro de imagens
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Estórias de Café 3
Café com açúcar
Gostava de escrever como quem pinta, escrever os tampos das mesas em madeira, o negro dos cantos e os círculos concêntricos dos nós, escrever os eflúvios adocicados dos croissants, as línguas misturadas e as papilas seduzidas a estalar, os cafés com leite, os éclairs, o papel de parede a imitar parede (nunca percebi o propósito!), as conversas das pessoas, daquela mãe com a filha, “limpa a boca, querida!”, as duas velhas cabis-baixas a resmungar contra os vizinhos e a vida, o casal que agora chega e partilha um pequeno-almoço romântico, a rapariga na mesa do fundo, na minha diagonal, que nervosamente bebe um café fumante, cabelo castanho claro em rabo-de-cavalo, rosto oval, branco, pequeno, olhos irrequietos e claros, casaco preto, blusa de gola alta bordeaux, peito que tenta passar despercebido. Morde os lábios. Corre os contornos da mesa com a mão. Os dedos finos, alvos, frágeis, hesitantes. Há no seu olhar um apelo, uma procura, uma interrogação. É o que gosto de pensar, sempre que cruzo desconhecidas sozinhas.
Ela observa-me, como perguntando: “É para mim que estás a olhar?” E eu respondo do meu canto, sustentando o seu olhar, esboçando um sorriso. Agora reparou com certeza em mim. Sorri também, disfarçando. Bastou um sorriso meu? Sorvo o café com leite.
.
Uma amiga senta-se à sua frente. Sorrisos, abraços, conversam. Mas o seu olhar regressa sempre ao meu. Eu escrevo, ergo o olhar, voltar a mergulhar o rosto no caderno, e escrevo. Trago a chávena aos lábios e no movimento volto a fitá-la, ela repara, vê, não se mexe, apenas as pupilas tremem como se tivesse ouvido a minha ordem de guardar a posição, os lábios púrpuros semi-abertos e suspensos para a eternidade no gesto da minha mão, na trajectória da minha pupila.
Uma bela desconhecida numa manhã de Inverno.
O pulóver de gola alta escolheu-o esta manhã porque estava frio e a chover. Porque prefere sentir-se confortável a sexy. Sobretudo num dia como estes. Frio. Não tem nada previsto. Uma manhã vazia, como tantas outras. O seu único prazer é o olhar de um estranho, um olhar prescrutador sem ser intimidante e impúdico, o olhar silencioso de um indivíduo com o seu quê de misterioso, que não tem nada de conquistador, antes de familiar e apaziguador. Um olhar estranho de um estranho.
Lá estou eu a confundir desejo e realidade.
Ela levanta-se. Vem na minha direcção. O olhar fixo em mim. Vai abordar-me, dirigir-me a palavra? Vai falar comigo, sentar-se na minha mesa? Vai perguntar se nos conhecemos? Ou perguntar-em o que quero e pedir-me para parar com os meus olhares indecentes? Devo levantar-me, cumprimentá-la? Ela lê a interrogação no meu rosto e sorri ligeiramente. Passa por mim, a amiga segue-a para as traseiras do café e entram na cozinha. Afinal trabalham aqui e a amiga é uma colega. Reaparecem alguns minutos depois com um avental verde. Ela arruma os pratos atrás do balcão, limpa o tampo do balcão, conversa com as outras empregadas, serve alguns clientes. Um capuccino, dois expressos, um pãozinho com chocolate e dois suspiros.
Não me esqueceu. Num passo ligeiro, em elipse, serpenteando como um rio que não quer desaguar no mar, aproxima-se. Deseja saber se, além do seu sorriso aberto e luminoso (é o que percebo, mesmo se ela não proferiu as palavras), desejo mais alguma coisa.
“Mais café?...”
“Heu...sim, pode ser, obrigado!”
Três minutos depois satisfaz-me o desejo. Pede licença para encontrar lugar para a xícara na mesa cheia de revistas abertas, jornais dobrados e cadernos atravessados, mil folhas.
“Cuidado, não quero entornar café nas suas notas. Parece importante...”
Miro-a, olhos nos olhos.
“...o que está a escrever!”, completa, apontando com o queixo para a mnha sebenta.
“Ah...Não estou a escrever!”, acho oportuno rectificar.
Pestaneja como quem olha melhor.
“Heu...não está a escrever?”, insiste, perante o óbvio.
“Não!... Estou a desenhar!”, explico.
O seu olhar perscruta os meus rascunhos, as minhas frases ascendentes e descendentes, as minhas letras ora redondas ora angulosas e hieróglíficas. Resolve não me corrigir (é perigoso contradizer os maluquinhos!, deve pensar agora).
“E já agora, pode saber-se... Está a desenhar o quê?
“Você!”
Gostava de escrever como quem pinta, escrever os tampos das mesas em madeira, o negro dos cantos e os círculos concêntricos dos nós, escrever os eflúvios adocicados dos croissants, as línguas misturadas e as papilas seduzidas a estalar, os cafés com leite, os éclairs, o papel de parede a imitar parede (nunca percebi o propósito!), as conversas das pessoas, daquela mãe com a filha, “limpa a boca, querida!”, as duas velhas cabis-baixas a resmungar contra os vizinhos e a vida, o casal que agora chega e partilha um pequeno-almoço romântico, a rapariga na mesa do fundo, na minha diagonal, que nervosamente bebe um café fumante, cabelo castanho claro em rabo-de-cavalo, rosto oval, branco, pequeno, olhos irrequietos e claros, casaco preto, blusa de gola alta bordeaux, peito que tenta passar despercebido. Morde os lábios. Corre os contornos da mesa com a mão. Os dedos finos, alvos, frágeis, hesitantes. Há no seu olhar um apelo, uma procura, uma interrogação. É o que gosto de pensar, sempre que cruzo desconhecidas sozinhas.
Ela observa-me, como perguntando: “É para mim que estás a olhar?” E eu respondo do meu canto, sustentando o seu olhar, esboçando um sorriso. Agora reparou com certeza em mim. Sorri também, disfarçando. Bastou um sorriso meu? Sorvo o café com leite.
.
Uma amiga senta-se à sua frente. Sorrisos, abraços, conversam. Mas o seu olhar regressa sempre ao meu. Eu escrevo, ergo o olhar, voltar a mergulhar o rosto no caderno, e escrevo. Trago a chávena aos lábios e no movimento volto a fitá-la, ela repara, vê, não se mexe, apenas as pupilas tremem como se tivesse ouvido a minha ordem de guardar a posição, os lábios púrpuros semi-abertos e suspensos para a eternidade no gesto da minha mão, na trajectória da minha pupila.
Uma bela desconhecida numa manhã de Inverno.
O pulóver de gola alta escolheu-o esta manhã porque estava frio e a chover. Porque prefere sentir-se confortável a sexy. Sobretudo num dia como estes. Frio. Não tem nada previsto. Uma manhã vazia, como tantas outras. O seu único prazer é o olhar de um estranho, um olhar prescrutador sem ser intimidante e impúdico, o olhar silencioso de um indivíduo com o seu quê de misterioso, que não tem nada de conquistador, antes de familiar e apaziguador. Um olhar estranho de um estranho.
Lá estou eu a confundir desejo e realidade.
Ela levanta-se. Vem na minha direcção. O olhar fixo em mim. Vai abordar-me, dirigir-me a palavra? Vai falar comigo, sentar-se na minha mesa? Vai perguntar se nos conhecemos? Ou perguntar-em o que quero e pedir-me para parar com os meus olhares indecentes? Devo levantar-me, cumprimentá-la? Ela lê a interrogação no meu rosto e sorri ligeiramente. Passa por mim, a amiga segue-a para as traseiras do café e entram na cozinha. Afinal trabalham aqui e a amiga é uma colega. Reaparecem alguns minutos depois com um avental verde. Ela arruma os pratos atrás do balcão, limpa o tampo do balcão, conversa com as outras empregadas, serve alguns clientes. Um capuccino, dois expressos, um pãozinho com chocolate e dois suspiros.
Não me esqueceu. Num passo ligeiro, em elipse, serpenteando como um rio que não quer desaguar no mar, aproxima-se. Deseja saber se, além do seu sorriso aberto e luminoso (é o que percebo, mesmo se ela não proferiu as palavras), desejo mais alguma coisa.
“Mais café?...”
“Heu...sim, pode ser, obrigado!”
Três minutos depois satisfaz-me o desejo. Pede licença para encontrar lugar para a xícara na mesa cheia de revistas abertas, jornais dobrados e cadernos atravessados, mil folhas.
“Cuidado, não quero entornar café nas suas notas. Parece importante...”
Miro-a, olhos nos olhos.
“...o que está a escrever!”, completa, apontando com o queixo para a mnha sebenta.
“Ah...Não estou a escrever!”, acho oportuno rectificar.
Pestaneja como quem olha melhor.
“Heu...não está a escrever?”, insiste, perante o óbvio.
“Não!... Estou a desenhar!”, explico.
O seu olhar perscruta os meus rascunhos, as minhas frases ascendentes e descendentes, as minhas letras ora redondas ora angulosas e hieróglíficas. Resolve não me corrigir (é perigoso contradizer os maluquinhos!, deve pensar agora).
“E já agora, pode saber-se... Está a desenhar o quê?
“Você!”
domingo, 5 de dezembro de 2010
Estórias de Café 2
Não se chora sobre açúcar derramado
O homem de óculos e barba, sentado de perna magra cruzada, bebe café. As suas mãos recusam o açúcar e correm nervosamente o tampo da mesa em madeira antiga. Ajeita o colarinho ensopado em suor, olha-se no espelho velho, cheio de manchas, alisa o fato amarrotado e passa os dedos pelos cabelos em batalha. Parece querer erguer-se e sair, mas fica sentado.
Os seus olhos colidem com os meus. Espero que seja ele a desviar o olhar, intimidado no seu acto de me observar. Finalmente, baixo eu os olhos, e concentro toda a minha atenção na delicada tarefa de dissolver o açúcar no café.
Quando volto a ele, o gajo ainda está a olhar para mim. Perscruta-me, como se o seu itinerário apenas dependesse de mim. Não estou para aturar isto. Quem é que ele pensa que é. Vou até lá. Enfrento-o e digo-lhe: "O que é que foi? Para onde estás a olhar? Estás mal, muda-te! Eu estava aqui primeiro. O melhor é pores-te daqui para fora! Há um de nós que aqui estás a mais..."
Ele fita-me. Como se não entendesse, um nada preocupado, e encolhe os ombros. "Vai!", quase grito, fosse ele surdo.
"Vai, sai daqui, estás à espera de quê?" Ele sorri de braços bambos e encolhe os ombros novamente. Acha-me graça, o idiota?
Enfureço. Chego-me a ele, pego-lhe num braço violentamente, levanto-o como uma marioneta e arrasto-o até à porta. "Vá, põe-te daqui para fora, tratante…". Prescruta-me intrigado. Sem animosidade, com ar de asno, fica especado na soleira da porta olhando-me. Olhos nos olhos.
Sinto uma tontura, como se ele me possuisse. De onde está, sem se mover, puxa-me até ao seu lugar. Como se me sugasse. Não é humano. Desincorpora-se. Transfigura-se. Olho-o mas já não sei que vejo. A mim. Clonou-me? É como um espelho?
Reconheço-me enfim. Este palerma esquizófrénico sou eu. Sou eu, violentando-me para me extrair de mim mesmo, para ir apanhar ar lá fora, fora de mim. E o açúcar derramado na mesa do café.
O homem de óculos e barba, sentado de perna magra cruzada, bebe café. As suas mãos recusam o açúcar e correm nervosamente o tampo da mesa em madeira antiga. Ajeita o colarinho ensopado em suor, olha-se no espelho velho, cheio de manchas, alisa o fato amarrotado e passa os dedos pelos cabelos em batalha. Parece querer erguer-se e sair, mas fica sentado.
Os seus olhos colidem com os meus. Espero que seja ele a desviar o olhar, intimidado no seu acto de me observar. Finalmente, baixo eu os olhos, e concentro toda a minha atenção na delicada tarefa de dissolver o açúcar no café.
Quando volto a ele, o gajo ainda está a olhar para mim. Perscruta-me, como se o seu itinerário apenas dependesse de mim. Não estou para aturar isto. Quem é que ele pensa que é. Vou até lá. Enfrento-o e digo-lhe: "O que é que foi? Para onde estás a olhar? Estás mal, muda-te! Eu estava aqui primeiro. O melhor é pores-te daqui para fora! Há um de nós que aqui estás a mais..."
Ele fita-me. Como se não entendesse, um nada preocupado, e encolhe os ombros. "Vai!", quase grito, fosse ele surdo.
"Vai, sai daqui, estás à espera de quê?" Ele sorri de braços bambos e encolhe os ombros novamente. Acha-me graça, o idiota?
Enfureço. Chego-me a ele, pego-lhe num braço violentamente, levanto-o como uma marioneta e arrasto-o até à porta. "Vá, põe-te daqui para fora, tratante…". Prescruta-me intrigado. Sem animosidade, com ar de asno, fica especado na soleira da porta olhando-me. Olhos nos olhos.
Sinto uma tontura, como se ele me possuisse. De onde está, sem se mover, puxa-me até ao seu lugar. Como se me sugasse. Não é humano. Desincorpora-se. Transfigura-se. Olho-o mas já não sei que vejo. A mim. Clonou-me? É como um espelho?
Reconheço-me enfim. Este palerma esquizófrénico sou eu. Sou eu, violentando-me para me extrair de mim mesmo, para ir apanhar ar lá fora, fora de mim. E o açúcar derramado na mesa do café.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
NASA descobre bactérias em arsénico e abre novas possibilidades na investigação de vida extraterrestre
A conferência de imprensa que a NASA convocou para hoje e que começou às 20h (hora do Luxemburgo) e terminou agora serviu para anunciar que os cientistas da NASA encontraram num lago na Califórnia, nos EUA, bactérias que vivem em arsénico, uma descoberta que irá ter impacto na investigação de formas de vida extraterrestre..
A descoberta foi precedida de muitas especulações em blogues ligados a temas da tecnologia, como o Gawker e o PC World, que nos últimos dias falavam na possibilidade de a agência norte-americana anunciar hoje que teria encontrado vida fora da Terra.
Estas especulações resultaram, sobretudo, da própria convocatória da conferência de imprensa, em que a NASA anunciava “uma descoberta astrobiológica” que teria impacto na pesquisa de vida extraterrestre.
A descoberta, mesmo não sendo histórica, mudará as investigações nesta área da NASA, que até agora só procurou vida em planetas com os elementos que os cientistas acreditavam serem os únicos que podiam acolhê-la.
As formas de vida até agora conhecidas são compostas por seis elementos: carbono, hidrogénio, nitrogénio, oxigénio, enxofre e fósforo.
“Ainda que estes seis elementos componham os ácidos nucleicos, as proteínas e os lípidos e, portanto, a maior parte da matéria viva, é possível, teoricamente, que outros elementos da tabela periódica possam cumprir as mesmas funções”, refere o estudo, que foi dirigido por Felisa Wolfe Simon, do Instituto de Astrobiologia da NASA.
Os investigadores descobriram nas águas tóxicas e salubres do lago Mono, na Califórnia, uma bactéria que pode substituir o fósforo por arsénio, ao ponto de incorporar este elemento no seu ADN.
Os investigadores explicaram que esta descoberta abre a possibilidade de existirem formas de vida em planetas que não têm fósforo na sua atmosfera.
A descoberta foi precedida de muitas especulações em blogues ligados a temas da tecnologia, como o Gawker e o PC World, que nos últimos dias falavam na possibilidade de a agência norte-americana anunciar hoje que teria encontrado vida fora da Terra.
Estas especulações resultaram, sobretudo, da própria convocatória da conferência de imprensa, em que a NASA anunciava “uma descoberta astrobiológica” que teria impacto na pesquisa de vida extraterrestre.
A descoberta, mesmo não sendo histórica, mudará as investigações nesta área da NASA, que até agora só procurou vida em planetas com os elementos que os cientistas acreditavam serem os únicos que podiam acolhê-la.
As formas de vida até agora conhecidas são compostas por seis elementos: carbono, hidrogénio, nitrogénio, oxigénio, enxofre e fósforo.
“Ainda que estes seis elementos componham os ácidos nucleicos, as proteínas e os lípidos e, portanto, a maior parte da matéria viva, é possível, teoricamente, que outros elementos da tabela periódica possam cumprir as mesmas funções”, refere o estudo, que foi dirigido por Felisa Wolfe Simon, do Instituto de Astrobiologia da NASA.
Os investigadores descobriram nas águas tóxicas e salubres do lago Mono, na Califórnia, uma bactéria que pode substituir o fósforo por arsénio, ao ponto de incorporar este elemento no seu ADN.
Os investigadores explicaram que esta descoberta abre a possibilidade de existirem formas de vida em planetas que não têm fósforo na sua atmosfera.
Rótulo :
ciências,
Midgard Book
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
NASA convoca conferência de imprensa para falar de vida extraterrestre, esta quinta-feira
A agência espacial norte-americana NASA convocou para esta quinta-feira, 2 de Dezembro, às 20h (GMT + 1, 14 horas em Washington) uma conferência de imprensa onde disse que fará um anúncio sobre uma descoberta que fez no ramo da exobiologia e que, segundo o site da agência, "vai ser de grande impacto na busca de vida extraterrestre".
A Exobiologia estuda a origem e evolução da vida fora da Terra.
Vida numa das luas de Saturno?
Especula-se que a conferência vai falar do que a sonda Cassini detectou na semana passada: uma tênue atmosfera com oxigénio e dióxido de carbono em Reia, uma das luas de Saturno. É a primeira vez que uma sonda terrestre descobre uma atmosfera com oxigénio fora da Terra.
Outros garantem que a NASA vai falar da descoberta de arsénico em Titã, maior satélite de Saturno, e sobre as bactérias que se alimentam deste elemento para efectuar a fotossíntese. Além disso, Titã pode possuir lagos de hidrocarbonetos, vulcões gelados, e os cientistas pensam que o metano se comporta nesse astro como a água na Terra, evaporando e chovendo, em ciclos.
Uma resposta à nossa mensagem?
Em Janeiro de 2005, foi lançada a sonda Huygens que tirou as primeiras fotografias da superfície de Titã, mas devido ao nevoeiro, e mesmo com fotografias muito ficou por saber. Esta sonda levou consigo um milhão de mensagens de pessoas à volta do mundo. As mensagens foram enviadas pela internet, gravadas num cd-rom e lançadas com a sonda. Será que a NASA obteve uma resposta às nossas mensagens?
Vida ARN em vez de ADN?
Outros rumores evocam a possibilidade de a NASA vir anunciar que descobriu vida com base no ARN em vez do ADN.
O ARN ou ácido ribonucleico é o responsável pela síntese de proteínas da célula. O ARN é um polímero de nucleótidos, geralmente em cadeia simples, e não em dupla hélice como o ADN (ver imagem), mas pode, por vezes, ser dobrado. As moléculas formadas por RNA possuem dimensões muito inferiores às formadas pelo ADN. Na sua essência uma vida com base no ARN seria uma vida exactamente contrária à nossa, baseada no ADN.
A conferência de imprensa será transmitida em directo e ao vivo desde o auditório da NASA em Washington, pela NASA TV e pelo site da agência http://www.nasa.gov
A Exobiologia estuda a origem e evolução da vida fora da Terra.
Vida numa das luas de Saturno?
Especula-se que a conferência vai falar do que a sonda Cassini detectou na semana passada: uma tênue atmosfera com oxigénio e dióxido de carbono em Reia, uma das luas de Saturno. É a primeira vez que uma sonda terrestre descobre uma atmosfera com oxigénio fora da Terra.
Outros garantem que a NASA vai falar da descoberta de arsénico em Titã, maior satélite de Saturno, e sobre as bactérias que se alimentam deste elemento para efectuar a fotossíntese. Além disso, Titã pode possuir lagos de hidrocarbonetos, vulcões gelados, e os cientistas pensam que o metano se comporta nesse astro como a água na Terra, evaporando e chovendo, em ciclos.
Uma resposta à nossa mensagem?
Em Janeiro de 2005, foi lançada a sonda Huygens que tirou as primeiras fotografias da superfície de Titã, mas devido ao nevoeiro, e mesmo com fotografias muito ficou por saber. Esta sonda levou consigo um milhão de mensagens de pessoas à volta do mundo. As mensagens foram enviadas pela internet, gravadas num cd-rom e lançadas com a sonda. Será que a NASA obteve uma resposta às nossas mensagens?
Vida ARN em vez de ADN?
Outros rumores evocam a possibilidade de a NASA vir anunciar que descobriu vida com base no ARN em vez do ADN.
O ARN ou ácido ribonucleico é o responsável pela síntese de proteínas da célula. O ARN é um polímero de nucleótidos, geralmente em cadeia simples, e não em dupla hélice como o ADN (ver imagem), mas pode, por vezes, ser dobrado. As moléculas formadas por RNA possuem dimensões muito inferiores às formadas pelo ADN. Na sua essência uma vida com base no ARN seria uma vida exactamente contrária à nossa, baseada no ADN.
A conferência de imprensa será transmitida em directo e ao vivo desde o auditório da NASA em Washington, pela NASA TV e pelo site da agência http://www.nasa.gov
Rótulo :
actu_mundo,
ciências,
Midgard Book
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