Aeroporto de Faro.
Daqui a quatro horas faço 39 anos. É o meu último dia de férias. Estive por aqui duas semanas e meia para meter distância entre mim e o Luxemburgo, entre mim e a realidade. Consegui?
O que levo daqui? Dez quilos de livros, comprei alguns porque precisava, uns porque os vou ler, outros porque os quero ter, outros ainda por obsessão, outros mais por devaneio, e outros porque sim. Comprei música: Miguel Araújo e três compilações de hip-hop em português, um relógio Rolex Oyster Daytona. Lindíssimo. E eu vaidoso. E com vergonha desta vaidade bacoca e barata, que não se parece comigo. Mas fez-me bem fazer-me bem. Por uma vez. Foi a minha prenda de anos a mim mesmo. Acho que posso, acho que mereço.
E mais que isso? Apenas muitos dias de solidão. Sol e dão. Muitos dias erráticos, vadiando, vagueando, deambulando, deslizando por sobre o tecido grosso da realidade. Tentando escapar para a frente. Muitas tentativas de engate planeadas, uma ínfima percentagem realmente levada a cabo no terreno, nenhuma dessas concluindo-se positivamente com um novo número de telefone. Acho que não estava para aí virado... ando enferrujado. Ou triste. Ou cansado da vida.
Apenas dois ou três encontros interessantes.
Do terceiro dia de férias, fica-me a recordação carinhosa de um serão muito agradável com a Tânia, uma amiga actriz, menina delicada e sensível, olhar expressivo e azul, cujo coração não estava disponível para as minhas serenatas e seduções e o corpo para os meus ardores e leviandades. Ficou uma boa amiga? O futuro o dirá...
A meio das férias, num dos passeios por Vilamoura minglei numa festa onde entrei sem ser convidado, era um happening aberto, com gente gira, e tive uma conversa charmosa com a Mónica. Uma menina muito doce, muito bem apessoada, riso de criança, rosto lindo, muito expressivo, olhos calorosos, vestido de cocktail très bcbg (bon chic bon genre), "fui eu que desenhei", um sotaque giríssimo de um país que não descortinei, parecia um daqueles filmes em que o protagonista cruza por acaso uma bela forasteira, mas que afinal é uma espia e que tem como missão seduzi-lo para lhe extorquir informações. Naquela noite eu devia ter envergado o meu fato James Bond. Mas furtei-me à festa demasiado cedo e sem o número de telefone da bela desconhecida...
Ontem, penúltimo dia das férias, voltei a Vilamoura e ofereci-me a mim mesmo um jantar num dos meus restaurantes preferidos da marina, o Akvavit. Gosto porque tem uma esplanada sobre a água, com vista para toda a marina, mesas largas, cadeiras resistentes e confortáveis em rede, música lounge agradável, pessoal esmerado e atencioso. Encomendei tostas com doce e foie gras, como entrada; folhado de espinafres como prato principal; regado por duas imperiais. E um expresso, que a noite ainda era uma criança e eu estava com esperança de rever a Mata Hari do outro dia ;-) Mas foi debalde que a procurei com os olhos no lugar onde nos tínhamos conhecido. Não quis o destino...
Dei uma volta, passeando o olhar pelos passantes, transeuntes, turistas e emigrantes. Os emigrantes reconhecem-se pelos calções com logos dos subúrbios parisienses e t-shirt griffé. As inglesas reconhecem-se pela sua toilette, vestido comprido, alguns de cores garridas. Saem à noite em Vilamoura como se fossem a uma festa em Buckingham Palace, mas vão, no máximo, ao Black Jack, a discoteca do Casino. O meu preferido: o vestido-kimono, muito sensual, negro, com flores de cerejeira e decote plongeant, abrindo-se generoso em flor... Ah, mas aquela não era inglesa, era sueca ou escandinava, percebo pela sonoridade da língua. Volto-me para trás à sua passagem e aprecio de longe as curvas perfeitas que a seda japonesa lhe desenha. Isto é como entrar numa pastelaria - para utilizar uma bela metáfora gulosa do "poeta" Joey, da série "Friends" - e não poder provar com o dedo os bolinhos com creme, ou os com chantilly, ou os que têm recheio e poder fazer saltar a cereja do topo.
Esta gulodice é perigosa. Ando demasiado esfomeado e vê-se. Vou com muita sede ao pote e afugento-as.
Última tentativa de conquista com uma eslava no Irish Cabin Pub. Tem olhos doces e um rabo de danar a alma, mas também aqui embrulho o meu discurso de engate no bolso; sirvo um sorriso social que ela me devolve, deixo gorjeta como se isso fosse a minha e a sua única consolação e desejo-lhe boa noite. Regresso sozinho a casa. The story of my life...
A tentativa de fuga para a frente não passou de uma tentativa de evasão falhada. Continuo agrilhoado no meu presente. Os brasileiros têm uma boa expressão para isto: "Cair na real!", uma expressão bem mais forte do que o inglês "back to reality!", porque quando se voa fora dela, o regresso só pode ser uma queda, um trambolhão, um deslizar em queda livre, uma colisão. E depois fico ali eu com os passarinhos parvos e as estrelinhas e os outros gatafunhos a girarem-me à roda da cabeça, tentando retomar os sentidos...
sábado, 30 de junho de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
28 de Junho - Flores matutinas
Há flores de manhã aos meus pés e só isso me faz sorrir. As flores fazem-me esquecer o pesadelo da madrugada.
Eu ia a uma vidente que se recusava a revelar-me o futuro. Mas uma bruxa, atrás de um caixote em madeira, daqueles velhos com que se acartava antes a fruta nos mercados, lia-me a sina em troca de 25 moedas. Eu ia morrer e já não me sobrava muito tempo. Eu escapara das outras vezes, mas desta não, eram o que diziam as linhas da minha mão esquerda, as cartas de Tarot, as runas, as estrelas, as borras de café, a bola de cristal, as vozes do entre-mundos e todo o coro dos fantasmas habituais da sua panóplia, que nunca erram quando erram e por tanto aí errarem sabem tanto, sabem tudo e não erram.
Acordei estremunhado. E chorei. O que há de pior do que chorar com pena de si mesmo? Não há nada pior, nada!
Mas, como todas as manhãs, levantei-me, procedi às abluções matinais habituais e saí de casa. Ao sair, um chão de flores, caídas durante a noite, fazia de tapete por todo o pátio até ao portão. E eu sorri. Flores? Que bom augúrio, pensei.
Eu ia a uma vidente que se recusava a revelar-me o futuro. Mas uma bruxa, atrás de um caixote em madeira, daqueles velhos com que se acartava antes a fruta nos mercados, lia-me a sina em troca de 25 moedas. Eu ia morrer e já não me sobrava muito tempo. Eu escapara das outras vezes, mas desta não, eram o que diziam as linhas da minha mão esquerda, as cartas de Tarot, as runas, as estrelas, as borras de café, a bola de cristal, as vozes do entre-mundos e todo o coro dos fantasmas habituais da sua panóplia, que nunca erram quando erram e por tanto aí errarem sabem tanto, sabem tudo e não erram.
Acordei estremunhado. E chorei. O que há de pior do que chorar com pena de si mesmo? Não há nada pior, nada!
Mas, como todas as manhãs, levantei-me, procedi às abluções matinais habituais e saí de casa. Ao sair, um chão de flores, caídas durante a noite, fazia de tapete por todo o pátio até ao portão. E eu sorri. Flores? Que bom augúrio, pensei.
Rótulo :
caderno de itinerários,
diário incidental
quarta-feira, 27 de junho de 2012
27 de Junho - Miúdas e miúdas
Garrão.
Há miúdas, é um pecado tão novas terem um corpinho já esculpido para o pecado. Aquilo só pode dar mau resultado. Ou se afirmam eroticamente juntos dos rapazes da sua idade ou com mania e presunção junto das colegas sem os mesmos atributos. Elas formam logo dois campos opostos: os das gajas e o das meninas. Eles? Eles nem sabem para onde olhar, tudo é tão novo e tentador. Aos 14 anos andam a passear um corpinho que só daqui a quatro saberão mesmo aproveitar, gozar, partilhar, dar.
Enfim, que sei eu, que aos 13, 14, 15, 16 anos me apaixonava platonicamente e não fodia nada, ao contrário de muitos dos meus colegas já sexualmente activos, ainda que muitos inconscientes e inconsequentes das suas acções. O meu despertar veio muito mais tarde, numa noite serôdia de Agosto.
(São pequenos, são grandes, são cheios, são seios.)
As inglesas adolescentes não são como as portuguesas. Aqui, um grupo beberica cerveja Sagres na praia sob o olhar complacente da mãe. A mais velhinha, talvez 16 anos, chega com um Kir Royal para ela e para a mater familias!!! Espectacular! O mundo globalizado afinal não se parece assim tanto, nunca vi putos portugueses desta idade a sorver álcool tão cedo pela manhã às vistas descaradas da figura materna...
Uma outra jovem, portuguesa esta, 16, 17 anos, biquini amarelo, bem desenhada e dourada pelo sol, cabelo castanho claro até às costas, tez morena, traz-me à memória um dia dos meus talvez 15 anos em que fiquei embasbacado ao olhar para o corpinho perfeito de uma colega de turma, quando fomos em grupo à praia, baldando-nos às aulas de uma tarde de Junho. Foi uma das minhas primeiras poluções nocturnas. É daquelas imagens que parecia já ter esquecido, mas a forma como se gravou na memória faz com que em momentos como volte a surgir por uma espécie de vão de escada da reminiscência.
Continuo a ler a extensa quase-autobiografia de Pessoa do Cavalcanti Filho. Pessoa escrevi sobre tudo, sempre, a qualquer hora, sobre qualquer assunto. Eu também me quero, mas as melhores ideias, as frases mais metafísicas, os pensamentos mais originais fogem quando puxo do caderno e da caneta, aparecem quando conduzo, desaparecem assim que estaciono...
E isto é o quê? Notas para o meu diário intermitente, para o meu caderno de itinerários? Escreve para aí, desalmado. Isto nunca dará em nada, então, porque insistes?
Há miúdas, é um pecado tão novas terem um corpinho já esculpido para o pecado. Aquilo só pode dar mau resultado. Ou se afirmam eroticamente juntos dos rapazes da sua idade ou com mania e presunção junto das colegas sem os mesmos atributos. Elas formam logo dois campos opostos: os das gajas e o das meninas. Eles? Eles nem sabem para onde olhar, tudo é tão novo e tentador. Aos 14 anos andam a passear um corpinho que só daqui a quatro saberão mesmo aproveitar, gozar, partilhar, dar.
Enfim, que sei eu, que aos 13, 14, 15, 16 anos me apaixonava platonicamente e não fodia nada, ao contrário de muitos dos meus colegas já sexualmente activos, ainda que muitos inconscientes e inconsequentes das suas acções. O meu despertar veio muito mais tarde, numa noite serôdia de Agosto.
(São pequenos, são grandes, são cheios, são seios.)
As inglesas adolescentes não são como as portuguesas. Aqui, um grupo beberica cerveja Sagres na praia sob o olhar complacente da mãe. A mais velhinha, talvez 16 anos, chega com um Kir Royal para ela e para a mater familias!!! Espectacular! O mundo globalizado afinal não se parece assim tanto, nunca vi putos portugueses desta idade a sorver álcool tão cedo pela manhã às vistas descaradas da figura materna...
Uma outra jovem, portuguesa esta, 16, 17 anos, biquini amarelo, bem desenhada e dourada pelo sol, cabelo castanho claro até às costas, tez morena, traz-me à memória um dia dos meus talvez 15 anos em que fiquei embasbacado ao olhar para o corpinho perfeito de uma colega de turma, quando fomos em grupo à praia, baldando-nos às aulas de uma tarde de Junho. Foi uma das minhas primeiras poluções nocturnas. É daquelas imagens que parecia já ter esquecido, mas a forma como se gravou na memória faz com que em momentos como volte a surgir por uma espécie de vão de escada da reminiscência.
Continuo a ler a extensa quase-autobiografia de Pessoa do Cavalcanti Filho. Pessoa escrevi sobre tudo, sempre, a qualquer hora, sobre qualquer assunto. Eu também me quero, mas as melhores ideias, as frases mais metafísicas, os pensamentos mais originais fogem quando puxo do caderno e da caneta, aparecem quando conduzo, desaparecem assim que estaciono...
E isto é o quê? Notas para o meu diário intermitente, para o meu caderno de itinerários? Escreve para aí, desalmado. Isto nunca dará em nada, então, porque insistes?
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caderno de itinerários,
diário incidental
terça-feira, 26 de junho de 2012
26 de Junho - Solidão, leitura, escrita e o prof. José Louro
As férias correm lestas para o fim e eu sinto-me só. Passo os serões a repetir a estrada que vai para a praia de Faro, talvez porque só a maresia e o cheiro a pinheiros mansos me acalme, talvez só o estar à beira-mar me sossegue, ou porque apenas o reencontro com este céu estrelado e familiar me faça sentir em casa.
Olho à minha volta, só casais abraçados, de mão dada, famílias com sorrisos felizes. E eu aqui, mais uma vez irremediavelmente só. Vou a um bar, ao chegar arrependo-me, vejo aquela gente feliz, em casal e com e amigos, rindo, bebendo, divertindo-se, aproveitando as férias ou simplesmente a bela noite. E como está bela e amena a noite. Arrepio caminho. Que vou fazer a um lugar onde se celebra com os outros eu que não tenho ninguém?
Os meus dias são todos inúteis, quem inventou os dias úteis? Escrever cansa-me, ler desmoraliza-me, descansar aborrece-me, ir à praia é chato. Pego no carro alugado e ando às voltas, queimo estrada.
Debaixo do alpendre da casa, as manhãs de Junho são amenas e frescas. Sopra do mar uma brisa que refresca as primeiras horas do dia e torna suportável o sol áscio. Disponho à minha volta livros e escrevo, como se o talento se transmitisse por osmose. Sento-me na mesa de mogno, rabisco ideias (todas batidas), frases (todas déjà vu), pensamentos (todos inanes). Pego noutro livro, folheio-o, deito-me no sofá esquecido ali, os crisântemos balouçam ao sol, a figueira ancestral esfolha-se na brisa, refolha-se e mira-me, até as palmeiras da vivenda vizinha me parecem já familiares e não fruto do adubo industrial da Primavera passada.
Passo de Pessoa a Rentes de Carvalho, depois viajo com Theroux e João Ricardo Pedro, folheio as antologias poéticas, Píndaro, Safo, Orfeu, Xenófanes, Sofócles, Aristófanes, Esopo, Virgílio, canso-me dos clássicos e regresso a António Barahona, Gastão Cruz, Diogo Vaz Pinto, A.M. Pires Cabral e todas as novas vozes de que não faço parte...
Por exemplo Diogo Vaz Pinto. Muito bom. Cada vez que descubro um novo talento, uma nova pena, questiono-me sobre a minha escrita, que sentido tudo isto toma, as minhas dezenas de cadernos amontoados, espólio ignorado.
Estive hoje com o professor José Louro e foi bom revê-lo. Numa casa nova, a duas daquela que partilhou com Zeca Afonso, confia-me, quando este foi professor em Faro. Falou-me de teatro, da sua vida, como veio de Coimbra, de que nunca gostou, para Faro, os grupos de teatro que ajudou a fundar, desde o da Universidade de Lisboa, que viria a dar origem ao Teatro da Cornucópia do Luís Miguel Cintra, ao grupo Sincera da Universidade do Algarve, "fundado num vão de escada".
"Esta era a casa do Doutor Cabeçadas", conta-me, e em novo ele passava por aqui com o Zeca e dizia, "Um dia quero morar numa casa como estas". Já reformado, uma sua amiga que mora em Lisboa, pediu-lhe para ocupar uma casa em Faro que ela não queria arrendar a estranhos. Era esta casa, a casa dos seus sonhos quando era jovem professor...
No seu escritório pequeno, por onde entra pelas frestas de uma janela semi-aberta o sol forte e luminoso da tarde que começa, está rodeado por livros de teatro e de poesia. "O resto dos livros estão na minha outra casa em Almancil. E quando um autor morre, traslado-o daqui para lá", ri-se. Está velho, mas rijo, forte, robusto, lúcido, muito lúcido, sempre uma galhofa inteligente na ponta da língua. Vêm-no visitar muitos antigos alunos, para o rever ou para pedir-lhe ajuda para projectos em que serve de mentor, foi-o de tantos, inspirou tantos, aos quais com paixão ensinou e transmitiu o seu amor pelo teatro e pela literatura. Fomos tantos.
Reconheceu-me logo pela voz, assim que falei pelo intercomunicador. Recebeu-me em roupão, "acabo de acordar", eram duas da tarde. Há quase 20 anos que não nos víamos, não falávamos, mas a conversa retomou como se fóssemos velhos amigos. O Luís Vicente já lhe tinha dito que me tinha encontrado no Luxemburgo e logo exortou-me a comparecer à sua presença, antes que fosse desta para melhor.
Falámos ainda de livros, de escrita, de escritores, do Nuno Júdice. Confirmou-me que "é um gajo calado". Já "o Casimiro de Brito fala pelos cotovelos". Ah, e rimos muito. Foi bom este reencontro.
Olho à minha volta, só casais abraçados, de mão dada, famílias com sorrisos felizes. E eu aqui, mais uma vez irremediavelmente só. Vou a um bar, ao chegar arrependo-me, vejo aquela gente feliz, em casal e com e amigos, rindo, bebendo, divertindo-se, aproveitando as férias ou simplesmente a bela noite. E como está bela e amena a noite. Arrepio caminho. Que vou fazer a um lugar onde se celebra com os outros eu que não tenho ninguém?
Os meus dias são todos inúteis, quem inventou os dias úteis? Escrever cansa-me, ler desmoraliza-me, descansar aborrece-me, ir à praia é chato. Pego no carro alugado e ando às voltas, queimo estrada.
Debaixo do alpendre da casa, as manhãs de Junho são amenas e frescas. Sopra do mar uma brisa que refresca as primeiras horas do dia e torna suportável o sol áscio. Disponho à minha volta livros e escrevo, como se o talento se transmitisse por osmose. Sento-me na mesa de mogno, rabisco ideias (todas batidas), frases (todas déjà vu), pensamentos (todos inanes). Pego noutro livro, folheio-o, deito-me no sofá esquecido ali, os crisântemos balouçam ao sol, a figueira ancestral esfolha-se na brisa, refolha-se e mira-me, até as palmeiras da vivenda vizinha me parecem já familiares e não fruto do adubo industrial da Primavera passada.
Passo de Pessoa a Rentes de Carvalho, depois viajo com Theroux e João Ricardo Pedro, folheio as antologias poéticas, Píndaro, Safo, Orfeu, Xenófanes, Sofócles, Aristófanes, Esopo, Virgílio, canso-me dos clássicos e regresso a António Barahona, Gastão Cruz, Diogo Vaz Pinto, A.M. Pires Cabral e todas as novas vozes de que não faço parte...
Por exemplo Diogo Vaz Pinto. Muito bom. Cada vez que descubro um novo talento, uma nova pena, questiono-me sobre a minha escrita, que sentido tudo isto toma, as minhas dezenas de cadernos amontoados, espólio ignorado.
Estive hoje com o professor José Louro e foi bom revê-lo. Numa casa nova, a duas daquela que partilhou com Zeca Afonso, confia-me, quando este foi professor em Faro. Falou-me de teatro, da sua vida, como veio de Coimbra, de que nunca gostou, para Faro, os grupos de teatro que ajudou a fundar, desde o da Universidade de Lisboa, que viria a dar origem ao Teatro da Cornucópia do Luís Miguel Cintra, ao grupo Sincera da Universidade do Algarve, "fundado num vão de escada".
"Esta era a casa do Doutor Cabeçadas", conta-me, e em novo ele passava por aqui com o Zeca e dizia, "Um dia quero morar numa casa como estas". Já reformado, uma sua amiga que mora em Lisboa, pediu-lhe para ocupar uma casa em Faro que ela não queria arrendar a estranhos. Era esta casa, a casa dos seus sonhos quando era jovem professor...
No seu escritório pequeno, por onde entra pelas frestas de uma janela semi-aberta o sol forte e luminoso da tarde que começa, está rodeado por livros de teatro e de poesia. "O resto dos livros estão na minha outra casa em Almancil. E quando um autor morre, traslado-o daqui para lá", ri-se. Está velho, mas rijo, forte, robusto, lúcido, muito lúcido, sempre uma galhofa inteligente na ponta da língua. Vêm-no visitar muitos antigos alunos, para o rever ou para pedir-lhe ajuda para projectos em que serve de mentor, foi-o de tantos, inspirou tantos, aos quais com paixão ensinou e transmitiu o seu amor pelo teatro e pela literatura. Fomos tantos.
Reconheceu-me logo pela voz, assim que falei pelo intercomunicador. Recebeu-me em roupão, "acabo de acordar", eram duas da tarde. Há quase 20 anos que não nos víamos, não falávamos, mas a conversa retomou como se fóssemos velhos amigos. O Luís Vicente já lhe tinha dito que me tinha encontrado no Luxemburgo e logo exortou-me a comparecer à sua presença, antes que fosse desta para melhor.
Falámos ainda de livros, de escrita, de escritores, do Nuno Júdice. Confirmou-me que "é um gajo calado". Já "o Casimiro de Brito fala pelos cotovelos". Ah, e rimos muito. Foi bom este reencontro.
Rótulo :
caderno de itinerários,
diário incidental
sábado, 23 de junho de 2012
23 de Junho - Dois dias com a minha prima e encontro de terceiro grau com uma "estreleta"
A minha prima Cindy esteve dois dias aqui comigo, extraiu-me desta solidão a que me votei. Fez-me bem. Falei com ela de assuntos de que nunca tinhamos falado antes. Cresceu a minha priminha. Teve experiências, viveu, amou. Ainda bem. Fico muito feliz por ela. Cresce sã e com a mente aberta. Mas acautelada.
Encontro imediato de 3° grau com a Isabel Figueira, "estreleta" da televisão que eu desconhecia por completo. Foi a minha prima que a identificou, apresenta o Top+. A dois metros de mim discutia e gesticulava tão alto no meio da praia com um jovem marroquino, vendedor ambulante de relógios e malas, que, mesmo que quiséssemos, não dava para não reparar nela. (Nota posterior: Dias mais tarde haveria de sair uma página inteirinha dela na TV 7 Dias. Afinal o que parecia uma peixeirada casual era uma cena orquestrada para o paparazzo contratado. Descobri depois que o bar daquela praia é do namorado e como do local de onde as fotografias foram tiradas era impossível a menina não ver o fotógrafo, isto só podiam ser fotos encomendadas para engrossar as páginas de uns e a fama de outros. O jovem vendedor, de residência e actividade comercial provavelmente ilegais, foi o actor involuntário da cena e ficou famoso. Enfim, o que a fama nos faz fazer, mesmo que isso custe muito mais a terceiros do que à nossa carteira!).
Já dizia Oscar Wilde, mais ou menos qualquer coisa como isto: "Prefiro não ser famoso. Se sou famoso, copiam-me. Se me copiam, fico na moda. Se estou na moda, passo de moda. Se passo de moda, deixo de ser famoso. Se deixo de ser famoso passo o tempo todo a querer voltar a ser famoso. Dá muito trabalho, prefiro não ser famoso!"
Encontro imediato de 3° grau com a Isabel Figueira, "estreleta" da televisão que eu desconhecia por completo. Foi a minha prima que a identificou, apresenta o Top+. A dois metros de mim discutia e gesticulava tão alto no meio da praia com um jovem marroquino, vendedor ambulante de relógios e malas, que, mesmo que quiséssemos, não dava para não reparar nela. (Nota posterior: Dias mais tarde haveria de sair uma página inteirinha dela na TV 7 Dias. Afinal o que parecia uma peixeirada casual era uma cena orquestrada para o paparazzo contratado. Descobri depois que o bar daquela praia é do namorado e como do local de onde as fotografias foram tiradas era impossível a menina não ver o fotógrafo, isto só podiam ser fotos encomendadas para engrossar as páginas de uns e a fama de outros. O jovem vendedor, de residência e actividade comercial provavelmente ilegais, foi o actor involuntário da cena e ficou famoso. Enfim, o que a fama nos faz fazer, mesmo que isso custe muito mais a terceiros do que à nossa carteira!).
Já dizia Oscar Wilde, mais ou menos qualquer coisa como isto: "Prefiro não ser famoso. Se sou famoso, copiam-me. Se me copiam, fico na moda. Se estou na moda, passo de moda. Se passo de moda, deixo de ser famoso. Se deixo de ser famoso passo o tempo todo a querer voltar a ser famoso. Dá muito trabalho, prefiro não ser famoso!"
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diário incidental
terça-feira, 19 de junho de 2012
19 de Junho - Conversas entre o céu e o mar
Praia de Faro.
Quero isto o ano inteiro: uma mesa e uma cadeira à beira-mar para ler, para escrever, para ficar a ouvir conversar o céu e o mar.
É um bocado desesperante, perto dos 40, saber que estou longe de alguns dos sonhos que me quis: uma casa numa encosta sobre o mar, com janelas grandes sobre a linha do horizonte, uma família, crianças a brincar à minha volta, o riso de as pegar ao colo por surpresa, os meus livros publicados em cima de uma mesa de madeira da Índia, a minha biblioteca à minha volta num grande escritório luminoso, um alpendre florido com uma grande mesa em madeira para os almoços domingueiros e a escrita incidental, um jardim com um grande chorão, onde eu poderia pendurar um balouço para dois.
Ao invés, ando aos caídos, inventando-me turista, procurando nos caminhos do meu passado, porque perdido estou. Forço o destino, falho, como sempre me aconteceu no passado, a rapariga foge a sete pés. E a verdade técnica é que eu continuo casado e pergunto-me porque não funcionou. Pergunta de retórica porque afinal sei-o muito bem.
Escrevo pouco, devia escrever mais, mas doem-me a cabeça e as costas.
Aos 40 anos é proibido estar aqui a perguntar "É por aqui?". Oh eu, que sempre quis ir por onde ninguém indicava, sempre acabei por borregamente seguir os caminhos balizados. Jamais du hors-piste? Quel talent! Estou novamente numa encruzilhada, a J. e eu. Vais por ali? Eu, talvez por aqui. Obrigado por teres feito o caminho comigo até aqui. Foi bom, foi generoso, foi bonito, mas o trilho parece terminar aqui. E agora?
Tiro as sandálias, sacudo a areia. E agora? Estou descalço. Calço novamente as sandálias ou vou mesmo assim? Sei lá! E agora? Nem sei para que ponto do horizonte olhar. Seguir o vento? Como se isso fosse a solução. Mau-grado, chupo o indicador e estico-o no ar. No reflexo seguinte abro a mão ao vento, estico a outra, miro as minhas mãos bronzeadas e semi-velhas, a pele seca das nozes, a cicatriz quase apagada de uma queimadura de infância, viro-as, as palmas brancas rabiscadas de linhas da vida e de amor não me revelam nada. Qual a trave-mestra do meu caminho, da minha vida? Que destino? O meu destino já mudou tantas vezes, o que mostra desde logo toda a fiabilidade do destino! Faço eu bem em não acreditar nestas merdas? Mas agora dava-me um jeitão acreditar.
Vim sozinho de férias para me reencontrar, para fazer reboot, para desligar, para me distanciar de tudo e para estar comigo mesmo. Porque é tão difícil estar comigo mesmo se tantas vezes almejei por instantes assim? E agora, aqui tens! E agora?
Doem-me as costas.
Rodeio-me de livros, compro compulsivamente dois, quatro, oito, dezasseis. Leio um, dois, três... literatura, viagens, política, filosofia, história, poesia... deixo a meio, jogo para o lado, não me dizem nada, não têm soluções para nada. Parece que nunca ninguém escreveu nada sobre nada no Mundo...
Já que a vida me pôs entre parênteses, aproveito esta pausa, esta ida à box, para me instruir, para ler, mas quanto mais leio mais tonturas tenho e certezas de que não tenho certezas nenhuma.
Leio, escrevo, andava com falta de tempo para isto.
Escrever? Escurecer páginas. Que me traz isso? Enegrecer folhas de cadernos e cadernos. Para quê? Tanta tinta vertida, para quê?
- Ser como a espuma do mar, que não fica agarrada a nenhuma onda, viajar de maré em maré, oceanos fora, espraiar de vez em quando...
- Epá, não consegues fazer melhor que isso? Tantos livros emborcados, tanta teoria engolida, tanta literatura, pffff, é só letra!
- Às vezes só me apetece esmurrar-me, um uppercut bem mandado contra o próprio queixo. Mas falta-me... balanço, jeito, coragem, tomates. Tento não observar-me de longe, porque ficaria com ainda mais raiva. Miro-me de perto e fico com piedade. Que bom!... Resistindo às ganas de me esganar, vou sobrevivendo. E é isto que se vê!
- Ok, queres um conselho? Este é grátis: não digas, faz! Não ameaces, sê! Não ameaces beijar, beija!
E o que é que tu fizeste? Exactamente o contrário! O c-o-n-t-r-á-r-i-o!!!???
- Olha, vai à merda! Volta pra puta da tua mansarda, que é o único sítio de onde nunca devias ter saído, o único lugar onde és alguém. Ah, vai-te... já que não fazes nada para te vir! Sim, qual é o problema, eu também sei fazer trocadilhos merdosos, que não valem peva. Não tens a exclusividade da mediocridade!
- Ideia luminosa para uma pick-up line infalível para meter conversa com a rapariga sozinha da toalha ao lado: "Você está sozinha, eu estou sozinho, posso fazer-lhe companhia?" Simples, directo, despretensioso, pergunta fechada, fácil de responder, de reagir, pões todas as peças na metade dela do tabuleiro. Se ela quiser baldeá-las, pode-o com um plácido "Não!"
- Ok, ok, essa é a teoria. Então, e a prática?
- A prática? Fico revolvendo a frase no cerebrozito, acanho-me, desvio o olhar, admiro o casal do outro lado a beijar-se e fico com os olhos rasos de água...
- Pffff, paneleirice!....
Quero isto o ano inteiro: uma mesa e uma cadeira à beira-mar para ler, para escrever, para ficar a ouvir conversar o céu e o mar.
É um bocado desesperante, perto dos 40, saber que estou longe de alguns dos sonhos que me quis: uma casa numa encosta sobre o mar, com janelas grandes sobre a linha do horizonte, uma família, crianças a brincar à minha volta, o riso de as pegar ao colo por surpresa, os meus livros publicados em cima de uma mesa de madeira da Índia, a minha biblioteca à minha volta num grande escritório luminoso, um alpendre florido com uma grande mesa em madeira para os almoços domingueiros e a escrita incidental, um jardim com um grande chorão, onde eu poderia pendurar um balouço para dois.
Ao invés, ando aos caídos, inventando-me turista, procurando nos caminhos do meu passado, porque perdido estou. Forço o destino, falho, como sempre me aconteceu no passado, a rapariga foge a sete pés. E a verdade técnica é que eu continuo casado e pergunto-me porque não funcionou. Pergunta de retórica porque afinal sei-o muito bem.
Escrevo pouco, devia escrever mais, mas doem-me a cabeça e as costas.
Aos 40 anos é proibido estar aqui a perguntar "É por aqui?". Oh eu, que sempre quis ir por onde ninguém indicava, sempre acabei por borregamente seguir os caminhos balizados. Jamais du hors-piste? Quel talent! Estou novamente numa encruzilhada, a J. e eu. Vais por ali? Eu, talvez por aqui. Obrigado por teres feito o caminho comigo até aqui. Foi bom, foi generoso, foi bonito, mas o trilho parece terminar aqui. E agora?
Tiro as sandálias, sacudo a areia. E agora? Estou descalço. Calço novamente as sandálias ou vou mesmo assim? Sei lá! E agora? Nem sei para que ponto do horizonte olhar. Seguir o vento? Como se isso fosse a solução. Mau-grado, chupo o indicador e estico-o no ar. No reflexo seguinte abro a mão ao vento, estico a outra, miro as minhas mãos bronzeadas e semi-velhas, a pele seca das nozes, a cicatriz quase apagada de uma queimadura de infância, viro-as, as palmas brancas rabiscadas de linhas da vida e de amor não me revelam nada. Qual a trave-mestra do meu caminho, da minha vida? Que destino? O meu destino já mudou tantas vezes, o que mostra desde logo toda a fiabilidade do destino! Faço eu bem em não acreditar nestas merdas? Mas agora dava-me um jeitão acreditar.
Vim sozinho de férias para me reencontrar, para fazer reboot, para desligar, para me distanciar de tudo e para estar comigo mesmo. Porque é tão difícil estar comigo mesmo se tantas vezes almejei por instantes assim? E agora, aqui tens! E agora?
Doem-me as costas.
Rodeio-me de livros, compro compulsivamente dois, quatro, oito, dezasseis. Leio um, dois, três... literatura, viagens, política, filosofia, história, poesia... deixo a meio, jogo para o lado, não me dizem nada, não têm soluções para nada. Parece que nunca ninguém escreveu nada sobre nada no Mundo...
Já que a vida me pôs entre parênteses, aproveito esta pausa, esta ida à box, para me instruir, para ler, mas quanto mais leio mais tonturas tenho e certezas de que não tenho certezas nenhuma.
Leio, escrevo, andava com falta de tempo para isto.
Escrever? Escurecer páginas. Que me traz isso? Enegrecer folhas de cadernos e cadernos. Para quê? Tanta tinta vertida, para quê?
- Ser como a espuma do mar, que não fica agarrada a nenhuma onda, viajar de maré em maré, oceanos fora, espraiar de vez em quando...
- Epá, não consegues fazer melhor que isso? Tantos livros emborcados, tanta teoria engolida, tanta literatura, pffff, é só letra!
- Às vezes só me apetece esmurrar-me, um uppercut bem mandado contra o próprio queixo. Mas falta-me... balanço, jeito, coragem, tomates. Tento não observar-me de longe, porque ficaria com ainda mais raiva. Miro-me de perto e fico com piedade. Que bom!... Resistindo às ganas de me esganar, vou sobrevivendo. E é isto que se vê!
- Ok, queres um conselho? Este é grátis: não digas, faz! Não ameaces, sê! Não ameaces beijar, beija!
E o que é que tu fizeste? Exactamente o contrário! O c-o-n-t-r-á-r-i-o!!!???
- Olha, vai à merda! Volta pra puta da tua mansarda, que é o único sítio de onde nunca devias ter saído, o único lugar onde és alguém. Ah, vai-te... já que não fazes nada para te vir! Sim, qual é o problema, eu também sei fazer trocadilhos merdosos, que não valem peva. Não tens a exclusividade da mediocridade!
- Ideia luminosa para uma pick-up line infalível para meter conversa com a rapariga sozinha da toalha ao lado: "Você está sozinha, eu estou sozinho, posso fazer-lhe companhia?" Simples, directo, despretensioso, pergunta fechada, fácil de responder, de reagir, pões todas as peças na metade dela do tabuleiro. Se ela quiser baldeá-las, pode-o com um plácido "Não!"
- Ok, ok, essa é a teoria. Então, e a prática?
- A prática? Fico revolvendo a frase no cerebrozito, acanho-me, desvio o olhar, admiro o casal do outro lado a beijar-se e fico com os olhos rasos de água...
- Pffff, paneleirice!....
Rótulo :
caderno de itinerários,
diário incidental
sexta-feira, 15 de junho de 2012
15 de Junho - Farniente
7h30, Pequeno-almoço: pão de leite com chocolate e uma chávena de leite frio.
Compro a "Quase Autobiografia de Fernando Pessoa" na Bertrand, no Fórum, mas os outros livros da minha lista estão esgotados.
Rumo ao Garrão, a minha praia de eleição, alugo uma chaise-longue e dou dois mergulhos revigorantes nas águas atlânticas e frias da manhã. Junho aquece. Continuo a ler "Tabua" e o destino fabuloso de Guina.
Almoço no Izzy's: Camarão e maionese piri-piri, Salada de Frango César, um expresso e um corneto de morango. Almoço com o meu caderno de viagem. Chupo um camarão e desenho uma ideia, engulo uma folha de alface e escrevo, debico o frango e rabisco. Almoço solitário.
À minha volta, inglesas e francesas, nada de realmente interessante. As que se auto-intitulam MILF bronzeiam as mamas ao léu, mas poucas dão realmente vontade de olhar. Eu mergulho o olhar nas minhas páginas e prefiro passar a tarde assim, a ler, a descansar o olhar observando o mar, as ondas no seu movimento repetitivo mas relaxante de ir e vir, absortas às revoluções do mundo, e deixam-me imerso na linha indistinta do horizonte, distraído apenas pelo leve balouçar de uma adolescente num fato de banho verde fluorescente que vai e vem entre a água e a toalha e saracoteia o corpo como numa passerelle.
Ofereço-me a mim mesmo uma massagem na praia, numa tenda com grandes lençóis brancos a servirem de cortinados, montada no areal entre o bar e os parasóis. As mãos da massagista fazem milagres no meu corpo, na minha pele, fico relaxado, bem precisava, mas dou por mim com vontades de sesta, o que nunca me aconteceu numas mãos assim.
Compro a "Quase Autobiografia de Fernando Pessoa" na Bertrand, no Fórum, mas os outros livros da minha lista estão esgotados.
Rumo ao Garrão, a minha praia de eleição, alugo uma chaise-longue e dou dois mergulhos revigorantes nas águas atlânticas e frias da manhã. Junho aquece. Continuo a ler "Tabua" e o destino fabuloso de Guina.
Almoço no Izzy's: Camarão e maionese piri-piri, Salada de Frango César, um expresso e um corneto de morango. Almoço com o meu caderno de viagem. Chupo um camarão e desenho uma ideia, engulo uma folha de alface e escrevo, debico o frango e rabisco. Almoço solitário.
À minha volta, inglesas e francesas, nada de realmente interessante. As que se auto-intitulam MILF bronzeiam as mamas ao léu, mas poucas dão realmente vontade de olhar. Eu mergulho o olhar nas minhas páginas e prefiro passar a tarde assim, a ler, a descansar o olhar observando o mar, as ondas no seu movimento repetitivo mas relaxante de ir e vir, absortas às revoluções do mundo, e deixam-me imerso na linha indistinta do horizonte, distraído apenas pelo leve balouçar de uma adolescente num fato de banho verde fluorescente que vai e vem entre a água e a toalha e saracoteia o corpo como numa passerelle.
Ofereço-me a mim mesmo uma massagem na praia, numa tenda com grandes lençóis brancos a servirem de cortinados, montada no areal entre o bar e os parasóis. As mãos da massagista fazem milagres no meu corpo, na minha pele, fico relaxado, bem precisava, mas dou por mim com vontades de sesta, o que nunca me aconteceu numas mãos assim.
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caderno de itinerários,
diário incidental
quinta-feira, 14 de junho de 2012
14 de Junho - E preciso um gajo habituar-se que está de férias
6h30, acordar.
7h30, cochilar.
8h30, levantar.
Pequeno-almoço na marquise, com as janelas bem abertas, para deixar entrar ar fresco e luz. Grande chávena de leite, dois expressos, sandes de queijo e pão integral. O rádio sintonizado na Antena 3.
10h: Comprar lenços de papel e toalha de praia no Fórum Algarve.
10h47: Praia de Faro, primeiro bronze.
12h30: Almoço n'O Paquete: dois hamburgueres caseiros, coca-cola, e dois expressos. Ainda me estou a ambientar. Continuo a esquecer-me que em Portugal não devo pedir expressos, mas "café". E no Luxemburgo, tenho que pedir expresso e não "café", senão trazem-me um chávena que mais parece um balde de café aguado.
Leitura incidental: na revista Visão fico a conhecer o escritor-turbo Pedro Chagas Freitas a propósito do seu projecto "Livro em directo" (livro2012.blogspot.com) que vai escrever em 2012 minutos um romance entre sábado e domingo.
Nas páginas culturais, vejo uma peça que me interessa: "Ode Marítima" (de F. Pessoa) no Teatro D. Maria II, com o actor João Grosso. Mas detesto a ideia de ter que ir sozinho. Não sei se irei.
Aponto livros que quero comprar: "Quase Autobiografia de Fernando Pessoa" de José Paulo Cavalcanti Filho; "Teoria da Literatura", de Vitor Aguiar e Silva; "Conhecimento da Literatura", de Carlos Reis. Para já.
Jantar: Bacalhau com Natas e vinho alentejano na casa do Ângelo e da Cátia. Conversa com o Rui e a Ana, que querem emigrar para o Luxemburgo.
7h30, cochilar.
8h30, levantar.
Pequeno-almoço na marquise, com as janelas bem abertas, para deixar entrar ar fresco e luz. Grande chávena de leite, dois expressos, sandes de queijo e pão integral. O rádio sintonizado na Antena 3.
10h: Comprar lenços de papel e toalha de praia no Fórum Algarve.
10h47: Praia de Faro, primeiro bronze.
12h30: Almoço n'O Paquete: dois hamburgueres caseiros, coca-cola, e dois expressos. Ainda me estou a ambientar. Continuo a esquecer-me que em Portugal não devo pedir expressos, mas "café". E no Luxemburgo, tenho que pedir expresso e não "café", senão trazem-me um chávena que mais parece um balde de café aguado.
Leitura incidental: na revista Visão fico a conhecer o escritor-turbo Pedro Chagas Freitas a propósito do seu projecto "Livro em directo" (livro2012.blogspot.com) que vai escrever em 2012 minutos um romance entre sábado e domingo.
Nas páginas culturais, vejo uma peça que me interessa: "Ode Marítima" (de F. Pessoa) no Teatro D. Maria II, com o actor João Grosso. Mas detesto a ideia de ter que ir sozinho. Não sei se irei.
Aponto livros que quero comprar: "Quase Autobiografia de Fernando Pessoa" de José Paulo Cavalcanti Filho; "Teoria da Literatura", de Vitor Aguiar e Silva; "Conhecimento da Literatura", de Carlos Reis. Para já.
Jantar: Bacalhau com Natas e vinho alentejano na casa do Ângelo e da Cátia. Conversa com o Rui e a Ana, que querem emigrar para o Luxemburgo.
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caderno de itinerários,
diário incidental
quarta-feira, 13 de junho de 2012
13 de Junho - Férias, dia 1
Luxemburgo, chuva, 9 horas. Autocarro atrasado. Mais chuva. Uma hora de transferência até Frankfurt/Hahn. Fila de check-in inexistente, cheguei com três horas e meia de antecedência. Sandes e café enquanto espero a hora de embarque. Uma tailandesa/coreana/chinesa troca olhares comigo. Um aeroporto é um lugar propício aos encontros fugazes, olhares que desejavam um lugar de estar e não de passar.
Embarco finalmente. No avião, começo a ler "Tabua" de Carlos Tourinho de Abreu, e o protagonista, Guina, faz-me viajar até ao seu mundo.
Por cima da Baía da Biscaia, um australiano loiraço, tipo Dawson (James Van Der Beek), pergunta à hospedeira que zona sobrevoamos. Nunca pensei nessa pick-up line, bolas! A menina é alta, curvilínea, ruiva, olhos verdes (irlandesa?), boa como o milho, como se diz poeticamente, numa saia travada que só apetece ver-lhe cair até aos tornozelos branquinhos. Mas ela não sabe responder (?), o que me arranca do meu devaneio obsceno. Intrometo-me na conversa, apenas movido pelo interesse geográfico da conversa, claro. Explico ao "aussie" onde estamos e que tudo isto faz parte do Golfo da Gasconha, e recordo-lhe Cyrano de Bergerac, o do nariz enorme, you know? A hospedeira ouve como Roxanne. Desta vez percebeu, menina?
O piloto não resiste a dizer-nos que aterrámos antes da hora prevista, e a dar-nos o resultado do jogo Dinamarca-Portugal: estamos a ganhar.
No tapete das bagagens, o australiano mete-se comigo. Quer saber se sou de Faro, quanto pode custar um táxi até um sítio chamado "Eva", porque quer apanhar um autocarro até à Ericeira, onde vai participar num campeonato de surf.
Mas perco o tempo que ganhei na Rent-a-car :-( Chego a casa às 19h30. Janto no Fórum: Sopa Juliana e água do Luso. Faço compras no Continente, compro uma pen para ter internet. Regresso a casa e ao Guina. Primeira noite: descanso.
Embarco finalmente. No avião, começo a ler "Tabua" de Carlos Tourinho de Abreu, e o protagonista, Guina, faz-me viajar até ao seu mundo.
Por cima da Baía da Biscaia, um australiano loiraço, tipo Dawson (James Van Der Beek), pergunta à hospedeira que zona sobrevoamos. Nunca pensei nessa pick-up line, bolas! A menina é alta, curvilínea, ruiva, olhos verdes (irlandesa?), boa como o milho, como se diz poeticamente, numa saia travada que só apetece ver-lhe cair até aos tornozelos branquinhos. Mas ela não sabe responder (?), o que me arranca do meu devaneio obsceno. Intrometo-me na conversa, apenas movido pelo interesse geográfico da conversa, claro. Explico ao "aussie" onde estamos e que tudo isto faz parte do Golfo da Gasconha, e recordo-lhe Cyrano de Bergerac, o do nariz enorme, you know? A hospedeira ouve como Roxanne. Desta vez percebeu, menina?
O piloto não resiste a dizer-nos que aterrámos antes da hora prevista, e a dar-nos o resultado do jogo Dinamarca-Portugal: estamos a ganhar.
No tapete das bagagens, o australiano mete-se comigo. Quer saber se sou de Faro, quanto pode custar um táxi até um sítio chamado "Eva", porque quer apanhar um autocarro até à Ericeira, onde vai participar num campeonato de surf.
Mas perco o tempo que ganhei na Rent-a-car :-( Chego a casa às 19h30. Janto no Fórum: Sopa Juliana e água do Luso. Faço compras no Continente, compro uma pen para ter internet. Regresso a casa e ao Guina. Primeira noite: descanso.
Rótulo :
caderno de itinerários,
diário incidental
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Pintura do séc. XVII onde se vê um estranho objecto anacrónico
Pintura "Exaltação da Eucaristía"
de Ventura Salimbeni
Igreja de São Pedro,
Montalcino (Itália)
Ano: 1600 A.D.
de Ventura Salimbeni
Igreja de São Pedro,
Montalcino (Itália)
Ano: 1600 A.D.
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