sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
-
cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

28 de Junho - Flores matutinas

Há flores de manhã aos meus pés e só isso me faz sorrir. As flores fazem-me esquecer o pesadelo da madrugada.

Eu ia a uma vidente que se recusava a revelar-me o futuro. Mas uma bruxa, atrás de um caixote em madeira, daqueles velhos com que se acartava antes a fruta nos mercados, lia-me a sina em troca de 25 moedas. Eu ia morrer e já não me sobrava muito tempo. Eu escapara das outras vezes, mas desta não, eram o que diziam as linhas da minha mão esquerda, as cartas de Tarot, as runas, as estrelas, as borras de café, a bola de cristal, as vozes do entre-mundos e todo o coro dos fantasmas habituais da sua panóplia, que nunca erram quando erram e por tanto aí errarem sabem tanto, sabem tudo e não erram.

Acordei estremunhado. E chorei. O que há de pior do que chorar com pena de si mesmo? Não há nada pior, nada!

Mas, como todas as manhãs, levantei-me, procedi às abluções matinais habituais e saí de casa. Ao sair, um chão de flores, caídas durante a noite, fazia de tapete por todo o pátio até ao portão. E eu sorri. Flores? Que bom augúrio, pensei.


Sem comentários: