"The English Major", de Jim Harrison
Cliff tem 62 anos. A mulher tem 38 e deixa-o por uma antiga paixão de liceu, hoje um ricalhaço bem sucedido. O seu filho homossexual, vedeta da televisão, não o quer ver a viver sozinho na quinta e convida-o a ir morar consigo e com o namorado para a Califórnia. Depois de ter abandonando uma carreira de professor de inglês na Universidade para se dedicar durante mais de 30 anos à agricultura numa quinta pacata do Michigan, Cliff cansa-se dessa vida, da quinta vazia, da vida solitária.
Quando a cadela, sua eterna companheira e a única que ainda restava na sua vida desamparada, morre, Cliff decide deixar a quinta e fazer a tal viagem a todos os estados do país com que sonhara quando jovem.
Parte com um mapa do país em forma de puzzle na bagagem e pelo caminho decide rebaptizar o nome dos estados com o seu nome índio de origem e dar um novo nome aos pássaros da América, atribuindo um pássaro a cada estado.
À medida que passa pelos estados deixa cair a peça do puzzle que corresponde a esse estado, numa forma simbólica de assinalar a sua passagem. Ou de marcar a perda de um sonho, de um ideal da sua vida antiga. Ou, pelo contrário, de marcar uma terra (re)conquistada (pelos índios), tema sempre presente nos romances de Harrison.
Nesta sua viagem, pautada por imensas pausas para pescarias meditativas mas também muito sexo, Cliff vai encontrando personagens mais ou menos estranhas, outras mais ou menos enfadonhas, outras completamente alucinadas, retrato típico de uma América onde coabitam vários mundos, várias cores e sensibilidades.
Cliff volta a reencontrar uma antiga aluna, 20 anos mais nova, casada, mas que tudo abandona para o acompanhar. Uma chata bipolar, complicada, desvairada, fala-barato, mas... ninfomaníaca maluca com a qual redescobre as loucuras e a ligeireza do sexo. Enquanto se contenta disso, Cliff deixa-a ficar por perto. Quando se farta dela, recambei-a para a sua terrinha para, dias depois, decidir que afinal tem saudades dela.
Redescobrir o amor aos 62 anos? Voltar à vidinha da quinta? Continuar a viagem num itinerário eterno? Eis as questões que se vão colocando a Cliff, que vê a vida com bastante sentido de humor e ironia, mais do que com uma amargura que se podia esperar num homem da sua idade e que foi deixado à beira do precipício de uma vida vazia.
Li esta história como se de uma moderna fábula se tratasse bem à maneira de "Cândido ou o Optimismo" de Voltaire. "There's no place like home" ou "o que é preciso é cultivar o seu próprio jardim", parece ser a conclusão desta história. A não ser que a personagem decida descobrir novos trilhos.
Mais do que um livro de viagem, mais do que se referir ao facto que a personagem era outrora um professor de inglês, o título "The English Major" deixa-nos entender que o que o autor talvez pretendesse com esta história era reflectir sobre a América contemporânea e, no mesmo acto, fazê-la debruçar-se sobre si mesma. É que o termo do título define um grau universitário nos Estados Unidos, mas também se refere a uma cadeira em que os estudantes são chamados não só a estudar literatura inglesa e americana, como a ter uma opinião crítica sobre esta.
Todos (ou quase todos) os escritores norte-americanos vivem com o fantasma do "grande romance americano" a pairar sobre si. "Grande romance americano" na senda de um John dos Passos, de um Hemingway ou de um Kerouac, entenda-se.
A personagem central, Cliff, bem pode ser o alter-ego de Jim Harrison, o autor, ele próprio com 71 anos e natural do Michigan. Cliff tem 62 mas bem poderia ter 22. Uma crise de adolescência é menos borbulhenta do que uma crise da idade madura? A procura do sentido da vida assombra-nos a todos em dado momento da nossa existência. Fazer dessa busca um romance em que a personagem se procura perdendo-se para melhor se reencontrar é apanágio apenas dos grandes escritores.
E se a essa lição de vida vier acrescentada de uma verve despojada de artifícios, simples, directa, mas não plana, pelo contrário, rica no vocabulário, nas histórias, de uma delícia humana fabulosa, então Harrison conseguiu mais um "grande romance americano", ele que é já autor de "Legends of the fall" e "Wolff", para citar apenas estes (ambos adaptados ao cinema, o primeiro com Brad Pitt e Anthony Hopkins, e o segundo com Jack Nicholson).
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
Adoro receber livros!
Com a correspondência vinha hoje um envelope gordo com três livros dentro. Da Cosmorama. De que sou assinante-leitor+. Whatever that means, mas o que interessa é que recebo um montão de livros durante o ano. E eu adoro receber livros. A encomenda de hoje trazia três recolhas de poesia de dois jovens autores e de uma poetisa já bastante conhecida:
- "A Carvão", de Fernando de Castro Branco
- "disrupção", de Jorge Melícias
- e "Anacrusa - 68 sonhos", de Ana Hatherly
Porque é que gosto da Cosmorama? Porque a sinto uma editora cheia de genica, vontade e ideias, que se vê gostar dos autores e das suas obras, porque aposta em novos autores, nomes desconhecidos, faz até renascer nomes, como o jovem poeta do princípio do séc. XX, Guilherme de Faria (1907-1929), como publica também autores tão confirmados como Agustina Bessa-Luís, Ana Hatherly e valter hugo mãe.
Hoje, o dia começou bem :-))))))
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livros e leituras
domingo, 19 de julho de 2009
Portugal dissecado
Nas férias aproveitei ainda para ler "Em busca da identidade-o desnorte" (Abril/2009) do nosso filósofo nacional, José Gil.
Nesta obra, o autor farta-se de desancar no Sócrates, analisando não só a sua maneira de governar, como a forma como este comunica e fala ao país, numa atitude sobranceira e quase "messiânica".
O livro retoma onde Gil nos tinha deixado em "Portugal hoje: o medo de existir" (2004). Gil volta a dissecar os comportamentos, as atitudes e as mentalidades do povo português neste princípio de século XXI. Além de considerar que temos identidade a mais, acha-nos neuróticos. E isso impede-nos de avançar, defende.
Gil põe também o dedo numa das maiores feridas abertas de Portugal: o "chico-espertismo".
Esta maneira muito portuguesa de viver pelas regras do sistema D (desenrasca), o cada um por si, o salve-se quem puder, condenada por alguns, praticada por um número cada vez maior, socialmente aceite pela maioria por ser, entretanto, considerada como a única forma de sobrevivência num país à deriva, e que chega ao paroxismo de ser adoptada até pelos governantes, é o verdadeiro "cancro português".
Este "pathos" (paixão/sofrimento) português mina qualquer esperança de um futuro melhor.
Enquanto o individual prevalecer sobre o geral (a sociedade), enquanto o indivíduo pensar que a sociedade (e o poder) só o quer prejudicar e que só lutando contra tudo e contra todos se safará, a sociedade e a(s) mentalidade(s) não poderão progredir em direcção a um futuro comum melhor.
Porque para avançar num determinado sentido, é preciso acreditar que este nos leva a algum lado. Ora os portugueses já não acreditam... desenganados que estão dos sucessivos governos incapazes, corruptos, trapaceiros e cuja gota que fez transbordar o copo foi o sebastianismo oco e roto que depositaram (alguns ainda depositam!) em Sócrates.
Sem perdermos a esperança, verdadeiro motor da vida, não devemos é, enquanto indivíduos, continuar a ser sebastianistas e esperar o profético "Falta cumprir-se Portugal!" pessoano.
Enquanto nação, sim! Como indivíduos, não! Como nação sim, porque só acreditando num amanhã glorioso isso nos galvanizará nas piores horas. Como indíviduo, ser profético significa ficar à espera do que está previsto acontecer, que a mudança vem dos outros, e paralisa por isso qualquer acção.
É preciso que cada um cumpra o seu sonho, o seu projecto de vida... mas sem que seja em detrimento dos outros. E assim, como nas ondas circulares da água, que transmitem movimento umas às outras, o país acabará por cumprir-se.
Enquanto esperamos, a caravana passa. E se ninguém se mexer, o país adormece, amolece, pára e o século passa. É juntos que podemos alcançar uma vida melhor, uma sociedade mais justa, um Portugal melhor.
Nesta obra, o autor farta-se de desancar no Sócrates, analisando não só a sua maneira de governar, como a forma como este comunica e fala ao país, numa atitude sobranceira e quase "messiânica".
O livro retoma onde Gil nos tinha deixado em "Portugal hoje: o medo de existir" (2004). Gil volta a dissecar os comportamentos, as atitudes e as mentalidades do povo português neste princípio de século XXI. Além de considerar que temos identidade a mais, acha-nos neuróticos. E isso impede-nos de avançar, defende.
Gil põe também o dedo numa das maiores feridas abertas de Portugal: o "chico-espertismo".
Esta maneira muito portuguesa de viver pelas regras do sistema D (desenrasca), o cada um por si, o salve-se quem puder, condenada por alguns, praticada por um número cada vez maior, socialmente aceite pela maioria por ser, entretanto, considerada como a única forma de sobrevivência num país à deriva, e que chega ao paroxismo de ser adoptada até pelos governantes, é o verdadeiro "cancro português".
Este "pathos" (paixão/sofrimento) português mina qualquer esperança de um futuro melhor.
Enquanto o individual prevalecer sobre o geral (a sociedade), enquanto o indivíduo pensar que a sociedade (e o poder) só o quer prejudicar e que só lutando contra tudo e contra todos se safará, a sociedade e a(s) mentalidade(s) não poderão progredir em direcção a um futuro comum melhor.
Porque para avançar num determinado sentido, é preciso acreditar que este nos leva a algum lado. Ora os portugueses já não acreditam... desenganados que estão dos sucessivos governos incapazes, corruptos, trapaceiros e cuja gota que fez transbordar o copo foi o sebastianismo oco e roto que depositaram (alguns ainda depositam!) em Sócrates.
Sem perdermos a esperança, verdadeiro motor da vida, não devemos é, enquanto indivíduos, continuar a ser sebastianistas e esperar o profético "Falta cumprir-se Portugal!" pessoano.
Enquanto nação, sim! Como indivíduos, não! Como nação sim, porque só acreditando num amanhã glorioso isso nos galvanizará nas piores horas. Como indíviduo, ser profético significa ficar à espera do que está previsto acontecer, que a mudança vem dos outros, e paralisa por isso qualquer acção.
É preciso que cada um cumpra o seu sonho, o seu projecto de vida... mas sem que seja em detrimento dos outros. E assim, como nas ondas circulares da água, que transmitem movimento umas às outras, o país acabará por cumprir-se.
Enquanto esperamos, a caravana passa. E se ninguém se mexer, o país adormece, amolece, pára e o século passa. É juntos que podemos alcançar uma vida melhor, uma sociedade mais justa, um Portugal melhor.
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livros e leituras
sábado, 18 de julho de 2009
Gripe mexicana? - excertos de uma conversa surreal com um médico
Hoje fiquei surpreendido, para não dizer chocado, quando consultei um médico (pelo sotaque era alemão!), por me sentir ligeiramente engripado, e este me perguntar se eu tinha estado "em contacto com alguém que tivesse a 'gripe mexicana'".
- "Quer dizer a gripe A?", retorqui eu. "Sabe que Os Estados Unidos já têm mais casos do que o México e que até o Reino Unido e o Canadá têm quase tantos casos como o México", insisti em precisar.
- "Sim, sim, hum, hum...!", remoeu. E encadeou logo perguntando "que profissão é que 'faz'?" (dixit)
- "Sou jornalista!"
- "Ah!, hum... isso faz com que esteja em contacto com muita gente, não é? Tem tido tosse, febre, dores de estômago, viajou para algum país infectado?"
- "Nem por isso, depende dos dias..., não! ...não!,... apenas dores no corpo, um mal-estar físico e perda do apetite desde ontem!, ...se viajei?....O Norte do Luxemburgo conta?"
- "Desculpe, eu estou apenas a fazer-lhe as perguntas obrigatórias que temos que fazer a todos os pacientes que aqui chegam com sintomas gripais!..."
- "Desculpe, e eu estou apenas a responder à sua pergunta. Só que actualmente, todos os países já contam tantos infectados que eu fiquei sem perceber a sua pergunta ...."
- "Pronto, pronto, estou a ver que é mesmo só um princípio de gripe. Vou receitar-lhe quatro Aspégic por dia, durante cinco dias, um spray Strepsils a tomar oito vezes por dia, se lhe vier tosse, e um spray para o nariz Ratiopharm, a usar três vezes por dia, se a gripe piorar e..."
- "Não vai ver se tenho febre?..."
- "Você não tem febre! está a suar porque está calor e tem esse pólo grosso vestido..."
- "Heu...", e enquanto me certifiquei que lá fora estava a chuviscar, como sempre no Luxemburgo, ele rematou a conversa.
- "São 35, 10 euros! Paga com cartão ou em numerário?"
E depois praticamente me empurrou dali para fora, sem me indicar a farmácia de serviço.
Surreal!
- "Quer dizer a gripe A?", retorqui eu. "Sabe que Os Estados Unidos já têm mais casos do que o México e que até o Reino Unido e o Canadá têm quase tantos casos como o México", insisti em precisar.
- "Sim, sim, hum, hum...!", remoeu. E encadeou logo perguntando "que profissão é que 'faz'?" (dixit)
- "Sou jornalista!"
- "Ah!, hum... isso faz com que esteja em contacto com muita gente, não é? Tem tido tosse, febre, dores de estômago, viajou para algum país infectado?"
- "Nem por isso, depende dos dias..., não! ...não!,... apenas dores no corpo, um mal-estar físico e perda do apetite desde ontem!, ...se viajei?....O Norte do Luxemburgo conta?"
- "Desculpe, eu estou apenas a fazer-lhe as perguntas obrigatórias que temos que fazer a todos os pacientes que aqui chegam com sintomas gripais!..."
- "Desculpe, e eu estou apenas a responder à sua pergunta. Só que actualmente, todos os países já contam tantos infectados que eu fiquei sem perceber a sua pergunta ...."
- "Pronto, pronto, estou a ver que é mesmo só um princípio de gripe. Vou receitar-lhe quatro Aspégic por dia, durante cinco dias, um spray Strepsils a tomar oito vezes por dia, se lhe vier tosse, e um spray para o nariz Ratiopharm, a usar três vezes por dia, se a gripe piorar e..."
- "Não vai ver se tenho febre?..."
- "Você não tem febre! está a suar porque está calor e tem esse pólo grosso vestido..."
- "Heu...", e enquanto me certifiquei que lá fora estava a chuviscar, como sempre no Luxemburgo, ele rematou a conversa.
- "São 35, 10 euros! Paga com cartão ou em numerário?"
E depois praticamente me empurrou dali para fora, sem me indicar a farmácia de serviço.
Surreal!
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roteiro de vida
Canção inédita de Michael Jackson
Um pequeno excerto de uma canção inédita de Michael Jackson, intitulada " A place with no name" foi hoje revelado pelo site TMZ.com, três semanas depois da morte do "rei do pop".
Segundo o sítio especialista em celebridades, que desconhece a época em que a canção foi gravada, "A place with no name" (Um lugar sem nome), apresenta forte semelhanças com "A Horse with no name" (Um cavalo sem nome), uma canção de 1971 do grupo folk-rock "America".
Mas segundo o agente dos America, citado pelo TMZ.com, a banda estava ao corrente do "plágio " de Michael Jackson e tinha concordado com a gravação.
"O grupo sentiu-se honrado que Michael Jackson escolhesse uma das suas canções e espera agora que todos os seus fãs [de Jackson] a possam entender ", declarou o agente da banda à TMZ.com.
Michael Jackson morreu a 25 de Junho em Los Angeles. As causas da morte, que poderão estar ligadas ao abuso de medicamentos, estão a ser investigadas pela polícia de Los Angeles.
Porque não um álbum póstumo ?
Sugestão às editoras: fico à espera de um "álbum branco" com canções não editadas de Jacko, músicas que nunca sairam da gaveta, remixes que foram postos de lado e outras pérolas que tais. Pelo que conheço de MJ, ainda deve haver aí material para, pelo menos , um álbum póstumo.
Concerto de Marc Demuth com Sofia Ribeiro
O concerto do Quarteto de Marc Demuth com Sofia Ribeiro foi fantástico. Ainda não conhecia os temas do seu último álbum "Orik" e gostei. Gostei eu, a minha doce metade e os quatro amigos que lá encontrámos. Esta aventura luso-luxemburguesa começou quando os dois músicos se encontraram em Barcelona e resolveram começar a trabalhar juntos, jnuma inédita ponte intercultural entre o Luxemburgo e o Porto, onde Sofia vive.
O quadro do concetro - o café-club Ancien Cinéma, em Vianden - prestava-se magnificamente, numa sala de um antigo cinema, com holofotes e cadeirões a condizer.
Foto: JLC
O quadro do concetro - o café-club Ancien Cinéma, em Vianden - prestava-se magnificamente, numa sala de um antigo cinema, com holofotes e cadeirões a condizer.
Foto: JLC
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roteiro de vida
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Jazz luso-luxemburguês num lounge polaco
Esta noite, o Quarteto do contra-baixista luxemburguês Marc Demuth e da cantora portuense Sofia Ribeiro actua pelas 21h, num sarau cultural no café-club "Ancien Cinema", em Vianden (23, Grand-rue).
A entrada custa 10 euros, 8 euros em pré-venda (no café).
O serão começa com a vernissage da exposição "Transit", do fotógrafo José Paulo Rombo, pelas 18h (entrada livre).
A exposição trata de mobilidade, da roda à bicicleta, meio de transporte pelo qual o artista se diz fascinado.
José Paulo Rombo tem 35 anos, nasceu em Vila Velha de Rodão, é membro do Fotoclube de Diekirch e do grupo "Com entusiasmo" de Trier (Alemanha). Com este grupo participou na exposição "24 Stunden-Ein Tag" (24 horas-Um dia), que esteve patente no Amusem de
Saarburgo, em 2006, e no centro cultural Tufa, em Trier, em 2007.
As obras de José Paulo Rombo estão patentes ao público até 30 de Julho naquele café.
Após décadas dedicadas ao cinema, o local fechou e esteve em obras durante muito tempo. Em Dezembro de 2007 reabriu transformado num moderno café-concerto, lounge, que guardou alguns cadeirões, holofotes do velho cinema e até uma nova tela, onde passam telediscos.
O café é um projecto de dois polacos, Maciej Karczewski (Mac para os amigos), e mulher, Hanna, que após muitos saraus culturais e outros dedicados à música electrónica e dance com DJs convidados, resolveram dedicar um serão a jovens artistas portugueses.
Primeira imagem: Foto do bar, com vista sobre o ecrã, ao fundo/ Segunda imagem: logo do café "Ancien Cinema"
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modas e lugares
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Livros e leituras de Verão
Comecei a ler a revista "Ler" de Julho (n°82) nas férias e ainda não acabei. O Verão vai ser calmo, por isso vou ter tempo. A "Ler" está cada vez melhor. Gostei da entrevista que Vasco Pulido Valente deu à revista.
Ri-me que me fartei com a descontração com que VPV fala sobre a falta de talento de Saramago (que chama quase de sub-produto latino-americano), Lobo Antunes (que anda a mastigar há demasiado tempo os mesmos repetidos assuntos e deveria era ter publicado menos livros) e até de Agustina (o que ela escreve é "uma pasta"). Segundo VPV, a litertura deste trio (que são, afinal, os grandes escritores portugueses da actualidade) carece de domínio técnico, de filosofia moral, ética e estéca. E "acabrunha"! Lapidar, este VPV.
Mas o que vamos descobrindo ao longo da entrevista é que VPV coloca a faixa do talento tão alta que considera muito poucos como escritores de talento. Sobre si próprio é ainda mais castrador. Diz que é "apenas uma vozinha" e que para escrever romances, grandes romances, sonho que chegou a ter (como todos nós!) em adolescente, é preciso ser-se "um tenor". E assim justifica o seu próprio auto-aniquilamento e imobilismo na literatura.
Sobre o seu recente "Portugal-ensaios de história e de política", que já encetei, VPV aborda a história política portuguesa desde o liberalismo até aos anos 80. Confessa-se amante de alguns períodos em especial, como a Revolução Francesa, a Segunda Guerra Mundial, o nazismo. Mas até como historiador diz que se Portugal não fosse "um país periférico", quiçá, poderia ter sido uma voz maior da disciplina. E mais, que se pertencesse a algum dos países da Europa Central (Ocidental, quererá ele dizer!), então falaria cinco ou seis línguas, condição considerada por ele como sine qua non para dominar os acontecimentos e fenómenos históricos, se não in loco, pelo menos a partir da língua de origem, e assim poderia ter sido realmente um grande historiador. E é assim que justifica a sua "vozinha".
Quem mora no Luxemburgo (onde realmente é fácil um aluno falar cinco ou seis línguas, graças ao trilinguismo inicial que a escola imprime) e conhece minimamente o resto da Europa, sabe que fora destas estreitas fronteiras grã-ducais em muitos poucos países as pessoas, e até os mais jovens, dominam mais do que duas, no máximo três, línguas.
Não se sente porém amargura na "vozinha" de VPV, antes uma resignação dissimulada e que é extraordinariamente compensada por rasgos de arrogância e auto-derisão. E desculpa-se com a sua condição humana. Mas até isso é uma opção que respeito e entendo. É que, ao contrário de Pessoa, VPV sempre preferiu a vida à escrita. Excerto: quando Carlos Vaz Marques (CVM) lhe pergunta se ele sente que passou ao lado de alguma coisa, VPV atira (irritado?, hilariante?, o entrevistador não o precisa!): "Por amor de Deus, isso é uma pergunta extraordinária. Se eu fosse capado e rico é possível que tivesse escrito melhor História". "Capado, porquê?", inquire CVM. "Para não ter tido distracções com mulheres. Se eu fosse capado e rico ou se fosse um monge. Se calhar, sei lá...".
Hilariante, esta entrevista. Excelente. Quase tão épica como a que CVM fez há tempos à Margarida Rebelo Pinto, em que, a dada altura, quando o entrevistador lhe pergunta se a sua literatura é "light" (cor-de-rosa), a entrevistada ameaça dar à sola. CVM tem esse talento raro dos grandes entrevistadores: de a entrevista fluir como uma boa conversa e de, palavra puxa palavra (e as palavras são como as cerejas!), conseguir levar os seus interlocutores para terrenos onde se teriam até, por ventura, previamente prometido, não ir. Excelente!
Na "Ler", a minha predilecção vai para os textos do Rogério Casanova, que aposto ser o alter-ego de de Francisco José Viegas; do Jorge Reis-Sá, para além do bem e do mal; do Pedro Mexia, no estilo a que me habituou nos seus livros de crónicas através dos quais o conheci, que eu não era leitor dos jornais em que escrevia; do José Eduardo Águalusa, convertido em necro(ro)mântico literário; das entrevistas do Carlos Vaz Marques; do sofá vermelho da "Ler"; do "turismo de biblioteca" à casa dos escritores.
Neste, gostei também particularmente da entrevista ao valter hugo mãe. Depois dos amores e desventuras de duas mulheres de limpeza em "o apocalipse dos trabalhadores" (2008), valter revela que está a preparar um livro que conta a história do sr. silva, de 84 anos, cuja esposa acabou de falecer após 50 anos de vida comum.
Outras leituras
O "Ulisses" do James Joyce é actualmente o meu livro de cabeceira e ando a lê-lo esporadicamente, antes de deitar, quase em doses terapêuticas.
Estou ainda a ler, intercalarmente, "À Espera de Godinho: Quando o Futuro existia". Quatro iminentes portugueses (personagens reais), uns cientistas fora de Portugal, outros que ocupam ou ocuparam altos postos na Comissão Europeia, reúnem-se em Bruxelas para jantar com um tal Godinho, "português de Portugal", que se faz esperar e nunca mais aparece. O tempo de espera é usado para que cada um deles conte a sua história: de como ali chegaram depois de nascerem num Portugal ainda mergulhado em pleno salazarismo. Podem ler um excerto, aqui
Por fim, ando ainda a ler um romance histórico delicioso: "A Lenda de Martim Regos" de Pedro Canais. Aventuras de um português nas quatro partes do mundo no séc. XV, contado à maneira de Quinhentos, mas numa ortografia moderna. A alma gémea de Fernão Mendes Minto! Martim Regos ou Pedro Canais, perguntam-me? Os dois.
Ah, e aproveitei para trazer de Portugal o meu carregamento habitual de livros.
- "Meninos de Ninguém", de Ana Cristina Pereira; amiga minha, jornalista do Público, as reportagens sobre os dramas humanos que vivem os meninos e adolescentes nas ruas de Portugal, que a jornalista escreveu para aquele jornal, agora reunidos em livro
- "O que faço eu aqui", de Bruce Chatwin, brilhante jornalista e escritor de viagens do séc. XX
- "Aprender a rezar na Era da Técnica", de Gonçalo M. Tavares, mais um para a colecção dos "livros pretos"
- "Os sofrimentos do jovem Werther", de J.W. Goethe, que ainda não tinha em versão portuguesa
- "Um Outro-Crónica de uma metamorfose", de Imre Kertész, porque quero conhecer melhor o autor
- "Contos", de Virgílio Ferreira, que ainda não tinha na minha colecção VF
- "Onde crescem limas não nascem laranjas", de Amanda Smyth, para descobrir uma nova autora com origens irlandesas e portuguesas
- "O caderno do algoz", de Sandro William Junqueira; mais um jovem autor algarvio por descobrir
- "No bosque do espelho: uma viagem fantástica ao mundo dos livros", de Alberto Manguel, por gostar de perder-me no universo paralelo do autor e admirar a sua adoração (quase orgásmica, que partilho) pelos livros
- "O livro das citações", de Eduardo Giannetti, porque gosto de livros de citações
- "Citações e pensamentos de Fernando Pessoa", org. por Paulo Neves da Silva, para a minha colecção pessoana
- "Reduto quase final", de Dinis Machado, porque quero conhecer melhor o autor
- "Vocabulário: as palavras que mudam com o Acordo Ortográfico", porque é necessário e porque a contagem decrescente afunila-se
- "Barroco Tropical", de José Eduardo Águalusa, porque me apeteceu!
- "História da Primeira República Portuguesa", de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo, como obra de consulta
Bons livros e bom Verão!
Ri-me que me fartei com a descontração com que VPV fala sobre a falta de talento de Saramago (que chama quase de sub-produto latino-americano), Lobo Antunes (que anda a mastigar há demasiado tempo os mesmos repetidos assuntos e deveria era ter publicado menos livros) e até de Agustina (o que ela escreve é "uma pasta"). Segundo VPV, a litertura deste trio (que são, afinal, os grandes escritores portugueses da actualidade) carece de domínio técnico, de filosofia moral, ética e estéca. E "acabrunha"! Lapidar, este VPV.
Mas o que vamos descobrindo ao longo da entrevista é que VPV coloca a faixa do talento tão alta que considera muito poucos como escritores de talento. Sobre si próprio é ainda mais castrador. Diz que é "apenas uma vozinha" e que para escrever romances, grandes romances, sonho que chegou a ter (como todos nós!) em adolescente, é preciso ser-se "um tenor". E assim justifica o seu próprio auto-aniquilamento e imobilismo na literatura.
Sobre o seu recente "Portugal-ensaios de história e de política", que já encetei, VPV aborda a história política portuguesa desde o liberalismo até aos anos 80. Confessa-se amante de alguns períodos em especial, como a Revolução Francesa, a Segunda Guerra Mundial, o nazismo. Mas até como historiador diz que se Portugal não fosse "um país periférico", quiçá, poderia ter sido uma voz maior da disciplina. E mais, que se pertencesse a algum dos países da Europa Central (Ocidental, quererá ele dizer!), então falaria cinco ou seis línguas, condição considerada por ele como sine qua non para dominar os acontecimentos e fenómenos históricos, se não in loco, pelo menos a partir da língua de origem, e assim poderia ter sido realmente um grande historiador. E é assim que justifica a sua "vozinha".
Quem mora no Luxemburgo (onde realmente é fácil um aluno falar cinco ou seis línguas, graças ao trilinguismo inicial que a escola imprime) e conhece minimamente o resto da Europa, sabe que fora destas estreitas fronteiras grã-ducais em muitos poucos países as pessoas, e até os mais jovens, dominam mais do que duas, no máximo três, línguas.
Não se sente porém amargura na "vozinha" de VPV, antes uma resignação dissimulada e que é extraordinariamente compensada por rasgos de arrogância e auto-derisão. E desculpa-se com a sua condição humana. Mas até isso é uma opção que respeito e entendo. É que, ao contrário de Pessoa, VPV sempre preferiu a vida à escrita. Excerto: quando Carlos Vaz Marques (CVM) lhe pergunta se ele sente que passou ao lado de alguma coisa, VPV atira (irritado?, hilariante?, o entrevistador não o precisa!): "Por amor de Deus, isso é uma pergunta extraordinária. Se eu fosse capado e rico é possível que tivesse escrito melhor História". "Capado, porquê?", inquire CVM. "Para não ter tido distracções com mulheres. Se eu fosse capado e rico ou se fosse um monge. Se calhar, sei lá...".
Hilariante, esta entrevista. Excelente. Quase tão épica como a que CVM fez há tempos à Margarida Rebelo Pinto, em que, a dada altura, quando o entrevistador lhe pergunta se a sua literatura é "light" (cor-de-rosa), a entrevistada ameaça dar à sola. CVM tem esse talento raro dos grandes entrevistadores: de a entrevista fluir como uma boa conversa e de, palavra puxa palavra (e as palavras são como as cerejas!), conseguir levar os seus interlocutores para terrenos onde se teriam até, por ventura, previamente prometido, não ir. Excelente!
Na "Ler", a minha predilecção vai para os textos do Rogério Casanova, que aposto ser o alter-ego de de Francisco José Viegas; do Jorge Reis-Sá, para além do bem e do mal; do Pedro Mexia, no estilo a que me habituou nos seus livros de crónicas através dos quais o conheci, que eu não era leitor dos jornais em que escrevia; do José Eduardo Águalusa, convertido em necro(ro)mântico literário; das entrevistas do Carlos Vaz Marques; do sofá vermelho da "Ler"; do "turismo de biblioteca" à casa dos escritores.
Neste, gostei também particularmente da entrevista ao valter hugo mãe. Depois dos amores e desventuras de duas mulheres de limpeza em "o apocalipse dos trabalhadores" (2008), valter revela que está a preparar um livro que conta a história do sr. silva, de 84 anos, cuja esposa acabou de falecer após 50 anos de vida comum.
Outras leituras
O "Ulisses" do James Joyce é actualmente o meu livro de cabeceira e ando a lê-lo esporadicamente, antes de deitar, quase em doses terapêuticas.
Estou ainda a ler, intercalarmente, "À Espera de Godinho: Quando o Futuro existia". Quatro iminentes portugueses (personagens reais), uns cientistas fora de Portugal, outros que ocupam ou ocuparam altos postos na Comissão Europeia, reúnem-se em Bruxelas para jantar com um tal Godinho, "português de Portugal", que se faz esperar e nunca mais aparece. O tempo de espera é usado para que cada um deles conte a sua história: de como ali chegaram depois de nascerem num Portugal ainda mergulhado em pleno salazarismo. Podem ler um excerto, aqui
Por fim, ando ainda a ler um romance histórico delicioso: "A Lenda de Martim Regos" de Pedro Canais. Aventuras de um português nas quatro partes do mundo no séc. XV, contado à maneira de Quinhentos, mas numa ortografia moderna. A alma gémea de Fernão Mendes Minto! Martim Regos ou Pedro Canais, perguntam-me? Os dois.
Ah, e aproveitei para trazer de Portugal o meu carregamento habitual de livros.
- "Meninos de Ninguém", de Ana Cristina Pereira; amiga minha, jornalista do Público, as reportagens sobre os dramas humanos que vivem os meninos e adolescentes nas ruas de Portugal, que a jornalista escreveu para aquele jornal, agora reunidos em livro
- "O que faço eu aqui", de Bruce Chatwin, brilhante jornalista e escritor de viagens do séc. XX
- "Aprender a rezar na Era da Técnica", de Gonçalo M. Tavares, mais um para a colecção dos "livros pretos"
- "Os sofrimentos do jovem Werther", de J.W. Goethe, que ainda não tinha em versão portuguesa
- "Um Outro-Crónica de uma metamorfose", de Imre Kertész, porque quero conhecer melhor o autor
- "Contos", de Virgílio Ferreira, que ainda não tinha na minha colecção VF
- "Onde crescem limas não nascem laranjas", de Amanda Smyth, para descobrir uma nova autora com origens irlandesas e portuguesas
- "O caderno do algoz", de Sandro William Junqueira; mais um jovem autor algarvio por descobrir
- "No bosque do espelho: uma viagem fantástica ao mundo dos livros", de Alberto Manguel, por gostar de perder-me no universo paralelo do autor e admirar a sua adoração (quase orgásmica, que partilho) pelos livros
- "O livro das citações", de Eduardo Giannetti, porque gosto de livros de citações
- "Citações e pensamentos de Fernando Pessoa", org. por Paulo Neves da Silva, para a minha colecção pessoana
- "Reduto quase final", de Dinis Machado, porque quero conhecer melhor o autor
- "Vocabulário: as palavras que mudam com o Acordo Ortográfico", porque é necessário e porque a contagem decrescente afunila-se
- "Barroco Tropical", de José Eduardo Águalusa, porque me apeteceu!
- "História da Primeira República Portuguesa", de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo, como obra de consulta
Bons livros e bom Verão!
Rótulo :
livros e leituras
sexta-feira, 10 de julho de 2009
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Álbum de férias I - Porto
Manhã de domingo num Porto ensolarado (21.06.09): ponto de encontro, a esplanada da Casa da Música. Planeamos uma visita a Serralves e uma francesinha no Rest. Ricardo em Leça
Primeira paragem obrigatória: Livraria Lello, na rua das Carmelitas, uma das mais bonitas em que já estive e que segundo o The Guardian é a terceira mais bela do mundo. Compro a minha primeira remessa de livros, tento conter-me, mas sinto-me como um guloso à solta numa pastelaria.
Descansamos no Majestic, na rua de Santa Catarina, um dos cafés mais emblemáticos da Invicta. Dizem que JK Rawling teria começado a escrever o Harry Potter nestas mesas. À nossa volta sentam-se turistas, idosos abastados ou artistas locais, mas cujos rostos não me dizem nada. À noite, levam-nos até ao Piolho, tasca estudantina que acaba de celebrar os seus cem anos. Jantamos por ali, numa das tascas da Cordoaria. O último copo é tomado entre o "Era uma vez" e o mar de gente em que alegremente mergulhamos na rua Galerias de Paris madrugada fora.
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livro de imagens,
porto,
roteiro de vida
Álbum de férias II - Algarve
Praia do Barril, 26.06.09. Uma das minhas praias preferidas, pela tranquilidade do mar. E por ser uma praia onde, após duzentos ou trezentos metros ficamos com o areal deserto só para nós. Chega-se lá num pequeno comboio, depois de passar uma ponte flutuante sobre a ria Formosa, a partir do aldeamento de Pedras d'el Rei, perto de Santa Luzia (Tavira).
Marina de Vilamoura, 28.06.09, 9h da manhã. Os turistas ainda não invadiram o local, o arzinho fresco que sopra do barlavento é agradável. Reservamos um barco.
Passeio pela costa algarvia, até Portimão. Desembarcamos para almoçar na praia do Ferragudo, 28.06.09
Farniente na praia do Garrão, 30.06.09, entre as Dunas Douradas, Ancão e Vale do Lobo. Almoço: Espetada de Camarão e Salada de Frango no Izzy's. Em vez de molhar os pés, aposto tudo no bronze. No acto, aprovieto para devorar as últimas páginas da "Ler" de Junho e enceto "A Lenda de Martim Regos", de Pedro Canais. Férias, afinal, é fazer aquilo que me apetecer!
Pôr-do-sol na Ilha de Faro, 01.07.09. O crepúsculo é lindo, visto daqui. Quase que se ouve o sol quando toca finalmente o oceano. A noite cai, as luzes dos barcos dos pescadores começam a piscar desde o alto mar, o farol da ilha vizinha bate o compasso ao embate das ondas, a Via Láctea espreguiça-se no comprimento de todo o arco celeste.
Jantar no bar O Forte, junto ao parque de campismo: tosta mista gigante de galinha com alho, a nossa preferida. Faríamos quilómetros para vir comer esta bomba de calorias. Felizmente, moramos aqui ao lado. Ou tragicamente... para mal dos nossos quilos extras.
Jantar no bar O Forte, junto ao parque de campismo: tosta mista gigante de galinha com alho, a nossa preferida. Faríamos quilómetros para vir comer esta bomba de calorias. Felizmente, moramos aqui ao lado. Ou tragicamente... para mal dos nossos quilos extras.
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IV- Costa Azul
A Nazaré, vista desde O Sítio, 03.07.09. Vista de cortar a respiração. As pessoas lá em baixo com os seus fatos de banho e guarda-sóis coloridos parecem confettis.
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terça-feira, 7 de julho de 2009
Michael Jackson Memorial
Teve hoje lugar no Staples Center, em Los Angeles, às 10h locais (19h no Luxemburgo), uma homenagem (memorial) a Michael Jackson, falecido a 25 de Junho.
Aproveito para publicar aqui o artigo que escrevi na edição de 1 de Julho do jornal CONTACTO.
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Morre o Rei, nasce o mito
Como não falar de Michael Jackson (MJ) nesta rubrica musical apenas alguns dias após a sua morte, quando a passagem desta super-estrela pela constelação da cultura pop no último meio-século tantos artistas influenciou, deixando uma marca indelével na história da música, só comparável a vultos como Elvis Presley e The Beatles.
Tentarei não repetir o que todas as emissões especiais e reportagens já disseram ou escreveram nos últimos dias, mas uma coisa é certa: quer se gostasse ou não da pessoa ou da sua música, MJ não deixava ninguém indiferente. Pela forma como cantava, dançava e vivia a sua vida. Deixo as polémicas que o rodearam de parte, desde a sua despigmentação às acusações de pedofilia, temas exaustivamente explorados pela imprensa sensacionalista, até porque havia dois MJ. A sua timidez, delicadeza e amabilidade na vida privada, o que testemunham todos os que o conheceram, davam lugar a um animal de palco indomável nos espectáculos, que eram puro «entretainement», mais do que simples concertos. Mais do que um artista, ele era um «showman». Influenciou nisso estrelas como Britney Spears, Rhianna, Puff Daddy ou Justin Timberlake, e dezenas de outros, não só na maneira como hoje compõem e cantam, mas sobretudo na forma como «habitam» o palco.
Dono de uma voz singular, era um exímio dançarino, coreógrafo , compositor, letrista, artista ímpar e completo, viajou por quase todos os géneros musicais (disco, pop, funk, soul, r&b, rock, dance, heavy-metal, new-jack), além de ser um homem de negócios, um benfeitor e um perfeccionista persistente em tudo o que fazia. Poucos artistas viram singles seguidos dos seus álbuns chegarem em catadupa aos tops, como aconteceu com «Thriller» (1982), «Bad» (1987), «Dangerous» (1991) e «HIStory» (1995), quatro dos seis álbuns que marcaram a sua carreira pós-«Jackson 5».
Se não inventou o «moonwalk», atribuído a Bill Bailey, que já o usava em 1955 (ou, segundo outros, aos «break-dancers» dos anos 80), popularizou-o mundialmente. O mesmo fez com a formação em pirâmide na dança, usada em «Thriller» e que posteriormente foi adoptada por muitos grupos. Estava sempre à tentar inovar e sobretudo ultrapassar-se. Muitos dos passos de dança que conhecia de estilos como o sapateado, o music-hall (venerava Fred Astaire!), o swing, a música negra, o break-dance, adaptou-os à pop. No clip «Black &White» (1991) dança ao estilo indiano de «bollywood» encandeando logo de seguida danças africanas e russas. Nesse mesmo clip é o primeiro artista a investir no «morphing», técnica de televisão que consiste em diluir um rosto noutro.
MJ gostava acima de tudo de ser o primeiro em tudo. É o primeiro músico negro a passar na MTV com o mega-sucesso «Billie Jean» (1982). Foi graças a MJ que os músicos afro-americanos começaram a merecer «airplay» na MTV. O mais curioso é que o próprio sucesso do canal de televisão musical, que anteriormente se fechava a artistas negros, se ficou a dever a «Thriller» (1984), expoente máximo da era dos telediscos que então começava. Quando o clip foi lançado, o público da MTV exigia que este fosse passado duas vezes por hora! O clip de «Thriller» tinha 14 minutos (a canção pouco mais de cinco minutos) e os contornos de um mini-filme de terror. Os seus produtores não acreditavam sequer que as televisões passassem o teledisco, considerado «gore». Tornar-se-á a sua canção mais emblemática e o álbum venderá cem milhões de cópias, record que o Guinness regista como nunca igualado por nenhum artista desde então. No total, MJ vendeu mais de 750 milhões de álbuns. Depois de morrer na quinta-feira, a corrida às lojas de discos recomeçou e os descarregamentos online também. O Guinness vai ter que rever as suas contas.
Em 1995, autoproclama-se «Rei da Pop». E se alguns denunciaram na altura a apropriação, uma década mais tarde já ninguém a contestava. Preparava um regresso que lhe foi negado. Quem sabe o que tinha ainda para dar ao mundo da música.
MJ desaparece aos 50 anos, 45 dos quais dedicados à música. Pisou um palco pela primeira vez em 1963. Nos «Jackson 5» (1969-1984), ao lado dos irmãos, são a sua voz e presença que fazem a diferença. Em 1971, lança-se a solo, interpretando «covers» e canções dos Jacksons. Oito anos mais tarde lança o primeiro álbum com temas escritos e compostos por si próprio: «Off the Wall» marca a separação do estilo «Jackson 5». É a partir daí que deixa de ser uma estrela para passar a brilhar num firmamento que poucos alcançaram. A lenda começava. Eu era fã!
Agradeço à Jessica Lobo ter-me cedido este espaço nesta ocasião especial.
José Luís Correia
publicado in Contacto (01.07.2009) na rubrica musical Expresso Musical de Jessica Lobo e no blogue do mesmo nome
Aproveito para publicar aqui o artigo que escrevi na edição de 1 de Julho do jornal CONTACTO.
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Morre o Rei, nasce o mito
Como não falar de Michael Jackson (MJ) nesta rubrica musical apenas alguns dias após a sua morte, quando a passagem desta super-estrela pela constelação da cultura pop no último meio-século tantos artistas influenciou, deixando uma marca indelével na história da música, só comparável a vultos como Elvis Presley e The Beatles.
Tentarei não repetir o que todas as emissões especiais e reportagens já disseram ou escreveram nos últimos dias, mas uma coisa é certa: quer se gostasse ou não da pessoa ou da sua música, MJ não deixava ninguém indiferente. Pela forma como cantava, dançava e vivia a sua vida. Deixo as polémicas que o rodearam de parte, desde a sua despigmentação às acusações de pedofilia, temas exaustivamente explorados pela imprensa sensacionalista, até porque havia dois MJ. A sua timidez, delicadeza e amabilidade na vida privada, o que testemunham todos os que o conheceram, davam lugar a um animal de palco indomável nos espectáculos, que eram puro «entretainement», mais do que simples concertos. Mais do que um artista, ele era um «showman». Influenciou nisso estrelas como Britney Spears, Rhianna, Puff Daddy ou Justin Timberlake, e dezenas de outros, não só na maneira como hoje compõem e cantam, mas sobretudo na forma como «habitam» o palco.
Dono de uma voz singular, era um exímio dançarino, coreógrafo , compositor, letrista, artista ímpar e completo, viajou por quase todos os géneros musicais (disco, pop, funk, soul, r&b, rock, dance, heavy-metal, new-jack), além de ser um homem de negócios, um benfeitor e um perfeccionista persistente em tudo o que fazia. Poucos artistas viram singles seguidos dos seus álbuns chegarem em catadupa aos tops, como aconteceu com «Thriller» (1982), «Bad» (1987), «Dangerous» (1991) e «HIStory» (1995), quatro dos seis álbuns que marcaram a sua carreira pós-«Jackson 5».
Se não inventou o «moonwalk», atribuído a Bill Bailey, que já o usava em 1955 (ou, segundo outros, aos «break-dancers» dos anos 80), popularizou-o mundialmente. O mesmo fez com a formação em pirâmide na dança, usada em «Thriller» e que posteriormente foi adoptada por muitos grupos. Estava sempre à tentar inovar e sobretudo ultrapassar-se. Muitos dos passos de dança que conhecia de estilos como o sapateado, o music-hall (venerava Fred Astaire!), o swing, a música negra, o break-dance, adaptou-os à pop. No clip «Black &White» (1991) dança ao estilo indiano de «bollywood» encandeando logo de seguida danças africanas e russas. Nesse mesmo clip é o primeiro artista a investir no «morphing», técnica de televisão que consiste em diluir um rosto noutro.
MJ gostava acima de tudo de ser o primeiro em tudo. É o primeiro músico negro a passar na MTV com o mega-sucesso «Billie Jean» (1982). Foi graças a MJ que os músicos afro-americanos começaram a merecer «airplay» na MTV. O mais curioso é que o próprio sucesso do canal de televisão musical, que anteriormente se fechava a artistas negros, se ficou a dever a «Thriller» (1984), expoente máximo da era dos telediscos que então começava. Quando o clip foi lançado, o público da MTV exigia que este fosse passado duas vezes por hora! O clip de «Thriller» tinha 14 minutos (a canção pouco mais de cinco minutos) e os contornos de um mini-filme de terror. Os seus produtores não acreditavam sequer que as televisões passassem o teledisco, considerado «gore». Tornar-se-á a sua canção mais emblemática e o álbum venderá cem milhões de cópias, record que o Guinness regista como nunca igualado por nenhum artista desde então. No total, MJ vendeu mais de 750 milhões de álbuns. Depois de morrer na quinta-feira, a corrida às lojas de discos recomeçou e os descarregamentos online também. O Guinness vai ter que rever as suas contas.
Em 1995, autoproclama-se «Rei da Pop». E se alguns denunciaram na altura a apropriação, uma década mais tarde já ninguém a contestava. Preparava um regresso que lhe foi negado. Quem sabe o que tinha ainda para dar ao mundo da música.
MJ desaparece aos 50 anos, 45 dos quais dedicados à música. Pisou um palco pela primeira vez em 1963. Nos «Jackson 5» (1969-1984), ao lado dos irmãos, são a sua voz e presença que fazem a diferença. Em 1971, lança-se a solo, interpretando «covers» e canções dos Jacksons. Oito anos mais tarde lança o primeiro álbum com temas escritos e compostos por si próprio: «Off the Wall» marca a separação do estilo «Jackson 5». É a partir daí que deixa de ser uma estrela para passar a brilhar num firmamento que poucos alcançaram. A lenda começava. Eu era fã!
Agradeço à Jessica Lobo ter-me cedido este espaço nesta ocasião especial.
José Luís Correia
publicado in Contacto (01.07.2009) na rubrica musical Expresso Musical de Jessica Lobo e no blogue do mesmo nome
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