sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

No olho do ciclone

Tempo de férias significa tempo de descontração e lazer para uns, de reflexão e introspecção para outros. Embora uma coisa não impeça a outra.

A pausa estival não nos devia distrair da aparente estabilidade da economia mundial. "Águas paradas, cautela com elas", diz o velho adágio. Mas esta pequena bonança depois da tempestade económico-financeira de 2008 é mais frágil do que muitos spin-doctors economicistas querem deixar transparecer. Alguns falam até em lenta retoma, como se os seus prognósticos fossem verdades absolutas e pudessem por si só dopar a confiança dos consumidores e das empresas.

Pura ilusão. Estamos no olho do ciclone. Trata-se de uma acalmia de pouca dura. Mesmo nos EUA, onde Obama protagonizou a reforma fiscal mais profunda desde 1930, e apesar de as bolsas terem voltado a atingir valores em alta, o desemprego continua nos dois digitos e a propalada retoma não está a criar emprego.

A crise financeira de 2008 foi apenas um aviso. E se nada for profundamente alterado no actual sistema financeiro, outra crise pior se alevantará. Como se esta tivesse sido apenas o abalo de um terramoto mais forte que se pode prever facilmente.

Jacques Attali
, no seu livro "Tous ruinés dans dix ans" (Maio, 2010), defende que uma das urgências financeiras a aplicar a nível internacional é o saneamento das dívidas públicas dos estados. Estas nunca foram tão altas, excepto... em tempo de guerra! Muitos paises ainda correm riscos de falir, como aconteceu com a Islândia ou a Grécia, ou pior, a deixar essa dívida como herança aos nossos filhos e netos. Se nada for feito desde já, Attali teme que tenhamos pela frente 10 ou 15 anos de políticas de austeridade. Para o ex-conselheiro de François Mitterand, os mercados têm de entender que a economia deve crescer a par com o valor dos activos e não com o da produção porque, explica, "a verdadeira riqueza não é um fluxo, mas um património, seja este financeiro ou cultural."

Nunca gostei de velhos do Restelo ou de aves de mau augúrio, mas tão pouco sou apologista que o meu dinheiro sirva para jogatinas de casino por parte dos bancos. E se esses banqueiros golden boys – foliões loucos que brincaram imoralmente (ilegalmente alguns) com o dinheiro alheio como se fossem confettis no Carnaval –, querem restaurar a confiança nos consumidores vão ter que fazer muito mais do que andar a propagandear por aí alegremente e saltitantes: "É a retoma, é a retoma!"

O filósofo Edgar Morin escreve no seu recente livro "Culture et barbarie européennes" (2009) que "o capitalismo não deve ser deplorado", mas deve ser "muito mais autoregulado".

Isso mesmo está actualmente a tentar fazer a UE com os testes de stress a que submeteu 91 dos seus bancos. Uma proposta recente de Bruxelas para evitar outra crise financeira é a criação de um fundo monetário europeu que garanta a estabilidade financeira das suas instituições bancárias. Outra regra que a Comissão Europeia quer impor é a de dar o aval prévio aos orçamentos de estados antes de estes serem aprovados nos parlamentos nacionais. É o primeiro passo para um federalismo orçamental, que já provocou erupções cutâneas nacionalistas a muito boa gente, mas que pode ser uma das condições para proteger e reforçar o euro.

No Luxemburgo, a onda de choque da crise chegou mais tarde e as consequências continuam a sentir-se hoje: alguns bancos despedem indiscriminadamente e muitas empresas continuam a falir. O desemprego ronda os 6 %. A crise continua a ser a desculpa para que muitos patrões tentem lutar pela diminuição ou abolição de direitos sociais conquistados duramente no princípio do século passado.

Em Portugal, a situação ainda está pior, há 600 mil desempregados e 30 % da população activa encontra-se em risco de pobreza. Quem passeia pelas ruas do centro das grandes cidades nunca viu tanta gente a pedir como agora.

As empresas pedem esforços aos trabalhadores, mas muitas ainda não aboliram o sistema de pára-quedas dourado para os gestores. Os governos obrigam os cidadãos a apertar o cinto, mas o exemplo deveria vir de cima. Alguns governos, como o português, o britânico e o italiano, cortaram uma ínfima percentagem dos salários dos ministros, mas nem todos os paises seguiram o exemplo. No Luxemburgo, não se toca nesse assunto. No index pode-se mexer.

Mas o exemplo também pode vir de baixo, da sociedade civil para o Estado. Como? Basta que muitos de nós aprendam a conjugar a palavra solidariedade, responsabilidade à qual faz apelo a reforma da saúde e da segurança social que o Luxemburgo prepara. E que outros aprendam, por exemplo, a não gastar mais do que ganham, o que os obriga a viver no fio da navalha, a colocar a família à beira da precariedade devido a empréstimos intempestivos que contrairam para... ir de férias.

É urgente agir. Porque o pior pode estar para vir. De que tipo de cenários falamos? A falência do euro e do dólar, a hiperinflação, uma grande depressão que pode durar vários anos ou a criação de um tribunal internacional para condenar estados que faliram, proposta muito séria da economista norte-americana Anne Krueger.

Quando os historiadores do fim deste século estudarem a nossa época hão-de ofuscar-se sobre como terá sido possível não termos detectado os sinais anunciadores desta crise ou desta sucessão de crises que se abatem sobre nós. Quem lhes responderá melhor, a três séculos de distância, será Jonathan Swift: "Como é possível esperar que a humanidade ouça conselhos, se nem sequer ouve as advertências" ("Thoughts on Various Subjects", 1727).

José Luís Correia
(in jornal CONTACTO, 28.07.2010)

terça-feira, 27 de julho de 2010

The roaring 1920's

June 12, 1920. Evening at Moe's. The worst gangsters of the Luxembourg Mob are there with their dames. Il Padrino was also there...

But when Smokey Joe started to full around
with Ines
Hot Beat ...

...Lucky Giorgio really got pissed off.

But worse: Jessie the Cat threatned with divorce... by murder.

But in the end of the evening, like in the cinemascope, there was an happy end and all the hot molls and dolls got lucky, if you know what i mean...

...and even the gangsters (and a gangsta-girl,
in white, Jessie The Cat)

posed for the photo (
hats down) almost incognito



Story should be revisioned as the video turns




segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um dia na vida da Humanidade



“A vida num dia” é um projecto de filmagem lançado pelo You Tube, dirigido pelo escocês Kevin MacDonald e produzido pelo realizador Ridley Scott.

O desafio era que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, podia filmar um ou mais vídeos sobre si ou a sua vida, a sua família, a sua cidade, ou outra coisa qualquer. Tinha era que ser no sábado, 24 de Julho de 2010.

Podiam ser enviados tantos vídeos quanto as pessoas desejassem. Para os enviarem bastava ir ao sítio do YouTube e preencher um questionário elaborado por MacDonald que inclui perguntas como: "O que gostas?, “De que tens medo?”, "O que te faz rir?”, “O que tens nos bolsos?”, “O que tens nos bolsos tem alguma história?”.

Filme será apresentado em Sundance em 2011

“A vida num dia” é o primeiro filme da história do cinema que será montado com vídeos de autores amadores, e que se forem seleccionados “aparecerão nos créditos do documentário como co-realizadores”, afirma numa nota à imprensa o YouTube.

Vinte desses “amadores” cujos vídeoos foram escolhidos receberão como prémio uma viagem a Park City (Utah) para a estreia do filme, “A vida num dia”, no Festival de Cinema de Sundance, em 2011.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Andamos a escrever mais sobre sexo, mas será que temos jeito?

por Luís Francisco, suplemento Ipsilon, jornal Público, 10.02.2010

Os brasileiros são melhores do que nós, os poetas superam os romancistas. Será por causa das limitações da língua, falta-nos tradição literária ou somos demasiado pudicos? Os diagnósticos variam, mas os sintomas são comuns: em Portugal, (ainda) escrevemos pouco sobre sexo e nem sempre sai grande coisa

Não é fácil encontrar na literatura portuguesa bons nacos de prosa ou passagens poéticas com conteúdo sexual. Que o diga António Mega Ferreira, que em 2005 publicou uma antologia do "Erotismo na Ficção Portuguesa do Século XX". Pesquisou exaustivamente décadas de produção literária e o trabalho revelou-se "muito difícil", por falta de matéria-prima. Em quantidade e, sobretudo, em qualidade. Será que não temos mesmo jeito para verter em romance essas coisas do corpo?

O hoje presidente da Fundação do Centro Cultural de Belém não deixa margem para segundas leituras: "Encontrei coisas horrendas ao longo da pesquisa." A escritora Lídia Jorge também não tem dúvidas: "Somos bons noutras coisas, nessa não." Mais contundente, o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares assume que, em Portugal, "escreve-se muito mal sobre sexo". Já o crítico Pedro Mexia acha que o problema não é só português, está "em todo o lado", devido à "dificuldade do tema".

Mas se Mega Ferreira tivesse alargado o seu horizonte à literatura de língua portuguesa, o resultado poderia ser bem diferente. Autores como João Ubaldo Ribeiro e Rubem Fonseca, ambos do Brasil, aparecem com frequência quando se pedem bons exemplos de literatura com conteúdo sexual, erótico. O escritor angolano José Eduardo Agualusa menciona ainda o seu compatriota Ruy Duarte de Carvalho. Será que as palavras do português de cá não ajudam?

"'Bunda' é muito melhor do que 'rabo'. 'Seios' é piroso, 'mamas' é cru. 'Pau', no Brasil, resulta e por cá vai-se generalizando. Mas a palavra começada por 'c' nem poderia aparecer neste artigo..." Inês Pedrosa, escritora e directora da Casa Fernando Pessoa, regista uma série de dificuldades com o léxico. "A nossa língua anda muitas vezes por dois extremos: o lírico e o obsceno, grosseiro. Às vezes faltam as palavras", completa Lídia Jorge

Será, então, um problema da língua? "Não. Se fôssemos realmente bons conseguíamos sê-lo com a nossa língua", sentencia Mega Ferreira. Miguel Sousa Tavares concorda: "Tem a ver com a capacidade dos escritores; o português do Brasil é melhor, mas não é só isso..." Pois, conclui, José Eduardo Agualusa, "os escritores brasileiros, de uma forma geral, são muito melhores do que os portugueses quando se trata de escrever sobre sexo".

Mas Portugal tem e teve bons escritores. Haverá alguma razão para que o sexo apareça tão pouco e de forma tantas vezes desastrada ao longo de décadas de produção literária? Bom, não será apenas uma. Há um conjunto de razões, a começar pelo facto básico de que "o sexo é diferente a Sul do Equador", como constata Mega Ferreira, que fala de "um pudor enormíssimo" entre nós.

A falta de naturalidade aparece, assim, como o pecado maior das nossas letras nesse campo. "A literatura portuguesa está cheia de pudor, falsamente vitoriano", analisa o escritor Baptista-Bastos. "A tradição do neorealismo foi desastrosa, com um estilo absolutamente piroso a tratar de sexo, e as gerações seguintes ficaram marcadas", aponta Miguel Sousa Tavares. Talvez isso explique o recurso maciço a metáforas sempre que o sexo entra em cena. Que traz consigo outro problema: "Algumas metáforas são assustadoras", avisa Pedro Mexia.

Inês Pedrosa acha que elas não fazem falta nenhuma. "O sexo tem uma força em si que dispensa a metaforização. Esta é usada para esconder as palavras. Mas pele é pele, corpo é corpo...", diz a escritora. Mas também isto não é uma lei absoluta: "Hoje em dia, na crítica, parece que a metáfora está 'out'; tudo o que não pareça muito cerebral parece que já não merece ser literatura."

A força da poesia

Apesar de tudo, evitar tratar as coisas pelos nomes pode não ser um golpe de morte na intenção de criar uma atmosfera de tensão carnal. Nem sempre a linguagem mais explícita teve a aceitação pública que hoje vai tendo e os escritores foram encontrando caminhos que não passassem pela camuflagem metafórica. Às vezes, como lembra Baptista-Bastos, há que oferecer ao leitor uma "ampla margem dedutiva". Leia-se "O Primo Basílio", de Eça de Queirós, romance em que Mega Ferreira situa a "primeira inscrição do erotismo na literatura portuguesa":

"Basílio achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas 'tão feias, com fechos de metal', beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia: 'não! não!" E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate; murmurou repreensivamente:

- Oh, Basílio!

Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!"

Sexo oral no século XIX?! Foi por estas e por outras que o próprio pai de Eça, apesar de conquistado pela força da narrativa, lhe puxou as orelhas. A descrição de cenas eróticas sempre chocou algumas consciências. E é por isso que os poetas, com a sua abordagem teoricamente mais desligada da realidade, beneficiam de um maior à-vontade. O que eles dizem não é bem o mundo, é poesia, pensará o cidadão comum.

Será essa a explicação para a larga vantagem que a poesia leva sobre a prosa nesta área do erotismo? Não, diz Miguel Esteves Cardoso. O escritor e colunista considera que "os melhores escritores sobre sexo tendem a ser os melhores escritores". No caso português, os melhores são poetas. "Camões e, mais recentemente, Vitorino Nemésio, Mário Cesariny, Herberto Hélder, João Miguel Fernandes Jorge e Joaquim Manuel Magalhães." Conclusão, para que não restem dúvidas: "Na prosa somos um desastre."

Será, talvez, porque os portugueses "têm mais jeito para expressar a frustração do que o desejo", na visão do escritor Rui Zink. Também para ele, os poetas levam a melhor. "Para expressar o desejo e o corpo, escolhemos a poesia. Assim, de cor, penso em [António] Botto, Florbela [Espanca], Natália [Correia], Eugénio [de Andrade], [Maria] Teresa Horta, Al Berto, [Alberto] Pimenta... Já na prosa somos furtivos, tímidos ou, então, temos actos falhados."

Pode haver várias tentativas de explicação para esta inabilidade literária, numa área que é, e será sempre, "um campo minado". Mega Ferreira fala da "tardia tradição do romance" entre nós, mas também dos "50 anos de ditadura salazarista", com a sua lógica de "censura e marginalização do tema sexual". Um véu pesado, também com uma componente religiosa muito forte, que deu origem a uma "cultura casta e lírica", analisa Lídia Jorge.

A "prova de fogo"

Todos os que escrevem têm consciência da realidade que os rodeia no que respeita aos espinhos do erotismo escrito. Uma consciência formal, que se prende com os gostos do público, o seu estilo pessoal ou a contundência da crítica. Mas também - porque dentro de um escritor há sempre uma pessoa - uma consciência pessoal. No momento de escrever sobre sexo, será que os escritores não pensam: "O que é que a minha mãe [ou o meu filho, ou...] vai pensar disto?" Será que, de algum modo, se autocensuram?

"Claro, como aliás acontece com qualquer cena relativamente 'inspirada na vida real'", assume o escritor Francisco José Viegas, apoiado por António Mega Ferreira, também ele com obra publicada: "Tenho consciência dos condicionalismos do passado e do presente e não sei se teria talento para evitar os alçapões." Já Miguel Sousa Tavares garante não ter "qualquer autocensura" - "A minha preocupação é não ser ridículo, não forçar." Tese, antítese... e síntese. Lídia Jorge: "Somos seres complexos, às vezes fazemos censuras de que não nos damos conta."

Inês Pedrosa, por seu turno, está-se "nas tintas" para o que as pessoas possam pensar. Considera "um desafio escrever sobre sexo" e o seu livro mais recente, "A Eternidade e o Desejo", termina exactamente com um orgasmo feminino. "Se é verdade que um romance caminha para o seu clímax, então é um final muito apropriado!", brinca. Mas recorda-se de receber "alguns conselhos pré-publicação para 'esconder' o orgasmo mais no meio do livro"... Ignorou-os e o seu próximo trabalho terá ainda mais cenas eróticas, porque a autora escolheu abordar o tema da amizade masculina. E, quando os homens se juntam, falam inevitavelmente de sexo.

O mesmo parece acontecer aos escritores quando enfrentam a folha em branco. Lídia Jorge: "Escrever é fazer amor com o mundo. Há uma pulsão erótica na escrita, como em qualquer arte. Escreve-se sobre o destino. E o amor tem uma farta fatia do destino. E o sexo tem uma farta fatia do amor." E é por isso que os escritores arriscam constantemente enfrentar essa "prova de fogo" do erotismo. Mesmo que muitos acabem por se queimar.

Pedro Mexia acha que é, "como no cinema, das coisas mais difíceis de fazer" e salienta que na literatura "há sempre dois extremos, ambos perigosos: o obsceno e o kitsch". A ter de escolher, coisa que sucede muito frequentemente quando se lê sobre sexo, ele prefere o primeiro. Mas há, entre os autores, quem evite "andar nessa corda bamba entre o obsceno e o kitsch".

António Lobo Antunes, por exemplo, já confessou a sua falta de jeito para as cenas eróticas e não se mete nisso. Outros - e génios! - antes dele fizeram o mesmo. "O [Alfred] Hitchcok dizia que não podia filmar uma cena de sexo por causa dos planos de corte, que falseiam a realidade. Só em plano-sequência...", lembra Mexia.

"Vigilância acrescida"

Será pelo desafio da escrita ou pela incontornabilidade do tema quando falamos da existência humana, a verdade é que o sexo acaba quase sempre por irromper numa história. E, quando isso acontece, o que faz o escritor? "É preciso atenção, mas a abordagem tem de ser natural e sem abdicar do estilo próprio e do tom da obra", avisa Miguel Sousa Tavares.

É por isso que Lídia Jorge não procura "escrever cenas demasiado expostas, exibicionistas" - "A nossa cultura não o faz e eu não o faço. É cultural e é, também, pessoal." Regra máxima: "A sugestão é mais importante do que a exibição. A Agustina [Bessa-Luís] até costumava dizer que quem precisa mais de exibição são os impotentes."

Francisco José Viegas bate mais forte. "O que me irrita mais é quando um autor, sobretudo quando escreve na primeira pessoa, tem de falar do imenso, forte, brutal, devastador, grosso pénis erecto. É uma mania exibicionista e, já agora, 'brochante' na maior parte das vezes, porque, vê-se logo, quem faz pouco sexo, escreve sobre o assunto."

Também ele prefere a sugestão à exibição. "As cenas de sexo, ou os diálogos sobre sexo, correm muito mais o risco de desaguar no puro mau gosto. Acho que prefiro sugerir, abrir um pouco o jogo, mas deixar a coisa suspensa. Ou então ser decididamente 'brutal'." Quando tem de ser, tem de ser. Lídia Jorge recorda uma personagem do seu romance "O Vento Assobiando nas Ruas", uma rapariga "um pouco 'atrasada', que não sabe autocontrolar-se e, por isso, conta com toda a clareza a expressão do seu desejo". Não teve reacções negativas.

Também não há forma de prever ao milímetro o que as pessoas vão pensar. Francisco José Viegas lembra-se de uma crítica em que se falava de um "erro fatal" no romance "Longe de Manaus" - o escritor tinha 'assassinado' uma personagem feminina "exactamente quando ela se preparava para uma cena de sexo com outra mulher"... Na verdade, comenta Inês Pedrosa, "temos tendência para pensar que o país é mais conservador do que realmente é".

"Nunca é um exercício fácil, correm-se múltiplos riscos e, muitas vezes, ser politicamente correcto atrapalha as coisas", regista Patrícia Reis. A escritora e jornalista salienta ainda outra variável nesta equação a múltiplas incógnitas: "O sexo é entendido de forma diferenciada. Somos leitores diferentes ao longo da vida, do mês, da semana. O que hoje nos choca, amanhã pode ser indiferente. E o sexo é valorizado e desvalorizado numa vertigem doida desde que as novas tecnologias o banalizaram."

Usando assumidamente um eufemismo - "Não lhe chamaria autocensura, antes vigilância acrescida" -, Mega Ferreira explica que o escritor "corre sempre o risco de, ao dar destaque a uma determinada cena, esta ficar presa no seu conteúdo erótico, apenas uma cena, sem mais do que ela própria". Ou seja, de não contribuir em nada para o fluir da história. Um problema para o qual Francisco José Viegas diz ter uma solução: "O ideal é deixar as personagens a foder, lá dentro, no quarto, e nós falarmos de outra coisa enquanto eles fazem a coisa como deve ser."

Maus exemplos

O problema é quando entramos por ali adentro e a coisa não corre mesmo nada bem. Veja-se este naco de prosa de "O Codex 632", um dos vários "best-sellers" de José Rodrigues dos Santos:

"Parou de comer e fitou-o com uma expressão insinuante. 'Sabe qual é a minha maior fantasia de cozinheira?'

'Hã?'

'Quando um dia for casada e tiver um filho, vou fazer uma sopa de peixe com o leite das minhas mamas.'

Tomás quase se engasgou com a sopa.

'Como?'

'Quero fazer uma sopa de peixe com o leite as minhas mamas', repetiu ela, como se dissesse a coisa mais natural do mundo. Colocou a mão no seio esquerdo e espremeu-o de modo tal que o mamilo espreitou pela borda do decote. 'Gostava de provar?'

Tomás sentiu uma erecção gigantesca a formar-se-lhe nas calças. Incapaz de proferir uma palavra e com a garganta subitamente seca, fez que sim com a cabeça. Lena tirou todo o seio esquerdo para fora do decote de seda azul (...). A sueca ergueu-se e aproximou-se do professor; em pé, ao lado ele, encostou-lhe o seio à boca. Tomás não resistiu. Abraçou-a pela cintura e começou a chupar-lhe o mamilo saliente."

Há gostos para tudo, mas esta é uma das cenas mais vezes lembrada quando se fala em maus exemplos de sexo na literatura portuguesa. Uma quase unanimidade que o autor não comentará neste artigo, por se ter escusado a prestar declarações.

Resta-lhe a consolação de aparecer em boa companhia quando se pedem exemplos de passagens eróticas particularmente más. Pedro Mexia começa por se lembrar do "leite de mamas", mas como, no seu entender, "isso nem é bem literatura", avança para algumas passagens "de extremo mau gosto" escritas pelo Nobel José Saramago.

Nem todos são cruéis "ao ponto de dizer nomes", como confessa Rui Zink, que se limita a constatar que "a cabeça dos homens portugueses é pouco fluida quando chega às coisas do corpo". Por pudor ou memória selectiva, José Eduardo Agualusa também fala no geral: "Há escritores excelentes que produziram frases más sobre sexo, mas graças a Deus não me recordo de nenhuma."

Já Patrícia Reis lembra um livro "cujo título é maravilhoso e verdadeiro: 'O Amor é Fodido', de Miguel Esteves Cardoso". Mas... "O conteúdo, as cenas mais concretas de sexo, a linguagem gratuitamente pornográfica não me adiantou nada." De um livro inteiro para uma passagem específica, eleita pelo crítico Eduardo Pitta:

"Dois soldados, em vez de enterrarem os cadáveres dos seus amigos mortos em batalha, escaparam às ordens, e num pequeno bar, ainda com o uniforme manchado, mandam vir uma mulher - uma prostituta - e os dois sobem com ela para um quarto e fornicam-na. Um colando-lhe o pénis na boca e o outro fornicando-a por trás como fazem os cães às cadelas e os homens às mulheres ou a outros homens."

O livro é "Água, Cão, Cavalo, Cabeça", o autor Gonçalo M. Tavares. "Se houvesse um prémio em Portugal [para más passagens eróticas], haveria alguns bons concorrentes", avalia Mega ferreira. "Incluindo pérolas de grandes escritores. Como já dizia o outro: 'Homero também dormita'..."

A questão não é académica. No Reino Unido há mesmo um prémio anual para Mau Sexo em Literatura, este ano conquistado por Jonathan Littell, com o romance "As Benevolentes". Vendeu mais de um milhão de exemplares por essa Europa fora e o júri destaca a genialidade da obra. Bom, pelo menos da maior parte: "Passagens como 'Vim-me subitamente, um jorro que me esvaziou a cabeça como uma colher raspando o interior de um ovo pouco cozido [tradução livre]' garantiram o prémio a 'As Benevolentes'", anunciou a "Literary Review", promotora de uma iniciativa que este ano tinha na lista de finalistas nomes tão consagrados como os de Paul Theroux, Nick Cave, Philip Roth ou Amos Oz. Entre outros.

O fogo de Jorge de Sena

Mas deixemo-nos de negativismos. Fechada a cortina sobre as más cenas de sexo, o que haverá a destacar no extremo oposto? Onde estão os bons exemplos? As respostas surgem agora mais soltas e abundantes - talvez que, por serem raros, acabem por gerar maior unanimidade.

Miguel Sousa Tavares fala de "Sinais de Fogo", de Jorge de Sena, romance também citado por Mega Ferreira, que o considera uma "obra invulgar", onde a "instância sexual só não está do princípio ao fim porque se trata de uma obra inacabada..." Patrícia Reis chama-lhe "um livro poderoso". Rui Zink também escolhe Jorge de Sena, mas prefere "O Físico Prodigioso".

José Eduardo Agualusa lembra vários romances de Rubem Fonseca e destaca ainda "O Sorriso do Lagarto", de João Ubaldo Ribeiro; "Rakushisha", de Adriana Lisboa; e "Os Papéis do Inglês", de Ruy Duarte de Carvalho. O primeiro merece igualmente a preferência de Pedro Mexia e Francisco José Viegas. Diz este: "O livro de língua portuguesa onde há melhores cenas de sexo é 'A Grande Arte', de Rubem Fonseca. Ele é muito bom a escrever essas cenas porque, justamente, não quer escrever 'cenas de sexo'. Quer falar de homens e mulheres."

Mas Viegas guarda ainda espaço para Mónica Marques e a sua "Transa Atlântica", com uma cena de 'ménage à trois' que é "de uma elegância festiva, feliz e deliciosa". Eduardo Pitta vai ainda mais longe no elogio. Para o crítico, a melhor cena de conteúdo sexual da literatura de língua portuguesa é... "Todas as de 'Transa Atlântica'. Overdose absoluta, sem metáfora. Pau e xoxota mesmo. Um clássico do género." E a seguir destaca Al Berto, por "Lunário", a "primeira narrativa portuguesa 'gender fucker'".

Outras referências: Maria Isabel Moura (Rui Zink); Inês Pedrosa (Patrícia Reis); Francisco José Viegas (Pedro Mexia); Carlos de Oliveira, em "Uma Abelha na Chuva" ("um primor de sugestão erótico-sexual, na sequência em que D. Maria dos Prazeres viaja na charrette, sente-se atraída pelo cocheiro", diz Baptista-Bastos); Miguel Esteves Cardoso (Mega Ferreira); Almeida Faria (Francisco José Viegas).

E ainda José Cardoso Pires. Em "A Balada da Praia dos Cães", Francisco José Viegas aprecia a safadice e Rui Zink elege mesmo como melhor cena da literatura portuguesa de conteúdo erótico "a masturbação revoltada do inspector Elias". É assim:

"Elias masturba-se. Sempre de olhar parado, vendo para dentro e a desfocar-se (o olhar de quem se deixa ir de viagem) enquanto a mão, o rosto e a boca dela o trabalham lá em baixo, e tudo se concentra. Elias vai num espaço fechado, numa caixa de espelhos, a cabeça solta, desligada dele. O pénis recurvo não pára de ser percorrido por uma cadência saboreada e insistente, e ele de olhar imóvel, diante dum vidro (que já não é de espelho, mas transparente) diante dum pára-brisas, um autocolante, um espelho retrovisor, para baixo e para cima, as molas do assento a rangerem num movimento mecânico e igual. Sempre."

A vez delas

Se há algo que nos surpreenda nestas escolhas, talvez seja a presença marcante de mulheres autoras. O que permite levantar a eterna questão de haver, ou não, uma escrita feminina, por oposição ao estilo dos homens, tradicional, de tratar as coisas do sexo. Apesar de Inês Pedrosa não querer que lhe falem "disso" da escrita feminina e masculina, tem mesmo de ser...

Francisco José Viegas: "Elas são melhores do que os homens e estão a escrever mais sobre sexo - não sei se isso é bom ou mau -, mais e mais despudoradamente, com mais imaginação e até com mais melancolia." Mega Ferreira: "As mulheres, porventura, ultrapassam melhor o pudor quase ancestral que nos tolhe; talvez tenham maior capacidade para escrever com mais à-vontade - talvez porque nomear o sexo, escrever sobre sexo, seja uma forma de emancipação."

Lídia Jorge não vê a coisa assim, até porque acha que "o esforço de transgressão" foi feito pela "geração anterior" à sua. E, já agora, também não aceita que se pense no sexo como "capacidade de expressão de uma literatura": "É uma prova de fogo um escritor ser capaz de entrar na intimidade sexual e ser capaz de a descrever com eficácia e elegância. Mas não é a medida para avaliar uma literatura."

Seja como for, não é mais difícil para uma mulher expor-se dessa maneira do que para um homem? Analisa Inês Pedrosa: "As mulheres são muito penalizadas quando escrevem sobre sexo. Há um discurso libertário, mas a verdade é que continua a impor-se aquele estereótipo de que um homem com muitas relações sexuais é um garanhão e uma mulher tem de ser recatada, se se atreve a escrever sobre isso é porque é uma devassa. As mulheres pensam em afectos e não têm corpo..."

Mas têm. E estão a falar cada vez mais dele. Neste como noutros campos, talvez elas sejam a nossa maior esperança.

(o artigo será removido se o autor assim o desejar)

domingo, 4 de julho de 2010

Cadernos de viagem (volume... não sei quantos)

21 de Junho. Chegamos ao Porto. Depois de pôr o sono em dia, almoçamos, bife panados e arroz, pescada, e vamos até à Foz, para ajudar à digestão. Descemos as ruas de Matosinhos por ali abaixo até ao mar, tentando adivinhar que pequeno solar em ruínas restauraremos um dia, passeamos pelo fantástico paredão, está um solzinho radiante, alguns casais namoram mão na mão, outros joggam em calções curtos e t-shirts na mão, os ombros musculados e salientes, a praia polvilhada já de vereaneantes vizinhos, na praça da anémona um ecrã gigante debita publicidades da silly season, assentamos numa esplanada do edificio transparente, para bebericar freezes de limão e sangria, meninas pré-púberas desfilam o rabo bronzeado, o umbigo recente e os seios nascentes sob o fino biquini provocando os mânfios garanhões agarrados ao skate e à coca-cola, uma triste e prematura feira de vaidades que não augura nada de bom para a geração que se nos segue.

22 de Junho. Primeira visita à Fnac. Compro o Auto-Retrato do Escritor, de Murakami, os dois volumes do Caderno de Saramago, e Que Farei com Este Livro? Leio algures que em três dias a procura de livros de Saramago disparou 846 %. Do que já li, confesso que não gostei de tudo. É bem verdade que preferia apoiar uma candidatura de Lobo Antunes do que de Saramago ao Nobel, porque o considero um autor mais completo e inteiro da língua e como escritor. Mas agora estou curioso em conhecer ainda mais Saramago e gostava de juntar a obra completa do único Nobel da Literatura da língua portuguesa. Durante a noite sonho que o prémio é entregue em 2043 a valter hugo mãe. Nesse instante, dentro do sonho, sinto-me culpado de não ter ainda acabado A Máquina de Fazer Espanhóis que comecei a ler na sexta-feira e por, volvidos mais de 30 anos, não ter ainda passado da página 87.

23 de Junho,véspera de São João. Adianto a leitura, folheio os jornais da manhã, os velhos do restelo anunciam o fim da democracia, o fim do Estado, para melhor imporem o federalismo e o que virá a seguir : o hipercapitalismo, como augurado por Attali, as empresas acima dos Estados. É a única saída que estes vates vislumbram para sair do buraco para o qual nos arrastaram os banqueiros de casino.

24 de Junho. Aproveitamos as ruas vazias de cidade fantasma com que o Porto se veste em cada manhã seguinte ao São João e rumamos a sul pela A1, bifurcamos pela A13. Saímos em Grândola, fazemos umas fotos da praxe diante da pauta mural do 25 de Abril e almoçamos nas Minas do Lousal. Acolhe-nos um quadro familiar, antigas instalações mineiras, despojos ferrugentos de outros tempos, transformados em lojas de artesanto, centro de ciências e um restaurante, o Armazém Central. Na mesa, queijo de ovelha, azeitonas marinadas, pão alentejano, frango à mineiro, um carioca de limão e um café. Atendimento esmerado e simpático. A tarde vai ser dura depois de tudo o que comemos.

Trocamos a aridez da A2 por um desvio até à costa vicentina. Pelas estradas estreitas abrimos caminho até Santiago do Cacém, descemos Sines e viramos à esquerda para Porto Covo. Esta vista de falésias e rochedos cortando o mar em postas de espuma e água deslumbra-nos. É uma costa lindíssima, que espero não encherem de mamarrachos como fizeram no Algarve. Mais fotos para o álbum de viagens. Em vez de arrepiar caminho, descemos até Vila Nova de Milfontes. Comemos um gelado na praia das Furnas, na margem sul da foz do rio Mira. Na esplanada do restaurante àquela hora da sesta, há um doce encanto dolente no ar de nada fazer, até a maresia se espreguiça nas dunas, somos apenas pouco mais que uma mão cheia de turistas incidentais que ali vieram aportar: um casal de jovens espanhóis joga gamão, enquanto ela fuma um charrinho que naquele fim do mundo providencial e paradisíaco todos nós confundimos com tabaco de enrolar e um casal de reformados almoça lagosta e marisco, a tarde e más horas, como deve ser, longe das horas ditadas e urbanas.
Atravessamos Odemira, a serra algarvia, aqueles penedos de mata desolados, quilómetros e quilómetros de uma estrada veredada por eucaliptos e pinheiros, chegamos a Aljezur e Bensafrim. Após quatro horas de transviagem, retomamos a auto-estrada, pela Via do Infante, que nos leva até Faro em vinte minutos.

25 de Junho. Sexta-feira, manhã cinzenta, primeiro dia de férias no algarve. Chuvisca. Passeio em Faro e compras para organizar os mantimentos necessários para alguns dias de merecidas férias algarvias.

26 de Junho. Almoço no Izzy's no Garrão. Cheesburger e bife com arroz angolano. Esplanada fantástica para o mar, sítio calmo em Junho, é o nosso poiso habitual nas férias. Primeiro dia de praia. O único casal português e os dois filhos fazem mais banzé que todos os ingleses e alemães juntos. Termino a peça "Nada de Dois" de Pedro Mexia e regresso "àquela máquinaaa", de valter hugo mãe.

20h30. Jantar na Associação Naval de Vila Real de Santo António com a Guida Domingos, que está de esperanças, e o namorado, o João Carlos. É o seu primeiro filho. Metemos a conversa de oito anos em dia. Recordamos os velhos tempos da Tomás Cabreira. Ela fala-me do meu velho Opel Kadett verde-tropa, o primeiro carro que tive, a soluçar num dia em que decidimos, com a Susana, ir até à praia, tinha eu oito dias de carta. Rimos um bom bocado. O restaurante restaurado ficou sem a esplanada, explicam-me. Mas agora tem janelas enormes que dão directamente sobre as águas douradas do Guadiana. Na linha do horizonte, Ayamonte repousa espanhola na luz finda da tarde. Arroz de marisco, a sapateira não está muito fresca, mas o vinho é bom.

27 de Junho. Hoje preferimos os bancos de jardim no Izzy's à praia. Música ambiente, bossanova e jazz. Lemos cada um o nosso livro e relaxamos à sombra das palmeiras na brisa refrescante que torna a tarde suportável. O mercúrio subiu até aos 35°C. O mar de jade enche os olhos. Conheço poucos prazeres tão simples como este de ler um bom livro frente ao mar. O pano do parasol chicoteia o vento e marca o ritmo da tarde.
É verdade que só se ouve falar inglês, mas isso não nos incomoda. As inglesas adolescentes passeiam os corpinhos escaldados atirando os cabelos loiros para trás como se a praia fosse o passeio da fama. Os rapazes portugueses, quase da mesma idade, mais adiante na área não concessionada, atiram-lhes olhares sedutores, mas entre eles pontuam-nas impiedosamente de zero a dez. "Esta nem vale cinco, nem mamas tem ainda..." e "ih, olha a mania daquela". E depois riem-se às golfadas.
As mães britânicas, muito brancas, sardentas ou loiras e trintonas (ou esforçando-se por o parecer) sorvem rosé ou vinho branco na esplanada do Izzy's, debicam camarões enquanto tagarelam alegremente. Vestem camisas longas transparentes ou translúcidas sob as quais ostentam biquinis cor-de rosa choque ou verde fluor. Óculos de sol gigantes, à seventies. Os maridos vestem calcões stylish, pólos azuis e brancos, com logos de reptéis e afins.

Descemos até à praia, alugamos umas espreguiçadeiras. A areia queima os pés, refugiamo-nos na sombra do toldo. O céu deita-se no mar.

1 de Julho. Demasiado pachorrento para manter este diário em dia. E férias são férias, bolas. Abstenho-me do computador. Por vezes prefiro ler bons livros do que escrever má prosa. Terminei valter hugo mãe e comecei "Atlas das Nuvens", de David Mitchell. Comprei tudo o que pude encontrar de Saramago, devem faltar-me apenas uma pequena dezena de obras. Tenho duas embalagens com 25 quilos de livros para enviar por correio. Este ano, excedi-me! Como sempre.

Festejei o meu aniversário com um jantar em tête-a-tête no Aquavit, em Vilamoura. Bife recheado com camarão e molho à lavagante, bife com foie gras e molho vinho do Porto. Vinho branco a acompanhar. Alentejano, claro. Tudo muito bom. Serviço muito simpático.

Hoje, jantámos com amigos no Flôr do Sal, em Almancil, altamente recomendado pelo Jorge. Arroz de Marisco e carne de porco à alentejana. Um Alvarinho verde. Tudo muito delicioso, serviço muito atencioso. Aprovado.

3 de Julho. Último dia no Algarve. Torrámos ao sol como se não houvesse amanhã. O bronze tem que durar pelo menos umas semaninhas. Fazer praia na ilha do Farol e na Deserta fica agendado para o ano. A visita prometida a Silves e à Fóia também.
Amanhã, rumamos de regresso a norte.

Último pequeno-almoço algarvio antes do regresso ao labor


Doca de Faro, 4 de Julho de 2010, 9h10. Pequeno-almoço no Café do Coreto (ex-Pirâmides): Croissant misto, uma torrada e duas meias de leite, antes de rumarmos ao Garrão para o nosso último dia de praia.
Foto: JLC

Crepúsculo


Crepúsculo na praia de Matosinhos, 22 de Junho de 2010
Foto: JLC