"O tabaco é uma planta carnívora que se alimenta de pulmões!"
(autor anónimo, mas muito sensato!)
"Le tabac est une plante carnivore qui mange les poumons!"
(auteur anonyme, mais très avisé!)
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Do tabaco
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Petite Planète
Dans la lointaine galaxie de Saint-Exupéry
Bien au-delà de la voie lactée
j’ai vu une étoile filer.
J’ai fermé les yeux et fit un vœu.
Je ne sais pas si Dieu, ou une autre bête,
m’a écouté, mais je découvris une jolie petite planète
improbable et désertée,
un bout de caillou volcanique,
incroyable et unique,
une terre mainte et maintes fois foulée,
par le pied de l’homme, mais qu’il ne sut jamais garder,
ou parce qu’il fut aveugle ou parce qu’il ne compris jamais la vrai beauté.
Un peu à tâtons je parcourus valons et collines dévastés,
désarmé par les plaines inondées,
apeuré par les fleuves en furie,
les jardins enfouis, lá oú le soleil ne brille même plus.
Ah, quel gâchis, toutes ces plages blessées
par tant de navires déchus…
Pendant des jours et des jours,
j’ai erré en parlant au vent,
des mots d’espoir et d’amour,
sans savoir s’il y croyait toujours,
ne sachant même pas s’il m’écoutait…
Au bord de la rivière pierre je me suis assis
et j’ai pleuré, jour et nuit.
Dans la roche endurcie,
mes larmes ont creusé, une faille,
de toute petite taille,
et une fleur, de toutes les couleurs,
a poussée. Je ne l’ai pas cueilli, je l’ai juste embrassée.
Et soudain, le ciel a perdu son rouge et la mer s’est calmée.
JLC 180805
Bien au-delà de la voie lactée
j’ai vu une étoile filer.
J’ai fermé les yeux et fit un vœu.
Je ne sais pas si Dieu, ou une autre bête,
m’a écouté, mais je découvris une jolie petite planète
improbable et désertée,
un bout de caillou volcanique,
incroyable et unique,
une terre mainte et maintes fois foulée,
par le pied de l’homme, mais qu’il ne sut jamais garder,
ou parce qu’il fut aveugle ou parce qu’il ne compris jamais la vrai beauté.
Un peu à tâtons je parcourus valons et collines dévastés,
désarmé par les plaines inondées,
apeuré par les fleuves en furie,
les jardins enfouis, lá oú le soleil ne brille même plus.
Ah, quel gâchis, toutes ces plages blessées
par tant de navires déchus…
Pendant des jours et des jours,
j’ai erré en parlant au vent,
des mots d’espoir et d’amour,
sans savoir s’il y croyait toujours,
ne sachant même pas s’il m’écoutait…
Au bord de la rivière pierre je me suis assis
et j’ai pleuré, jour et nuit.
Dans la roche endurcie,
mes larmes ont creusé, une faille,
de toute petite taille,
et une fleur, de toutes les couleurs,
a poussée. Je ne l’ai pas cueilli, je l’ai juste embrassée.
Et soudain, le ciel a perdu son rouge et la mer s’est calmée.
JLC 180805
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
A verdade sobre o PC Magalhães
Os noticiários abriram há tempos, com pompa e circunstância, anunciando o lançamento do 'Primeiro computador portátil português', Magalhães'. A RTP refere que é 'um projecto português produzido em Portugal', a SIC refere que 'um produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel' e que a 'concepção é portuguesa e foi desenvolvida no âmbito do Plano Tecnológico.' Na realidade, só com muito boa vontade é que o que foi dito e escrito é verdadeiro. O projecto não teve origem em Portugal, já existe desde 2006 e é da responsabilidade da Intel. Chama-se Classmate PC e é um laptop de baixo custo destinado ao terceiro mundo e já é vendido há muito tempo através da Amazon. As notícias foram cuidadosamente feitas de forma a dar ideia que o 'Magalhães' é algo de completamente novo e com origem em Portugal. Não é verdade. Felizmente, existem alguns blogues atentos. Na imprensa escrita salvou-se, que se tenha dado conta, a notícia do Portugal Diário: 'Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto.' Pelos vistos, o jornalista Filipe Caetano foi o único a fazer um trabalhinho de investigação em vez de reproduzir o comunicado de imprensa do Governo. A ideia é destruir os esforços de Negroponte para o OLPC. O criador do MIT Media Lab criou esta inovação, o portátil de 100 dólares. A Intel foi um dos parcceiros até ver o seu concorrente AND ser escolhida como fornecedor. Saiu do consórcio e criou o Classmate, que está a tentar impor aos países em desenvolvimento. Sócrates acaba de aliar-se, sem concurso, à Intel, para destruir o projecto de Negroponte. A JP Sá Couto, que já fazia os Tsunamis, tem assim, sem concurso, todo o mercado nacional do primeiro ciclo. Tudo se justifica em nome de um número de propaganda política terceiro-mundista. Para os pivots (ex-jornalistas?) Rodrigues dos Santos ou José Alberto Carvalho, o importante é debitar chavões propagandísticos em vez de fazer perguntas. Se não fosse a blogosfera - que o ministro Santos Silva ainda não controla - esta propaganda não seria desmascarada. Os jornalistas da imprensa tradicional têm vindo a revelar-se de uma ignorância, seguidismo e preguiça atroz (c.f.: Arrastão e outros casos que tais).
Por isso, vos digo, nunca acreditem naquilo que vos contam os media e multipliquem sempre as fontes de informação. (o texto foi aqui publicado tal qual recebi numa mailing-list em cadeia que me chegou)
Por isso, vos digo, nunca acreditem naquilo que vos contam os media e multipliquem sempre as fontes de informação. (o texto foi aqui publicado tal qual recebi numa mailing-list em cadeia que me chegou)
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
JO Beijing: Ouro para Portugal
Nelson Évora sagrou-se campeão olímpico ao vencer esta tarde o triplo salto em comprimento com a marca de 17,67 m. É a primeira medalha de ouro para Portugal nestes JO. Com a medalha de prata de Vanessa Fernandes, estes já são os melhores JO de sempre para Portugal (ouro + prata). Parabéns aos atletas e a Portugal.
Os bons resultados portugueses não me fazem esquecer que estas Olimpíadas decorrem num país imperalista, opressor que não respeito os mais elementares direitos humanos, de liberdade e de imprensa.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Tréguas Olímpicas (2)
Enquanto uns ambicionam por ouro, outros correm pela liberdade!Este é um excelente documentário da France 3 sobre a história e a tragédia do Tibete..
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Erotic Tales, se(x)nsualidade no Cine Utopia, até 28 de Agosto
Um pouco de se(x)nsualidade
Desde 1 de Agosto e até dia 28, o alternativo Cinema Utopia, em Limpertsberg, está a revelar-se ainda mais ousado com a exibição de 30 filmes eróticos de meia hora cada. Os filmes são apresentados em séries de quatro (as exibições duram cerca de duas horas) e passam alternadamente até final deste mês.
Os filmes pertencem a uma série iniciada pela produtora alemã Renate Ziegler que desafiou realizadores de renome a dirigirem e conceberem curtas-metragens eróticas, filmadas em 35 mm. Encontramos no rol de nomes conhecidos realizadores como Susan Seidelman, que conhecemos do filme "Desperately Seeking Susan", de 1985, com Rosanna Arquette, no que era a primeira aparição como actriz de Madonna no cinema. O Utopia traz-nos um filme de Seidelman de 1995, "The Dutch Master", com a famosa e sensual actriz Mira Sorvino (também vista em "Mighty Aphrodite", de Woody Allen, e "Summer of Sam", de Spike Lee).
Podem ainda ser vistas películas sulfurosas de Bob Rafelson, Hal Hartley, Ken Russell, Cinizia Th. Torrini, Jos Stelling, Paul Cox, entre outros.
Os horários e lista dos filmes exibidos em cada semana são consultáveis em www.utopolis.lu, na internet.
JLC, in Contacto, 20.08.08
Desde 1 de Agosto e até dia 28, o alternativo Cinema Utopia, em Limpertsberg, está a revelar-se ainda mais ousado com a exibição de 30 filmes eróticos de meia hora cada. Os filmes são apresentados em séries de quatro (as exibições duram cerca de duas horas) e passam alternadamente até final deste mês.
Os filmes pertencem a uma série iniciada pela produtora alemã Renate Ziegler que desafiou realizadores de renome a dirigirem e conceberem curtas-metragens eróticas, filmadas em 35 mm. Encontramos no rol de nomes conhecidos realizadores como Susan Seidelman, que conhecemos do filme "Desperately Seeking Susan", de 1985, com Rosanna Arquette, no que era a primeira aparição como actriz de Madonna no cinema. O Utopia traz-nos um filme de Seidelman de 1995, "The Dutch Master", com a famosa e sensual actriz Mira Sorvino (também vista em "Mighty Aphrodite", de Woody Allen, e "Summer of Sam", de Spike Lee).
Podem ainda ser vistas películas sulfurosas de Bob Rafelson, Hal Hartley, Ken Russell, Cinizia Th. Torrini, Jos Stelling, Paul Cox, entre outros.
Os horários e lista dos filmes exibidos em cada semana são consultáveis em www.utopolis.lu, na internet.
JLC, in Contacto, 20.08.08
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
NBC, o melhor rapper português
"Segunda pele", do álbum "Maturidade", editado em Maio/2008
NBC feat. SP & Wilson, "Marceneiro" (homenagem a Alfredo Marceneiro, poeta de rua)
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
crónica de férias de um vadio literário
As férias resumiram-se a alguns dias de Praia, no Algarve, dois dias em Oliveira do Bairro, para ser o padrinho no casamento do meu irmão e meio-dia no Porto, antes do regresso ao exílio. Poucos dias, mas que serviram para a retemperança.
No Algarve, ainda antes de ir para a praia, ida obrigatória à Fnac da Guia, em Albufeira. Com a promessa, feita a mim mesmo e à minha cara metade, de não ceder aos "baixos instintos" e de comprar poucos livros. Até porque depois são esses excendentes de bagagem que pesam na mala e na carteira.
Palavra de ordem: conter-me!
Assim, desta vez, contive-me (coloquei-me mentalmente em posição zen) e só comprei três livros: "o apocalipse dos trabalhadores", de valter hugo mãe; "Quaresma, Decifrador", de F. Pessoa; e "Nos passos de Magalhães", de Gonçalo Cadilhe.
Só três (3!!!), pensei, bom esforço, e dei-me palmadinhas nas costas. Era mal conhecer-me. Dois dias mais tarde, ao passar pelo Fórum Algarve em Faro não resisti a uns livritos numa pilha ao desbarato a 2,99 euros e foram mais três, pela módica quantia de 8,97 euros: "O meu querido Titanic", de Possidónio Cachapa; "Produções Fictícias - 13 anos de insucessos"; e "A Era do Orpheu" (1986), do Nuno Júdice.
Li este último em 24 horas, dada a minha insaciável e ávida gula em consumir (conhecer) tudo o que diz respeito à geração e à época de Orpheu. Deliciei-me com as lutas de convicções e as batalhas verbais e literárias que opuseram os jovens artistas modernistas da revista lisboeta "Orpheu" como Fernando Pessoa, Santa-Rita Pintor, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros, e os saudosistas da revista A Águia publicada no Porto por escritores e intelectuais um pouco mais velhos e confirmados da geração que eles próprios apelidavam de "Renascença Portuguesa" como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, António Correia d'Oliveira, António Carneiro, Leonardo Coimbra, entre outros. Sobretudo, parti o côco a rir com a polémica que o poema surrealista (surrealismo antes da época, note-se!) de Sá-Carneiro em que aparece um "braço de casaca a valsar até ao palácio do vice-Rei" provocou nos leitores da altura, habituados a uma poesia mais "arrumadinha" e "ortodoxa".
Nova Águia
Na mesma senda, descobri (penso que foi na Livraria Bertrand) a revista semestral "Nova Águia" , em referência directa à da Renascença Portuguesa e que começou a ser publicada este ano em Portugal. Também já a devorei, com penas, garras e tudo. Primeiro fiquei preocupado com a temática escolhida - "A Ideia de Pátria: sua actualidade"- que, confesso, pensei de cariz "nacionalista", na acepção "cutânea" da palavra. Mas, percebi depois que os autores convidados não se tinham ficado a assinalar desfraldados "as armas e os barões" nem se detiveram a exaltar como pítias histéricas o destino profético e messiânico do país em transsubstanciar-se em Quinto Império, numa enésima e onânica manifestação luso-portuguesa, mas que procuraram antes lavrar mais além a ideia (ideal) de pátria nas potencialidades de Portugal, da sua língua, culturas e literaturas portuguesas e lusófonas.
Gostei dos textos que li, não se resumem apenas à literatura, estendem-se às ciências, à política e a outras coisas e artes. Mas preferia, por exemplo, ter lido mais poesia e ver mais contribuições gráficas. Talvez num próximo número. Dois novos poetas que retiveram a minha atenção pela "sinceridade crítica" dos seus textos: Luís Filipe Cristóvão e Manuel Silva Ramos. Imperdível também o inédito de Agustina Bessa-Luís, que a revista conseguiu publicar.
Fui dali, nova investida na Bertrand. Cedi também ao "Dicionário Imperfeito" de Bessa-Luís, numa excelente encadernação e apresentação da nova Guimarães Editores. Projectos destes - em que se nota que quem está por detrás é alguém que gosta de livros e de autores e não tem pejo em assumir que cultura pode rimar com a "vergonhosa" palavra que poucos querem ver a ela associada: "rentabilidade" - auguram tempos melhores para o mundo dos livros em Portugal.
Na mesma visita à Bertrand, juntei ao livro azul de Agustina, as biografias dos "Viajantes Solitários", de Fernanda Pratas, e "O Fim dos Tempos", de Jaime Fernandes. As biografias tenho-as lido em ziguezague, seguindo os turistas incidentais que prefiro (Whitman, Rimbaud, Orwell, Nabokov), mas não esperava encontrar Karl Marx, Steve McQueen ou Ayrton Senna na lista. O título indicava viajantes solitários e eu deduzi erroneamente que eram todos escritores... Erro meu!
O segundo livro é de um jovem de 21 anos que se estreia num dos segmentos mais difíceis da literatura: o romance de antecipação (ficção-científica). Quando acabar de ler, digo-vos de minha justiça.
O profeta celta
Na praia, entre um mergulho e um escaldão, acabei de ler, entretanto, "Le huitième prophète: Les aventures extraordinaires d'Amros, le Celte", de Franz-Olivier Giesbert, que tinha começado no avião. Gosto do conto, fluído e interessante, mas nas passagens onde eu esperava que o narrador se detivesse é quando ele salta episódios. O tom e o desafio dados à partida perdem-se um pouco pelo caminho. Preso por soldados gregos, Amros, o Celta vai viajar da sua Gália natal, pela Itália, Grécia, Palestina, Babilónia, Pérsia, e China e terá a oportunidade de visitar os grandes filósofos e guias espirituais da Antiguidade, desde Zaratustra (séc VI. a.C), Pitágoras (569-494 a.C), a Heráclito (séc. VI a.C.), Buda (560-483 a.C.), Confúcio ( 551-479 a.C.) e o profeta Zacarias (séc. VI. a.C.) que eram todos mais ao menos contemporâneos, mesmo se vivendo em regiões diferentes do globo - facto estranho, mas verídico. Esta curiosidade histórica pouco conhecido pela maioria dos leitores é aqui explorada de maneira exímia pelo autor.
Parece que o autor quis fazer mais curto e privilegiou a forma (resumida) ao conteúdo (que deveria ser mais profundo). As aventuras (podiam, mas) também não são assim tão extraordinárias e o leitor não sente o afunilamento da história. Não se sente, por exemplo, reflexão e meditação nos ensinamentos que o protaganista vai adquirindo, tudo parece rápido e episódico, numa sucessão de encadeamentos, com um fim previsível. Enfin, bref! Gostei da ideia, mas penso que foi desperdiçada.
Um dia conto a minha passagem por Oliveira do Bairro e como foi o casamento do meu irmão.
O fim das férias foi no Porto. Na Inbicta, descemos à Baixa, bebemos um café e um frize framboesa no lounge improvisado frente à Câmara Municipal e dali subimos para a rua de Santa Catarina, novo assalto (tímido) à Fnac. No cesto de compras, apenas mais três livros: "Boa Noite, Senhor Soares", do Mário Cláudio (com o expectro do Pessoa a pairar) e que vinha acoplado em promoção com a peça de teatro "Medeia", do mesmo autor; e "Grandes Enigmas da História de Portugal, vol. 1", para juntar à minha colecção maçónica.
No Porto, sê portuense. Assim, o jantar foi francesinha, no famoso Ricardo, em Leça, ventosa nessa noite. Apertados como sardinhas nas mesinhas pequeninas, mas a lamber os dedos todos antes de declinar a sobremesa. Depois, uma voltinha à Ribeira, para esmoer o ovo e as batatas fritas. Chá de hortelã-pimenta para ajudar à digestão na esplanada de um bar marroquino à beira Douro, espojados sem enleio numas almofadas de cetim e tafetá deitadas nas pedras do cais. Uma jovem canadiana, parece-me que se chamava Ashley, veio pedir-nos "fogo, per favore!" e obrigamo-la a pronunciar "i-s-q-u-e-i-r-o", o que podia ter sido traumatizante para uma anglo-saxona, mas a menina achou piada e sentou-se connosco. É de Vancouver e andava com duas amigas numa odisseia europeia. Tinha acabado de chegar do Algarve, como nós, e dentro de dois dias estaria em Barcelona. Queria saber o que se podia fazer no Porto num domingo à noite... A prima da Jess indicou-lhe dois ou três bares e a canadiana foi-se a saltitar de contente.
No regresso ao carro, estanquei diante de uma montra iluminada com livros e que parecia aberta. Eu, que sempre praguejo contra a falta de livrarias abertas à noite, senti-me atraído pela luz como uma libelinha tonta. "Clube Literário do Porto". Do primeiro andar provinha o som de um piano, tocando talvez Berlioz. Penetrámos. Obras de arte, esculturas, pinturas no hall de entrada, livros nas estantes, para consulta e venda. O livro "Canções e Outros Poemas" de António Botto voltou a piscar-me o olho de uma das mesas, andava a assediar-me desde o Algarve e ali, não lhe resisti. "Eu preciso completar a minha colecção dos poetas da época do Orpheu", desculpei-me perante o juiz das minhas próprias vozes.
No final das férias, quando foi o difícil momento de arrumar as malas, não consegui fazer desaparecer os 14 livros entre camisas e calções e tive que me resolver a enviá-los por correio. O que me custou mais 50 euros. Mas... isto para mim é que são férias, é para isto que elas servem: para repousar, refugiar-me do mundo e atestar-me em literatura. Ler, ler, ler... estendido numa toalha na praia, numa espreguiçadeira debaixo do alpendre da minha casa algarvia, numa esplanada de café a bebericar cappuccinos entre páginas, ou em qualquer outro lugar. Alguns amigos nunca conseguiram perceber porque perdia eu os poucos dias que vou de férias a ler! Não perco tempo, ganho, ganho anos de vida, amigos, aventuras, viajo. E eles ficam sempre desconcertados a ponderar na minha insanidade.
"Felizes são os loucos que vivem pouco mas vivem como querem."
No Algarve, ainda antes de ir para a praia, ida obrigatória à Fnac da Guia, em Albufeira. Com a promessa, feita a mim mesmo e à minha cara metade, de não ceder aos "baixos instintos" e de comprar poucos livros. Até porque depois são esses excendentes de bagagem que pesam na mala e na carteira.
Palavra de ordem: conter-me!
Assim, desta vez, contive-me (coloquei-me mentalmente em posição zen) e só comprei três livros: "o apocalipse dos trabalhadores", de valter hugo mãe; "Quaresma, Decifrador", de F. Pessoa; e "Nos passos de Magalhães", de Gonçalo Cadilhe.
Só três (3!!!), pensei, bom esforço, e dei-me palmadinhas nas costas. Era mal conhecer-me. Dois dias mais tarde, ao passar pelo Fórum Algarve em Faro não resisti a uns livritos numa pilha ao desbarato a 2,99 euros e foram mais três, pela módica quantia de 8,97 euros: "O meu querido Titanic", de Possidónio Cachapa; "Produções Fictícias - 13 anos de insucessos"; e "A Era do Orpheu" (1986), do Nuno Júdice.
Li este último em 24 horas, dada a minha insaciável e ávida gula em consumir (conhecer) tudo o que diz respeito à geração e à época de Orpheu. Deliciei-me com as lutas de convicções e as batalhas verbais e literárias que opuseram os jovens artistas modernistas da revista lisboeta "Orpheu" como Fernando Pessoa, Santa-Rita Pintor, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros, e os saudosistas da revista A Águia publicada no Porto por escritores e intelectuais um pouco mais velhos e confirmados da geração que eles próprios apelidavam de "Renascença Portuguesa" como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, António Correia d'Oliveira, António Carneiro, Leonardo Coimbra, entre outros. Sobretudo, parti o côco a rir com a polémica que o poema surrealista (surrealismo antes da época, note-se!) de Sá-Carneiro em que aparece um "braço de casaca a valsar até ao palácio do vice-Rei" provocou nos leitores da altura, habituados a uma poesia mais "arrumadinha" e "ortodoxa".
Nova Águia
Na mesma senda, descobri (penso que foi na Livraria Bertrand) a revista semestral "Nova Águia" , em referência directa à da Renascença Portuguesa e que começou a ser publicada este ano em Portugal. Também já a devorei, com penas, garras e tudo. Primeiro fiquei preocupado com a temática escolhida - "A Ideia de Pátria: sua actualidade"- que, confesso, pensei de cariz "nacionalista", na acepção "cutânea" da palavra. Mas, percebi depois que os autores convidados não se tinham ficado a assinalar desfraldados "as armas e os barões" nem se detiveram a exaltar como pítias histéricas o destino profético e messiânico do país em transsubstanciar-se em Quinto Império, numa enésima e onânica manifestação luso-portuguesa, mas que procuraram antes lavrar mais além a ideia (ideal) de pátria nas potencialidades de Portugal, da sua língua, culturas e literaturas portuguesas e lusófonas.
Gostei dos textos que li, não se resumem apenas à literatura, estendem-se às ciências, à política e a outras coisas e artes. Mas preferia, por exemplo, ter lido mais poesia e ver mais contribuições gráficas. Talvez num próximo número. Dois novos poetas que retiveram a minha atenção pela "sinceridade crítica" dos seus textos: Luís Filipe Cristóvão e Manuel Silva Ramos. Imperdível também o inédito de Agustina Bessa-Luís, que a revista conseguiu publicar.
Fui dali, nova investida na Bertrand. Cedi também ao "Dicionário Imperfeito" de Bessa-Luís, numa excelente encadernação e apresentação da nova Guimarães Editores. Projectos destes - em que se nota que quem está por detrás é alguém que gosta de livros e de autores e não tem pejo em assumir que cultura pode rimar com a "vergonhosa" palavra que poucos querem ver a ela associada: "rentabilidade" - auguram tempos melhores para o mundo dos livros em Portugal.
Na mesma visita à Bertrand, juntei ao livro azul de Agustina, as biografias dos "Viajantes Solitários", de Fernanda Pratas, e "O Fim dos Tempos", de Jaime Fernandes. As biografias tenho-as lido em ziguezague, seguindo os turistas incidentais que prefiro (Whitman, Rimbaud, Orwell, Nabokov), mas não esperava encontrar Karl Marx, Steve McQueen ou Ayrton Senna na lista. O título indicava viajantes solitários e eu deduzi erroneamente que eram todos escritores... Erro meu!
O segundo livro é de um jovem de 21 anos que se estreia num dos segmentos mais difíceis da literatura: o romance de antecipação (ficção-científica). Quando acabar de ler, digo-vos de minha justiça.
O profeta celta
Na praia, entre um mergulho e um escaldão, acabei de ler, entretanto, "Le huitième prophète: Les aventures extraordinaires d'Amros, le Celte", de Franz-Olivier Giesbert, que tinha começado no avião. Gosto do conto, fluído e interessante, mas nas passagens onde eu esperava que o narrador se detivesse é quando ele salta episódios. O tom e o desafio dados à partida perdem-se um pouco pelo caminho. Preso por soldados gregos, Amros, o Celta vai viajar da sua Gália natal, pela Itália, Grécia, Palestina, Babilónia, Pérsia, e China e terá a oportunidade de visitar os grandes filósofos e guias espirituais da Antiguidade, desde Zaratustra (séc VI. a.C), Pitágoras (569-494 a.C), a Heráclito (séc. VI a.C.), Buda (560-483 a.C.), Confúcio ( 551-479 a.C.) e o profeta Zacarias (séc. VI. a.C.) que eram todos mais ao menos contemporâneos, mesmo se vivendo em regiões diferentes do globo - facto estranho, mas verídico. Esta curiosidade histórica pouco conhecido pela maioria dos leitores é aqui explorada de maneira exímia pelo autor.
Parece que o autor quis fazer mais curto e privilegiou a forma (resumida) ao conteúdo (que deveria ser mais profundo). As aventuras (podiam, mas) também não são assim tão extraordinárias e o leitor não sente o afunilamento da história. Não se sente, por exemplo, reflexão e meditação nos ensinamentos que o protaganista vai adquirindo, tudo parece rápido e episódico, numa sucessão de encadeamentos, com um fim previsível. Enfin, bref! Gostei da ideia, mas penso que foi desperdiçada.
Um dia conto a minha passagem por Oliveira do Bairro e como foi o casamento do meu irmão.
O fim das férias foi no Porto. Na Inbicta, descemos à Baixa, bebemos um café e um frize framboesa no lounge improvisado frente à Câmara Municipal e dali subimos para a rua de Santa Catarina, novo assalto (tímido) à Fnac. No cesto de compras, apenas mais três livros: "Boa Noite, Senhor Soares", do Mário Cláudio (com o expectro do Pessoa a pairar) e que vinha acoplado em promoção com a peça de teatro "Medeia", do mesmo autor; e "Grandes Enigmas da História de Portugal, vol. 1", para juntar à minha colecção maçónica.
No Porto, sê portuense. Assim, o jantar foi francesinha, no famoso Ricardo, em Leça, ventosa nessa noite. Apertados como sardinhas nas mesinhas pequeninas, mas a lamber os dedos todos antes de declinar a sobremesa. Depois, uma voltinha à Ribeira, para esmoer o ovo e as batatas fritas. Chá de hortelã-pimenta para ajudar à digestão na esplanada de um bar marroquino à beira Douro, espojados sem enleio numas almofadas de cetim e tafetá deitadas nas pedras do cais. Uma jovem canadiana, parece-me que se chamava Ashley, veio pedir-nos "fogo, per favore!" e obrigamo-la a pronunciar "i-s-q-u-e-i-r-o", o que podia ter sido traumatizante para uma anglo-saxona, mas a menina achou piada e sentou-se connosco. É de Vancouver e andava com duas amigas numa odisseia europeia. Tinha acabado de chegar do Algarve, como nós, e dentro de dois dias estaria em Barcelona. Queria saber o que se podia fazer no Porto num domingo à noite... A prima da Jess indicou-lhe dois ou três bares e a canadiana foi-se a saltitar de contente.
No regresso ao carro, estanquei diante de uma montra iluminada com livros e que parecia aberta. Eu, que sempre praguejo contra a falta de livrarias abertas à noite, senti-me atraído pela luz como uma libelinha tonta. "Clube Literário do Porto". Do primeiro andar provinha o som de um piano, tocando talvez Berlioz. Penetrámos. Obras de arte, esculturas, pinturas no hall de entrada, livros nas estantes, para consulta e venda. O livro "Canções e Outros Poemas" de António Botto voltou a piscar-me o olho de uma das mesas, andava a assediar-me desde o Algarve e ali, não lhe resisti. "Eu preciso completar a minha colecção dos poetas da época do Orpheu", desculpei-me perante o juiz das minhas próprias vozes.
No final das férias, quando foi o difícil momento de arrumar as malas, não consegui fazer desaparecer os 14 livros entre camisas e calções e tive que me resolver a enviá-los por correio. O que me custou mais 50 euros. Mas... isto para mim é que são férias, é para isto que elas servem: para repousar, refugiar-me do mundo e atestar-me em literatura. Ler, ler, ler... estendido numa toalha na praia, numa espreguiçadeira debaixo do alpendre da minha casa algarvia, numa esplanada de café a bebericar cappuccinos entre páginas, ou em qualquer outro lugar. Alguns amigos nunca conseguiram perceber porque perdia eu os poucos dias que vou de férias a ler! Não perco tempo, ganho, ganho anos de vida, amigos, aventuras, viajo. E eles ficam sempre desconcertados a ponderar na minha insanidade.
"Felizes são os loucos que vivem pouco mas vivem como querem."
Rótulo :
al-garve,
livros e leituras,
roteiro de vida
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Mensagem
"Beware of the bearers
of false gifts and broken promises. Much pain but there is still time. Believe There is still good out there. We oppose the decievers. Conduit is closing."
Trad.:
"Cuidado com os portadores de falsas prendas e promessas quebradas. Muito sofrimento, mas ainda há tempo. Acreditem que o bem ainda existe por aí. Nós opomo-nos aos desilusores. O canal está a fechar-se."
Segundo alguns matemáticos e astrónomos é esta a mensagem (em linguagem binária) decifrada nos "crop circles", desenhos gigantes descobertos nos campos de cereais (espigas deitadas = 0, espigas de pé = 1) encontrados nos meses de Agosto de 2000, 2001 e 2002 junto a um radiotelescópio em Chilbolton (a noroeste de Winchester), no Hampshire, no sul do Reino Unido.
Estas três figuras seriam a resposta à mensagem enviada por cientistas em linguagem binária em 1974 desde o rádiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, e que se pretendia uma espécie de cartão de visita da Terra: com a representação do homem, do sistema solar, do sistema decimal usado na nossa matemática, o número de habitantes da Terra (3,4 milhões em 1974; hoje somos pouco mais de 6 milhões), a composição das moléculas, dos açúcares essenciais à vida e do DNA humano, etc.
Uma das figuras encontradas em Chilbolton é o mesmo "cartão" enviado em 1974 mas "corrigido", nomeadamente quanto ao número de planetas habitados: três e não um único no sistema solar; a constituição das moléculas (reposicionamento do silício através do n°14 que não figurava na mensagem inicial) e do próprio DNA humano (com a inclusão da representação de nucleótidos considerados pelos biólogos como neutros ou sem importância na "hélice" humana); lê-se ainda que quem responde são os habitantes do quinto planeta e que os habitantes são 23 milhões.
Mensagem do futuro, de outra galáxia ou gigante falcatrua?
As mensagens apareceram da noite para o dia, ou seja, seria impossível concebê-las numa só noite e sem que ninguém desse por isso, já que se encontram a algumas centenas de metros do rádiotelescópio.
Para mim, o mais estranho é que o grosso desta mensagem já me tinha sido dada/transmitida/confiada em 1983 ... em sonho. Pensei que fosse influência das séries televisivas que eu via na altura.
Rótulo :
Midgard Book
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
sábado, 2 de agosto de 2008
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