30.06.2015
Um calor insuportável. Pequeno-almoço no Hôtel des Pierrettes, em Saint-Suplice. Passeio até ao centro de Lausanne, e depois pelas margens de Vidy e o Parque Olímpico, com muitas paragens à sombra.
Lausanne não é uma cidade bonita nem feia, há algumas casas históricas interessantes, um centro banal, ruas que sobem e que descem, sente-se que os tempos áureos já passaram. A beira-rio é o lugar mais interessante, ou cómodo, pelo menos no Verão. O parque olímpico é muito sujo, vínhamos com ideias preconcebidas sobre a imaculada Suíça, o Luxemburgo faz melhor neste campo.
Sente-se a miscigenação de culturas variadas, passamos ao lado da sede da Associação Portuguesa de Morges e numa rua onde as hortas se sucedem, as bandeiras das quinas não deixam dúvidas, os portugueses estão em todo o lado.
M. não resiste a ir molhar os pés na praia de Vidy. A. estranha e choraminga no seu primeiro contacto com a areia de praia. Do outro lado do lago, as silhuetas ténues das montanhas, tornadas quase azul-translúcidas pela luz da manhã, parecem nuvens sobre um oceano sem ondas. Faço duas, três fotos, posto no Facebook e meto ao desafio quem descobrir onde estou.
A Suíça é um país caro. Um café expresso custa 3,70 francos à beira-rio. No Luxemburgo varia entre 1,80 e 2,50 euros. Um almoço para dois, 70 euros, sem vinho. No Luxemburgo, 40 euros chegavam. Uma pizza, 24 euros, no Luxemburgo, máximo 16. O franco suiço está actualmente em valores muito semelhantes ao euro.
Ao almoço num restaurante-snack de Vidy temos vista sobre o maior lago de água doce da Europa, imenso, brilhante, um espelho que abarca o olhar e tranquiliza a vista. Nesta margem, uma caloraça, lá, na outra, os Alpes e as suas neves permanentes.
terça-feira, 30 de junho de 2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Lausanne
29.06.15
Chegamos ao hotel pour volta das 18h. O caminho foi rápido e sem stress. Mas com muito calor. Junho numa auto-estrada rumo ao sul, mercúrio perto dos 40, M. estica os pés descalços no tablier. A. dorme, brinca com os dois brinquedos que lhe comprámos para a viagem, zanga-se, atira-os fora, chora, fica rabugento, pede água, pede pão, bolachas, queixa-se do sol, paro o carro, instalo um protector com duas ventosas na janela para tapar o sol, quilómetros mais à frente ele continua a queixar-se, volto a parar, mas desta vez opto por prender uma toalha na janela do carro, como a minha mãe fazia nos anos 1970, por vezes os truques mais antigos são os melhores.
Luxemburgo, Metz, Estrasburgo, Basileia, Lausana. Para nós Basileia, Basel, Bâle significa fronteira, e uma teia emaranhada de auto-estradas, tunéis, nós rodoviários, vias de entrada e de saída, placas de direcção com todos os nomes das poucas cidades suíças que conhecemos, Berna, Genebra, Zurique, Montreux, Luzerna,..
Espalhamos as coisas pelo quarto, tomamos um duche frio, o corpo acorda da dormência das sete horas da posição sentada, entreabro a janela de sacada, espojamo-nos na cama de lençóis frescos.
Vou até à pequena varanda, onde M. fuma um cigarro reparador. Sento-me numa das duas cadeiras em metal velho e rabisco estas linhas num caderno tosco, para mais tarde transcrever para um blogue, que já nem eu leio. No quarto, A. brinca com um gancho de papel que diz "Ne pas deranger, svp!" de um lado e do outro "Nettoyez ma chambre, svp!". Torce e retorce o gancho, como o afinco de quem está a fazer uma coisa muito séria. O gancho não cede, é de papel plastificado. Mas A. não desiste.
Pelas 19h30 temos encontro combinado com R. e a mulher no restaurante do parque de campismo de Morges, ao lado de Lausana. Estamos cansados mas sem muito fome, pedimos ambos uma salada. Os velhotes pedem um gratinado de queijo e vinho tinto. Pesado. Têm apetite e estômago. Estimo a idade do R. nos 70 e tal, pergunto-lhe se tem filhos. Ri-se com uma gargalhada franca. Nasceu no início dos anos 1930, casou em 1952, tem três filhos, seis netos e não sei quantos bisnetos... Engulo em seco, enquanto ele devora o gratinado como se fosse uma nesga de pão.
Atravessou um dos piores séculos no melhor país do mundo, não sofreu guerras nem crises, foi ferroviário, viajou, trabalhou, amou, viveu, está há mais tempo na reforma que alguns de nós na vida. Eu olho-o com respeito e já alguma admiração. Como resolveu retribuir o bem que a vida lhe deu? No fim dos anos 1970 resolveu ajudar as crianças de um dos países mais pobres da Europa da então. Hoje, uma inteira geração deve-lhe o ter tido uma quase infância e adolescência normais, não ter passado frio ou fome, estar simplesmente viva.
Como comparar este grande homem, que apesar de tudo o que fez não ficará na História da Roménia, com o medíocre e cruel Ceaucescu. Dou-me conta que um ferroviário da classe média suiça com o pouco que fez, fez mais por muitas crianças romenas do que o líder máximo que prometeu ser o guia do seu povo, mas que só o agrilhoou e arruinou ainda mais, de Bucareste a Piatr Niamt, de Sibiu a Constança, para ele e a mulher poderem viver numa opulência nojenta, e enquanto as crianças do seu povo morriam à fome, ele e a sua puta cagavam em retretes banhadas a ouro.
O restaurante do parque de campismo é de um português de Bragança e a empregada fica surpreendida com o falarmos português. Há mais portugueses na Suíça do que no Luxemburgo, mas não estão tão concentrados, o que me faz concluir que não se fale abertamente a língua de Camões como no Grão-Ducado.
Anoiteceu depressa, nem demos pelo pôr-do-sol. Depois do jantar, os velhotes voltam para casa, moram em Tolochenaz, a poucos quilómetros dali. Nós regressamos ao hotel, mas não resistimos a fazer uma caminhada nocturna pelas margens do lago Léman. A. ainda está bem desperto e o passeio também lhe vai fazer bem a ele.
As lâmpadas dos barcos ao longe criam caminhos de luz na superfície do lago, a lua deixa-se ondular nas águas, o massiço majestuoso na outra margem recorta-se na escuridão. Uma tranquilidade apaziguadora. Já sentimos saudades deste lugar que acabámos de descobrir...
Chegamos ao hotel pour volta das 18h. O caminho foi rápido e sem stress. Mas com muito calor. Junho numa auto-estrada rumo ao sul, mercúrio perto dos 40, M. estica os pés descalços no tablier. A. dorme, brinca com os dois brinquedos que lhe comprámos para a viagem, zanga-se, atira-os fora, chora, fica rabugento, pede água, pede pão, bolachas, queixa-se do sol, paro o carro, instalo um protector com duas ventosas na janela para tapar o sol, quilómetros mais à frente ele continua a queixar-se, volto a parar, mas desta vez opto por prender uma toalha na janela do carro, como a minha mãe fazia nos anos 1970, por vezes os truques mais antigos são os melhores.
Luxemburgo, Metz, Estrasburgo, Basileia, Lausana. Para nós Basileia, Basel, Bâle significa fronteira, e uma teia emaranhada de auto-estradas, tunéis, nós rodoviários, vias de entrada e de saída, placas de direcção com todos os nomes das poucas cidades suíças que conhecemos, Berna, Genebra, Zurique, Montreux, Luzerna,..
Espalhamos as coisas pelo quarto, tomamos um duche frio, o corpo acorda da dormência das sete horas da posição sentada, entreabro a janela de sacada, espojamo-nos na cama de lençóis frescos.
Vou até à pequena varanda, onde M. fuma um cigarro reparador. Sento-me numa das duas cadeiras em metal velho e rabisco estas linhas num caderno tosco, para mais tarde transcrever para um blogue, que já nem eu leio. No quarto, A. brinca com um gancho de papel que diz "Ne pas deranger, svp!" de um lado e do outro "Nettoyez ma chambre, svp!". Torce e retorce o gancho, como o afinco de quem está a fazer uma coisa muito séria. O gancho não cede, é de papel plastificado. Mas A. não desiste.
Pelas 19h30 temos encontro combinado com R. e a mulher no restaurante do parque de campismo de Morges, ao lado de Lausana. Estamos cansados mas sem muito fome, pedimos ambos uma salada. Os velhotes pedem um gratinado de queijo e vinho tinto. Pesado. Têm apetite e estômago. Estimo a idade do R. nos 70 e tal, pergunto-lhe se tem filhos. Ri-se com uma gargalhada franca. Nasceu no início dos anos 1930, casou em 1952, tem três filhos, seis netos e não sei quantos bisnetos... Engulo em seco, enquanto ele devora o gratinado como se fosse uma nesga de pão.
Atravessou um dos piores séculos no melhor país do mundo, não sofreu guerras nem crises, foi ferroviário, viajou, trabalhou, amou, viveu, está há mais tempo na reforma que alguns de nós na vida. Eu olho-o com respeito e já alguma admiração. Como resolveu retribuir o bem que a vida lhe deu? No fim dos anos 1970 resolveu ajudar as crianças de um dos países mais pobres da Europa da então. Hoje, uma inteira geração deve-lhe o ter tido uma quase infância e adolescência normais, não ter passado frio ou fome, estar simplesmente viva.
Como comparar este grande homem, que apesar de tudo o que fez não ficará na História da Roménia, com o medíocre e cruel Ceaucescu. Dou-me conta que um ferroviário da classe média suiça com o pouco que fez, fez mais por muitas crianças romenas do que o líder máximo que prometeu ser o guia do seu povo, mas que só o agrilhoou e arruinou ainda mais, de Bucareste a Piatr Niamt, de Sibiu a Constança, para ele e a mulher poderem viver numa opulência nojenta, e enquanto as crianças do seu povo morriam à fome, ele e a sua puta cagavam em retretes banhadas a ouro.
O restaurante do parque de campismo é de um português de Bragança e a empregada fica surpreendida com o falarmos português. Há mais portugueses na Suíça do que no Luxemburgo, mas não estão tão concentrados, o que me faz concluir que não se fale abertamente a língua de Camões como no Grão-Ducado.
Anoiteceu depressa, nem demos pelo pôr-do-sol. Depois do jantar, os velhotes voltam para casa, moram em Tolochenaz, a poucos quilómetros dali. Nós regressamos ao hotel, mas não resistimos a fazer uma caminhada nocturna pelas margens do lago Léman. A. ainda está bem desperto e o passeio também lhe vai fazer bem a ele.
As lâmpadas dos barcos ao longe criam caminhos de luz na superfície do lago, a lua deixa-se ondular nas águas, o massiço majestuoso na outra margem recorta-se na escuridão. Uma tranquilidade apaziguadora. Já sentimos saudades deste lugar que acabámos de descobrir...
Rótulo :
caderno de itinerários,
roteiro de vida,
Suíça,
viagens
quarta-feira, 10 de junho de 2015
La communauté portugaise au Luxembourg - une présence depuis 50 ans
En quelle année l’immigration portugaise a commencé, comment établir une date? Doit-on prendre en compte la date du premier pélerinage des portugais au sanctuaire de Notre-Dame de Fatima à Wiltz, qui a débuté en 1968? Ou la création de la première association portugaise, les Amitiés Portugal-Luxembourg (APL), en 1969? Ou encore la date des accords de 1971 entre les gouvernements du Luxembourg et du Portugal pour la venue de main-d’oeuvre portugaise? Est-ce qu’il y a eu d’autres évenements avant ceux-lá qui pourraient fixer le début de l’immigration portugaise?
Dans la brochure “Les Portugais au Luxembourg”, l’ASTI publiait en 1992 l’acte de naissance d’une jeune fille portugaise née en 1928 au Grand-Duché, enfant d’un travailleur de l’Arbed. Au CONTACTO nous avons interviewé en 2010 Mme Maria Augusta Esteves, qui habite la région de la Moselle depuis 1955, et qui est venue au pays après s’être mariée avec un Luxembourgeois.
Les tous premiers Portugais sont arrivés au Luxembourg au début des années 1960. Selon la même brochure de l’ASTI, il y avait 26 portugais en 1960 au Luxembourg, mais ce chiffre ne reflète que ceux qui étaient ici officiellement, pas les clandestins. Leur nombre était sûrement beaucoup plus grand. Ces premiers temps, les portugais venaient surtout comme travailleurs saisonniers dans les vignobles de la Moselle. Mais nous savons, par exemple, que certains ont également aidés à la construction du port de Mertert, entre 1963 et 1965.
Est-ce qu’une demi-centaine de personnes dispersées constituent déjà une communauté? Dans son livre “Culture portugaise au Luxembourg” (1973), José Mendes-Costa, le premier consul portugais au Luxembourg, fait l’état des lieux du moment où il est arrivé au Grand-Duché, en 1965. Il écrit qu’avant 1965 il y avait déjà 758 portugais au Luxembourg et qu’en cette seule année de 1965 sont arrivés encore 740. Il parle également d’arrivés massives entre 1968 et 1969, entre 1.000 et 3.000 personnes. Entre 1965 et 1969 seraient donc arrivés au Luxembourg plus de 5.500 portugais, selon les registres de l’époque du Consulat du Portugal, comme Mendes-Costa mentionne dans son livre.
L’actuel Consulat portugais ne dispose malheureusement plus de ces archives. Toutefois, nous avons pu parler avec la première secrétaire du Consulat du Portugal au Luxembourg, Maria José Donven, qui confirme ces chiffres. “Quand j’ai quitté le Consulat en 1970, il y avait déjà près de 11.000 inscrits”, se rappelle Mme Donven - née Maria José Rodrigues de Abreu -, qui est arrivé au Luxembourg en 1963 et a aujourd’hui 71 ans.
Maria José a été recruté comme première secrétaire du Consulat du Portugal, car elle avait déjà était entre 1963 et 1965, l’assistante du consul-honoraire du Portugal à Luxembourg, M. Jean Turk [1919-2013], nommé à ce titre le 17 août 1959.
Le livre du consul Mendes-Costa nous révéle qu’à peu-près la moité - 5.400 portugais - seraient arrivés en cette année de 1970. Cependant, ce chiffre ne reflète pas la réalité, car tant qu’un citoyen portugais n’avait pas besoin d’aller au Consulat, il ne faisait, par consequent, pas partie du registre. Lá encore, le nombre a du être beaucoup plus conséquent. Ce qui est curieux ce sont les chiffres du Statec, qui font état de 1.913 portugais en 1970!
Revenons à 1965. C’est en cette année que nous trouvons la trace du premier évenement organisé par des Portugais. Le dimanche 13 juin 1965 a eu lieu la première Fête du Portugal au Luxembourg. Traditionnellement, le jour de la fête nationale portugaise est célébrée le 10 juin, jour de la mort du poète national, Luiz Vaz de Camões (~1524-10/06/1580).
Cette première fête fut célébrée lors d‘une messe à la cathédrale Notre-Dame de Luxembourg. La date va d’ailleurs être célébrée para la Mission Catholique Portugaise dimanche prochain, 14 juin 2015, à 17 heures, à l’eglise Sacré-Coeur, à Luxembourg-ville.
La messe à la Cathédrale a été suivi d’un déjeuner à la salle de fêtes Carrefour, qui à l’époque se trouvait au boulevard Royal. Nous retrouvons dans le Luxemburger Wort du 19 juin 1965 un article qui en parle. Sous le titre „Erste ‘Journée Portugaise’ in Luxemburg“, l’article explique que la fête a été organisé par M. Marcel Barnich, responsable du Service Social de la Main d’Oeuvre Etrangère (future Service Social de l’Immigration). Ce que le Luxemburger Wort ne dit pas, mais nous pouvons l’affirmer, c’est que M. Barnich a été aidé par M. Carlos de Pina, fondateur du journal CONTACTO.
Mme Heroína de Pina, veuve de M. Carlos de Pina, se souvient: “Mon mari est arrivé en mai 1964 au Luxembourg. Il connaissait déjà le pays car au Portugal il collaborait avec l’Action Catholique et il était déjà venu avec le père Plácido Guerné visiter le Grand-Duché. Il a travaillé comme éléctricien chez Soclair et après au grands magasins Sternberg Frères. Pendant son temps libre, il organisait des activités pour les Portugais. Il a été un des fondateurs des Amitiés Portugal-Luxembourg (1969) et du journal CONTACTO (1970). Et en 1965, c’est lui qui a eu l’idée d’organiser cette première Fête du Portugal. Il a demandé l’aide de M. Barnich, qui a tout de suite dit oui!”
Mme de Pina, qui a aujourd’hui 79 ans et vit à Mersch, nous montre une des photo de ses archives familiales.
“La seule photo qui existe devant la cathédrale avec les Portugais qui ont participé à cette messe a été faite par mon mari. C’est lui qui a envoyé une invitation pour la fête du 10 juin à l’ambassade du Portugal à Bruxelles et c’est Mendes-Costa, qui était à l’époque encore vice-consul à Anvers, qui est venu!”, nous explique M. de Pina, en nous montrant une copie de l’invitation et la réponse de Mendes-Costa. José Mendes-Costa sera nommé consul du Portugal à Luxembourg en 1966 et inaugurera le premier Consulat portugais au Grand-Duché en mars de la même année.
Dans l’article du Wort du 19 juin, nous lisons: “Pendant la fête furent montrés de films en couleur du Portugal, qui ont reveillés dans les coeurs des portugais des souvenirs de leur patrie. Il y a eu de la musique, des chanteurs et des danseurs portugais, luxembourgeois et cap-verdiens”. Ces derniers, à l’époque, avaient encore la nationalité portugaise, le Cap-Vert n’étant devenu indépendant qu’en 1975. Sur une des deux photos de l’article du Wort, la légende, qui serait aujourd’hui considérée politiquement incorrecte, dit qu’il y avait des “chanteurs à la peau sombre des îles du Cap Vert”.
Selon le Wort, les organisateurs espéraient une centaine de personnes et ont été surpris de voir arriver cinq fois plus de monde! L’article dit qu’à ce moment vivaient au Luxembourg peut-être 1.000 portugais, sans pour autant citer de source. Rappelons que dans son livre, Mendes-Costa dénombre en 1965 quelques 1.500 portugais au Grand-Duché.
L’article du Wort parle aussi de deux jeunes luxembourgeoises, la danseuse Melle Marie-Claire Winandy (élève de Mme Stenia Zapalowska, danseuse polonaise qui vivait à Luxembourg) et la chanteuse Melle Maggy Groff, qui ont reçu des “aplaudissements bruyants du public portugais”. Le journaliste du Wort nous livre également les propos de M. Barnich en s’adressant à ses convives: Il a remercié les Portugais d‘être venus si nombreux à la fête et au Luxembourg. Il a parlé du vrai besoin que le Luxembourg a en main d’oeuvre étrangère, et il a terminé en souhaitant la construction d’une Europe plus unie. La fête s’est terminé avec l’hymne national portugais”, conclut l’article.
Pouvons-nous assumer cette date comme le début de l’immigration portugaise au Luxembourg? Nous aimerions l’affirmer. En tout cas, une chose est sûre, les Portugais sont bel et bien lá depuis un demi-siècle et ont contribué d’une manière significative au développement du Grand-Duché.
José Luís CORREIA, chef d’édition au journal CONTACTO
in Luxemburger Wort (pages 16-17), 10/06/2015
(version complète du texte qui est paru aujourd'hui dans le Wort)
Dans la brochure “Les Portugais au Luxembourg”, l’ASTI publiait en 1992 l’acte de naissance d’une jeune fille portugaise née en 1928 au Grand-Duché, enfant d’un travailleur de l’Arbed. Au CONTACTO nous avons interviewé en 2010 Mme Maria Augusta Esteves, qui habite la région de la Moselle depuis 1955, et qui est venue au pays après s’être mariée avec un Luxembourgeois.
Les tous premiers Portugais sont arrivés au Luxembourg au début des années 1960. Selon la même brochure de l’ASTI, il y avait 26 portugais en 1960 au Luxembourg, mais ce chiffre ne reflète que ceux qui étaient ici officiellement, pas les clandestins. Leur nombre était sûrement beaucoup plus grand. Ces premiers temps, les portugais venaient surtout comme travailleurs saisonniers dans les vignobles de la Moselle. Mais nous savons, par exemple, que certains ont également aidés à la construction du port de Mertert, entre 1963 et 1965.
Est-ce qu’une demi-centaine de personnes dispersées constituent déjà une communauté? Dans son livre “Culture portugaise au Luxembourg” (1973), José Mendes-Costa, le premier consul portugais au Luxembourg, fait l’état des lieux du moment où il est arrivé au Grand-Duché, en 1965. Il écrit qu’avant 1965 il y avait déjà 758 portugais au Luxembourg et qu’en cette seule année de 1965 sont arrivés encore 740. Il parle également d’arrivés massives entre 1968 et 1969, entre 1.000 et 3.000 personnes. Entre 1965 et 1969 seraient donc arrivés au Luxembourg plus de 5.500 portugais, selon les registres de l’époque du Consulat du Portugal, comme Mendes-Costa mentionne dans son livre.
L’actuel Consulat portugais ne dispose malheureusement plus de ces archives. Toutefois, nous avons pu parler avec la première secrétaire du Consulat du Portugal au Luxembourg, Maria José Donven, qui confirme ces chiffres. “Quand j’ai quitté le Consulat en 1970, il y avait déjà près de 11.000 inscrits”, se rappelle Mme Donven - née Maria José Rodrigues de Abreu -, qui est arrivé au Luxembourg en 1963 et a aujourd’hui 71 ans.
Maria José a été recruté comme première secrétaire du Consulat du Portugal, car elle avait déjà était entre 1963 et 1965, l’assistante du consul-honoraire du Portugal à Luxembourg, M. Jean Turk [1919-2013], nommé à ce titre le 17 août 1959.
Le livre du consul Mendes-Costa nous révéle qu’à peu-près la moité - 5.400 portugais - seraient arrivés en cette année de 1970. Cependant, ce chiffre ne reflète pas la réalité, car tant qu’un citoyen portugais n’avait pas besoin d’aller au Consulat, il ne faisait, par consequent, pas partie du registre. Lá encore, le nombre a du être beaucoup plus conséquent. Ce qui est curieux ce sont les chiffres du Statec, qui font état de 1.913 portugais en 1970!
Revenons à 1965. C’est en cette année que nous trouvons la trace du premier évenement organisé par des Portugais. Le dimanche 13 juin 1965 a eu lieu la première Fête du Portugal au Luxembourg. Traditionnellement, le jour de la fête nationale portugaise est célébrée le 10 juin, jour de la mort du poète national, Luiz Vaz de Camões (~1524-10/06/1580).
Cette première fête fut célébrée lors d‘une messe à la cathédrale Notre-Dame de Luxembourg. La date va d’ailleurs être célébrée para la Mission Catholique Portugaise dimanche prochain, 14 juin 2015, à 17 heures, à l’eglise Sacré-Coeur, à Luxembourg-ville.
La messe à la Cathédrale a été suivi d’un déjeuner à la salle de fêtes Carrefour, qui à l’époque se trouvait au boulevard Royal. Nous retrouvons dans le Luxemburger Wort du 19 juin 1965 un article qui en parle. Sous le titre „Erste ‘Journée Portugaise’ in Luxemburg“, l’article explique que la fête a été organisé par M. Marcel Barnich, responsable du Service Social de la Main d’Oeuvre Etrangère (future Service Social de l’Immigration). Ce que le Luxemburger Wort ne dit pas, mais nous pouvons l’affirmer, c’est que M. Barnich a été aidé par M. Carlos de Pina, fondateur du journal CONTACTO.
Mme Heroína de Pina, veuve de M. Carlos de Pina, se souvient: “Mon mari est arrivé en mai 1964 au Luxembourg. Il connaissait déjà le pays car au Portugal il collaborait avec l’Action Catholique et il était déjà venu avec le père Plácido Guerné visiter le Grand-Duché. Il a travaillé comme éléctricien chez Soclair et après au grands magasins Sternberg Frères. Pendant son temps libre, il organisait des activités pour les Portugais. Il a été un des fondateurs des Amitiés Portugal-Luxembourg (1969) et du journal CONTACTO (1970). Et en 1965, c’est lui qui a eu l’idée d’organiser cette première Fête du Portugal. Il a demandé l’aide de M. Barnich, qui a tout de suite dit oui!”
Mme de Pina, qui a aujourd’hui 79 ans et vit à Mersch, nous montre une des photo de ses archives familiales.
“La seule photo qui existe devant la cathédrale avec les Portugais qui ont participé à cette messe a été faite par mon mari. C’est lui qui a envoyé une invitation pour la fête du 10 juin à l’ambassade du Portugal à Bruxelles et c’est Mendes-Costa, qui était à l’époque encore vice-consul à Anvers, qui est venu!”, nous explique M. de Pina, en nous montrant une copie de l’invitation et la réponse de Mendes-Costa. José Mendes-Costa sera nommé consul du Portugal à Luxembourg en 1966 et inaugurera le premier Consulat portugais au Grand-Duché en mars de la même année.
Dans l’article du Wort du 19 juin, nous lisons: “Pendant la fête furent montrés de films en couleur du Portugal, qui ont reveillés dans les coeurs des portugais des souvenirs de leur patrie. Il y a eu de la musique, des chanteurs et des danseurs portugais, luxembourgeois et cap-verdiens”. Ces derniers, à l’époque, avaient encore la nationalité portugaise, le Cap-Vert n’étant devenu indépendant qu’en 1975. Sur une des deux photos de l’article du Wort, la légende, qui serait aujourd’hui considérée politiquement incorrecte, dit qu’il y avait des “chanteurs à la peau sombre des îles du Cap Vert”.
Selon le Wort, les organisateurs espéraient une centaine de personnes et ont été surpris de voir arriver cinq fois plus de monde! L’article dit qu’à ce moment vivaient au Luxembourg peut-être 1.000 portugais, sans pour autant citer de source. Rappelons que dans son livre, Mendes-Costa dénombre en 1965 quelques 1.500 portugais au Grand-Duché.
L’article du Wort parle aussi de deux jeunes luxembourgeoises, la danseuse Melle Marie-Claire Winandy (élève de Mme Stenia Zapalowska, danseuse polonaise qui vivait à Luxembourg) et la chanteuse Melle Maggy Groff, qui ont reçu des “aplaudissements bruyants du public portugais”. Le journaliste du Wort nous livre également les propos de M. Barnich en s’adressant à ses convives: Il a remercié les Portugais d‘être venus si nombreux à la fête et au Luxembourg. Il a parlé du vrai besoin que le Luxembourg a en main d’oeuvre étrangère, et il a terminé en souhaitant la construction d’une Europe plus unie. La fête s’est terminé avec l’hymne national portugais”, conclut l’article.
Pouvons-nous assumer cette date comme le début de l’immigration portugaise au Luxembourg? Nous aimerions l’affirmer. En tout cas, une chose est sûre, les Portugais sont bel et bien lá depuis un demi-siècle et ont contribué d’une manière significative au développement du Grand-Duché.
José Luís CORREIA, chef d’édition au journal CONTACTO
in Luxemburger Wort (pages 16-17), 10/06/2015
(version complète du texte qui est paru aujourd'hui dans le Wort)
Rótulo :
actu_lux,
emigração,
imigração Luxemburgo,
Luxembruger Wort
Mon "Commentaire" aujourd'hui dans le Luxemburger Wort: "Après 50 ans d'immigration portugaise, 'intégration' reste le mot-clef"
Les premiers Portugais sont arrivés il y a un peu près 50 ans au Luxembourg. Après cinq decénnies d'immigration, il y a beaucoup à fêter: une bonne cohabitation, une assez bonne intégration des deuxièmes et troisièmes générations, un modèle de société qui permet une cohésion et une paix social uniques en Europe.
Si leur parents ont surtout travaillé dans les secteurs du bâtiment et du nettoyage, les Portugais d'aujourd'hui sont présents dans tous les secteurs d'activités: de la restauration à la grande distribution, des affaires aux professions libérales, jusque dans les administrations locales et nationales.
En décembre 2013, le premier ministre d'origine portugaise est entré au Gouvernement: Félix Braz. Pour beaucoup, il reste Portugais, pour d'autres il est tout à fait Luxembourgeois. C'est peut-être ça l'intégration réussie: être accepté comme égal par le pays d'accueil aussi bien que par la communauté d'origine.
L'ascenseur sociale ne fonctionne malheurseuement pas pour tous. Si les enfants portugais naissent ou arrivent en bas âge au pays, ils sont plus à même de réussir à l'école et, par conséquent, plus tard dans le monde du travail. Une vie réussie rime avec reconnaissance. Ceux qui arrivent plus tard rencontrent plus souvent des difficultés avec l'apprentissage des langues à l'école. L'échec scolaire ou le fait de devoir choisir un métier autre que celui dont on révait peuvent vite devenir synonyme d'échec personnel. Ce qui peux entraîner un rejet de la société ou le sentiment de vivre en marge. Ce ressentiment ne profite ni à la société, ni au jeune. Malheureusement, en 50 ans, nous n'avons pas encore su résoudre ce problème.
Il y a beaucoup d'autres chantiers, comme celui-ci, à défricher. Un autre a peut-être été ouvert dimanche dernier, avec le référendum.
Le "non" massif sur le droit de vote des étrangers a peut-être ouvert une plaie, qu'il ne faut pas laisser béante. Les uns se sont exprimer comme nation qui veut préserver sa langue et son identité. Les autres se sont senti rejetés, alors qu'ils vivent ici depuis des années. Des sentiments légitimes des deux côtés.
Après 50 ans, "intégration" reste le mot-clef pour maintenir la cohésion sociale, qui se fragilise. Mais l'intégration doit être perçu comme un effort que les deux côtés doivent fournir. Ne vivons pas dos à dos. Ce qui nous unit est plus fort que ce qui nous sépare.
José Luís Correia, chef d'édition du journal CONTACTO
in Luxemburger Wort, 10/05/2015
(texte complet de celui publié aujourd'hui dans le Luxemburger Wort)
Rótulo :
actu_lux,
emigração,
imigração Luxemburgo,
Luxembruger Wort,
portugal
quarta-feira, 3 de junho de 2015
EDITORIAL in JORNAL CONTACTO: "Caros Luxemburgueses/Dear Luxemburgers"
Caros Luxemburgueses, o debate em torno do direito de voto dos estrangeiros nas legislativas, a referendar no domingo, tem incendiado a opinião pública nos últimos meses, como há muito não acontecia.
Monopolizou as atenções e quase fez esquecer que o referendo incluirá mais duas questões, uma sobre o limite dos mandatos no governo e a outra sobre o direito de voto a partir dos 16 anos.
A política desceu à rua. Ainda bem, devo dizer, as pessoas interessam-se habitualmente tão pouco pela política. Pena é que seja por uma questão que é vista como um direito óbvio para uns, mas que é vivida por outros como um ultraje máximo, o que justifica a luta aguerrida para defender o que consideram ser o último baluarte da soberania nacional: as eleições para a Câmara dos Deputados.
A legalização do aborto, da eutanásia ou do casamento homossexual geraram menos polémica. A última vez que vi os ânimos se exaltarem tanto foi durante a votação da dupla nacionalidade no Parlamento, em Outubro de 2008. Parecia que se estava a debater o fim da monarquia luxemburguesa.
Hoje, sete anos depois, acontece o mesmo, só que as vozes subiram de tom, as discussões criaram divisoes dentro de grupos com a mesma sensibilidade política, entre vizinhos e amigos, e têm até minado alguns almoços de família. O debate estendeu-se também às redes sociais, onde os cobardes se escondem atrás de falsos perfis para insultar impunemente quem não pensa da mesma forma.
O Luxemburger Wort (LW), que edita também o CONTACTO, tomou uma decisão corajosa no dia 22 de Maio, e fê-la saber publicamente: apesar de as sondagens indicarem que a maioria dos luxemburgueses (que são os seus leitores e assinantes de sempre) votaria contra o direito de voto dos estrangeiros, o jornal assumiu a defesa da participação dos não-luxemburgueses nas legislativas. Vindo do maior diário do país, tão antigo como a própria nação e que é visto como uma instituição pelos luxemburgueses, é uma mensagem muito forte.
Posso revelar-vos que aqui nas redacções do grupo – LW, CONTACTO, Télécran, Wortex e wort.lu – organizámos um “referendo interno” para saber quem era favor do voto dos estrangeiros. Ganhou o “sim“, o que confirmou a posição assumida pela chefia de redacção do grupo. Foi interessante saber como pensam as pessoas que trabalham connosco.
Na Redacção do CONTACTO somos todos a favor do direito de voto dos estrangeiros. É nas outras duas questões que as opiniões se dividem. Para mim, os argumentos para o “sim” à participação política são simples:
- Vivo, trabalho e pago impostos no Luxemburgo, é aqui que devo ter o direito de eleger o Parlamento que vota as leis que interferem directamente na minha vida. Contribuo laboral, financeira, económica e culturalmente para este país, não interessa a minha nacionalidade, não devo ter só deveres, mas também direitos, e participar na política nacional deve ser um deles. – Se um cidadão americano ou australiano, que nunca pôs os pés no Grão-Ducado, com um antepassado luxemburguês nascido depois de 1901, pode pedir a nacionalidade luxemburguesa e ter o direito de votar, de sobremaneira um estrangeiro que resida no Luxemburgo há anos e que já muito fez em prol do país deve usufruir do mesmo direito.
- Ao contrário do que muitos defendores do “não” alegam, o que está em causa não é o direito de ser eleito, mas o de eleger. Ouvi muitos defensores do “não” dizer que temem que os portugueses se organizem para eleger um partido português para o Governo. Que absurdo! As eleições comunais mostraram que os portugueses (em geral) votam da mesma forma que os luxemburgueses, em maioria no CSV. Quanto a ministros “estrangeiros” já os há no actual Governo e já os havia até no anterior, ou por acaso Gira, Gramegna, Braz e Di Bartolomeo são nomes “de gema” luxemburgueses? E então, qual o problema? Tudo isto é perfeitamente normal num país fortemente marcado há século e meio pela imigração.
- Aos que preconizam que para se poder votar é preciso ser luxemburguês e/ou dominar o luxemburguês, que é a língua da política, eu respondo: muitos já se naturalizaram e continuam a não dominar a língua. Depois, a língua da política é também, muitas vezes, o francês. A Constituição do Luxemburgo está em francês (boa sorte aos constitucionalistas que pretendam redigir a Constituição em luxemburguês) e na Câmara dos Deputados a maioria das questões parlamentares é redigida em francês.
- Atribuir o direito de voto a um estrangeiro que resida há vários anos no país é um passo para uma maior integração, porque é um sinal de aceitação e de mútuo reconhecimento. Para mim esta palavra – reconhecimento – é determinante para a coabitação, a coesão e a paz sociais, porque surge em oposição a “ressentimento”, que provoca o recuo identitário e fissuras na sociedade, com as consequências que todos conhecemos.
- Dar o direito de voto aos estrangeiros não mudará na sua essência, nem o Luxemburgo, nem a política do país, mas restabelecerá um pouco de equidade social e equilibrará o défice democrático de que o Grão-Ducado padece.
- Não é por se dar a possibilidade aos não-luxemburgueses de votar que o país mudará na sua cultura ou identitadade: o Luxemburgo já está em mutação há décadas, “graças”, e não “por causa” da imigração. E isto não deve ser visto como um problema, antes como uma mais-valia. A diversidade enriquece, saibamos aproveitar a oportunidade que a História nos dá. Hoje, o Luxemburgo somos todos nós, e isso também se deve reflectir no sufrágio para o Parlamento.
José Luís Correia
in CONTACTO, 03/'06/2015
Monopolizou as atenções e quase fez esquecer que o referendo incluirá mais duas questões, uma sobre o limite dos mandatos no governo e a outra sobre o direito de voto a partir dos 16 anos.
A política desceu à rua. Ainda bem, devo dizer, as pessoas interessam-se habitualmente tão pouco pela política. Pena é que seja por uma questão que é vista como um direito óbvio para uns, mas que é vivida por outros como um ultraje máximo, o que justifica a luta aguerrida para defender o que consideram ser o último baluarte da soberania nacional: as eleições para a Câmara dos Deputados.
A legalização do aborto, da eutanásia ou do casamento homossexual geraram menos polémica. A última vez que vi os ânimos se exaltarem tanto foi durante a votação da dupla nacionalidade no Parlamento, em Outubro de 2008. Parecia que se estava a debater o fim da monarquia luxemburguesa.
Hoje, sete anos depois, acontece o mesmo, só que as vozes subiram de tom, as discussões criaram divisoes dentro de grupos com a mesma sensibilidade política, entre vizinhos e amigos, e têm até minado alguns almoços de família. O debate estendeu-se também às redes sociais, onde os cobardes se escondem atrás de falsos perfis para insultar impunemente quem não pensa da mesma forma.
O Luxemburger Wort (LW), que edita também o CONTACTO, tomou uma decisão corajosa no dia 22 de Maio, e fê-la saber publicamente: apesar de as sondagens indicarem que a maioria dos luxemburgueses (que são os seus leitores e assinantes de sempre) votaria contra o direito de voto dos estrangeiros, o jornal assumiu a defesa da participação dos não-luxemburgueses nas legislativas. Vindo do maior diário do país, tão antigo como a própria nação e que é visto como uma instituição pelos luxemburgueses, é uma mensagem muito forte.
Posso revelar-vos que aqui nas redacções do grupo – LW, CONTACTO, Télécran, Wortex e wort.lu – organizámos um “referendo interno” para saber quem era favor do voto dos estrangeiros. Ganhou o “sim“, o que confirmou a posição assumida pela chefia de redacção do grupo. Foi interessante saber como pensam as pessoas que trabalham connosco.
Na Redacção do CONTACTO somos todos a favor do direito de voto dos estrangeiros. É nas outras duas questões que as opiniões se dividem. Para mim, os argumentos para o “sim” à participação política são simples:
- Vivo, trabalho e pago impostos no Luxemburgo, é aqui que devo ter o direito de eleger o Parlamento que vota as leis que interferem directamente na minha vida. Contribuo laboral, financeira, económica e culturalmente para este país, não interessa a minha nacionalidade, não devo ter só deveres, mas também direitos, e participar na política nacional deve ser um deles. – Se um cidadão americano ou australiano, que nunca pôs os pés no Grão-Ducado, com um antepassado luxemburguês nascido depois de 1901, pode pedir a nacionalidade luxemburguesa e ter o direito de votar, de sobremaneira um estrangeiro que resida no Luxemburgo há anos e que já muito fez em prol do país deve usufruir do mesmo direito.
- Ao contrário do que muitos defendores do “não” alegam, o que está em causa não é o direito de ser eleito, mas o de eleger. Ouvi muitos defensores do “não” dizer que temem que os portugueses se organizem para eleger um partido português para o Governo. Que absurdo! As eleições comunais mostraram que os portugueses (em geral) votam da mesma forma que os luxemburgueses, em maioria no CSV. Quanto a ministros “estrangeiros” já os há no actual Governo e já os havia até no anterior, ou por acaso Gira, Gramegna, Braz e Di Bartolomeo são nomes “de gema” luxemburgueses? E então, qual o problema? Tudo isto é perfeitamente normal num país fortemente marcado há século e meio pela imigração.
- Aos que preconizam que para se poder votar é preciso ser luxemburguês e/ou dominar o luxemburguês, que é a língua da política, eu respondo: muitos já se naturalizaram e continuam a não dominar a língua. Depois, a língua da política é também, muitas vezes, o francês. A Constituição do Luxemburgo está em francês (boa sorte aos constitucionalistas que pretendam redigir a Constituição em luxemburguês) e na Câmara dos Deputados a maioria das questões parlamentares é redigida em francês.
- Atribuir o direito de voto a um estrangeiro que resida há vários anos no país é um passo para uma maior integração, porque é um sinal de aceitação e de mútuo reconhecimento. Para mim esta palavra – reconhecimento – é determinante para a coabitação, a coesão e a paz sociais, porque surge em oposição a “ressentimento”, que provoca o recuo identitário e fissuras na sociedade, com as consequências que todos conhecemos.
- Dar o direito de voto aos estrangeiros não mudará na sua essência, nem o Luxemburgo, nem a política do país, mas restabelecerá um pouco de equidade social e equilibrará o défice democrático de que o Grão-Ducado padece.
- Não é por se dar a possibilidade aos não-luxemburgueses de votar que o país mudará na sua cultura ou identitadade: o Luxemburgo já está em mutação há décadas, “graças”, e não “por causa” da imigração. E isto não deve ser visto como um problema, antes como uma mais-valia. A diversidade enriquece, saibamos aproveitar a oportunidade que a História nos dá. Hoje, o Luxemburgo somos todos nós, e isso também se deve reflectir no sufrágio para o Parlamento.
José Luís Correia
in CONTACTO, 03/'06/2015
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