Para a G., que eu conheci hoje e que me fez passar um bonito serão na sua doce companhia!
segunda-feira, 30 de julho de 2007
domingo, 29 de julho de 2007
Dos Anjos
de anjos em fúria
agarrados
aos meus braços
hão-de salvar-me
de mim!
(do poema "à prova de bala", publicado neste blog, 27.07.07)
sábado, 28 de julho de 2007
poema de Al Berto
dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice
conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
Al Berto
(com devida vénia ao excelente site de poesia "As Tormentas")
sexta-feira, 27 de julho de 2007
à prova de bala
a dor desaparece
o barulho extingue-se
o mundo cala-se
esqueço o corpo imundo
não vejo o cratera negro nauseabundo que a bala deixou no meu peito
o buraco putrido na nuca por onde me arrancaram o coração
as imagens sórdidas já não me atormentam o cérebro em decomposição
os vis instantes não me rastejam pelas pálpebras como insectos nojentos
o veneno asqueroso já não me estanca o sangue malignamente
estendo-me sobre o lençol na mesa da cozinha
a sangue frio, arrepio a pele, puxo pelas veias,
extraio a peçonha toda que resta nas feridas ainda abertas
pinga asquerosamente sangue aleivoso e pus pérfido no alguidar
sacudo o invúlcro maculado
exponho-o à luz do dia
puxo da agulha de prata
remendo os buracos vácuos
corpo purificado e pronto
para outra
e se eu fechar os olhos
a esta velocidade na autoestrada?
nem mil hordas de anjos em fúria
agarrados aos meus braços
hão-de salvar-me de mim!
Alexandre Weytjens - 270707
segunda-feira, 23 de julho de 2007
maldita ode da tristeza
Eres infinito dolor, asqueante concierto de blasfemias
A nadie le importan sus fétidos alaridos ¡Muérete!
Carga tu lápida, no las exhibas, es solo mala fotografía
¡Aléjate! Peste funesta, ráfaga criminal, emperadora del mal
¡Traidora! ¡Traidora! ¡Traidora!
Márchate de este mundo de ojos cristalinos
¡Aléjate! Vieja sórdida, engendro del cuarto infierno
No deseo ver tu desnudez, lastima tu féretro sobre la espalda
No corrompas con tu crueldad las altas murallas
¡No! No mutiles de quién nada te debe la ultima sonrisa"
("Maldita Ode da Tristeza" - Fanny Jem Wong)
Lili Song
Lili, take another walk out of your fake world
please put all the drugs out of your hand
you'll see that you can breath without not back up
some much stuff you got to understand
for every step in any walk
any town of any thaught
i'll be your guide
for every street of any scene
any place you've never been
i'll be your guide
lili,you know there's still a place for people like us
the same blood runs in every hand
you see its not the wings that makes the angel
just have to move the bats out of your head
for every step in any walk
any town of any thaught
i'll be your guide
for every street of any scene
any place you've never been
i'll be your guide
lili,easy as a kiss we'll find an answer
put all your fears back in the shade
don't become a ghost without no colour
cause you're the best paint life ever made
.
AaRON- U Turn(lili)
domingo, 22 de julho de 2007
hurt
But I won't admit
sometimes I just wanna hide
cause it's you I miss
and it's so hard to say goodbye
when it comes to this
would you tell me i was wrong
would you help me understand
are you lookin' down upon me
are you proud of who I am..."
("Hurt". C. Aguilera)
sábado, 21 de julho de 2007
black hole sun (cadafalso II)
quando o punhal foi tão fundo que tu já não sabes se é dor que desatina sem doer, ainda é golpe?
quando o sangue te escorre das mãos e ainda está quente, ainda é teu?
quando já não ouves o estrondo do tiro e vês o buraco negro no teu peito fumegante, é a altura certa para saberes que deves morrer?
quando a queimada devasta mais uma vez a terra e ela já não é combustível, o que mais há para arder?
quando perdes pé e sabes que o mar te vai encher as goelas e as narinas e as órbitas dos olhos, ainda estás vivo para pensar nisso tudo?
quando o deserto te queima os pulmões com pó, ainda tens sede?
quando passas a voar pelo 10° andar a caminho do solo, ainda sentes as tuas veias a pulsar arrepiadas?
quando te desintegras num só sopro de explosão, para onde vais?
quando o sol fica negro e já não é dia nem é noite, onde estás?
quando todos te dizem que és um monstro, deves continuar a viver?
...
Docilmente, ajoelhas-te perante os teus carrascos,
de olhos bem abertos vês a verdade nos seus,
deitas a cabeça no madeiro,
entregas a nuca nua à justiça,
a multidão em delírio cala-se ofegante,
o céu respira uma, duas vezes,
durante uns breves instantes tens a sensação que consegues ouvir o sol a arder.
De repente já não ouves, não sentes nada.
A mão do anjo veio intervir por ti e paralisou o derradeiro momento?
Já podes levantar os olhos?
Se o teu sangue não escorre à tua volta, é bom sinal?
Quando já não há multidâo, nem gume, nem céu,
e o sol ficou como bréu e já não é dia nem é noite, onde estás?
AGW170107
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Segunda parte do poema postado em 17/01/2007 (e eu que sempre detestei ser clarividente!)
quarta-feira, 18 de julho de 2007
A adopção volta a ser tema polémico no Parlamento. A discussão foi despoletada pela condenação do Estado luxemburguês no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, após o Luxemburgo ter recusado reconhecer a adopção de uma criança peruana por uma mãe luxemburguesa celibatária.
Aquestão da adopção foi uma das que mais apaixonou os debates na última sessão da Câmara dos Deputados, antes da pausa de Verão, a 12 de Julho.
O assunto volta a ser actualidade na sequência da condenação do Estado luxemburguês, num acórdão de 28 de Junho do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), que condena o Grão-Ducado por este ter recusado reconhecer a adopção de uma criança peruana com o argumento de que a mãe luxemburguesa não era casada (ver nossa edição de 4 de Julho, pág. 5).
Os debates ficaram ainda mais "empolados" quando os deputados ligaram a questão à da adopção de crianças por casais do mesmo sexo. O assunto surgiu na sequência de o primeiro-ministro, Jean-Claude Juncker (do partido cristão-social), ter declarado, durante o encontro com a imprensa, a 6 de Julho, que não se opunha ao casamento civil para casais homossexuais, embora devesse ainda reflectir quanto à adopção de crianças por parte destes (ver nossa edição de 11 de Julho, pág. 3).
Na sua intervenção no Parlamento, na quinta-feira à tarde, o deputado socialista (LSAP) Marc Angel quis conhecer a posição actual do Governo cristão-social/socialista sobre a questão.
Para Angel, "nem o estado civil nem a orientação sexual deveriam ser critérios em matéria de adopção". Recordou, no entanto, que "há países que reconhecem o casamento homossexual sem terem dado o passo de reconhecer a adopção de crianças por casais homossexuais".
Na sua resposta, o ministro da Justiça, Luc Frieden (CSV), presente aquando do debate parlamentar, começou por afirmar que não se pode dizer que a lei luxemburguesa não respeita os direitos humanos e os direitos da criança. "A lei luxemburguesa, contrariamente ao que foi anunciado na imprensa, não foi posta em causa com a condenação do TEDH", frisou. Frieden chegou mesmo a admitir que uma pessoa celibatária tem as mesmas capacidades para adoptar uma criança que um casal.
OPTAR PELA
"ADOPÇÃO ÚNICA"
Não obstante, a ministra reconhece que é preciso reflectir sobre eventuais alterações a introduzir na lei luxemburguesa. A ministra aventou a possibilidade de o Luxemburgo vir a optar por uma "adopção única", substituindo a actual legislação que prevê dois tipos de adopção (* ver caixilho em anexo).
Frieden , por seu lado, quis recolocar a discussão da adopção por parte de pessoas do mesmo sexo no seu contexto. O primeiro-ministro "pronunciou-se a favor da erradicação da discriminação contra os homossexuais, mas não disse que era a favor da adopção de crianças por casais do mesmo sexo", recordou.
O deputado Xavier Bettel, do Partido Democrático (DP), apresentou uma resolução onde pedia à Câmara dos Deputados que o reconhecimento do casamento civil homossexual fosse discutido no seio das comissões jurídica e da família. Bettel solicitou ainda que o Parlamento propusesse uma solução legal concreta para abrir a possibilidade do casamento civil aos casais homossexuais. Sem dissimular a sua impaciência, Bettel recordou que já aquando da votação da lei sobre o partenariado ("uniões de facto"), em 2004, o Parlamento luxemburguês adiara a discussão sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O deputado liberal disse não querer que o assunto fique novamente votado às "calendas gregas".
A moção de Bettel foi chumbada por 38 votos contra 22.
A ministra Jacobs deixou, no entanto, entender que a questão da adopção por casais homossexuais será discutida nas duas comissões por ocasião da discussão sobre uma eventual alteração da lei luxemburguesa em matéria de adopção.
Jacobs mostrou-se aberta a discutir a questão da adopção por pessoas solteiras e mesmo pelos casais homossexuais, embora antes de avançar para propostas concretas fosse necessário, disse, um consenso no seio do Governo. "As duas questões serão discutidas. Mas sem cedermos à pressão mediática. Vamos apenas pensar no interesse da criança!", fez questão de frisar.
Numa moção em que apela igualmente à luta constante contra a discriminação dos homossexuais, também o deputado luso-descendente dos Verdes ("Déi Gréng"), Félix Braz, considera que após as declarações de Juncker, "feitas num contexto oficial", o Governo deve assumir as suas responsabilidades e "clarificar, o mais rapidamente possível, a sua posição quanto ao casamento civil homossexual". Braz emitiu, também ele, o desejo de ver a questão discutida nas primeiras sessões da próxima rentrée parlamentar.
Segundo estipula a Constituição luxemburguesa, a rentrée parlamentar efectua-se na segunda terça-feira do mês de Outubro. Este ano, a data retida é dia 9 desse mês. Mais desenvolvimentos depois do Verão.
José Luís Correia (in Contacto, 18.07.07)
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Crítica de filme
Documentário "Plein d'Essence", de Geneviève Mersch
É para atestar, se faz favor!
Mais de 200 milhões de litros de combustível vendidos anualmente, 800 mil litros por dia, 24 bombas de abastecimento para camiões, 27 para automóveis, 74 lugares de estacionamento para pesados, 168 para ligeiros, 70 casas de banho e urinóis! Números que fazem da estação de serviço Shell em Berchem (auto-estrada A3), uma das maiores ou mesmo a maior do mundo. Números que impressionam, mas escondem outra(s) realidade(s). Uma estação de serviço por onde passam mais de cinco milhões de clientes por ano (estação Aral incluída), tem certamente uma dimensão humana, apesar do cheiro omnipresente e nauseabundo a carburante, do aspecto industrial, das bombas verticais, da horizontalidade dos veículos longos que a ela afluem 24 horas por dia, 364 dias por ano. E no meio... correm pessoas. Donde vêm, para onde vão, o que as trouxe aqui, a este canto de Luxemburgo, por um curto instante, tão pequeno quanto a rápida e breve incursão na auto-estrada que as leva de fronteira a fronteira?
"Vim comprar tabaco e gasolina, aqui é mais barato! Como se chama o país? Sei lá, só sei que aqui é mais barato!", lança um idoso num francês de pronúncia belga, com sacos de plástico cheios de embalagens de tabaco nas duas mãos.
Foram momentos destes que a realizadora luxemburguesa Geneviève Mersch quis captar no seu documentário "Plein d'essence". Deixou por isso os números astronómicos de lado, reduziu os mastodontes à escala humana e pôs-se a interpelar quem por ali transitava.
Em 26 dias (e noites) de filmagens ao longo de 15 meses falou com dezenas de fronteiriços, automobilistas, camionistas, caravaneiros, excursionistas, veraneantes de todas as nacionalidades, trabalhadores da Aral e da Shell, e viu todas as estações do ano passarem pela estação, chegando até a passar lá um Natal. Uma passagem que constitui um dos momentos mais comoventes do filme. Quem passa um Natal numa bomba de gasolina?
"Como reconhecer um camionista?" foi outra das questões existenciais para as quais a realizadora obteve resposta. Hoje é peremptória: "Os clichés existem, mas por vezes as aparências enganam. Há camionistas com tatuagens e cara de pouco amigos, mas depois são pessoas com quem tive conversas muito interessantes", conta. À realizadora, estes queixam-se das condições de trabalho. "Isto já não é o que era, com as deslocalizações ainda é pior!", resmungam. Não visitam países, vêem estrada e alcatrão, pouco mais. Falam das longas viagens, sempre a sós, longe das famílias, apenas com um gato ou um cão como companheiros. Os que nem isso têm, optam por pósteres de curvilíneas, siliconadas e mais-que-perfeitas manequins marotas em trajes menores para decorar as paredes da cabina do camião. Melhor que nada, sempre servem de companhia.
"É um filme de retratos", diz Mersch, "e não um documentário jornalístico, nem um filme de publicidade para as estações de serviço", faz questão de frisar. A partir de uma ideia que teve há dez anos, recuperada este ano no âmbito do Luxemburgo 2007 - Capital Europeia da Cultura, esta produção com o selo da Samsa Film estreia a 6 de Julho.
José Luís Correia (in Contacto, o4.07.07)