terça-feira, 25 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Tudo o que sempre quis saber sobre o 21 de Dezembro de 2012 e nunca ousou perguntar
Quem tem medo do fim do mundo?
Faltam dois dias para o fim do Mundo. Temem alguns. Riem-se outros. Muitas profecias e teorias escatológicas (sobre o fim) parecem anunciar que o fim do Mundo tem data marcada para 21 de Dezembro de 2012. Mas de onde aparece esta data? É a data em que termina um dos calendários da civilização maia que, pródigos em calendários e profecias, anunciam para esse dia uma grande mudança na Terra.
O último dia da contagem longa dos maias é conhecida há meio-século, mas só depois de um auto-proclamado especialista dos maias, Frank Waters, em 1975, e de um pensador new-age , José Argüelles, em 1987, terem interpretado de forma apocalíptica os hieróglifos desse calendário e da profecia a ele associada, é que a teoria se espalhou. E quanto mais nos aproximávamos de 2012, mais uma nova agenda se desenhava. Como se de repente o dia 21 de Dezembro de 2012 reunisse consenso entre os predicadores do apocalipse. Tudo resultou numa confusa sopa que mistura predições de seitas, do web-bot, do I-Ching, de Nostradamus, da Sibila de Cumas, da Bíblia, com teorias científicas mal-entendidas que evocam alinhamentos planetários que vão alterar o eixo da Terra, ou uma super-erupção solar que deflagrará sobre o planeta. Já para não falar em impactos de asteróides ou no desembarque de homenzinhos verdes.
Entre curiosidade e cepticismo, o CONTACTO quis dissecar e decorticar este fenómeno de fim dos tempos, para desmistificar as profecias e outras teorias pseudo-científicas que por aí assolam.
O fim do Mundo... outra vez?
Esperem lá aí! Não escapamos já várias vezes ao fim do Mundo?
O fim do Mundo estava previsto acontecer durante a Guerra Fria, mas o Inverno Nuclear que nos atormentou durante quase 50 anos não chegou a acontecer, felizmente. O Mundo não acabou com o buraco na camada de ozono nos anos 80, nem com as terríveis profecias de Nostradamus que apontavam 1999 como um ano de assombroso terror. Afinal o medico francês mostrava apenas que sabia calcular a data de um eclipse. Nem o apocalipse informático aconteceu com o bug do ano 2000, que ameaçava mergulhar o planeta no caos. As predições de fim do Mundo regressam em cada época. E este princípio de século e de milénio não fogem à regra.
O que diz a profecia maia?
A civilização maia, que prosperou desde o México ao Honduras, passando pelo Belize, Guatemala e El Salvador, entre aproximadamente 600 antes a.C. e o séc. IX d.C., tinha uma intensa actividade comercial, religiosa e cultural, além de conhecimentos profundos em metalurgia, agricultura, arquitectura, matemática e astronomia. O calendário maia anual é ainda hoje mais preciso que o nosso. De quatro em quatro anos, repomos um dia em Fevereiro, acerto que o calendário maia não necessitava.
Sobre o famoso calendário maia, que efectivamente termina a 21 de Dezembro de 2012, trata-se de hieróglifos de baixo relevo esculpidos na pedra, encontrado em 1950 no México (Tortuguero) e que marca o fim de um ciclo de 5.125 anos, período de uma " contagem longa", que era um dos muitos calendários que os maias possuíam e que iam desde calendários astrais, agrícolas, religiosos até às famosas pirâmides encontradas na América Central, que revelaram ser calendários em três dimensões.
Segundo a contagem longa maia, vivemos actualmente o 5° ciclo do Sol (ou 5° Sol) e a Humanidade foi já devastada quatro vezes: por jaguares (figura totémica dos olmecas, precursores dos maias), pelo fogo e pela água, entre outros cataclismos, segundo os especialistas dos maias. Mas estes não se entendem sobre a ordem das extinções. Uns advogam que o 5°Ciclo terminará pela água, devido a sismos, outros dizem que será pelos jaguares. Depende das traduções e das interpretações.
Segundo alguns dos tradutores, a profecia maia anunciaria que a 21 de Dezembro de 2012 o Sol vai ficar alinhado com o “mar negro do universo” (centro galáctico?), o que marca o fim do 5° ciclo. Mas esse alinhamento, no dia do Solstício de Inverno (a noite mais longa do ano), acontece anualmente, explicam os cientistas. Visto da Terra, o Sol cruza o plano galáctico (equador galáctico) duas vezes por ano, aquando dos solstícios. Mas ao nível da galáxia, os astrónomos afirmam que o sistema solar está acima (a norte) do plano galáctico e que não vai descer a sul desse equador em anos próximos (ver também "Os alinhamentos planetários não são raros", na pág. 5).
Alguns especialistas dos maias afirmam que a profecia afirma ainda que a 21 de Dezembro de 2012 a precessão dos equinócios da Terra terminará uma volta completa de 26 mil anos sobre os seus pólos, base do seu calendário em cinco ciclos longos de 5.125 anos cada um. O alinhamento do Sol, da Terra e do núcleo galáctico no momento em que uma precessão terrestre termina, seria chamado pelos maias “a grande sincronização”. Os astrónomos e astrofísicos de hoje dizem, no entanto, que as precessões são movimentos contínuos (não é possível datar o princípio ou o fim) e não trazem consequências desastrosas para o planeta.
Nada na estela onde figura o calendário e a profecia maia, quebrada e portanto incompleta, indica o fim dos tempos, o que acaba é a contagem longa do 5° Ciclo. Como nos nossos calendários o ano acaba a 31 de Dezembro e outro começa no dia 1 de Janeiro. A profecia pode ser lida também no Códex de Dresden, um dos quatro únicos manuscritos maias conservados até hoje (milhares foram destruídos pelos padres espanhóis). A única coisa evocada é o regresso de uma divinidade maia à Terra, anúncio que se assemelha a muitas outras religiões que acreditam no regresso do seu deus, ou de um seu representante, no fim dos tempos. O resto são interpretações dos pseudo-especialistas dos maias, que falam em perturbações do campo magnético terrestre e de uma intensa actividade do sol, apenas para sustentar as suas teorias escatológicas (ver também texto "O Império do Sol").
Muitos acontecimentos históricos teriam sido anunciados pelas profecias maias, como a ascensão de Napoleão ou a morte de Lincoln. Mas como a maioria das profecias foram só estudadas no princípio do séc. XX, é fácil predizer acontecimentos depois de estes terem ocorrido. Verdade histórica é que quando os espanhóis entraram em contacto com os Aztecas, estes acolheram-nos como deuses. Herdeiros da cultura maia, os aztecas recordavam-se de uma profecia da antiga civilização que anunciava o regresso dos deuses para 1519 (ano em que os espanhóis chegaram): "Os deuses brancos e barbudos vão regressar (...), montados em grandes animais" (os cavalos foram reintroduzidos no continente americano pelos espanhóis, de onde tinham desaparecido há 8 mil anos).
No entanto, é preciso acrescentar que, potencialmente, para os maias, o mundo podia acabar em cada 52 anos, porque acreditavam que a Humanidade atravessava ciclos de periclitação em quase todos os meios séculos. Mas acreditavam também que cada novo ciclo era uma oportunidade de renovação para a Humanidade.
Últimos argumentos e que os predicadores de 2012 nunca revelam porque não lhes são convenientes, é que existem hieróglifos maias que falam em datas posteriores a 2012, como "Lamat 1 Mol", o dia 21 de Outubro de 4772. Além disso, os maias dispunham de calendários ainda mais longos do que este, como o "pictun", que conta 7.885 anos, ou o "alautun", que dura 63 milhões de anos.
Profecias bíblicas
A Bíblia é um dos mais livros referidos quando se evoca o fim dos tempos. Os predicadores apocalípticos em todas as épocas leram as Sagradas Escrituras à sua maneira para corroborar as suas predições.
Referências apocalípticas podem ser encontradas no Antigo Testamento: Deuterónimo (24:12), Isaías (13:13), Ezequiel (38:19) e Daniel. Nestes livros, escritos pelos hebraicos, a destruição do Mundo refere-se frequentemente à destruição de Israel.
No Novo Testamento, o último livro, A Revelação de S. João, é quase todo dedicado ao Dia do Juízo Final, quando Deus julgar cada homem, e não o dia em que acaba o Mundo.
O Livro da Revelação, escrito por S. João, em Patmos (ilha grega do mar Egeu), no I século da nossa era, tem descrições aterradoras. Um texto que recorre a imagens e símbolos que seriam entendidos pelos leitores daquele tempo. Mas cada época tem uma forma diferente de ler esse livro. Por isso, quase todas as épocas dele se apoderaram e quiseram-no ver como evocando o seu próprio fim. Tantas vezes o foi, que o título original do livro, "Apocalipse", que significa "Revelação" (descobrir, revelar, desvelar) em grego antigo, passou a ser sinónimo de fim do Mundo.
Um dos símbolos mais controversos, por exemplo, é o do número 666, atribuído ao Anticristo. Segundo muitos investigadores bíblicos, este número referir-se-ia a Nero, porque seria o valor do seu nome, em hebraico, língua na qual as letras têm um valor numérico. Nero foi um dos imperadores mais ferozes contra os cristãos e era contemporâneo de João de Patmos.
As descrições da Revelação de S. João podem ser interpretadas para encaixar em muitas épocas e acontecimentos, não só na nossa e nunca a data de 2012 é avançada nesse texto.
O código secreto da Bíblia
Michael Drosnin (antigo repórter do Washington Post e do Wall Street Journal) deve ser um dos únicos jornalistas no mundo a ter trocado o escrever o que aconteceu (notícia) pelo que vai acontecer (previsão). Seguindo os estudos do rabino Michael B. Weissmandl (1903-1956), Drosnin garante que existe um código para ler mensagens secretas na Bíblia. Uma das passagens anuncia a aniquilação da Humanidade por um cometa nos anos hebraicos de 5770 ou de 5772 (2010 ou 2012, no calendário cristão) (ver calendários nesta página).
O curioso é que no seu primeiro livro (1997), Michael Drosnin anuncia que uma guerra atómica devastaria a Terra em 2000 ou 2006. Vai mais longe, referindo que verificou todos os anos do século XXI e que só estes dois correspondem à referência "guerra mundial".
No segundo livro (2002) "actualiza" as profecias e diz que afinal o código também revela as palavras “terrorismo” e "11 de Setembro", mas reitera que o fim do Mundo será em 2006. Mas contradiz-se em relação ao primeiro livro: agora o fim do Mundo pode ser provocado por um cometa ou "quando a Síria e o Irão atacarem Israel", e aventa datas como 2010, 2012, 2014, 2113 e 2126 como possíveis datas para o fim, o que lhe dá bastante margem para corrigir enganos em futuras edições. Drosnin mostra-se sobretudo especialista para encontrar no código acontecimentos que já ocorreram.
Uma universidade americana aplicou o código ao “Moby Dick” de Herman Melville, e com o mesmo método encontrou nesse romance mensagens que podem também ser interpretadas como evocando o fim do mundo ou acontecimentos mundiais. Drosnin refuta o estudo, mas a verdade é que até num livro de receitas de Filipa Vá Com Deus, este código revelaria igualmente resultados apocalípticos.
As Centúrias de Nostradamus
Já muito (tudo?) se disse sobre as profecias de Nostradamus (1503-1566), existem centenas de obras que dissecam cada linha do manuscrito, cada especialista sobre Michel de Notre-Dame tem as suas próprias interpretações sobre o que o médico francês profetizou. Cada vez que se fala em fim do Mundo, Nostradamus é citado como fonte, seja para o fim anunciado em 1789, 1999 ou 2012. As centúrias e quadras foram redigidas de forma tão críptica que são sujeitas a todo o tipo de interpretações.
Nas suas profecias, Nostradamus nunca fala em fim do mundo, fala sim de tribulações em várias épocas e dá muito poucas datas. Calcula o eclipse de Agosto de 1999, o que foi simples de prever para este médico que também percebia de astronomia. No seu livro, muitas passagens falam de guerras e tempos conturbados na Terra. Não datadas, essas evocações podem ser aplicadas a muitos momentos da nossa história, passada ou futura (como qualquer boa profecia). Estudiosos da sua obra, consideram sobretudo que o autor evocava acontecimentos do passado e como sabia que a História tende a repetir-se, sabia que não lograva falhar muito. Tinha fama de astrólogo e redigir estas profecias serviu sobretudo como publicidade à sua "arte". Uma das únicas vezes em que fala de um perigo que pode vir de fora da Terra, evoca uma estrela semelhante ao sol que brilhará 7 dias no céu e apavorará as gentes. O astrónomo pode estar a referir-se à passagem de um cometa, algo que pode ser calculado dezenas ou centenas de anos antes. Alguns tradutores de Nostradamus apontam a data do fim do Mundo para 3797, outros para 5994.
O Bandarra e outros presumíveis profetas
Quanto ao fim do Mundo, o Bandarra teria anunciado que o Mundo acabaria no ano dos três noves (1999 ?), que nesse tempo "as estradas se vestiriam de luto" (asfalto?) e que "uma besta sem cabeça atravessaria as planícies" (comboio?). mas estas são predições que não constam nas suas trovas e podem lhe ter sido atribuídas durante o séc. XIX ou XX. É que apesar de proibidas pela Inquisição, as trovas foram publicadas ao longo dos séculos, sempre acrescentadas de novas profecias, que iam sendo supostamente descobertas em Trancoso e convenientemente encaixando nos acontecimentos de cada época.
A Sibila de Cumas - Oráculo (séc. VI a. C.) muito apreciado por gregos e romanos, disse que o mundo duraria 9 ciclos de 800 anos, o que dá ao planeta a idade final de 7.200 anos. Pergunta elementar: em que data fixar o princípio do Mundo? Nunca falou em datas e muito menos em 2012. Falou na vinda de uma criança que iria lançar uma Idade de Ouro, o que os cristãos interpretaram como a vinda de Cristo. Acrescentou que nessa era a décima geração seria sujeita a grandes tribulações. Mas quantos anos constituiam uma geração para a pítia?
Merlim - O bispo Godofredo de Monmouth (1100-1155) coligiu as profecias de Merlim, explica o editor da presumível primeira edição do texto em 1603 (!). Merlim teria predito a criação dos Estados Unidos, Napoleão, a II Guerra Mundial e a utilização pelos homens de uma "pedra porta-voz" (telefone, telemóvel?). Também teria anunciado que “um dia, os planetas sairão das suas trajectórias”, e por isso é citado pelos predicadores de hoje, quando alertam para o "alinhamento planetário" (ver pág.5). Um texto do séc. XII sobre uma personagem mítica do séc. VI, editada no séc. XVII pode ter sofrido adaptações e acrescentos ao longo dos séculos aos escritos originais, se estes alguma vez existiram.
João de Jerusalém - João de Vézelay (séc. XI), escreveu sobre "o ano mil que virá depois do ano mil ". "Em todas as cidades haverá torres de Babel" (arranha-céus?), "as cidades serão como formigueiros" (sobrepopulação?), "o sol queimará a pele, o ar já não será o véu que protege do fogo, será como uma cortina esburacada e a luz queimará os olhos e a pele " (camada de ozono?), haverá "crianças famintas, com olhos cheios de moscas " (fome em África?), " todas as coisas serão vendidas, as árvores, a água e até o homem, já nada será gratuito" (neoliberalismo?), "os homens saberão criar miragens, outros pensarão que essas imagens são a verdade, perder-se-ão em labirintos que não existem, mas serão tratados como carneiros" (TV, imagens virtuais, jogos vídeo?), voltarão "as invasões de bárbaros barbudos (...) que se lançarão orgulhosos sobre as torres" (11 de Setembro?).
As "visões" de João podem deixar-nos perplexos. Por isso deixamos uma explicação contemporânea entre parênteses, mas como uma interrogação. Porque são interpretações nossas, com olhos do séc. XXI. Porque uma das características de quem interpreta profecias, é que as interpreta à luz do seu tempo.
A origem do texto é controversa e aparece do nada em 1994. Segundo o tradutor russo, o texto terá sido encontrado nos arquivos do KGB, que os teria recuperado aos nazis, que os teriam roubado de uma biblioteca hebraica de Varsóvia. O manuscrito seria datado do séc. XV e mencionaria João de Jerusalém como um dos fundadores dos templários. O que faz, desde logo, duvidar da sua autenticidade é que nenhum dos nove fundadores dos Templários se chamava João. Acresce que não há registo histórico da existência do autor nem foi encontrado mais nenhuma versão deste texto. Passamos a ver o texto com outros olhos se considerarmos que pode ser um falso criado nos anos 1990.
A Mãe Shipton - A Mãe Shipton (1488-1561) teria predito que "quando as pinturas dos quadros fossem vivas, que os barcos navegassem debaixo do mar, que os homens voassem mais depressa que os pássaros e as mulheres vestissem calças, metade da Humanidade terminaria num banho de sangue". A Mãe Shipton teria sido inventada pelo escritor Richard Head em 1684. Ao longo dos tempos, muitos outros autores publicaram profecias em nome da Mãe Shipton, que teria anunciado, num livro de 1862, o fim do mundo para 1881.
S. Malaquias - No séc. XVI, são publicadas as profecias de São Malaquias (séc. XII) sobre os 111 papas que sucederiam a Celestino II (1444). O último papa, apelidado de Pedro O Romano, viveria o fim dos tempos. Na cronologia oficial do Vaticano, Celestino II é o 165° papa e Bento XVI o 265°. Para alguns polemistas da questão, Bento XVI seria o penúltimo papa evocado por Malaquias. Porque contam os anti-papas. Sem esses faltariam ainda 10 papas para a conta dar certo. Ou seja, como sempre, tudo é uma questão de interpretação. Desde Malaquias, há registo de seis anti-papas, cinco dos quais, eleitos em Pisa e Avinhão, foram sumos pontífices em paralelo com os quatro papas reconhecidos por Roma (Grande Cisma do Ocidente, 1378 e 1415).
Os Sioux e os Hopi - No fim do século XIX, Black Elk (na foto), da tribo Sioux, viu a destruição do seu povo, e logo de seguida a de toda a civilização. Relato recuperado ou não pelos Hopi, uma das mais antigas tribos dos EUA, estes contam desde a mesma época que vivemos no 4° Mundo e que estamos a entrar no 5°. "Nesse tempo, a Terra estará cercada por uma imensa teia de aranha", teriam anunciado, imagem verdadeiramente terrível para uma pessoa do séc. XIX, para quem era impossível imaginar a internet. Quando isso acontecer, dizem "o nivel dos mares e a actividade do sol vão aumentar, os deuses vão voltar das estrelas e o 4° Mundo vai acabar". Estudiosos dos Hopi dizem que, na realidade, estas histórias começaram a circular nos anos 1940. Essa teia referir-se-ia aos fios de telefone e aos cabos da alta tensão. Foi também nessa década que teriam sido avistados os primeiros discos voadores, daí a referência aos deuses que regressam.
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O império do Sol
A fonte de toda a vida na Terra pode também ser o seu maior perigo. Os teóricos do apocalipse prevêem para 21 de Dezembro uma erupção solar que deflagrará sobre a Terra, o que se não a reduzir a cinzas, provocará o caos.
O Sol entra em intensa actividade de 11 em 11 anos, momento em que regista mais erupções solares, três a quatro erupções diárias, cada uma equivalentes à explosão de 10 milhões de bombas de hidrogénio. O Sol só vai entrar numa nova fase intensa em 2013, informa a NASA, mas esta será uma actividade intensa média e não uma das mais fortes.
Perturbações provocadas por erupções solares já foram registadas na História recente. Uma das mais fortes deu-se em 1859, quando uma ejecção de matéria coronal solar danificou os telégrafos eléctricos do mundo. Entre 1920 e 1960 há vários registos de tempestades solares que afectaram os sinais rádio no planeta. Em 1989, uma tempestade solar avariou uma central hidroeléctrica no Canadá, em 2003 fortes ventos solares provocaram uma avaria eléctrica na Suécia e obrigaram a navegação aérea internacional a alterar as rotas. Uma das últimas erupções solares deu-se em Outubro deste ano e não afectou a Terra. Uma erupção solar tão forte como a de 1859 só acontece, segundo os cientistas, duas vezes em cada milénio. Seria necessário uma erupção solar colossal para que a ejecção de matéria coronal da nossa estrela em direcção à Terra danificasse os circuitos electrónicos dos satélites (construídos para resistir às radiações solares), quebrasse a rede de telecomunicações e os sistemas da navegação aérea. A acontecer, o pior mesmo é que perturbaria o campo magnético terrestre (magnetosfera), que nos protege das partículas carregadas (radiações) que chegam do Sol. Quando estas partículas são desviadas pela magnetosfera, criam as auroras boreais. Mas se devido a um actividade solar fora do normal contornassem a magnetosfera, as radiações perturbariam centrais e redes eléctricas. Ou seja, o mundo mergulharia num "black out" electrónico e eléctrico, dois dos sistemas em que assenta a nossa vida moderna. Por quanto tempo voltaríamos a viver como no século XIX não se sabe, poderia levar anos, ou mesmo uma ou duas décadas, até restabelecermos esses sistemas a nível mundial.
Os cientistas não conseguem prever as erupções solares, apenas observá-las, após o que os ventos solares demoram entre 24 a 48 horas a chegar à Terra, o que é muito pouco tempo para poder fazer algo.
Alarmismos à parte, nada indica que a fase actual de actividade do Sol é perigosa para a Terra.
Os astrofísicos dizem que conhecem bem as fases da vida de uma estrela e que quando o nosso Sol se transformar em gigante vermelha, dentro de 5,5 mil milhões de anos, este vai dilatar até engolir a Terra. Mas nessa altura, já nos teremos mudado há bastante tempo para outro planeta.
O que são Nibiru e Némesis?
Alguns predicadores escatológicos afirmam que a Terra colide na sexta-feira com o planeta Nibiru (também chamado planeta X ou 10° planeta).
Mas que planeta é este? Para os sumérios (habitaram o sul do Iraque no 4° milénio a.C e são considerados os inventores da escrita), quando a Terra (Tiamat) nasceu situava-se entre Marte e Júpiter, mas a colisão com o planeta Nibiru propulsou o nosso para a terceira órbita solar, onde se encontra hoje. A Terra ficou com metade do tamanho original, foi assim que foi criada a Lua e a cintura de asteróides que hoje existe entre Marte e Júpiter.
Segundo o mito, Nibiru tem uma órbita em volta do Sol de 3.600 anos e cada vez que Nibiru passa perto de nós, os elementos ficam desencadeados e provocam catástrofes cíclicas (terramotos, cheias, etc.). Os sumérios contam que várias civilizações antes da sua desapareceram devido à passagem desse planeta "vadio". O dilúvio bíblico, por exemplo, recupera o relato de um dilúvio retratado na "Epopeia de Gilgamesh", manuscrito sumério anterior ao livro hebreu da Génese, que conta a origem de Sumer, civilização que brotou das cinzas desse mundo antediluviano. Foi esse relato (e derivantes) que deu origem à lenda da Atlântida, contada por Platão (séc. V a.C.) nos livros "Timeu" e "Crítias".
Não existe nenhuma prova cientifica que um planeta assim exista. Os charlatães do apocalipse anunciaram-na para 2003 e depois adiaram-na convenientemente para 2012.
Um décimo planeta, Sedna, foi descoberto em 2003, para além de Plutão. E logo de seguida foram descobertos mais três – Éris, Makemake e Haumea –, o que levou os astrónomos a redefinirem em 2006 os planetas e os planetas-anãos. Sedna é actualmente o planeta com a órbita mais longa à volta do Sol (12 mil anos) e Éris é o planeta mais distante do Sol, mas com uma órbita mais pequena que Sedna (570 anos).
Na ressaca da teoria apresentada em 1980 que afirmava que um fenómeno exterior à Terra (cometa, asteróide) tinha extinguido os dinossauros, uma outra foi avançada pelo físico americano Richard A. Muller (Berkley) em 1984. O nosso Sol faria parte de um sistema solar binário, como aliás é o caso para a maioria das estrelas da nossa galáxia. Esta companheira, a que Muller deu o nome de Némesis (a deusa grega da vingança), seria uma anã vermelha ou castanha, pouco brilhante, e teria uma órbita de 26 milhões de anos (à distância de 1,5 anos-luz). Muller argumentava que isso explicaria as extinções cataclísmicas e cíclicas de algumas das espécies da Terra. A irmã do Sol nunca foi avistada até hoje e a estrela mais próxima é Próxima do Centauro, a 4,2 anos-luz.
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Todos os textos são da autoria de José Luís Correia e foram publicados no jornal CONTACTO, 19/12/2012 Luxemburgo Pesquisa e redacção: JLC Fotos: Shutterstock/Arquivo Luxemburger Wort (as fontes bibliográficas podem ser fornecidas, sob pedido) |
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Fins do Mundo
Forçar o I-Ching a falar
Outra fonte que anunciaria o fim do mundo para 2012 é o mais antigo livro escrito na China, o I-Ching (literalmente "Clássica das Mutações"), utilizado desde o terceiro milénio antes de Cristo, para fazer adivinhações. Faz-se uma pergunta (ao Universo/ao oráculo) e atira-se três moedas. Se caírem duas moedas com cara, faz-se um traço descontínuo, se caírem duas com coroa, desenha-se um traço contínuo, até formar seis linhas (hexagrama). Cada um dos 64 hexagramas possíveis dá uma resposta à pergunta que foi feita. Os psicólogos explicam que cada pessoa verá na previsão algo que aproximará da resposta que pretende. É o que chamam "o sistema de validação subjectiva", ou seja, cada um verá aquilo que quer ver.
Nada no I-Ching aponta para 2012. Foi um matemático new age , Terence McKenna (1946-2000), que juntou as seis linhas e os 64 hexagramas num gráfico informático para representar a cronologia da Humanidade desde o terceiro milénio a.C. até aos dias de hoje. Segundo McKenna, o gráfico, que mostra os períodos altos (progressos e descobertas) e baixos (guerras e crises) da Humanidade, termina em 21 de Dezembro de 2012. Cálculo absconso e teoria desconhecida para os praticantes do I-Ching.
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Prognósticos do web-bot
Há quem acredite que o web-bot, programa informático criado em 1997 para indicar flutuações bolsistas, tenha previsto o fim do mundo para 2012.
Se para prognosticar as tendências da bolsa a ferramenta já é falível, pois analisa simplesmente os temas, produtos e negócios mais pesquisados na internet, quando se trata de datar o fim do mundo é-o ainda mais, pois que outro assunto tem sido mais propalado na internet este ano do que o apocalipse?
Querem números? Googlando (em francês) a data do 21 de Dezembro de 2012 há cerca de um ano, o CONTACTO obteve quase 7 milhões de referências, mas há dias encontrou quase 80 milhões de resultados (10 vezes mais), 60 milhões se for em português, e 3 mil milhões de referências (!!!) em inglês.
O web-bot teria previsto o 11 de Setembro e o furacão Katrina, mas essas previsões vieram na realidade depois desses catástrofes. Quando questionado sobre a III Guerra Mundial há uns anos, o web-bot tê-la-ia anunciado para 2011. Prova que os softwares também erram.
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Apocalipse, o regresso
Anote na sua agenda o próximo fim do Mundo: 13 de Abril de 2036. É o dia em que o asteróide Apophis passa perto da Terra. Os astrónomos acreditam que há 1 hipótese sobre 250 mil (o que é incrivelmente baixo à escala do cosmos) de este colidir com a Terra.
Outra data é a de 2126, quando o cometa Swift-Tuttle, que passou perto do nosso planeta em 1992, regressa e se arrisca dessa vez a colidir connosco.
Porque não se fala nestas datas? Porque as seitas apocalípticas e os pseudo-científicos (ainda) andam entretidos com o 21 de Dezembro de 2012. Depois de sexta-feira, vão logo acaparar-se dos novos medos, das novas datas, dos novos fins.
O relógio dos 10 mil anos
Em 1986, o engenheiro americano Daniel Hillis teve a ideia de construir um relógio de dois metros de altura que funcionasse durante 10 mil anos. O relógio "Clock of the Long Now" começou a funcionar a 31 de Dezembro de 1999. Nesse momento, o relógio, que afixava o número 01999 passou a mostrar 02000. Montado com materiais resistentes à corrosão e situado dentro da caverna de uma montanha no Nevada (Ely), seria curioso perguntar o que pensarão os homens do futuro se encontrarem ainda intacto e a funcionar esse relógio dentro de 100 séculos. Pensarão, por ventura, que o mundo vai acabar quando o ponteiro parar nos 10 mil anos. Não é o que estamos a fazer com o calendário maia?
Para acabar com o fim do Mundo
Uma coisa é certa, o 21 de Dezembro marcará o fim… do Outono. Como acontece todos os anos.
As as profecias e teorias que anunciam o apocalipse para 21 de Dezembro de 2012 são contadas de forma a coincidir com a data, para sustentar os argumentos de quem as propala.
Com que objectivo? Vender livros, vender esperança, vender ilusões, como alertava já em 2011 a Missão Interministerial Francesa de Vigilância e Luta Contra as Derivas Sectárias (Miviludes), denunciando os "charlatães do apocalipse ".
Há quem viva com o fim como princípio, porque o fim pode representar um novo princípio. É nisso que se apoiam as seitas, aproveitando a credulidade de muitas pessoas.
Para cada época há duas coisas óbvias: se o Mundo teve um princípio, terá um fim. Alguns vivem na angústia desse fim e na ilusão de se poderem preparar para esse momento. Em cada geração, sempre houve quem vivesse com o sentimento íntimo de que “isto já não é o que era", "isto está mesmo mal", "o Mundo já não dura muito tempo". Além disso, todas as predições do fim são interpretadas com as angústias e a realidade de cada época. Quando deixam de encontrar respostas na religião e na espirtualidade, as pessoas procuram respostas e sinais do fim dos tempos em tudo, nas profecias, nas estrelas, nas catástrofes naturais, nas guerras, nas crises, nas pandemias que, dizem, têm aumentado de frequência, o que é um sinal explícito do final dos tempos. Facto é que catástrofes, conflitos e pandemias sempre existiram. Mas nunca foram tão mediatizados como hoje. Como as previsões do fim do Mundo, aliás.
Todos os textos são da autoria de
José Luís Correia
e foram publicados no jornal CONTACTO, 19/12/2012
Luxemburgo
Pesquisa e redacção: JLC
Fotos: Shutterstock/Arquivo Luxemburger Wort
(as fontes bibliográficas podem ser fornecidas, sob pedido)
Rótulo :
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Fins do Mundo
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
"Funds People Portugal" cita a Alfi (do Luxemburgo), que tenta dourar a pílula dos hedge funds
Um artigo publicado há dias pela revista portuguesa "Funds People" evoca o Luxemburgo e tenta "dourar a pílula" da indústria dos hedge funds.
Estes "famosos" fundos de investimento alternativos são os que muitos analistas financeiros acusam de ter fomentado uma "economia de casino", o que teria empurrado o Mundo para a actual crise económica. "Em contextos de crise económico-financeira, a procura de culpados constitui uma tradição (....)".
É assim que começa o artigo intitulado "A realidade oculta por detrás dos falsos mitos sobre hedge funds", e que procura desmistificar a falta de regulação nestes fundos, o perfil de alto risco dos mesmos, a sua responsabilidade na crise, ou o facto de não beneficiarem a economia.
Numa conferência recentemente promovida pela Alfi, a associação da industria de gestão luxemburguesa, no Kirchberg, Dominic Tonner, responsável de comunicação da AIMA, a associação global da indústria de gestão alternativa, recusa aceitar que os hedge funds sejam qualificados de "produtos com pouca segurança e regulação". Pelo contrário, diz Tonner, estes fundos são produtos seguros porque estes são aprovados pelos reguladores nacionais e "estiveram sempre sujeitos a restrições, determinadas por leis sobre o abuso de mercados". "A indústria de hedge funds não está disposta a assumir o papel de bode expiatório porque considera que a percepção que existe em torno do negócio está forjada de mitos", disse Tonner na conferência, e que a revista cita.
A "Funds People" é uma revista mensal para os profissionais do investimento colectivo em Espanha, Andorra e Portugal, dirigida a gestores de fundos de investimento e pensões, investidores e banca privada.
JLC
Estes "famosos" fundos de investimento alternativos são os que muitos analistas financeiros acusam de ter fomentado uma "economia de casino", o que teria empurrado o Mundo para a actual crise económica. "Em contextos de crise económico-financeira, a procura de culpados constitui uma tradição (....)".
É assim que começa o artigo intitulado "A realidade oculta por detrás dos falsos mitos sobre hedge funds", e que procura desmistificar a falta de regulação nestes fundos, o perfil de alto risco dos mesmos, a sua responsabilidade na crise, ou o facto de não beneficiarem a economia.
Numa conferência recentemente promovida pela Alfi, a associação da industria de gestão luxemburguesa, no Kirchberg, Dominic Tonner, responsável de comunicação da AIMA, a associação global da indústria de gestão alternativa, recusa aceitar que os hedge funds sejam qualificados de "produtos com pouca segurança e regulação". Pelo contrário, diz Tonner, estes fundos são produtos seguros porque estes são aprovados pelos reguladores nacionais e "estiveram sempre sujeitos a restrições, determinadas por leis sobre o abuso de mercados". "A indústria de hedge funds não está disposta a assumir o papel de bode expiatório porque considera que a percepção que existe em torno do negócio está forjada de mitos", disse Tonner na conferência, e que a revista cita.
A "Funds People" é uma revista mensal para os profissionais do investimento colectivo em Espanha, Andorra e Portugal, dirigida a gestores de fundos de investimento e pensões, investidores e banca privada.
JLC
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Há qualquer coisa de podre no reino do Luxemburgo
A"telenovela" Bommelëeer dos atentados bombistas que assolaram o Luxemburgo entre 1984 e 1986 continua o seu longo desfio de episódios uns mais inacreditáveis do que outros. Ganha agora um enredo digno de um filme de James Bond, mas sem que nada fique ainda resolvido ou claro.
Esta telenovela luxemburguesa dura há mais tempo que a soporífera soap opera "The Bold and The Beautiful", cujo 6.460° episódio já só é seguido por quem ainda se admira que Ridge Forrester se apaixona pela 17a vez por Brooke, que já foi casada com o irmão, teve dois filhos do pai, que antes de casar com Brooke foi namorado da mãe, mas depois há sempre um episódio em que Brooke acaba por voltar para Ridge.
O mesmo se passa com a "telenovela" luxemburguesa, em que até as peripécias mais incríveis já não surpreendem. A última em data envolve a Coroa e o Grão-Duque Henri, que teriam "contactos permanentes" com os serviços secretos britânicos. É o que se fica a perceber de uma conversa entre Marco Mille, antigo responsável dos serviços secretos luxemburgueses (SREL), e o primeiro-ministro, e sobre o alegado envolvimento de um irmão do soberano nos atentados. O que não espantaria, já que o grão-duque Jean fez parte das Irish Guards, com as quais desembarcou na Normandia no Dia D, em 1944, e os princípes da Casa Grã-Ducal têm feito o seu serviço militar passando sempre pela reputada Academia Militar inglesa de Sandhurst.
A conversa entre Mille e Juncker data de 2008, mas o primeiro-ministro só soube um ano depois que esta fora gravada, supostamente pelo ex-espião, graças a um relógio-gravador. Mille negou, mas foi afastado do SREL, que chefiou entre 2003 e 2010. Há semanas, o Parlamento pediu a Juncker para ouvir a gravação, mas este excusou-se dizendo que a tinha extraviado. A coisa teria ficado por aqui, senão houvesse uma "Garganta Funda" que não tivesse tido o cuidado de não a extraviar e de a entregar ao jornal Lëtzebuerger Land, que publicou a transcrição da conversa na íntegra, na sua edição de sexta-feira.
Indignaram-se os deputados e a opinião pública, e fica a pairar sobre o até agora imaculado Juncker a suspeita de querer dissimular provas. Este reagiu dizendo que a gravação era "inaceitável", pois a conversa com Mille não envolvia questões sobre a segurança do Estado. Mas não desmentiu o seu conteúdo. Por seu lado, a Casa Grã-Ducal negou segunda-feira que houvesse qualquer ligação ente a Coroa e os serviços secretos britânicos. Entretanto, a Procuradoria Geral abriu um processo para apurar em que circunstâncias a gravação foi feita. A suspeita recai agora sobre um funcionário da Casa Grã-Ducal que teria o objectivo de prejudicar a Coroa. Ontem, à hora do fecho deste jornal, esperava-se que a Câmara dos Deputados pedisse um inquérito parlamentar a este caso.
Este mal-estar não se sente só no crescente desfazmento entre povo e Coroa, ou em processos judiciais sem fim à vista, como o do Bommelëeer (não prescreve porque é terrorismo), que lançam o descrédito sobre a Polícia (antigos agentes são arguidos no caso) e a Justiça luxemburguesas, deixando a impressão que há intocáveis na sociedade, o que é inédito no Luxemburgo. Mas este sentimento de que há algo podre no reino começa a alastrar a outros sectores.
As empresas mais insuspeitas, exemplares em termos de modelo social luxemburguês, caem agora na tentação do dumping social. Como a Luxair, que denunciou o contrato colectivo. Ou a sua filial Cargolux, que anda de mão (qatari) em mão (chinesa), como quem pergunta "Quem quer casar com a Car(g)o(lux)chinha?". Isto para evitar a falência e despedir 1.500 trabalhadores. Ou ainda a Arcelor, n°1 mundial do aço, que enquanto se chamava Arbed (1911-2002) escreveu a gloriosa história da siderurgia luxemburguesa, pôs o país no mapa e se confundiu até com a própria identidade nacional, mas depois de se "indianizar" em Mittal (2006), só fala em despedimentos, redução de custos e maximização de lucros. E outras que tais que pretendem seguir o mesmo caminho. O Luxemburgo já não é definitivamente o que era.
E aos que ao longo desta crónica se perguntaram "Então, e sobre o fim do mundo, ele não diz nada?", respondo: Só se for sobre o fim do mundo em cuecas, que é onde isto tudo vai parar se assim continuarmos a viver numa sociedade cruelmente deficitária em valores não cotáveis na bolsa: a ética e a moral.
José Luís Correia
(in jornal CONTACTO, 05/12/2012)
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