sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Anacrónicos e Diacrónicos

Estes são os tempos

O Verão está a acabar. É um lugar comum dizê-lo, mas quase um contra-senso se olharmos pela vidraça e observarmos o tempo solarengo que este pequeno burgo nos tem proporcionado nas últimas semanas, contra tudo o que é habitual nestas latitudes e nesta altura do ano. Consequência ou apanágio das alterações climáticas?

Se o Verão, tempo de farniente e de ócio, termina no calendário a 21 de Setembro, não acaba para todos na mesma data. Para os trabalhadores da construção, as férias duraram até 21 de Agosto. Noutros sectores, terminaram no domingo. Para os alunos, o seu último dia de Verão acontecerá dia 14, antes de encetarem um novo período lectivo. Este ano, os mais novos, do pré-primário e do primário, integram o novo regime da escola fundamental. Os parlamentares luxemburgueses recomeçam a trabalhar na segunda terça-feira de Outubro, mas as comissões parlamentares reúnem já em Setembro. Em Portugal, a Assembleia da República retoma os trabalhos na terceira semana deste mês, à semelhança do Parlamento Europeu.

Mas se para muitos as férias estão a findar, para outros nem chegaram a começar e muitos nem descansaram. Os bombeiros da Europa do Sul não puderam resfolgar com os incêndios que lavraram, e alguns ainda lavram, de Portugal à Grécia, em mais uma calamidade ecológica. E se para a maioria de nós o período estival permitiu-nos relaxadamente fazer muita prainha e dourarmo-nos com um belo "bronze", para os soldados da paz esse mesmo mercúrio em alta significou uma verdadeira descida aos infernos.

O CONTACTO também não foi "a banhos", atentos que estamos às mudanças dos comportamentos sociais dos nossos leitores que já não fazem férias apenas no "querido mês de Agosto". Cada vez são mais os que decidem, nesta altura, ficar por cá. Além disso, a informação não "fecha" para férias.

Os políticos portugueses podem até faltar durante o resto do ano às sessões do Parlamento (infelizmente, não chumbam por faltas!), mas no Verão é vê-los, sempre a aparecer nos jornais, na televisão e até nas revistas cor-de-rosa. Como se temessem que passássemos bem sem eles! Como se a política fosse algo que não pudesse tirar (ou dar-nos) férias. Melhor que isso, inventaram as universidades de Verão, que mais não são do que antecâmaras da rentrée política, comícios interpartidários que servem para testar ideias e argumentos em ambiente controlado, e para rodar novos "protegidos" a apresentar em Setembro, como se tudo isso pudesse trazer um pouco de ar fresco aos seus prolixos discursos remastigados e mofentos.

Em Portugal, vive-se já uma verdadeira pré-campanha eleitoral, o mundo político está em polvorosa com as legislativas de 27 de Setembro e as autárquicas de 11 de Outubro. Apesar de uma impopularidade crescente, o Executivo Sócrates recusa-se a exalar o seu último estertor. Mas a oposição não tem propriamente sabido profilar-se nem convencer os eleitores, que não parecem prontos a acreditar numa Ferreira Leite como no Sócrates sebastianista, em 2005. Muitos vêem nela um possível regresso ao Cavaquismo. Ou pior.

No Luxemburgo, o reeleito governo cristão-social/socialista vai debater-se com vários dossiês espinhosos: a reforma do ensino secundário; a legalização do casamento homossexual e do aborto (que o Executivo prometeu legalizar nesta legislatura); e a luta contra a recessão económica. Por enquanto, propostas de solução concretas houve poucas por parte do governo, a oposição criticou isso mesmo, mas o Executivo outorgou-se da maioria obtida nas eleições e disse que saberia dar conta do recado. Resta esperar para ver.

Enquanto que os primeiros assuntos ameaçam dividir a opinião pública num país tradicionalmente conservador, dirigido pelo mesmo partido de direita há 30 anos, a crise, que parece (desta vez?) estar mesmo a chegar ao Grão-Ducado, pode dissolver-se de si mesma. Isto se se confirmar, como alguns analistas desconfiam, que tudo não passou de especulação virtual por parte dos altos líderes da macroeconomia, o que veio minar a confiança das empresas e dos consumidores.

E se é verdade que no Luxemburgo os desempregados aumentaram 40 % num ano, que as falências têm vindo a acontecer em catadupa e muitas empresas têm optado por cortes orçamentais nos projectos e no pessoal, é necessário investigar e sancionar os casos em que a crise serve de alibi aos patrões para "fecharem negócio" ao encerrarem empresas, sem cuidar dos trabalhadores que põem na rua, considerados simples "baixas colaterais" da crise económica mundial.

José Luís Correia, in Contacto, de 2 de Setembro de 2009

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