Os EUA atacaram posições do regime de Bashar al-Assad na Síria, a primeira vez desde o início da guerra civil naquele país em 2011. Para muitos, isto indica o surgimento de um novo conflito que pode depressa degenerar e envolver as principais potências mundias.
Ventos de guerra. Na Síria. No Mar do Japão. Trump gira o globo nos dedos, como num velho filme de Chaplin, e pensa na melhor forma de desviar a atenção da sua política doméstica ineficaz. Precisa de vitórias. Rápidas. Repara como George W. Bush, de simples filho de presidente, amador de bretzels e de hambúrgueres, se transformou em chefe de guerra de um dia para o outro, numa manhã de setembro, graças a duas torres caídas providencialmente...
Donald afasta a franja laranja e posiciona os seus navios e soldadinhos no mapa geoestratégico global.
- Ping-pong-gang, um navio para ali!
- Pyongyang!
- E Home, onde fica?
- Homs, Presidente! No norte da Síria.
- Hã? Há petróleo, passa ali um gaseoduto, há reservas de água doce?
Novos ventos de guerra sopram dos quadrantes da cupidez, há ânsia de domínio e de supremacia. As superpotências sonham em inverter o crepúsculo irreversível da sua hegemonia decadente, as potências emergentes planeiam conquistas. E o oligarca de Moscovo ri, uma nova guerra para vender arsenal militar e alargar o feudo. Paris, Londres, Berlim lamentam, condenam. Mas nas salas escuras dos governos dessas metrópoles irrepreensíveis, sempre prontas para dar lições de moral e mostrar a exemplaridade europeia, os senhores da guerra esfregam as mãos ávidas dos negócios chorudos que aí vêm. Não há como uma boa guerra para relançar a economia.
Para nós, essa guerra parece novidade? Sim, é dali que provêm os refugiados sírios que aqui chegam, fogem da guerra e de uma regime sanguinário. Preferem morrer no caminho tentando sobreviver com a família, ter o Mediterrâneo como cemitério, do que ficarem simplesmente à espera de serem gaseados ou bombardeados pelo seu próprio regime. Os sírios (sobre)vivem assim há seis anos!
Na senda da primavera árabe, tentaram derrubar a ditadura de Bashar al-Assad em 2011. Reclamavam a mudança, a esperança prometida pelo mesmo Bashar na “primavera de Damasco”, dez anos antes, quando este chegou ao poder parecendo querer encarnar a modernização e o caminho da democracia no pais. Mas foi sol de pouca dura. Bashar mostrou bem ser o filho do general Hafez el-Assad, que tinha governado com autoritarismo o país durante três décadas. E se herdou o “trono” paterno, hoje, 16 anos depois, está mais do que nunca decidido a guardá-lo. Com o apoio de Moscovo.
A Coreia do Norte é outro teatro de uma guerra do porvir. Outro filho e neto de ditadores obstina-se em manter o povo na miséria e no obscurantismo para perpetuar a dinastia Kim, que se segura ao poder desde 1948! Os senhores da guerra, salvadores do mundo livre, já sabem onde agir a seguir.
José Luís Correia
in Contacto, 12.04.2017
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário