sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Os senhores da guerra

Os EUA atacaram posições do regime de Bashar al-Assad na Síria, a primeira vez desde o início da guerra civil naquele país em 2011. Para muitos, isto indica o surgimento de um novo conflito que pode depressa degenerar e envolver as principais potências mundias.

Ventos de guerra. Na Síria. No Mar do Japão. Trump gira o globo nos dedos, como num velho filme de Chaplin, e pensa na melhor forma de desviar a atenção da sua política doméstica ineficaz. Precisa de vitórias. Rápidas. Repara como George W. Bush, de simples filho de presidente, amador de bretzels e de hambúrgueres, se transformou em chefe de guerra de um dia para o outro, numa manhã de setembro, graças a duas torres caídas providencialmente...

Donald afasta a franja laranja e posiciona os seus navios e soldadinhos no mapa geoestratégico global. - Ping-pong-gang, um navio para ali!
- Pyongyang!
- E Home, onde fica?
- Homs, Presidente! No norte da Síria.
- Hã? Há petróleo, passa ali um gaseoduto, há reservas de água doce?

Novos ventos de guerra sopram dos quadrantes da cupidez, há ânsia de domínio e de supremacia. As superpotências sonham em inverter o crepúsculo irreversível da sua hegemonia decadente, as potências emergentes planeiam conquistas. E o oligarca de Moscovo ri, uma nova guerra para vender arsenal militar e alargar o feudo. Paris, Londres, Berlim lamentam, condenam. Mas nas salas escuras dos governos dessas metrópoles irrepreensíveis, sempre prontas para dar lições de moral e mostrar a exemplaridade europeia, os senhores da guerra esfregam as mãos ávidas dos negócios chorudos que aí vêm. Não há como uma boa guerra para relançar a economia.

Para nós, essa guerra parece novidade? Sim, é dali que provêm os refugiados sírios que aqui chegam, fogem da guerra e de uma regime sanguinário. Preferem morrer no caminho tentando sobreviver com a família, ter o Mediterrâneo como cemitério, do que ficarem simplesmente à espera de serem gaseados ou bombardeados pelo seu próprio regime. Os sírios (sobre)vivem assim há seis anos! Na senda da primavera árabe, tentaram derrubar a ditadura de Bashar al-Assad em 2011. Reclamavam a mudança, a esperança prometida pelo mesmo Bashar na “primavera de Damasco”, dez anos antes, quando este chegou ao poder parecendo querer encarnar a modernização e o caminho da democracia no pais. Mas foi sol de pouca dura. Bashar mostrou bem ser o filho do general Hafez el-Assad, que tinha governado com autoritarismo o país durante três décadas. E se herdou o “trono” paterno, hoje, 16 anos depois, está mais do que nunca decidido a guardá-lo. Com o apoio de Moscovo.

A Coreia do Norte é outro teatro de uma guerra do porvir. Outro filho e neto de ditadores obstina-se em manter o povo na miséria e no obscurantismo para perpetuar a dinastia Kim, que se segura ao poder desde 1948! Os senhores da guerra, salvadores do mundo livre, já sabem onde agir a seguir.

José Luís Correia
in Contacto, 12.04.2017

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