sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

EDITORIAL: Isto foi 2016!

O ano de 2016 foi bom. O ano de 2016 foi mau. Para Portugal foi positivo. A nível internacional nem por isso.

Portugal sofria de duas ressacas consecutivas, Sócrates e Passos Coelho, mas a azia começa a passar. Os fatores são vários. Depois de dez anos de um Segundo Cavaquismo, os portugueses elegeram um chefe de Estado nas antípodas do anterior, mais próximo do povo, mais claro e direto nos propósitos e na política, e intervindo com inteligência quando deve intervir. Hoje, os portugueses têm um Presidente de que se orgulham e que sentem que os representa.

Embora eleito em 2015, este foi o ano de António Costa, que fez funcionar uma “geringonça” improvável e conseguiu até melhores resultados que Bruxelas esperava.

Uma outra vitória de Portugal, senão política pelo menos diplomática, foi a eleição de António Guterres para secretário-geral da ONU. Aos desafios todos que o ex-primeiro-ministro português já sabia que teria de enfrentar naquele cargo – Síria, Iraque, Coreia do Norte, guerras em África, crise dos migrantes, falta de reconhecimento da ONU – juntou-se na sexta-feira a condenação por parte das Nações Unidas da construção de colonatos israelitas na Palestina. Apoiado por Trump, Israel já rejeitou a resolução, o que deixa adivinhar um excelente 2017!

Portugal sagrou-se também campeão europeu de futebol. Os portugueses provaram o doce sabor da desforra que aguardavam há 32 anos, desde a derrota de 1984 frente a Platini, e uma suave vingança sobre o título “roubado” pela Grécia em 2004. Celebraram a vitória que lhes tinha sido prometida pela Geração de Ouro. A glória fez-se esperar, mas aconteceu graças a Cristiano Ronaldo e Fernando Santos.

O mundo pula, mas não avança sempre, por vezes dá saltos para trás. Este foi também o ano do Brexit, da eleição de Trump para a Casa Branca, do avanço de duas forças que dependem uma da outra – o terrorismo e o populismo. Enquanto isso, mais de cinco mil migrantes morreram ao tentarem atravessar o Mediterrâneo, um novo recorde. Sonham com uma terra prometida que não existe, que não os quer, que é uma miragem de tolerância e prosperidade. Mas para eles, sempre é melhor do que a miséria e a guerra que essa mesma Europa fomenta nos seus países.

A música ficou de luto com a morte de Bowie, Prince, Leonard Cohen e George Michael. Deus deve querer montar uma banda no céu. Por seu lado, a literatura atingiu um novo paradigma com Bob Dylan.

No Luxemburgo, país onde não se gosta de fazer ondas, a praça financeira tremeu. É o sigilo bancário com os dias contados e o caso Luxleaks a manchar a reputação do Grão-Ducado, que procura nos céus novos recursos e um rosto ’liftado’ para vender ao exterior os asteróides que ainda não capturou. 2017 promete.

José Luís Correia
in CONTACTO, 28/12/2016

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