sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Enquanto houver Obama há esperança

Foto: AFP
Barack Obama teve um telefonema histórico no passado sábado, quando atendeu uma chamada do presidente do Irão, Hassan Rohani.

Os dois países tinham relações diplomáticas cortadas desde 1979.

Para que este passo histórico fosse dado, um dos mais importantes desde o fim da Guerra Fria, foi necessário a chegada de duas peças fundamentais no xadrez mundial : Obama e Rohani.

O reformista Rohani chegou ao poder em Junho e, em poucos meses, deu mostras de uma real vontade de abrir Teerão ao Ocidente. Uma atitude que contrasta diametralmente com o seu antecessor, o conservador Mahmoud Ahmadinejad.

Rohani multiplicou intervenções e entrevistas na imprensa americana e europeia, nas quais afirma querer fazer avançar o sensível dossier nuclear iraniano, parado há oito anos. Na semana passada anunciou estar já a discutir com a Agência Internacional da Energia Atómica, por forma a provar que o Irão não está a desenvolver armas nucleares.

Sincera ou não, uma tentativa de aproximação entre Teerão e Washington tinha já sido tentada em 2006 por Ahmadinejad, mas George W. Bush nem sequer respondeu à carta do então presidente iraniano, o que acabou por envenenar ainda mais as relações.

Obama, por seu lado, deixou que Rohani multiplicasse as provas de abertura da república islâmica ao mundo e o telefonema histórico que atendeu deixa pensar que uma real aproximação é possível entre Teerão e o Ocidente.

O Prémio Nobel da Paz 2009, que muitos julgavam demasiado enleado na política doméstica, começa finalmente a mostrar a nível internacional que mereceu o galardão que a Academia Sueca lhe atribuiu em 2009.

Obama deu mostras de ser diferente de Bush também numa outra questão internacional recente: a questão da Síria. Obama não se deixou influenciar pela opinião pública mundial nem pelo lobby do sector do armamento americano, que o instigavam a atacar Damasco, para « punir » e destituir o presidente sírio por este ter alegadamente ordenado um ataque a civis com armas químicas.

Obama esperou pelas conversações a nível internacional, tentou a via diplomática e inspectores da ONU passaram pela Síria, o que levou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a decidir, esta semana, acabar com todas as armas químicas naquele país.

A resolução da ONU, assinada em conjunto por Rússia e EUA, dita o fim das armas químicas, sem culpar o regime de Al-Assad nem as facções radicais islâmicas, que tinham interesse na entrada de tropas estrangeiras no país que destituissem Al-Assad, como aconteceu com Saddam Hussein no Iraque.

Para quem se dizia há tempos desiludido com Obama, considere apenas isto : tivesse sido o seu opositor republicano a vencer as eleições em 2008 e hoje os EUA, e o mundo (ou uma boa parte dele), estariam em guerra com o Irão e a Síria. E sabe-se lá com que possíveis alastramentos naquela zona do globo.

Claro que é conjectura, mas é baseada em oito anos de « bushismo » e tudo deixa pensar que John McCain, veterano do Vietname, à semelhança de « W », iria seguir a mesma política ou mesmo agudizá-la.

A guerra civil síria, que dura há dois anos, parece ter finalmente um fim à vista, se a comunidade internacional conseguir fazer pressão sobre o regime de Al-Assad e se os EUA e Rússia se mantiverem do mesmo lado do prato da balança, sob a égide da ONU.

Finalmente, o grande perdedor nisto tudo foi o presidente francês François Hollande, que estava decidido a ser visto como um grande líder nesta questão, se mostrou logo muito decidido a fazer justiça na Síria - ao lado dos americanos, ele que tanto criticava Sarkozy por assim agir na cena internacional.

José Luís Correia
(artigo publicado no site www.wort.lu/PT)

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