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Os dois países tinham relações diplomáticas cortadas desde 1979.
Para que este passo histórico fosse dado, um dos mais importantes desde o fim da Guerra Fria, foi necessário a chegada de duas peças fundamentais no xadrez mundial : Obama e Rohani.
O reformista Rohani chegou ao poder em Junho e, em poucos meses, deu mostras de uma real vontade de abrir Teerão ao Ocidente. Uma atitude que contrasta diametralmente com o seu antecessor, o conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Rohani multiplicou intervenções e entrevistas na imprensa americana e europeia, nas quais afirma querer fazer avançar o sensível dossier nuclear iraniano, parado há oito anos. Na semana passada anunciou estar já a discutir com a Agência Internacional da Energia Atómica, por forma a provar que o Irão não está a desenvolver armas nucleares.
Sincera ou não, uma tentativa de aproximação entre Teerão e Washington tinha já sido tentada em 2006 por Ahmadinejad, mas George W. Bush nem sequer respondeu à carta do então presidente iraniano, o que acabou por envenenar ainda mais as relações.
Obama, por seu lado, deixou que Rohani multiplicasse as provas de abertura da república islâmica ao mundo e o telefonema histórico que atendeu deixa pensar que uma real aproximação é possível entre Teerão e o Ocidente.
O Prémio Nobel da Paz 2009, que muitos julgavam demasiado enleado na política doméstica, começa finalmente a mostrar a nível internacional que mereceu o galardão que a Academia Sueca lhe atribuiu em 2009.
Obama deu mostras de ser diferente de Bush também numa outra questão internacional recente: a questão da Síria. Obama não se deixou influenciar pela opinião pública mundial nem pelo lobby do sector do armamento americano, que o instigavam a atacar Damasco, para « punir » e destituir o presidente sírio por este ter alegadamente ordenado um ataque a civis com armas químicas.
Obama esperou pelas conversações a nível internacional, tentou a via diplomática e inspectores da ONU passaram pela Síria, o que levou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a decidir, esta semana, acabar com todas as armas químicas naquele país.
A resolução da ONU, assinada em conjunto por Rússia e EUA, dita o fim das armas químicas, sem culpar o regime de Al-Assad nem as facções radicais islâmicas, que tinham interesse na entrada de tropas estrangeiras no país que destituissem Al-Assad, como aconteceu com Saddam Hussein no Iraque.
Para quem se dizia há tempos desiludido com Obama, considere apenas isto : tivesse sido o seu opositor republicano a vencer as eleições em 2008 e hoje os EUA, e o mundo (ou uma boa parte dele), estariam em guerra com o Irão e a Síria. E sabe-se lá com que possíveis alastramentos naquela zona do globo.
Claro que é conjectura, mas é baseada em oito anos de « bushismo » e tudo deixa pensar que John McCain, veterano do Vietname, à semelhança de « W », iria seguir a mesma política ou mesmo agudizá-la.
A guerra civil síria, que dura há dois anos, parece ter finalmente um fim à vista, se a comunidade internacional conseguir fazer pressão sobre o regime de Al-Assad e se os EUA e Rússia se mantiverem do mesmo lado do prato da balança, sob a égide da ONU.
Finalmente, o grande perdedor nisto tudo foi o presidente francês François Hollande, que estava decidido a ser visto como um grande líder nesta questão, se mostrou logo muito decidido a fazer justiça na Síria - ao lado dos americanos, ele que tanto criticava Sarkozy por assim agir na cena internacional.
José Luís Correia
(artigo publicado no site www.wort.lu/PT)
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