"Memóras Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis (1881)
O livro começa com o narrador, Brás Cubas, a falar do seu funeral. Dali faz o leitor viajar para trás no tempo até à sua morte, ao delírio dos seus últimos momentos, o instante em que adoeceu e por aí fora...
Quando o leitor acha que percebeu como a história se vai construir, o narrador faz uma finta ao leitor e começa a contar a história da sua vida desde o princípio.
Nascido em 1805, a vida de Brás atravessa as primeiras seis décadas do séx. XIX, desde a infância de menino rico, passando pela adolescência quando se dá a independência do Brasil. É nessa idade que se apaixona pela primeira vez por Marcela, uma "rapariga" que não tratava a moral por tu. O "Amor" durou "quinze meses e onze contos de réis", a expensas da família. Para o fazer esquecer Marcela, o pai manda-o para Lisboa. Em seis dias e ainda antes de desembarcar na capital portuguesa, os desgostos de amor estavam ultrapassados. Em Coimbra aprende a arte da boémia, da serenata e do "romantismo prático". Licencia-se em Direito mesmo não entendendo nada do assunto, por isso acha-se um génio.
Regressa ao Rio de Janeiro e namora com uma linda moça, mas que era "coxa", deficiência que o seu coração não consegue esquecer e por isso não se apaixona... O pai tem outros planos, quer casá-lo com Virgília, filha de um político, matrimónio que vai catapultá-lo para o Parlamento e assegurar-lhe o futuro.
Primeiro reticente, Brás começa a interessar-se por Virgília, mas esta prefere casar-se com Lobo Neves, que fará dela baronesa ou mesmo marquesa. Mais tarde e já casada, Virgília acabará por ceder aos avanços de Brás, tornar-se-á sua amante durante largos anos será o verdadeiro e grande amor da sua vida, confia no seu leito de morte.
Um dos encontros mais cómicos e irónicos é quando se cruza com Quincas Borba, um filósofo meio doido, que até inventa uma nova corrente filosófica.
Pela sua vida ainda passa a bonita Nhã-Loló, de 19 anos, mas que morre de febre amarela e Brás torna-se então um irredutível solteirão.
No fim da vida, tendo falhado no amor, na politica, em sociedade e em quase tudo, tenta uma última tentativa de imortalidade ao envidar todos os esforços para criar o "emplastro Brás Cubas", meio compressa meio cataplasmo que visa curar todas as doenças. E é em plena "criação" deste remédio que a pneumonia o "apanha" e a morte lhe bate à porta aos 64 anos.
E assim passa uma vida... com tantas oportunidades desperdiçadas, mas uma vida mesmo assim bem vivida, "à sua maneira".
Contada na primeira pessoa, a delícia da história é o seu tom cáustico, irónico do narrador ao falar das suas próprias aventuras e desventuras. Do autor fica-nos o maravilhamento pela inovação no estilo, estilo acima de tudo livre, muitas vezes mesmo audaz, e muito moderna quebra na narração linear. Machado de Assis confessa ter-se deixado influenciar por autores como Shakespeare ou Xavier de Maistre.
Contando a história da vida de Brás Cubas, Machado de Assis aproveita para descrever a sociedade brasileira, as diferentes classes sociais, a escravatura, o século XIX brasileiro, pelo que esta tragi-comédia é considerada por muitos críticos como sendo a primeira obra "realista" da literatura do pais. No entanto, certos excertos, discursos do narrador e diálogos fazem pensar no Modernismo, que chegaria apenas após o virar do século, pelo que esta pode ser considerada uma obra visionária.
O paralelo com "Os Maias" de Eça de Queirós, obra sua contemporânea (escrita oito anos depois) é óbvia para o leitor português, mesmo se a obra brasileira é mais rica em humor. Mas também há por lá um Vilaça e até um "Dâmaso". Mas a delícia na leitura foi a mesma, mesmo se li as duas obras a 22 anos de distância uma da outra.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
WARP DRIVE EXPLAINED BY MEXICAN PHYSICIAN MIGUEL ALCUBIERRE AS MATHEMATHICALLY POSSIBLE
Alcubierre drive
History
In 1994 Alcubierre proposed a way of changing the geometry of space by creating a wave which would cause the fabric of space ahead of a spacecraft to contract and the space behind it to expand The ship would then ride this wave inside a region of flat space known as a warp bubble, and would not move within this bubble, but instead be carried along as the region itself moves as a consequence of the actions of the drive. If this is so, conventional relativistic effects such as time dilation would not apply in the way they would in the case of a ship moving at a very great velocity through flat spacetime, relative to other objects. This method of propulsion would not involve objects in motion at speeds faster than light with respect to the contents of the warp-bubble; that is, a light beam within the warp-bubble would still always move faster than the ship. Thus the mathematical formulation of the Alcubierre metric does not contradict the conventional claim that the laws of relativity do not allow a slower-than-light object to accelerate to faster-than-light speeds. The Alcubierre drive, however, remains a hypothetical concept with seemingly insuperable problems: The amount of energy required is unobtainably large, there is no method to create a warp bubble in a region that does not already contain one, and there is no method to move from the warp-bubble once having arrived at a supposed destination.Alcubierre metric
The Alcubierre metric defines the warp drive spacetime. This is a Lorentzian manifold which, if interpreted in the context of general relativity, allows a warp bubble to appear in previously flat spacetime and move off at effectively superluminal speed. Inhabitants of the bubble feel no inertial effects. The object(s) within the bubble are not moving (locally) faster than light, instead, the space around them shifts so that the object(s) arrives at its destination faster than light would in normal space.Alcubierre chose a specific form for the function f, but other choices give a simpler spacetime exhibiting the desired "warp drive" effects more clearly and simply.
Mathematics of the Alcubierre drive
Using the ADM formalism of general relativity, the spacetime is described by a foliation of space-like hypersurfaces of constant coordinate time t. The general form of the metric described within the context of this formalism is:- is the lapse function that gives the interval of proper time between nearby hypersurfaces,
- is the shift vector that relates the spatial coordinate systems on different hypersurfaces
- is a positive definite metric on each of the hypersurfaces.
The particular form that Alcubierre studied is defined by:
where
and
with and arbitrary parameters. Alcubierre's specific form of the metric can thus be written;
With this particular form of the metric, it can be shown that the energy density measured by observers whose 4-velocity is normal to the hypersurfaces is given by
where is the determinant of the metric tensor.
Thus, as the energy density is negative, one needs exotic matter to travel faster than the speed of light. The existence of exotic matter is not theoretically ruled out; however, generating enough exotic matter and sustaining it to perform feats such as faster-than-light travel (and also to keep open the 'throat' of a wormhole) is thought to be impractical. Low has argued that within the context of general relativity, it is impossible to construct a warp drive in the absence of exotic matter.It is generally believed that a consistent theory of quantum gravity will resolve such issues once and for all.
Physics of the Alcubierre drive
For those familiar with the effects of special relativity, such as Lorentz contraction and time dilation, the Alcubierre metric has some apparently peculiar aspects. In particular, Alcubierre has shown that even when the ship is accelerating, it travels on a free-fall geodesic. In other words, a ship using the warp to accelerate and decelerate is always in free fall, and the crew would experience no accelerational g-forces. Enormous tidal forces would be present near the edges of the flat-space volume because of the large space curvature there, but by suitable specification of the metric, these would be made very small within the volume occupied by the ship.The original warp drive metric, and simple variants of it, happen to have the ADM form which is often used in discussing the initial-value formulation of general relativity. This may explain the widespread misconception that this spacetime is a solution of the field equation of general relativity. Metrics in ADM form are adapted to a certain family of inertial observers, but these observers are not really physically distinguished from other such families. Alcubierre interpreted his "warp bubble" in terms of a contraction of "space" ahead of the bubble and an expansion behind. But this interpretation might be misleading, since the contraction and expansion actually refers to the relative motion of nearby members of the family of ADM observers.
In general relativity, one often first specifies a plausible distribution of matter and energy, and then finds the geometry of the spacetime associated with it; but it is also possible to run the Einstein field equations in the other direction, first specifying a metric and then finding the energy-momentum tensor associated with it, and this is what Alcubierre did in building his metric. This practice means that the solution can violate various energy conditions and require exotic matter. The need for exotic matter leads to questions about whether it is actually possible to find a way to distribute the matter in an initial spacetime which lacks a "warp bubble" in such a way that the bubble will be created at a later time. Yet another problem is that, according to Serguei Krasnikov, it would be impossible to generate the bubble without being able to force the exotic matter to move at locally FTL speeds, which would require the existence of tachyons. Some methods have been suggested which would avoid the problem of tachyonic motion, but would probably generate a naked singularity at the front of the bubble.
Difficulties
Significant problems with the metric of this form stem from the fact that all known warp drive spacetimes violate various energy conditions. It is true that certain experimentally verified quantum phenomena, such as the Casimir effect, when described in the context of the quantum field theories, lead to stress-energy tensors which also violate the energy conditions, such as negative mass-energy, and thus one can hope that Alcubierre-type warp drives can be physically realized by clever engineering taking advantage of such quantum effects. However, if certain quantum inequalities conjectured by Ford and Roman hold, then the energy requirements for some warp drives may be absurdly gigantic, e.g. the energy equivalent of -1067 grams might be required to transport a small spaceship across the Milky Way galaxy. This is orders of magnitude greater than the estimated mass of the universe. Counter-arguments to these apparent problems have also been offered.Chris Van Den Broeck, in 1999, has tried to address the potential issues. By contracting the 3+1 dimensional surface area of the 'bubble' being transported by the drive, while at the same time expanding the 3 dimensional volume contained inside, Van Den Broeck was able to reduce the total energy needed to transport small atoms to less than 3 solar masses. Later, by slightly modifying the Van Den Broeck metric, Krasnikov reduced the necessary total amount of negative energy to a few milligrams.
Krasnikov proposed that, if tachyonic matter cannot be found or used, then a solution might be to arrange for masses along the path of the vessel to be set in motion in such a way that the required field was produced. But in this case, the Alcubierre Drive vessel is not able to go dashing around the galaxy at will. It is only able to travel routes which, like a railroad, have first been equipped with the necessary infrastructure. The pilot inside the bubble is causally disconnected with its walls and cannot carry out any action outside the bubble. Thus, because the pilot cannot place infrastructure ahead of the bubble while "in transit", the bubble cannot be used for the first trip to a distant star. In other words, to travel to Vega (which is 25 light-years from the Earth) one first has to arrange everything so that the bubble moving toward Vega with a superluminal velocity would appear and these arrangements will always take more than 25 years.
Coule has argued that schemes such as the one proposed by Alcubierre are infeasible as matter placed en route of the intended path of a craft has to be placed at superluminal speed. Thus, according to Coule, an Alcubierre Drive is required in order to build an Alcubierre Drive. Since none have been proven to exist already then the drive is impossible to construct, even if the metric is physically meaningful. Coule argues that an analogous objection will apply to any proposed method of constructing an Alcubierre Drive.
A paper by José Natário published in 2002 argued that it would be impossible for the ship to send signals to the front of the bubble, meaning that crew members could not control, steer or stop the ship.
A more recent paper by Carlos Barceló, Stefano Finazzi, and Stefano Liberati makes use of quantum theory to argue that the Alcubierre Drive at FTL velocities is impossible; mostly due to extremely high temperatures caused by Hawking radiation destroying anything inside the bubble at superluminal velocities and leading to instability of the bubble itself. These problems do not arise if the bubble velocity is kept subluminal, but it is still necessary to provide exotic matter for the drive to work.
More difficulties emerge in regards to the amount of exotic matter required for such a propulsion. According to Pfenning and Allen Everett of Tufts, a warp bubble traveling at 10 times light-speed must have a wall thickness of no more than 10−32 meters. This is only slightly longer than the Planck length, 10−35. A bubble macroscopically large enough to enclose a ship 200 meters across would require a total amount of exotic matter equal to 10 billion times the mass of the observable universe. Straining the exotic matter to an extremely thin band of 10−32 meters is considered impractical. Similar constraints apply to Krasnikov's superluminal subway. A modification of Alcubierre's model was recently constructed by Chris van den Broeck of the Catholic University of Louvain in Belgium. It requires much less exotic matter but places the ship in a curved space-time "bottle" whose neck is about 10−32 meters. So-called cosmic strings, hypothesized in some cosmological theories, involve very large energy densities in long, narrow lines. But[clarification needed] all known physically reasonable cosmic-string models have positive (positive space-time warping effects) energy densities. These results seem to make it rather unlikely that one could construct Alcubierre warp drives using exotic matter generated by quantum effects.
The Alcubierre drive and science fiction
Faster-than-light travel is often used in science fiction to denote a wide variety of imaginary propulsion methods, most of which have nothing to do with the Alcubierre drive or any other physical theory. Some science-fiction works, particularly of the 'hard' genre, have explicitly made use of the Alcubierre theory, such as Stephen Baxter's novel Ark.The Alcubierre drive theory is proposed as a possible reason for events occurring in the graphic novel "Orbiter" by Warren Ellis and Colleen Doran.
The Ian Douglas "Star Carrier" series exclusively uses the Alcubierre drive as the main mode of interstellar travel.
Also, in M. John Harrison's novel Light, the character Ed Chianese, while trying to get a job with the Circus of Pathet Lao, claims that he "rode navigator on Alcubierre ships."
From Wikipedia, the free encyclopedia
Rótulo :
conquista do espaço
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Turbilhão de areia e pó em Marte atinge 20 km de altura
A sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) da NASA fotografou a 14 de Março um turbilhão de pó e areia na superfície de Marte (na zona de Amazonis Planitia, Hemisfério Norte) que atingiu os 20 km de altura. Com os clichés, a NASA fez uma montagem animada do turbilhão (ver animação). Na Terra, um tornado não ultrapassa os 16 km em altura e um turbilhão de pó e areia nunca mais de uma centena de metros.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Presentely reading
"The Ends of The Earth - An Anthology of the Finest Writing on The Arctic and The Antarctic", by Elizabeth Kolbert and Francis Spufford (Bloomsbury, 2007).
Rótulo :
livros e leituras
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Revista cultural francesa "Muze" dedica dossier especial à arte portuguesa
A "Primavera Portuguesa" ou a arte como solução para a crise
A última edição da revista cultural francesa "Muze" dedica 60 páginas à arte portuguesa, não hesitando em chamar à nova vaga de artistas lusos, insubmissos e irreverentes, "A Primavera Portuguesa".
"Face às restrições impostas pelas dificuldades financeiras, Portugal é obrigado a reinventar-se. O reverso da crise pode assim vir a ser o fim de um ancestral recolhimento sobre si mesmo. A cultura toma as dianteiras da mudança e a eterna nostalgia torna-se desejo de futuro".
É com esta introdução do artigo "Novo alento na cultura" da jornalista e escritora Filipa Melo que começa o dossier especial da revista cultural francesa "Muze" (edição de Abril-Maio-Junho).
A publicação que se auto-intitula "a revista trimestral da cultura no feminino", escolhe assim uma perspectiva assumidamente feminina e dá-nos a ver o Portugal de hoje e a arte contemporânea lusa através dos olhos de várias portuguesas: Amália Rodrigues, Agustina Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner Andresen, Paula Rego, Lídia Jorge, Maria de Medeiros, Cristina Branco, Joana Vasconcelos, Filipa Melo, entre outras.
SAUDADE INSUBMISSA
Filipa Melo começa por explicar a origem da saudade, essa palavra tão portuguesa que significa bem mais do que simplesmente nostalgia, pela qual é muitas vezes (mal) traduzida. E do fado (fatum = destino), a canção que é suposto cantar a saudade, mas ao invés a chora.
Socorrendo-se das definições de Teixeira de Pascoaes e de Eduardo Lourenço, a escritora recorda que a saudade "terá nascido" em 1578, no momento em que D. Sebastião desaparece na batalha de Alcácer-Quibir, deixando o país órfão de um futuro glorioso. Dos "Lusíadas" (1572) de Camões, à "Mensagem" (1934) de Fernando Pessoa, a saudade atravessa os séculos portugueses até ao princípio do século XXI, como se Portugal vivesse "numa ficção de império territorial ou espiritual, prisioneiro do passado", e como se apenas sobre as lágrimas do império perdido se pudesse construir um porvir.
Mas, mais importante para Filipa Melo, há hoje artistas portugueses que querem sair desse "labirinto da saudade" (E. Lourenço) e se lançam em epopeias mais pessoais e viradas para o futuro. Os exemplos que dá são Gonçalo M. Tavares e o seu poema-romance épico/anti-épico "Uma Viagem à Índia" (2011), e as obras irreverentes e iconoclastas da artista plástica Joana Vasconcelos (foto supra e foto infra).
Enquanto Gonçalo põe o seu romance "a dialogar em surdina com os Lusíadas", mas narra a busca individual(ista) de uma hiperpersonagem literária e não o destino ultramarino de uma nação, as obras de Joana reciclam objectos tradicionais para lhes dar outra dimensão, numa espécie de "auto-ridicularização" nacional. Nas mãos de Joana Vasconcelos, "a identidade nacional é um jogo lúdico e crítico entre tradição e modernidade". Uma das fundadoras da Muze, Stéphanie Janico, entrevista Joana Vasconcelos, que lhe fala, por exemplo, da génese da sua obra "Carmen Miranda", um sapato de tacão gigante (4 metros!) feito de... panelas em aço inoxidável. Uma obra conceptual que representa "a condição da mulher contemporânea, presa entre a tradição do lar e a tentação da sedução" (foto supra).
A diferença nestes novos artistas portugueses é que são influenciados por uma estética internacional, que fica cada vez menos a dever algo à saudade. "A europeização do pensamento português desenvolve-se em paralelo com a europeização dos costumes", lembra Filipa Melo, citando os filósofos José Gil e Maria Filomena Molder. E Miguel Real, outro dos novos escritores, que considera que "hoje já não estamos em diálogo com a Europa: agora também somos a Europa". Ou Valter Hugo Mãe, "escritor que fala da realidade social contemporânea", e João Tordo, "o mais anglo-saxónico dos jovens autores portugueses".
Mas não é só na literatura que há novos talentos que quebram com o passado. Para Filipa Melo, "A Marcha dos Implacáveis", do músico portuense JP Simões, ou "Parva que eu sou", dos Deolinda, podiam perfeitamente ser o novo hino nacional, em que a nova geração se mostra insubmissa e revoltada face ao destino que lhe é imposto pelos governantes e a crise.
"A actual música portuguesa fervilha de novidades, desde Tiago Guillul a B Fachada e aos Buraka Som Sistema", aponta Filipa Melo. "Na última década, até o fado foi reinventado, com textos mais contemporâneos (...) e saiu da sombra imponente de Amália".
Lula Pena, Camané e Cristina Branco, "a fadista atípica", são alguns dos exemplos desse renascimento do fado. Mas, embora sejam apologistas da renovação da canção nacional, todos se reivindicam descendentes de Amália. Porque Amália é incontornável. A revista aproveita para fazer um resumo biográfico da Diva, da revelação à consagração, passando pelos anos difíceis do pós-25 de Abril, em que lhe era recriminada a proximidade que tivera com o Estado Novo, até à reabilitação nos anos 90, também muito graças a toda uma nova geração de fadistas.
Filipa Melo não esquece a música clássica e destaca a "originalidade e inventividade" de pianistas como Bernardo Sassetti ou Maria João Pires.
"Portugal é actualmente o país das grandes contradições", diz Filipa Melo. No cinema temos, por exemplo, recorda, Manoel de Oliveira, o realizador mais idoso do mundo (103 anos) ainda em actividade, cujas obras "são mais citadas do que socialmente aceites ou realmente degustadas". Mas Oliveira recebe quase sempre apoio estatal, que continua a escapar a talentos mais jovens, como João Salaviza, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes (2009), e outros que, face à falta de apoio financeiro, optam por filmar documentários ou filmes de intervenção social", como "forma de resistência".
Face à situação actual, que parece desesperante e sem saída, Filipa Melo cita JP Simões: "Temos que fazer qualquer coisa. Não podemos simplesmente desaparecer no nevoeiro de Alcácer-Quibir. Era o que faltava. Portugal seria o primeiro país da história a renunciar a si próprio".
A ARTE E A LITERATURA LUSAS NO FEMININO
Nesta sua vontade de transmitir uma perspectiva feminina da arte portuguesa, a Muze não podia deixar de dar destaque a uma das artistas plásticas lusas mais importantes da actualidade: Paula Rego (foto infra).
Para a escritora e historiadora francesa Pascaline Balland (d'Almeida), que também colabora neste número, Paula Rego distingue-se por uma "narração interventiva, a denúncia da dominação masculina, as cenas da vida doméstica, a violência recalcada". A obra de Paula Rego "escapa aos rótulos, e essa é a sua força", escreve a historiadora, que evoca a exposição da artista que esteve recentemente patente na filial da Fundação Gulbenkian em Paris.
A "Primavera Portuguesa" ou a arte como solução para a crise
Pierre Léglise-Costa, conhecido tradutor, historiador de arte, crítico e único homem convidado para escrever neste dossier, fala do papel da mulher na arte e na literatura portuguesas. Começa por recordar que "as canções de amigo, de escárnio e de maldizer têm um narrador feminino, apesar de serem escritas por homens". O homem não escreve, parte para a caça, para o mar, para a guerra, o homem é o ser desejado.
Com D. Manuel (1469-1521), a poesia torna-se a arte nacional e os homens assumem-se poetas. O maior de todos Camões, que escreve às mulheres como lhes fala, ou não lhe fossem atribuídos, além das 1.100 estrofes dos Lusíadas, inúmeros poemas de amor e quase tantas conquistas femininas.
Cem anos mais tarde, em França, a "impostura" literária das medievais cantigas de amigo ainda vende. O best-seller de então deve-se à paixão, ao desejo violento, aos sentimentos frustrados e à dor expressas de forma arrebatadora nas cartas da freira portuguesa Sóror Mariana de Alcoforado a um marquês francês. Coligidas em livro em 1669, tornam-se imediatamente um fenómeno de popularidade. Os franceses não acreditam que há em Portugal uma mulher que escreva daquela forma primorosa e o tradutor é tido como o autor. Ainda hoje os críticos disputam a autoria das epístolas: uns defendem que foi Soror Mariana, que realmente viveu em Beja entre 1640 e 1723, outros suspeitam do conde Gabriel de Guilleragues. "Mas", pergunta Léglise-Costa, "como poderia, nessa época, um conde francês conhecer tão bem a vida num convento de Beja?"
Pierre Léglise-Costa fala ainda de outros exemplos de portuguesas que brilharam nas artes: a pintora barroca Josefa de Óbidos (1630-1684); a Infanta Maria-Bárbara (1771-1758), filha de D. João V e que viria depois a ser rainha de Espanha, exímia instrumentista e compositora, e que ainda hoje é considerada a rainha mais culta da história da monarquia espanhola; ou a marquesa de Alorna (1750-1839), que deixou uma vasta obra literária. Para o crítico, cinco mulheres marcaram a literatura do século XX português: a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, a romancista Agustina Bessa-Luís e as "Três Marias" – Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno. Cada uma, à sua maneira, pôs a mulher contemporânea no centro da acção, num Portugal que tinha dificuldades em arrancar-se ao século XIX. Apesar da sua delicadeza e de ser proveniente de uma família aristocrática, Sophia foi uma firme adversária do regime salazarista. Agustina vem de um meio rural e a sua prosa, onde a mulher tem sempre um papel preponderante, vai tornar-se incontornável. As "Três Marias" lançam uma pedrada no charco literário em 1972 com as suas "Novas Cartas Portuguesas" (em alusão às cartas de Mariana de Alcoforado), em que os estilos, os géneros e os temas se alternam livremente. Demasiado livremente. O livro faz escândalo e as três são presas, só vindo a ser libertadas quando se dá o 25 de Abril.
Os anos 80, que para Léglise-Costa ficam marcados pela "explosão" na cena literária de José Saramago e de António Lobo Antunes, vêem também aparecer nomes como Lídia Jorge. A revista aproveita para publicar nesta edição o seu conto "O marido" (1997), sobre uma mulher vítima de violência conjugal. A escritora algarvia confia em entrevista à Muze que este texto marca dois episódios da realidade portuguesa a que ela própria assistiu, apesar de 25 anos os separarem e uma revolução.
De passagem, a revista recomenda ainda "As palavras poupadas" de Maria Judite de Carvalho e o romance de estreia da actriz e escritora Leonor Baldaque, neta de Agustina, que se lançou este ano pela Gallimard com "Vita (la vie légère)", escrito em francês.
No cinema, as mulheres também começam a fazer-se notar atrás da câmara nos anos 80. Primeiro com Teresa Villaverde e mais tarde com Maria de Medeiros (na foto infra), esta última com a única longa-metragem feita até hoje sobre a Revolução dos Cravos. A filha do maestro Victorino d'Almeida é aliás uma das entrevistadas pela revista, na qual fala da sua actividade como actriz e realizadora, entre Lisboa, Paris e Hollywood (foto infra).
Outros novos talentos das artes visuais portuguesas, que também merecem destaque neste dossier, são Carla Cabanas (n. 1979), conhecida pelas suas fotos, à qual acrescenta desenhos, textos, som ou vídeo, em obras que interrogam a memória privada e colectiva; e o projecto "Diário da República", do colectivo Kameraphoto, que em 2011, pelo Centenário da República Portuguesa, fez um retrato do país e das mudanças sociais que Portugal atravessa.
O design cuidado e os artigos assinados por especialistas na matéria testemunham um interesse genuíno da revista Muze por um Portugal que não pode senão reinventar-se face à crise. A crise, por causa da qual Portugal aparece actualmente e demasiadas vezes vilipendiado na imprensa estrangeira, foi aqui aproveitada para revisitar um país que, afinal, ainda tem muito (t)alento para se voltar a erguer. É uma escolha editorial. Que aprovamos.
A revista Muze pode ser encontrada nas livrarias (preço: 14,90 euros em França, ou 15,70 euros no Luxemburgo).
Texto: José Luís Correia
Fotos: Anouk Antony
in CONTACTO, 04/04/2012
A última edição da revista cultural francesa "Muze" dedica 60 páginas à arte portuguesa, não hesitando em chamar à nova vaga de artistas lusos, insubmissos e irreverentes, "A Primavera Portuguesa".
"Face às restrições impostas pelas dificuldades financeiras, Portugal é obrigado a reinventar-se. O reverso da crise pode assim vir a ser o fim de um ancestral recolhimento sobre si mesmo. A cultura toma as dianteiras da mudança e a eterna nostalgia torna-se desejo de futuro".
É com esta introdução do artigo "Novo alento na cultura" da jornalista e escritora Filipa Melo que começa o dossier especial da revista cultural francesa "Muze" (edição de Abril-Maio-Junho).
A publicação que se auto-intitula "a revista trimestral da cultura no feminino", escolhe assim uma perspectiva assumidamente feminina e dá-nos a ver o Portugal de hoje e a arte contemporânea lusa através dos olhos de várias portuguesas: Amália Rodrigues, Agustina Bessa-Luís, Sophia de Mello Breyner Andresen, Paula Rego, Lídia Jorge, Maria de Medeiros, Cristina Branco, Joana Vasconcelos, Filipa Melo, entre outras.
SAUDADE INSUBMISSA
Filipa Melo começa por explicar a origem da saudade, essa palavra tão portuguesa que significa bem mais do que simplesmente nostalgia, pela qual é muitas vezes (mal) traduzida. E do fado (fatum = destino), a canção que é suposto cantar a saudade, mas ao invés a chora.
Socorrendo-se das definições de Teixeira de Pascoaes e de Eduardo Lourenço, a escritora recorda que a saudade "terá nascido" em 1578, no momento em que D. Sebastião desaparece na batalha de Alcácer-Quibir, deixando o país órfão de um futuro glorioso. Dos "Lusíadas" (1572) de Camões, à "Mensagem" (1934) de Fernando Pessoa, a saudade atravessa os séculos portugueses até ao princípio do século XXI, como se Portugal vivesse "numa ficção de império territorial ou espiritual, prisioneiro do passado", e como se apenas sobre as lágrimas do império perdido se pudesse construir um porvir.
Mas, mais importante para Filipa Melo, há hoje artistas portugueses que querem sair desse "labirinto da saudade" (E. Lourenço) e se lançam em epopeias mais pessoais e viradas para o futuro. Os exemplos que dá são Gonçalo M. Tavares e o seu poema-romance épico/anti-épico "Uma Viagem à Índia" (2011), e as obras irreverentes e iconoclastas da artista plástica Joana Vasconcelos (foto supra e foto infra).
Enquanto Gonçalo põe o seu romance "a dialogar em surdina com os Lusíadas", mas narra a busca individual(ista) de uma hiperpersonagem literária e não o destino ultramarino de uma nação, as obras de Joana reciclam objectos tradicionais para lhes dar outra dimensão, numa espécie de "auto-ridicularização" nacional. Nas mãos de Joana Vasconcelos, "a identidade nacional é um jogo lúdico e crítico entre tradição e modernidade". Uma das fundadoras da Muze, Stéphanie Janico, entrevista Joana Vasconcelos, que lhe fala, por exemplo, da génese da sua obra "Carmen Miranda", um sapato de tacão gigante (4 metros!) feito de... panelas em aço inoxidável. Uma obra conceptual que representa "a condição da mulher contemporânea, presa entre a tradição do lar e a tentação da sedução" (foto supra).
A diferença nestes novos artistas portugueses é que são influenciados por uma estética internacional, que fica cada vez menos a dever algo à saudade. "A europeização do pensamento português desenvolve-se em paralelo com a europeização dos costumes", lembra Filipa Melo, citando os filósofos José Gil e Maria Filomena Molder. E Miguel Real, outro dos novos escritores, que considera que "hoje já não estamos em diálogo com a Europa: agora também somos a Europa". Ou Valter Hugo Mãe, "escritor que fala da realidade social contemporânea", e João Tordo, "o mais anglo-saxónico dos jovens autores portugueses".
Mas não é só na literatura que há novos talentos que quebram com o passado. Para Filipa Melo, "A Marcha dos Implacáveis", do músico portuense JP Simões, ou "Parva que eu sou", dos Deolinda, podiam perfeitamente ser o novo hino nacional, em que a nova geração se mostra insubmissa e revoltada face ao destino que lhe é imposto pelos governantes e a crise.
"A actual música portuguesa fervilha de novidades, desde Tiago Guillul a B Fachada e aos Buraka Som Sistema", aponta Filipa Melo. "Na última década, até o fado foi reinventado, com textos mais contemporâneos (...) e saiu da sombra imponente de Amália".
Lula Pena, Camané e Cristina Branco, "a fadista atípica", são alguns dos exemplos desse renascimento do fado. Mas, embora sejam apologistas da renovação da canção nacional, todos se reivindicam descendentes de Amália. Porque Amália é incontornável. A revista aproveita para fazer um resumo biográfico da Diva, da revelação à consagração, passando pelos anos difíceis do pós-25 de Abril, em que lhe era recriminada a proximidade que tivera com o Estado Novo, até à reabilitação nos anos 90, também muito graças a toda uma nova geração de fadistas.
Filipa Melo não esquece a música clássica e destaca a "originalidade e inventividade" de pianistas como Bernardo Sassetti ou Maria João Pires.
"Portugal é actualmente o país das grandes contradições", diz Filipa Melo. No cinema temos, por exemplo, recorda, Manoel de Oliveira, o realizador mais idoso do mundo (103 anos) ainda em actividade, cujas obras "são mais citadas do que socialmente aceites ou realmente degustadas". Mas Oliveira recebe quase sempre apoio estatal, que continua a escapar a talentos mais jovens, como João Salaviza, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes (2009), e outros que, face à falta de apoio financeiro, optam por filmar documentários ou filmes de intervenção social", como "forma de resistência".
Face à situação actual, que parece desesperante e sem saída, Filipa Melo cita JP Simões: "Temos que fazer qualquer coisa. Não podemos simplesmente desaparecer no nevoeiro de Alcácer-Quibir. Era o que faltava. Portugal seria o primeiro país da história a renunciar a si próprio".
A ARTE E A LITERATURA LUSAS NO FEMININO
Nesta sua vontade de transmitir uma perspectiva feminina da arte portuguesa, a Muze não podia deixar de dar destaque a uma das artistas plásticas lusas mais importantes da actualidade: Paula Rego (foto infra).
Para a escritora e historiadora francesa Pascaline Balland (d'Almeida), que também colabora neste número, Paula Rego distingue-se por uma "narração interventiva, a denúncia da dominação masculina, as cenas da vida doméstica, a violência recalcada". A obra de Paula Rego "escapa aos rótulos, e essa é a sua força", escreve a historiadora, que evoca a exposição da artista que esteve recentemente patente na filial da Fundação Gulbenkian em Paris.
A "Primavera Portuguesa" ou a arte como solução para a crise
Pierre Léglise-Costa, conhecido tradutor, historiador de arte, crítico e único homem convidado para escrever neste dossier, fala do papel da mulher na arte e na literatura portuguesas. Começa por recordar que "as canções de amigo, de escárnio e de maldizer têm um narrador feminino, apesar de serem escritas por homens". O homem não escreve, parte para a caça, para o mar, para a guerra, o homem é o ser desejado.
Com D. Manuel (1469-1521), a poesia torna-se a arte nacional e os homens assumem-se poetas. O maior de todos Camões, que escreve às mulheres como lhes fala, ou não lhe fossem atribuídos, além das 1.100 estrofes dos Lusíadas, inúmeros poemas de amor e quase tantas conquistas femininas.
Cem anos mais tarde, em França, a "impostura" literária das medievais cantigas de amigo ainda vende. O best-seller de então deve-se à paixão, ao desejo violento, aos sentimentos frustrados e à dor expressas de forma arrebatadora nas cartas da freira portuguesa Sóror Mariana de Alcoforado a um marquês francês. Coligidas em livro em 1669, tornam-se imediatamente um fenómeno de popularidade. Os franceses não acreditam que há em Portugal uma mulher que escreva daquela forma primorosa e o tradutor é tido como o autor. Ainda hoje os críticos disputam a autoria das epístolas: uns defendem que foi Soror Mariana, que realmente viveu em Beja entre 1640 e 1723, outros suspeitam do conde Gabriel de Guilleragues. "Mas", pergunta Léglise-Costa, "como poderia, nessa época, um conde francês conhecer tão bem a vida num convento de Beja?"
Pierre Léglise-Costa fala ainda de outros exemplos de portuguesas que brilharam nas artes: a pintora barroca Josefa de Óbidos (1630-1684); a Infanta Maria-Bárbara (1771-1758), filha de D. João V e que viria depois a ser rainha de Espanha, exímia instrumentista e compositora, e que ainda hoje é considerada a rainha mais culta da história da monarquia espanhola; ou a marquesa de Alorna (1750-1839), que deixou uma vasta obra literária. Para o crítico, cinco mulheres marcaram a literatura do século XX português: a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, a romancista Agustina Bessa-Luís e as "Três Marias" – Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno. Cada uma, à sua maneira, pôs a mulher contemporânea no centro da acção, num Portugal que tinha dificuldades em arrancar-se ao século XIX. Apesar da sua delicadeza e de ser proveniente de uma família aristocrática, Sophia foi uma firme adversária do regime salazarista. Agustina vem de um meio rural e a sua prosa, onde a mulher tem sempre um papel preponderante, vai tornar-se incontornável. As "Três Marias" lançam uma pedrada no charco literário em 1972 com as suas "Novas Cartas Portuguesas" (em alusão às cartas de Mariana de Alcoforado), em que os estilos, os géneros e os temas se alternam livremente. Demasiado livremente. O livro faz escândalo e as três são presas, só vindo a ser libertadas quando se dá o 25 de Abril.
Os anos 80, que para Léglise-Costa ficam marcados pela "explosão" na cena literária de José Saramago e de António Lobo Antunes, vêem também aparecer nomes como Lídia Jorge. A revista aproveita para publicar nesta edição o seu conto "O marido" (1997), sobre uma mulher vítima de violência conjugal. A escritora algarvia confia em entrevista à Muze que este texto marca dois episódios da realidade portuguesa a que ela própria assistiu, apesar de 25 anos os separarem e uma revolução.
De passagem, a revista recomenda ainda "As palavras poupadas" de Maria Judite de Carvalho e o romance de estreia da actriz e escritora Leonor Baldaque, neta de Agustina, que se lançou este ano pela Gallimard com "Vita (la vie légère)", escrito em francês.
No cinema, as mulheres também começam a fazer-se notar atrás da câmara nos anos 80. Primeiro com Teresa Villaverde e mais tarde com Maria de Medeiros (na foto infra), esta última com a única longa-metragem feita até hoje sobre a Revolução dos Cravos. A filha do maestro Victorino d'Almeida é aliás uma das entrevistadas pela revista, na qual fala da sua actividade como actriz e realizadora, entre Lisboa, Paris e Hollywood (foto infra).
Outros novos talentos das artes visuais portuguesas, que também merecem destaque neste dossier, são Carla Cabanas (n. 1979), conhecida pelas suas fotos, à qual acrescenta desenhos, textos, som ou vídeo, em obras que interrogam a memória privada e colectiva; e o projecto "Diário da República", do colectivo Kameraphoto, que em 2011, pelo Centenário da República Portuguesa, fez um retrato do país e das mudanças sociais que Portugal atravessa.
O design cuidado e os artigos assinados por especialistas na matéria testemunham um interesse genuíno da revista Muze por um Portugal que não pode senão reinventar-se face à crise. A crise, por causa da qual Portugal aparece actualmente e demasiadas vezes vilipendiado na imprensa estrangeira, foi aqui aproveitada para revisitar um país que, afinal, ainda tem muito (t)alento para se voltar a erguer. É uma escolha editorial. Que aprovamos.
A revista Muze pode ser encontrada nas livrarias (preço: 14,90 euros em França, ou 15,70 euros no Luxemburgo).
Texto: José Luís Correia
Fotos: Anouk Antony
in CONTACTO, 04/04/2012
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