Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e o Luxemburgo vão participar num projecto tripartido em diversas áreas, mas particularmente nas ambientais, agrícolas e de desenvolvimento rural, e que também abrangerá a educação e a formação profissional.
A este propósito tenho reparado que o Grão-Ducado tem demonstrado cada vez mais interesse em alargar as suas relações com os países lusófonos, nomeadamente os africanos.
Cabo Verde figura desde 1993 num lugar de topo na lista dos países que beneficiam da ajuda financeira do Luxemburgo na cooperação ao desenvolvimento.
Mas recentemente o Luxemburgo abriu os seus horizontes.
Em Fevereiro último, dois responsáveis do Ministério da Economia luxemburguês – Jean-Claude Knebeler, director do Comércio Exterior, e André Kemmer, analista financeiro do mesmo ministério – deslocaram-se a Luanda para se encontrar com dirigentes angolanos. O objectivo, confiaram na altura os dois responsáveis em exclusivo ao CONTACTO, era "investir em Angola".
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros de São Tomé, Carlos Alberto Pires Tiny, esteve no Luxemburgo a 9 de Junho último, para uma primeira reunião de trabalho com o seu homólogo luxemburguês, Jean Asselborn. Um primeiro passo de aproximação entre os dois países e que dois meses depois resultaria no projecto tripartido já referido.
Outro indicador e não de somenos importância foi quando o Luxemburgo pediu para participar, em 23 de Julho, na cimeira de chefes de Estado e de Governo da CPLP – a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa –, que teve lugar em Luanda. O Grão-Ducado enviou inclusive um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros à dita cimeira. Na altura, os responsáveis desse ministério resguardaram-se de confirmar ao CONTACTO se o Luxemburgo pensava pedir ou não a adesão ao grupo de países associados (observadores) da CPLP.
Como se ainda houvesse dúvidas, o ministro da Economia luxemburguês, Jeannot Krecké, disse na semana passada, durante a visita de Estado dos grão-duques a Portugal, que "o Luxemburgo está interessado em investir em África", utilizando Portugal como uma ponte priviligiada para o fazer (ver também artigo sobre a visita de Estado, nas páginas centrais).
Além do óbvio interesse económico do Grão-Ducado nesses países, refira-se a facilidade para o Luxemburgo de penetrar nesses mercados emergentes recorrendo a uma mão-de-obra residente que é uma verdadeira mais-valia e cujas potencialidades ainda não foram utilizadas a cem por cento: os seus residentes lusófonos e o seu "know-how" inato, a Língua Portuguesa.
Residentes que representam quase um quarto da população. Senão vejamos: vivem actualmente no Grão-Ducado entre 95 e 100 mil portugueses (dados do Consulado de Portugal), que constituem cerca de 18 % da população total e 37 % dos residentes estrangeiros. A esses devem ainda ser adicionados os cidadãos dos países de língua portuguesa: cerca de nove mil cabo-verdianos, cerca de cinco mil brasileiros, 500 a mil guineenses e mais algumas centenas de outros lusófonos provenientes de países como Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, como apurou o CONTACTO no seu Suplemento Especial "Imigração Lusófona do Luxemburgo", que publicámos em 17 de Março último. Se ainda forem contabilizados os cidadãos de nacionalidade luxemburguesa mas lusodescendentes, estima-se que entre um quarto e um quinto da população do Luxemburgo fale português, ou seja, cerca de 110 a 115 mil pessoas num total de 506 mil. Números que, mesmo assim, devem estar aquém da realidade.
Que o número de lusofalantes no Luxemburgo era importante já se sabia, mas, na semana passada, foi a primeira vez que um alto representante do Estado luxemburguês – neste o caso o seu representante máximo, o chefe de Estado – falou sobre os 20 % da população que no Luxemburgo falam português, durante a sua visita a Coimbra (ver páginas centrais sobre a visita de Estado a Portugal).
Na véspera, o ministro dos Negócios Estrangeiros luxemburguês, Jean Asselborn, reiterara em Lisboa, aos jornalistas que acompanhavam a visita de Estado dos grão-duques a Portugal, que o Luxemburgo não precisa de uma Escola Portuguesa.
Uma no cravo, outra na ferradura?
E por isso pergunto: quando um quarto a um quinto da população de um país fala português, pode-se falar em "país lusófono"?
Em Julho de 2007 a Guiné Equatorial adoptou o português como língua oficial, que se veio juntar ao espanhol, ao francês e ao "fang", mesmo se esta última é a língua nacional e a mais falada no país. Na Guiné Equatorial, esta medida foi claramente uma decisão económica, para uma aproximação aos países da CPLP.
E no Luxemburgo, que tem com certeza uma proporção maior de lusofalantes do que aquele país africano, que estatuto merece a língua portuguesa?
José Luís Correia
in CONTACTO, 15.09.2010
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