sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Une brève histoire de l'avenir - Breve história do futuro

É hoje que se decide o que será o mundo em 2050 e se prepara o que será em 2100. Segundo a forma como agiremos, os nossos filhos e os nossos netos hão-de morar num mundo habitável ou hão-de viver num inferno, odiando-nos. Para lhes deixar um planeta saudável, é preciso tomar hoje tempo de pensar o futuro, compreender a sua origem e como agir sobre este. É possível: a História obedece a leis que permitem prevê-la e orientá-la.

A situação é simples: as forças do mercado tomam posse do planeta. Última expressão do triunfo do individualismo, essa marcha triunfal do dinheiro explica o essencial dos mais recentes sobressaltos da História: para a acelerar, para a recusar, para a dominar.

Se essa evolução chegar a termo, o dinheiro acabará com tudo o que lhe puder ser prejudicial, incluindo os estados, que destruirá aos poucos, os Estados Unidos da América incluídos. Transformado em única lei do mundo, o mercado formará o que apelidarei de hiperimpério, impalpável e planetário, criador de riquezas mercantes e de alienações novas, fortunas e misérias extremas; a Natureza será colocada sob uma redoma controlada; tudo será privado, incluindo o Exército, a Polícia e a Justiça. O ser humano viverá acorrentado a próteses, antes de se tornar ele próprio um artefacto, vendido em série a consumidores que se tornarão por sua vez artefactos. Depois disso, o Homem, sendo inútil às suas próprias criações, acabará por desaparecer.

Se a Humanidade recuar diante deste futuro e interromper a mundialização pela violência, antes mesmo de se libertar das suas alienações anteriores, poderá deslizar numa sucessão de barbáries regressivas e de batalhas devastadoras, recorrendo a armas hoje impensáveis, opondo estados, agrupamentos religiosos, entidades terroristas e piratas privados. Apelidarei essa guerra de hiperconflito. Também este pode vir a fazer desaparecer a Humanidade.

Finalmente,
- se a mundialização fôr contida sem ser recusada,
- se o mercado fôr circunscrito sem ser abolido,
- se a democracia se tornar planetária continuando a ser concreta,
- se o domínio de um império sobre o mundo puder cessar,
desenhar-se-á então um novo infinito de liberdade, responsabilidade, dignidade, ultrapassamento dos limites e do respeito do outro. A isto apelidarei a hiperdemocracia. Esta conduzirá à instauração de um Governo mundial democrático e de um conjunto de instituições locais e regionais. E permitirá a cada um, pela utilização reinventada das fabulosas potencialidades das próximas tecnologias, caminhar no sentido da gratuitidade e da abundância, aproveitar de forma equitável as benesses da imaginação mercante, preservar a liberdade dos seus próprios excessos como a dos seus inimigos, deixar às gerações vindouras um Ambiente melhor protegido, fazer nascer, a partir de todas as sabedorias do mundo, novas formas de viver e de criar em comunidade.

Pode-se assim contar a História do próximo meio-século: antes de 2035, acabará o domínio do império americano, provisório como o de todos os que o precederam; depois disso, abater-se-ão três vagas sucessivas de futuro: o hiperimpério, o hiperconflito e a hiperdemocracia. Duas vagas à priori fatais. Uma terceira à priori impossível.

Estes futuros talvez se entrecruzem; pode já até estar a acontecer. Acredito na vitória, por volta de 2060, da hiperdemocracia, forma superior de organização da Humanidade, expressão última do motor da História: a Liberdade.

Jacques Attali, in "Une brève histoire de l'avenir" (Ed. Fayard, 2006)

5 comentários:

Anónimo disse...

Quero desde já dar-lhe os meus parabéns, pelo blogue. Estando eu a preparar a minha mudança para o Luxemburgo, para viver, o seu blogue tem-me sido muito útil, para perceber um pouco o que acontece, como é o quotidiano das pessoas e mentalidades. Estou muito grato pela partilha. Vou viajar mais disperto e disponivel. Parabéns.
Abraços
João Oliveira

Alexandre Gaspar Weytjens a.k.a. José Lus Correia disse...

Grato por ouvir isso João, obrigado pelos elogios.
Sei que o meu blogue tem leitores cativos mas imaginava-os circunscritos ao meu círculo de amigos e conhecidos ou num raio pouco maior do que a minha zona de residência. Afinal reparo que há outros leitores que se vão detendo nas margens destes cadernos. Eu é que agradeço a atenção dos leitores e internautas.

Anónimo disse...

Vou comprar o livro, parece interessante. Existe em português?

Anónimo disse...

penso k nao!

Anónimo disse...

comprends pas tout, mé beau blog qd-mm, Anouk