As misses (por detrás) das misses
São as misses por detrás das misses. As misses da Miss Portugal no Luxemburgo,
entenda-se! Chamam-se Jacinta e Ana Dias e há oito anos tiveram uma ideia que
ao longo do tempo se transformou numa história de sucesso. A três dias de mais uma grande final, o CONTACTO falou com as golden girls do concurso.
São bonitas, inteligentes e assumem-se sobretudo como mulheres modernas. "Somos mulheres modernas e sabemos o que queremos!", lançam as irmãs Jacinta e Ana Dias, com uma centelha de desafio no olhar assim que encetamos a entrevista.
As organizadoras do concurso de beleza Miss Portugal no Luxemburgo (cuja final tem lugar, este ano, a 8 de Novembro, em Bonnevoie, ver caixa na pág 18.) têm as raízes familiares e culturais em Nandufe (Tondela) mas fizeram a sua vida no Grão-Ducado.
Jacinta trabalha há 16 anos no sector bancário e Ana está a terminar uma Licenciatura em Línguas Estrangeiras Aplicadas-Especialização em Management e Negócios Internacionais na Universidade de Metz. Foi talvez por terem crescido na praça financeira que dizem gostar do mundo dos negócios. Mas também nutrem uma admiração pelo universo da moda.
Há incompatibilidade? "Nem por isso!", asseguram. Pode, aliás, dizer-se que foi assim que nasceu a ideia do seu primeiro "filão", que exploram com uma mão firme de verdadeiras golden girls . As duas paixões aliaram-nas quando em 2001 decidem lançar a aventura Miss Portugal no Luxemburgo. Associaram ao projecto o pai, Carlos Ferreira, e a associação que este preside, a Onda Jovem.
A colectividade nascera aliás três anos antes, também com uma outra ideia original: criar um grupo de dança na comunidade portuguesa, quando tantos outros eram conjuntos musicais. "Foi dos primeiros", contam. Hoje, a ideia germinou e foi imitada por outras associações. Mas a Onda Jovem é hoje sobretudo conhecida por ser a associação que organiza a Miss Portugal no Grão-Ducado. A ideia nasceu para criar "algo diferente das festas e bailes habituais na comunidade portuguesa", na mesma ordem de ideias que fez nascer a associação...
E a aposta foi acertada. "Foram logo muitas as jovens que se inscreveram e o público também aderiu desde a primeira edição", recordam.
O grosso do trabalho continua ainda hoje a dividir-se pelo mesmo núcleo duro. Enquanto o pai procura apoios e patrocínios, Jacinta ocupa-se das relações com a imprensa, dos pormenores do espectáculo e Ana faz "um pouco de tudo". "Aliás, todos temos que fazer um pouco de tudo. Organizar um evento como estes, que envolve gerir concorrentes, ensaios, colaboradores, uma pré-selecção e uma final, é um trabalho enorme que nos ocupa o ano inteiro", explicam.
"Aliar vida privada, vida profissional e o concurso, não é fácil, mas tem valido a pena", confiam, evocando a projecção que o evento tem hoje.
DO ANONIMATO AO RECONHECIMENTO
A primeira edição foi organizada "em cima do joelho", riem-se nostálgicas. "Fizemos tudo numa semana, com um único ensaio na véspera. Hoje, as concorrentes têm ensaios durante meses, várias vezes por semana, primeiro para a pré-selecção e depois para a final. A primeira vencedora ganhou um vale de compras numa loja. Este ano, o primeiro prémio é um cruzeiro para duas pessoas, além da coroa e de muitos outros prémios", referem orgulhosas.
Só este exemplo bastaria para provar como o concurso evoluiu. "A maior vitória", garantem, é que, se de início eram elas que deviam correr atrás dos patrocinadores, convencendo-os de apostar no projecto, actualmente são os sponsors , alguns de renome internacional, a baterem-se para serem escolhidos como parceiros do concurso, prova do prestígio que este adquiriu não só entre os portugueses mas também entre a opinião pública de todo o Luxemburgo.
Durante alguns anos deram de caras com algum preconceito e ainda hoje isso acontece. "Quando referíamos que vínhamos pedir patrocínios para a Miss Portugal, algumas empresas não queriam estar associadas a um evento que consideravam desprestigiante para a sua imagem. Felizmente isso hoje já mudou", contam. Red Bull, Luxair, Voyages Flammang são algumas das marcas nacionais e estrangeiras que vieram, entretanto, bater-lhes à porta. Recordam que as coisas começaram a mudar há cerca de três anos quando pediram a colaboração da conhecida professora de ballet luxemburguesa Li Marteling, actual autora das coreografias e dos diferentes desfiles do concurso. "Agora, até a RTL já insiste em fazer a cobertura", dizem, isto depois da maioria da imprensa autóctone as ter ignorado durante anos.
PORTA DE ENTRADA NO UNIVERSO DA MODA
Apesar do sucesso alcançado pelo concurso, Jacinta e Ana têm os pés bem assentes na terra: "Não somos Madames de Fontenay [n.d.R.: Geneviève de Fontenay, a carismática presidente do Comité de Miss França], organizamos o evento com as condições que podemos e que temos. Depois disso, cabe as candidatas voar pelas suas próprias asas, não andamos com as misses de desfile em desfile, estamos aqui apenas para lhes abrir as portas! O concurso tem servido sobretudo como primeira experiência a muitas das concorrentes para outras eleições como a Miss Benelux, Top Model Belgium, Miss Earth e porta de entrada no mundo do manequinato não só para a candidata que ganha mas para todas as que participam", fazem questão de frisar as irmãs.
Efectivamente, os exemplos são vários: Stéphanie Ribeiro, Miss Portugal no Luxemburgo 2006, foi Top Model Benelux 2006, Miss Anadia 2007, Miss Bairrada 2007, é hoje modelo da agência Must Models e trabalha com a l'Oréal; Nádia Neves Pereira, Miss Portugal no Luxembourg 2004, foi Miss Benelux 2008, título pelo qual concorre este ano pelo Luxemburgo a Miss Earth, nas Filipinas (ver também artigo na pág. 21); Patrícia Fernandes, Miss Simpatia 2006 trabalhou para a televisão; Daniela Martins, 1a Dama de Honor 2007 concorre este ano a Top Model Belgium (ver também artigo na pág. 21); Karin Leal Évora, 2a Dama de Honor 2006 participou em diversos desfiles de moda na Alemanha; etc.
São os casos mais mediáticos, mas outras concorrentes foram igualmente contactadas por agências de publicidade ou de modelos, ou por empresas e marcas, depois de terem participado na Miss Portugal no Luxemburgo.
O concurso recebe todos os anos meia centena de inscrições, "nem metade das jovens aparece", lamentam as organizadoras, "por timidez ou porque foi outra pessoa que as inscreveu, mas elas acabam por recusar participar". De 50 inscritas em média, aparecem 15 ou 20. Dessas, são apuradas 12 numa pré-selecção que decorre normalmente na Primavera, sendo a grande final no Outono (este ano, a 8 de Novembro).
"Mulheres bonitas há muitas, mas algumas não tem coragem de desfilar ou sonhar com o mundo da moda. Outras são tímidas. Cruzamos frequentemente mulheres lindas que nunca pensaram em participar em concursos de beleza ou porque não querem, porque ainda há ideias preconcebidas relativamente a este tipo de eventos", admitem. "Inteligência e beleza não são incompatíveis... Nós somos a prova!", garantem numa gargalhada de sã "auto-derisão".
"As participantes na Miss Portugal saem desta experiência mais bonitas", consideram as irmãs, "porque algumas aprendem a ter uma postura mais feminina, a valorizar o potencial que possuem. São pormenores essenciais se querem vingar na moda, mas que se aplicam também na vida de todos os dias".
MULHERES MODERNAS
E se bem o dizem, melhor o aplicaram a si próprias. "Nós também mudámos", revelam, "estes anos todos a organizar a Miss Portugal deram-nos segurança, autoconfiança, autoestima e... um sentido mais apurado dos negócios!", riem-se.
Minutos depois, diante da objectiva do nosso fotógrafo, durante o shooting nas Rives de Clausen, confiam-se pouco à vontade em serem o centro das atenções. "É nestes momentos", dizem-nos, "que admiramos a coragem das candidatas, ao subirem para um palco e submeterem-se às fotografias, ao julgamento do júri e do público." Confessam-se incapazes de passar pelo mesmo", apesar de serem jovens, bonitas e elegantes e de os pretendentes nunca lhes terem faltado.
Por falar em namorados, revelam que "é mais fácil conjugar vida privada e trabalho, do que com o concurso". "A Miss Portugal exige de nós estarmos muito presentes em todos os passos da organização. Há semanas em que o concurso nos ocupa quatro serões. Os namorados, caso os houvesse neste momento, tinham que ser 'muuuuito' pacientes!", consideram as duas em uníssono, sem evitar mais uma gargalhada.
As irmãs preferem trabalhar nos bastidores do que que "aparecer" em primeiro plano. Frequentemente têm igualmente de usar de alguma psicologia para falar com as candidatas ou com os pais destas, porque alguns mostram-se preocupados quando as filhas entram neste mundo. Jacinta e Ana já estão habituadas. Tranquilizam-nos aconselhando-os a enquadrarem da melhor forma possível as jovens porque "a moda é um universo muito sedutor, mas pode esconder armadilhas que é preciso saber evitar".
"Assim que começam a aparecer nos jornais e nas revistas, como simples participantes da Miss Portugal, muitas candidatas recebem logo convites de agências ou de supostos pigmaleões, que lhes prometem 'mundos e fundos'. Um dos conselhos que damos aos pais é de acompanharem sempre as filhas ou de nunca as deixarem apresentar-se sozinhas num shooting , porque há profissionais sérios, mas também há alguns menos sérios", alertam.
MISS PORTUGAL... E DEPOIS?
As vencedoras da Miss Portugal no Luxemburgo costumam participar noutros concursos de beleza europeus ou intercontinentais, mas não podem concorrer à eleição de Miss Portugal (em Lisboa). Parece um contra-senso.
Jacinta e Ana Dias já chegaram a contactar o comité português, que lhes explicou que aceitam apenas candidaturas de jovens que se inscrevam em representação de uma região de Portugal, mas que "não há nada previsto" para uma representante das comunidades.
Uma ideia a explorar: Miss Portugal das Comunidades, à semelhança do concurso Miss Italia nel Mondo?
"Por enquanto, não pensamos nisso, a Miss Portugal no Luxemburgo já nos dá anualmente bastante trabalho", confiam.
O sucesso alcançado por concursos como a Miss Portugal, a Miss Itália e a Miss Cabo Verde, eleitas pelas comunidades respectivas, terão contribuído ao ressurgimento da Miss Luxemburgo em 2008, após mais de uma década de ausência?, perguntamos às irmãs.
"Talvez os luxemburgueses considerassem que também podiam organizar um concurso desses, já que outras comunidades o faziam. Não sei se se ficou a dever a concursos como o nosso, talvez indirectamente tenhamos contribuído para relançar a ideia!...", gostam de pensar.
Quisemos ainda saber se as duas irmãs nunca consideraram aproveitar o êxito do concurso que organizam para se dedicar exclusivamente ao mundo da moda, que seguem com interesse e pelo qual confiam nutrir admiração, "como qualquer mulher moderna", recordam. Por enquanto, Jacinta não prevê abdicar do seu trabalho como bancária para se dedicar exclusivamente à Miss Portugal ou a projectos ligados à moda. Embora confie: "Nunca pensei nisso, mas... se surgissem convites profissionais, porque não? No mundo da moda ou, por exemplo, na realização de eventos!"
Já a irmã, Ana, prefere mesmo o mundo dos negócios para onde se prepara a entrar assim que termine os estudos no próximo ano. "A moda continuará apenas a ser um hobby", garante.
Escrutínio transparente
No concurso Miss Portugal no Luxemburgo, anos houve marcados pela contestação da escolha da vencedora por parte de candidatas ou de parte do público. Sobre isso, as organizadoras, Jacinta e Ana Dias, falam sem rodeios.
"Compreendemos que para qualquer pai é a filha que merece vencer, é normal. Mas o júri é composto por patrocinadores, um representante da imprensa, um da organização e a miss do ano anterior, em número de sete elementos [para evitar empate nas decisões]. Para que a vencedora veja como foi eleita e como os votos são escrutinados, convidamo-la no ano seguinte a fazer parte do júri e a proceder connosco à operação da contagem. Tudo é feita de forma transparente", afirmam peremptórias as responsáveis do concurso.
E passam a explicar: "Os votos do júri contam para dois terços dos pontos atribuídos a cada concorrente, a votação do público para um terço (incluindo os votos online e, este ano, pela primeira vez, os enviados por SMS)."
"Todos os anos, as votações, querem venham do público como do júri, tendem sempre a ir na mesma direcção. As vencedoras dos últimos anos têm vencido, aliás, por uma grande diferença em relação às outras", fazem questão de acrescentar.
E para que não restem dúvidas, rematam: "O facto de as vencedoras participarem depois noutras competições prova que elas fazem igualmente a unanimidade junto de outros júris."
José Luís Correia, in Contacto, 05.11.08 (Fotos: Jorge Rodrigues)
(Foto: agradecimentos ao restaurante "Água de Côco", nas Rives de Clausen)
2 comentários:
Parece as Rives de Clausen...
Sim, Sabine, é em Clausen! O novo spot, o novo place to be :-) Foi muito giro. Apesar do dia não estar com muito sol (o que já é um hábito no Luxemburgo), tanto a Jacinta como a Ana mais habituadas aos bastidores, são muito fotogénicas e prestaram-se ao jogo da máquina fotográfica do Paulo Lobo.
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