sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

terça-feira, 8 de julho de 2008

"The Last Supper", no Kirchberg

Entrevista com o arquitecto do restaurante "The Last Supper", no Kirchberg

A Última Ceia... segundo Miguel Câncio Martins

O restaurante "The Last Supper", no Kirchberg, é a última criação do arquite

ct o e designer de interiores português Miguel Câncio Martins, que tem projectado e concebido os ma is belos e requintados restaurantes, bares e lojas do mundo.

Miguel Câncio Martins tem a sua agência MCM baseada em Paris mas é hoje solicitado para projectos nos quatro cantos do Mundo. Aos 43 anos é um dos nomes confirmados na arte de conceber interiores para lojas, discotecas, bares e restaurantes. As suas c riações caracterizam-se por serem simultaneamente acolhedoras e extravagantes, o que à partida pode parecer contraditório. Não para Câncio Martins, que assim se inscreve e precedeu mesmo a tendência dos espaços de lazer lounge (confortáveis e acolhedores) que se multiplicaram na última década.

O sucesso granjeado deveu-se a projectos como o Buddha Bar, o Barfly, o Jaiphour, em Paris, o Pacha, em Marraquexe, o Man Ray, em Nova Iorque, ou o Strictly hush, em Londres, que se tornaram moradas de prestígio. Em Portugal assinou trabalhos co mo o Hotel Heritage ou a loja Vista Alegre, em Lisboa. E trabalha actualmente em dois projectos de hotel, um do grupo Hilton, no Algarve, outro na Comporta, no Alentejo, além no de um restaurante, no Chiado.

No Luxemburgo, a sua primeira criação data de 2001 e é sobejamente conhecida: o acolhedor e sumptuoso restaurante Opium, em Alzingen, inspirado no Buddha Bar, criado para o seu amigo luxemburguês Nico Lanter. Entretanto, concebeu igualmente o restaurante Lux-E Cosi (44, av. Pasteur, no Limpertsberg), de Dina Camacho, também uma amiga.

Conceber um restaurante no Luxemburgo ou alhures no mundo não é a mesma coisa?, é a pergunta que nos vem de chofre quando nos cruzamos com Câncio Martins.

"Ir a um restaurante aqui ou noutra parte do mundo, e apesar de a acção ser a mesma – comer! –, tudo depende das características das pessoas que aí vivem. Antes de avançarmos com um projecto tentamos apreender esse pormenor. Por exemplo, no Luxemburgo, as pessoas vivem muito em casa, saem pouco. Os restaurantes que aqui criámos foram so bretudo pensados como espaços onde os clientes se sintam em casa e vivam a refeição em convívio", explica-nos.

Quando Nico Lanter o voltou a solicitar para que criasse um segundo Opium no Grão-Ducado, Câncio confia que foi ele quem dissuadiu o luxemburguês de criar um sucedâneo no Kirchberg para que não constituísse concorrência ao de Alzingen, que funciona bem e com uma clientela cativa. Concordaram então num restaurante de inspiração italiana, de conceito contemporâneo e que se adaptasse à "fauna" diurna e nocturna que frequenta o bairro.

O nome do restaurante "The Last Supper" (inspirado no quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, reproduzido por cima da garrafeira) foi também ideia do arquitecto português, que logo imaginou a decoração – o jogo das molduras e dos estofos dourados com os ton s escuros e os espelhos, a luz tamisada, os lustres majestosos, o mobiliário exclusivo e os painéis renascentistas de Da Vinci e Miguel Ângelo que ornam tectos e paredes. Foi também ele que decidiu o espaço a ocupar e como. O restaurante estende-se sobre 500 m2, com as fachadas frente e traseira em vidro como únicos focos de luz do dia, e que, quando penetradas pelo sol, esta quase adquire origem transcendental. Ao centro, a dividir o espaço, o bar longo e semi-curvo, separado da cozinha por uma vidraça vermelha que permite ao cliente ver como ali se trabalha, em sinal claro de transparência da qualidade do serviço prestado pelo estabelecimento. À entrada, o canto lounge , com mini-sofás e mesas desenhados para o efeito. No outro extremo, uma mesa-comum, em forma de nuvem, onde os clientes podem comer ao lado de desconhecidos, "espaço concebido para o convívio", explica o arquitecto dura nte a visita guiada. E que convida igualmente à partilha do pão, percebemos nós depois, já que este é outro dos conceitos do lugar", ou não fizesse o restaurante jus ao nome com que foi consagrado.

A PARTILHA DO PÃO

Aberto desde o início de Junho, um dos conceitos do restaurante "The Last Supper" (n°33 da av. J.F. Kennedy, no Kirchberg) é "a partilha do pão", ideia repescada da última ceia entre Jesus Cristo e seus discípulos. O que na prática se traduz por poder ir "roubar" o pão à mesa ao lado. Se o vizinho não entender o acto inopinado, é favor pô-lo ao corrente dos costumes da cas a, para evitar o incidente diplomático.

"As pessoas ao princípio estranhavam, mas a ideia tem funcionado", afirmam os responsáveis.

Situado no bairro europeu da capital, no edifício Ellipse do complexo arquitectural K2, o restaurante quer-se à imagem do mundo de executivos que o rodeia, aliando alta qualidade e requinte. Num quadro tamisado, confortável e acolhedor, concebido pelo arquitecto Miguel Câncio Martins (ver artigo principal) o restaurante inclui um bar, um espaço lou nge e está aberto das 7 à 1h da manhã, podendo o cliente tomar o pequeno-almoço mas também o último cocktail antes de regressar a casa.

O chefe-cozinheiro Emmanuel Moine (2 estrelas Michelin) preparou uma ementa que alia cozinha francesa e internacional a pensar nas papilas da clientela cosmopolita. No cardápio encontramos agradados desde pratos do Sul como o gaspacho de tomate com sorvete de pepino, pérolas asiáticas como a sopa thai com gengibre, ou os consistentes americanos, à semelhança da entremeada de porco marinada à Nova Orleans.

O estacionamento junto ao local é facilitado através de parque subterrâneo do edifício pa ra clientes. O restaurante encerra aos sábados, à hora do meio-dia, e aos domingos.

O OUTRO TOQUE PORTUGUÊS

Provando que Nico Lanter gosta de se rodear do que de melhor os portugueses fazem, o outro toque lusitano do restaurante é uma obra plástica do artista luso residente no Grão-Ducado, Rico Sequeira.

José Luís Correia, in Contacto, 02.07.08

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