sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Indexação dos salários: crónica de uma morte anunciada

Durante o congresso dos cristão-socais em Hesperange, Juncker pessimista

Indexação dos salários:
crónica de uma morte anunciada
Para o primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker, o Governo só poderá restabelecer a indexação automática dos salários ("index") após 2010, dada a conjuntura económica do país e do mundo.
Juncker considera ser possível "voltar a aplicar o 'index'", mas só depois de 2010, e na condição de a inflação descer abaixo dos 2%", ressalvou (actualmente esta situa-se nos 4,3%).
No congresso do CSV (Partido Cristão-Social), que teve lugar a 16 de Julho, em Hesperange, durante o qual fez estas declarações, Juncker chegou mesmo a aconselhar o seu partido a não usar o "index" como argumento de campanha eleitoral para as Legislativas de Junho de 2009. Preconizando "prudência" nas promessas e nos prazos a anunciar para a reintrodução da indexação, o chefe de Governo foi claro com os militantes e líderes do CSV: "Devemos dizer a verdade às pessoas, e a verdade é que teremos de nos habituar a viver com preços altos".
Juncker fez notar que a situação financeira do país já conheceu tempos mais faustos: o crescimento económico desceu de 6,1 para 3 % entre 2006 e 2008 e as receitas provenientes dos impostos ou de taxas, como as do tabaco, foram inferiores a anos anteriores. Acrescente-se a subida constante da inflação e os inflamáveis preços do petróleo, e "nada é menos certo do que o Orçamento de 2009 seja positivo", alertou.
Jean-Claude Juncker criticou ainda sindicatos e organismos que reclamam, a todo o custo, o regresso da indexação.
É preciso saber ler entre as linhas neste pessimismo de Juncker: caso a economia mundial continue na mesma senda e a inflação no Luxemburgo não desça abaixo dos 2 %, nem em 2010 nem nos anos seguintes, então estamos a assistir à morte anunciada da indexação.

Comentário:
O "joker" (de) Juncker
Juncker não disse claramente se seria candidato às Legislativas de 2009, mas todos os membros do partido cristão-social (CSV) conhecem já a resposta...Foto: Anouk AntonyDurante o congresso do CSV (ver artigo principal), o primeiro-ministro Jean-Claude Juncker não disse claramente se seria candidato pelo partido às eleições legislativas de Junho de 2009.
Como habitualmente, Juncker gosta de deixar pairar o "ténue mistério" e no momento derradeiro sabe que o partido lhe outorga liberdade suficiente para tomar uma decisão.
Desta vez, Juncker limitou-se a afirmar lacónico: "Farei tudo para que o meu partido vença as eleições". Eu traduzo: se as sondagens efectuadas semanas antes do sufrágio indicarem que sem um chefe-de-fila carismático o CSV se arrisca a perder as eleições (o partido está no Governo desde 1979!), então Juncker assumir-se-á claramente como cabeça-de-lista.
Caso contrário, Juncker terá liberdade de pensar noutros horizontes. Bruxelas parece cada vez menos uma opção, com o posto de presidente da União Europeia, a que almejava, seriamente comprometido (depois do "não" irlandês ao Tratado de Lisboa, que previa a criação desse cargo em 2010) e com Durão Barroso sucessor ao seu próprio lugar como presidente da Comissão Europeia (cargo para o qual Juncker chegou a ser apontado).
Mas como Juncker está habituado a guardar sempre um "joker" na mão, esperemos então pelas cenas dos próximos capítulos.

José Luís Correia, in Contacto, 23.07.08

1 comentário:

Voyages en Suspens disse...

esta morte anunciada corresponde simplesmente ao fim duma era de solidariedade social 'à luxemburguesa', durante a qual foi considerada normal uma partilha equilibrada dos rendimentos publicos e privados. Neste mundo do passado, o empresario, o doutor, o ministro, o chefe, nao almejavam ostentar em demasia os meios de vida. nao precisavam disso, pois existiam como pessoas, come seres humanos dotados de moralidade e principios.
no novo capitulo que começa para luxemburgo, finalmente chegamos ao que ja existe desde sempre por exemplo em Portugal: uma hierarquizaçao das classes sociais, com uma minoria abastecida e que gosta de ser tratada como a elite, e uma maioria a lutar pela vida e a humilhar-se diante dos poderosos.

Nao é preciso justificar o fim da indexaçao copm historias de crise e de crescimento
para mim, a unica razao é mesmo essa: acha-se normal que exista um abismo entre os muito ricos (que nunca precisarao de indexaçao) e os muito pobres.

e como ha cada vez mais candidatos ao 'eldorado' laborial luxemburguês, provenientes de paises onde o nivel dos salarios é uma vergonha e absurdidade, agora chegou o tempo de ordenar às classes 'inferiores' no luxemburgo que se alinhem aos outros