Enquanto as catástrofes naturais destroem a outra metade do Mundo, deste lado o tsunami é económico: hoje, pela primeira vez desde sempre, o gasóleo ultrapassa o preço da gasolina normal 95 octanas e passa a custar 1,267 euros. É exactamente o dobro do que custava que há cinco anos. Só por isto se vê o que o Mundo mudou desde 2003. O petróleo arrasta todo o resto da economia atrás de si com as consequências das altas de preços e da perda do poder de compra das classes média e baixa que se vêem, alargando ainda mais o fosso entre as classes modestas que possuem cada vez menos meios e as classes abastadas que auferem cada vez mais altos rendimentos.
Nós, aqui no Luxemburgo, ainda somos dos mais privilegiados, protegidos nesta ilha, agora quase-ilha, tornando-se a pouco e pouco uma península. Mas a onda de choque do continente económico há-de também abater-se aqui.
Aproveito para aconselhar o excelente texto "Le Bazar Gobal", uma leitura bastante justa e analítica do momento socioeconómico actual no blog do Paulo Lobo, "Voyagens en Suspens", porque apesar de frequentemente ausente em viagem (imaginária ou interior), nem a ele escapa este difícil parto que está a ser o século XXI. Considero inclusive o título muito apropriado, clarividente e de interpretação dupla: "bazar" enquanto sinónimo na gíria popular francesa de "caos, confusão", mas também como sinónimo de "loja onde tudo está à venda e pode ser comprado".
O mundo globalizado quer dizer afinal que (e o Paulo compreendeu-o bem!) o mundo está à venda e nós todos também fazemos parte do "brinde". E se os senhores do mundo, os magnatas dos grandes conglomerados multinacionais, que monopolizam ("monolitizam") a economia global, quiserem subir os bens de consumo em alta não haverá como definir-lhes limites. Nem se nos quiserem vender a nós ao desbarato haverá fuga possível aos saldos globais.
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5 comentários:
é certo.
a passagem do preço do gasoleo acima da gasolina 95 parece-me mais um ajuste da industria para aproveitar-se co contexto mundial, fazer entrar novos beneficios e compensar perdas noutros campos.
Também acho terrivelmente cinico o espirito quase jovial com que alguns especialistas, politicos ou economistas comentam este fato, como que dizendo 'ha ha, queriam ser mais espertinhos, mas agora acabou, agora vao pagar mais do que os outros!'
é preciso lembrar que nestes ultimos anos a industria do automovel apostou em cheio no desenvolvimento do diesel para vender, vender, vender.
E quem é que comprou os diesel rodas? Nao os ricos, nao os abastados, que preferem os carros 'nao poluidores' e mais dignos. Nao, quem comprou os diesel foram os menos acaudalados, as familias ...
sao estes 'espertinhos' que a partir de agora vao ser chamados à atençao.
por outro lado, pergunto-me se a subida do gasoleo nao é mais uma estratégia da industria automovel para promover no mercado uma vaga de novos produtos a gasolina mais baratos (fabrico menos requintado), menos golosos em combustivel e apresentados como menos poluidores. Nesta perspectiva, é necessario que os veiculos a diesel pareçam de repente totalmente desfasados
ora bem, nem é preciso comentar mais, a jogada estás mais que a vista!
Há vários anos, mesmo décadas, que se previa o igualar de preços entre a gasolina e o gasoleo. Lecciono em cursos de ambiente e não há dúvida que o jogo económico encontrou nos problemas (que são sérios e inexoráveis) ambientais refúgio para jogadas faltosas. O tempo é de mudança e esta tem um preço. Pena é que a factura seja sempre endereçada aos mesmos.
Gostei, Gaspar! Principalmente dos posts relativos ao Blindness (estou mortinho para ver) e ao Carlos Saura (vi o filme em Almada, com uma mesa redonda após a exibição, em que participaram a Joana Amendoeira e o Carlos do Carmo). Muito bom, o filme e o ambiente de tertúlia subsquente.
Parabéns pelo blog! Bem esgalhado!
Já agora, "A Cebola do Gaspar"... hilariante!
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