sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

domingo, 26 de agosto de 2007

Fado cismado

Eu pensava que o fado
era uma sina torta
na mão de um desgraçado
que um dia te bate à porta
e que tu tens de aceitar calado.
[e que tu tens de receber calado]

Eu pensava que o fado
era apenas um xaile e uma canção
triste sobre a saudade e o passado
mas é o porão da minha alma apagada
e todo o novelo da minha vida magoada.

Eu pensava que o fado
era uma guitarra e uma nau que partem de um cais
[era uma guitarra numa nau que nunca mais regressa ao cais]
mas não o teu coração transviado
de já não me amares mais
de já não seres meu
como as estrelas pertencem ao céu.

Eu pensava que o fado
era sempre escrito pela mão de Deus.
Mas olha como corre no meu sangue,
na minha vida e na minha voz.
Eu cismava, mas agora canto
porque o fado fala-me de nós
do sopro que o teu coração deixou no meu.
[do rasto que a tua mão
deixou no meu coração]

JLC 260807 / Lago de Echternach