sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

assola-me a noite inane

...são 22h13, um telefone que toca no vazio, não atender, quem será? a sensação de estar noutro lugar, alhures, não sei bem onde e viver uma cena que repudio, mas que adivinho, mais cedo ou mais tarde tudo acaba por acontecer, já sabemos, mas não queremos ver...

Flashback de seis horas. Sol de Inverno, lá fora. Na rádio Kelly Clarkson e eu a tentar concentrar-me no trabalho ao ritmo do teen spirit.
Um telefonema em plena tarde. Do outro lado do mar. Não é o Paulo de Nova Iorque. Uma mulher. Mas não é a Raquel, de Houston, nem tão pouco a Maria do Céu, do Leblon, no Rio. É Toronto. Uma voz do passado. Uma voz triste, apagada, magoada. Percorre-me o sangue o veneno que destilei numa manhã gelada de Janeiro e que apenas basta lembrar para me voltar a acicutar.
- Não leves a mal, já me esqueci da teu disparo, quase não morri, quase não chorei, fugi para outro hemisfério...
Fala-me do Líbano, do Egipto.
- Na Primavera, o México é tão bonito! E Marraquexe... Mas o Cairo... ah, o Cairo! Encruzilhada de rosas dos ventos, rosas do deserto, a Casbah atarefada, as ruelas, a turba dos mercadores, os cheiros mesclados, acafrão, caril e canela, chá de hortelã-pimenta no estio para resfrescar, os cantares alegres das mulheres, a oração, a vigília, o silêncio no deserto, o Nilo à noite, a madrugada sossegada e estrelada...

Foge para a frente. Voltar a quê, para quê? Nada faz sentido do que se faz ou se fez, excepto o que se fez com o sentido de ser. Um ocaso nos Cárpatos já tão longíquo...

- Se soubesses como lamento aquela manhã...
- Não peças desculpa! Se foste sincero no beijo, que mais posso querer?...

O que eu queria não era um perdão, era uma consciência tranquila. Nem no derradeiro momento fui corajoso. E hoje, que faço aqui, aguardando a noite inane? o telefone insiste e eu temendo saber quem é...
- Estou! Quem é?

3 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Lis disse...

Bonito...

Voyages en Suspens disse...

gosto muito destes pedaços de tempo e de sensações flutuantes