A geografia explicada ao amor
Não descures o fogo, amor
que é a verdadeira razão do mundo
e o eixo incandescente desta esfera
e a dorsal atlântica dos meus paralelos.
É o fogo, amor
que atrai os dois pólos opostos
e os sustenta em frágil equilíbrio
e toda a terra em volta.
É o fogo, amor
que mantém este continente
e evita a deriva,
apesar dos tsunamis na minha boca
e dos sismos que me atravessam como cicatrizes.
Mas nem a insistência dos ventos
nem a memória das marés
nem o sopro das águas
hão-de extinguir as chamas
que lavram esta queimada
e preparam a terra prometida.
A floresta virgem foi lá atrás no meu passado.
É o fogo, amor
e precisa arder
como o sol teimoso
agrarrado a este braço de galáxia.
Sou fogo, amor
e preciso arder
e das tuas águas
que lavem as minhas feridas abertas
e dêem de beber ao meu chão em pousio.
E as águas hão-de ser sangue
e penetrar as camadas profundas do meu corpo
e os aluviões da minha alma.
E a alma é fogo, amor
que na rota das tuas mãos
na nebulosa da tua nuca
e na travessia do teu peito
sofre de combustão espontânea
deflagra e perpetua o ciclo.
quarta-feira, 5 de julho de 2006
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