sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
-
cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 5 de julho de 2006

A geografia explicada ao amor

Não descures o fogo, amor
que é a verdadeira razão do mundo
e o eixo incandescente desta esfera
e a dorsal atlântica dos meus paralelos.

É o fogo, amor
que atrai os dois pólos opostos
e os sustenta em frágil equilíbrio
e toda a terra em volta.

É o fogo, amor
que mantém este continente
e evita a deriva,
apesar dos tsunamis na minha boca
e dos sismos que me atravessam como cicatrizes.

Mas nem a insistência dos ventos
nem a memória das marés
nem o sopro das águas
hão-de extinguir as chamas
que lavram esta queimada
e preparam a terra prometida.
A floresta virgem foi lá atrás no meu passado.

É o fogo, amor
e precisa arder
como o sol teimoso
agrarrado a este braço de galáxia.

Sou fogo, amor
e preciso arder
e das tuas águas
que lavem as minhas feridas abertas
e dêem de beber ao meu chão em pousio.

E as águas hão-de ser sangue
e penetrar as camadas profundas do meu corpo
e os aluviões da minha alma.

E a alma é fogo, amor
que na rota das tuas mãos
na nebulosa da tua nuca
e na travessia do teu peito
sofre de combustão espontânea
deflagra e perpetua o ciclo.

Sem comentários: