sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Os domingos s.o.s.

Os domingos à tarde,

que costumávamos passar a fazer amor
misturando os nossos corpos insuspeitos e cadentes
deitando a nossa alma insustentável
no cobertor infinito das nossas promessas à flor da pele
maltratando as horas ciumentas e vis
que nos fitavam de soslaio do canto escuro do quarto da mansarda
e nós alheios a esses mecanismos
que teimam em dividir o dia mesmo se ele sempre nasce inteiro,

são indolentes sem ti
são cascas de noz vazias
que estalam na cova da minha mão
e me devolvem o eco fragmentado
dos teus passos no soalho velho do meu passado.

A sós, entregue à turba cruel
das minhas vozes que se amotinam,
deixo-as morderem-me os dedos, roerem a mordaça,
comerem o pano, cravarem-me os dentes nas jugulares
e destilarem-me veneno nas artérias.

Num gesto violento
faço um garrote à minha alma
aperto-o bem
dedilho a veia sediciosa
espeto a seringa
como uma lança de guerra
e injecto afecto no objecto cardíaco.

Sei que para salvar-te basta abraçar-te.
Mas quem me resgata a mim?

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