É a quarta vez que os Madredeus actuam no Luxemburgo Fotos: Guy Wolff |
Cantam Lisboa, a alma e a poesia portuguesa. Uma guitarra portuguesa alada (José Peixoto), uma viola clássica sublimada (Pedro Ayres Magalhães), um baixo providencial (Fernando Júdice) e teclas inspiradas (Carlos Maria Trindade) enquadram a composição para uma voz única e inconfundível, a de Teresa Salgueiro.
Um domingo ao entardecer, num cenário idílico. Os Madredeus são o grupo português mais internacional de sempre e a prová-lo, mais uma vez, foi o público – 1.200 pessoas das mais diferentes nacionalidades e origens – que assistiu no domingo ao concerto no adro da Abadia de Neumünster, no Grund, no âmbito do Festival OMNI 2006, promovido pelo Centro Cultural de Encontro (CCRN).
É a quarta vez que os Madredeus passam pelo país, do qual guardam a boa recordação do concerto em Wiltz, em 2000, e do primeiro, em 1992, "porque era uma das duas primeiras actuações que faziamos fora de Portugal", conta-nos Pedro Ayres Magalhães, mentor do grupo.
"Do palco, não fazemos distinções entre o público. É normal em Paris ou no Luxemburgo haver mais portugueses do que noutras cidades, mas os portugueses até costumam ser a minoria. A obra do grupo – temos cerca de 120 canções –, continua a ser pouco conhecida, mesmo se o nome é famoso!", lamenta Pedro Ayres, mentor e membro-fundador do grupo.
Lisboa e Teresa
Os Madredeus são uma fantasia musical erudita de raiz genuinamente portuguesa, segundo uma definição de Pedro Ayres. Move o grupo o culto da composição em português. A grande fonte de inspiração é Lisboa. Mas também a própria Teresa Salgueiro.
"Fazemos música para guitarra, para a voz da Teresa e para ser cantada em português", explica o guitarrista. Virtuoso, para quem o soube apreciar no domingo, e que continua a ser, 20 anos depois da criação do grupo, o principal letrista e compositor das canções.
Em 20 anos mudaram muito? "Não mudámos, evoluímos!", corrige. E acrescenta: "Cultivámos um estilo, apurámos, sofisticámos um tipo de encenação, a solenidade nos concertos, a importância da voz, da poesia e da guitarra clássica".
"Madredeus é uma orquestra de bolso", diz Pedro Ayres Magalhães |
Esta "orquestra de bolso", como Pedro Ayres lhe costuma chamar, "já atingiu tudo ou quase tudo o que havia para atingir".
"Em termos de popularidade e de reconhecimento internacional conseguimos o que nenhum outro grupo português conseguiu. Fizemos música para cinema (n.d.R.: Wim Wenders e Maria de Medeiros, por exemplo), tocámos com orquestras, em catedrais, em salas das mais prestigiadas do mundo. Em Portugal, somos um dos grupos cujos concertos mais bilhetes vendem e mesmo a nível europeu, somos os únicos no nosso género a tocar em 36 países há 20 anos."
Actualmente, todos os elementos do grupo evoluem noutros projectos colectivos ou a solo. O único a dedicar-se totalmemte aos Madredeus é Pedro Ayres, que foi também quem teve a ideia de criar o grupo em 1986. E lembra a génese, para juntar ao mito do grupo: "Quando eu andava em concerto pelo país (n.d.R.: leia-se, no tempo dos Heróis do Mar), via os teatros fechados e fiquei com vontade de criar um grupo com guitarras acústicas que pudesse tocar nesses sitíos." O resto já faz parte da história oficial. Foi assim que nasceu a ideia. Vinte anos depois está mais do que nunca viva e recomenda-se.
Depois de mais de 120 cidades do mundo, foi a vez do Luxemburgo ficar a conhecer o concerto onde divulgam as músicas dos dois últimos álbuns: "Faluas do Tejo", de 2005 e "Um Amor Infinito", de 2004. Isto porque não há temas novos nem estão a preparar nenhum álbum para celebrar os 20 anos de carreira.
Num incontornável "bis" no final da noite, regressaram ao palco para oferecer ao público temas de álbuns anteriores como "No céu da Mouraria" e "Haja o que houver".
José Luís Correia,
in CONTACTO, 19/07/2006
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