Participaram cerca de 80 pessoas neste Congresso, entre representantes do movimento associativo e convidados Foto: M. Dias
Nada mais, nada menos que nove mulheres, das quais metade são jovens com menos de 25 anos, fazem parte dos 30 membros eleitos para o Conselho da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), num facto inédito na história deste organismo.
Esta votação foi a grande novidade que marcou o V Congresso da CCPL, que decorreu, no passado domingo, dia 15 de Dezembro, em Strassen.
Para José António Coimbra de Matos, Presidente cessante da CCPL, "este congresso e consequente votação foi um dos poucos actos cívicos e verdadeiramente democráticos que ainda se vêm no mundo associativo no Luxemburgo".
Outra das suspresas deveu-se aos resultados das eleições mostrarem que o candidato mais votado não foi o Presidente cessante, como se poderia prever, mas Maria Joaquina Carvalho, membro da Associação de Pais de Schifflange, bastante activa da CCPL, nomeadamente no Grupo de Ensino.
Para quem "agoirava" o Congresso da dissolução e a falta de interesse de muitos representantes do mundo associativo por este organismo, os resultados vieram provar que as mulheres e a nova geração, em particular, estão apostados em dar continuação a este projecto.
Participaram neste Congresso cerca de 80 pessoas. Além das Autoridades Portuguesas no Luxemburgo, faziam parte dos convidados, Marcel Sauber, Presidente do Conselho de Estado, Christiane Martin, Comissária para os Estrangeiros, Carlos Correia, Chefe de Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades (em representação de José Cesário), os deputados portugueses Carlos Gonçalves (PSD) e Carlos Luís (PS), os Burgomestres de Strassen e da Cidade do Luxemburgo, Gaby Leytem e Paul Helminger respectivamente, os Deputados luxemburgueses Claude Wiseler (CSV) e Xavier Bettel (DP), bem como 46 representantes (inscritos) do Movimento Associativo, entre outros.
Na sua intervenção, Helminger defendeu que a CCPL deve continuar a ser o interlocutor privilegiado da Comunidade Portuguesa, não só a nível nacional mas comunal, porque é importante que esta fale a "uma só voz".
O Burgomestre da capital lamentou ainda que muitos não-luxemburgueses não se inscrevam nas listas eleitorais e que, sem isso, nunca conseguirão sensibilizar os partidos luxemburgueses. "Ou então estão tão satisfeitos do país onde vivem que nos deixam decidir tudo sozinhos?", gracejou.
Também o Cônsul-Geral disse considerar que a "Comunidade Portuguesa deve tornar-se parte inteira e integrante da sociedade luxemburguesa, participando não só na vida económica, mas também social e política do país".
O Presidente do Comité de Ligação e de Acção dos Estrangeiros (CLAE), Diogo Quintela, considerou este Congresso o começo de uma "redinamização de um organismo que o CLAE considera muito importante".
Este responsável evocou ainda a possibilidade das duas associações colaborarem juntas, em 2003, numa campanha de sensibilização para a inscrição nas listas eleitorais, já que "é impensável que 30% da população do Luxemburgo continue a ser excluída das decisões do Governo".
Para o Presidente cessante da CCPL, a integração "é o nosso principal objectivo". Na sua alocução, Coimbra de Matos revindicou que o Estado português assuma as suas responsabilidades em relação ao Movimento Associativo e à Juventude, defendeu a inscrição automática nas listas eleitorais e a dupla-nacionalidade.
"Recusamos o paternalismo do Estado Português e os favores do Estado luxemburguês. Queremos apenas aquilo a que temos direito enquanto cidadãos europeus", frisou. Mas, a par da questão da participação política, foram discutidas e abordadas outras de não menos importância, como: o papel das Associações de Pais de Alunos Portugueses, nomeadamente em relação às Associações de Pais luxemburguesas; o Ensino do Português no Luxemburgo; o Sistema Educativo do Grão-Ducado, questão onde Coimbra de Matos insistiu em frisar que considera "inaceitável que a Escola continue a ser um local de segregação e de exclusão!"; bem como a participação das mulheres e jovens na vida associativa, social e política.
Todos os temas discutidos fazem parte de um vasto Projecto de Programa de Acção, aprovado por maioria, neste Congresso e que abrange ainda questões como as estruturas da Comunidade Portuguesa, a representação da Comunidade em Órgãos Consultivos, as relações com as Autoridades Portuguesas, a Formação e questões sociais que preocupam a Comunidade no Grão-Ducado. Este Programa de Acção traça as grandes linhas de orientação da CCPL para os próximos dois anos. O Conselho deverá reunir em Janeiro, para decidir da constituição da Direcção e nomeação de um Presidente.
José Luís Correia,
in CONTACTO, 20/12/2002