Foto: Manuel Dias |
CONTACTO: O que a levou a concorrer a Miss Luxemburgo?
Natália dos Santos: Houve alguém que me inscreveu, sem me dizer nada. Eu só fiquei a saber que estava inscrita quando a Organização me escreveu. Depois achei que era boa ideia, pois sempre tive curiosidade em conhecer os bastidores de coisas como estas.
CONTACTO: Pensou que concorrer a este concurso lhe abrisse as portas para outras coisas?
NdS.: Eu nem pensava ganhar. Quando uma pessoa pensa ganhar, faz logo projectos para o futuro e vê logo mais longe. Mas eu primeiro, só pensei em concorrer.
CONTACTO: Quando anunciaram o seu nome, como a grande vencedora, o que sentiu nesse momento?
NdS: Levei algum tempo a realizar o que me tinha acontecido. Nem queria acreditar. Só dois ou três dias depois, é que eu realizei que tinha ganho e apreciei a minha vitória. Eu até pensava que por ser portuguesa nunca teria hipóteses de ganhar, pois pensava que a organização e o júri queriam que a Miss Luxemburgo fosse, obrigatoriamente, luxemburguesa.
Foto: M. Dias |
NdS: A primeira parte do prémio era um automóvel, um Lancia Y10. O prémio não incluia nenhum montante em dinheiro. Recebi igualmente um milhão de francos em vales de compras e alguns vestidos, mas muitos deles tive que ser eu a comprá-los, vestidos que custavam quase sempre mais de cem mil francos. Também era eu quem pagava as sessões nos institutos de beleza e os produtos de tratamento, tudo isto, para poder continuar a representar condignamente o Luxemburgo nos concursos internacionais, para os quais era convidada.
CONTACTO.: Depois de ter sido nomeada Miss Luxemburgo, teve muitos convites para seguir uma carreira de manequim?
NdS: Ao ser eleita Miss Luxemburgo fiquei ligada por um contrato de exclusividade durante o periodo de um ano com o Casino 2000 de Mondorf, o organizador de então, como previsto na ficha de inscrição. Todos os convites que eu recebia tinham que ter o acordo da Direcção do Casino, que decidia onde eu ia e onde não devia ir, e o que podia fazer ou não. Depois de acabar o contrato, continuei a receber convites e, aí, já era eu que decidia se aceitava ou não.
CONTACTO: E porque não seguiu uma carreira de manequim internacional?
NdS: Poderia ter seguido, mas foi por opção própria. Na altura dei mais importância à minha vida privada e à família, do que seguir uma carreira. E não estou arrependida, porque assumo a opção que tomei. E não vale a pena pensar no que poderia ter sido, eu não costumo olhar para trás. Se não aconteceu é porque não era para acontecer.
CONTACTO: Representou o Luxemburgo em vários concursos internacionais de grande prestígio, onde obteve muito boas classificações...
NdS: Sim, depois de ser nomeada Miss Luxemburgo, fui logo convidada para partir para o México, onde participei na eleição de Miss Universo. Em 79 concorrentes fiquei em décimo primeiro lugar. Depois participei na Miss Europa, na Turquia, onde fiquei em sexto lugar. No Japão concorri a Miss Internacional, e classifiquei-me entre as quinze primeiras concorrentes. Em 1994, na Alemanha, participei no concurso de Miss Intercontinental, onde fui eleita 1° Dama de Honor, ficando em segundo lugar. Mas como depois foi notado um erro na pontuação e feita uma nova contagem dos pontos, fui finalmente nomeada Miss Intercontinental. Foi enquanto Miss Intercontinental que, nesse ano, fui convidada para participar na abertura oficial do Festival de Cannes. Em 1995, concorri ainda a Miss Globo.
CONTACTO: Depois de conquistar o título de Miss Luxemburgo, o que mudou na sua vida?
NdS: Uma experiência como aquelas marcam a vida de uma pessoa. Posso dizer que adquiri mais segurança e confiança em mim mesma. O facto de ter sido enviada para concursos a 10 mil km de distância, completamente sózinha, longe da família, e a própria competição obrigaram-me a ser mais forte e a ter mais auto- confiança. Além dos convites e das viagens, aqui, no Luxemburgo, as pessoas começaram a reconhecer-me na rua e a cumprimentarem-me, o que era bastante agradável. E ainda hoje, passados seis anos, quando passo de vez em quando na rua as pessoas olham e dizem "olha, ali vai a Miss Luxemburgo!". Apesar de eu já não ser Miss Luxemburgo, gosto que me reconheçam como a Miss de 93.
CONTACTO.: Qual é o conselho que dá a todas as jovens que hoje pensam concorrer a concursos de Miss ou seguir uma carreira de manequim ou modelo, já que se trata de uma profissão difícil, onde a concorrência é muito alta e por vezes é cruel para as manequins, que até nem podem contar com uma carreira muito longa?
NdS: É verdade, é uma profissão interessante mas difícil e é um meio às vezes cruel, mesmo entre raparigas. Neste meio, as coisas acontecem tão depressa, que não temos tempo de realizar o que se está a passar à nossa volta e no que nos estamos a envolver. Nem temos tempo de aproveitar o momento presente que estamos a viver. O meu conselho seria para que as jovens que querem seguir esta profissão aproveitem o momento presente e estejam conscientes do que estão a viver. Nesta profissão há muitos sonhos, criam-se depressa ilusões e esperanças, promessas feitas por vezes em vão, por isso é preciso guardar sempre os pés na terra. Neste meio muitas pessoas querem mudar-nos, e é importante ficarmos sempre nós mesmas. Não mudem, permaneçam vocês mesmas, seria o melhor conselho que eu poderia dar a essas jovens... O que mais me afectou foi o olhar das pessoas cá fora, que também muda.
Quando fui Miss Luxemburgo sofri muito do olhar das pessoas, com o que pensavam de mim. Antes de ser eleita Miss Luxemburgo e de me tornar conhecida, muitas pessoas não me ligavam, e de um momento para o outro passei a existir para essas pessoas, mas apenas enquanto Miss Luxemburgo. Eu sofri ao sentir que para certas pessoas só viam em mim a Miss Luxemburgo. Perdi muitas amigas nessa altura. Só gostavam de sair comigo para me apresentarem como Miss Luxemburgo, a Natália dos Santos já não contava, já não existia. E às vezes as pessoas são mesquimnhas e julgam-nos pelo aspecto exterior e não pelo que somos... Mas como em todas as experiências, há sempre um lado negativo e um lado positivo. As jovens que querem seguir a profissão de manequins têm que perceber que nesta profissão o mais difícil é continuar a ter uma vida privada normal. Na altura eu trabalhava em decoração e trabalhava no papel de Miss Luxemburgo para o Casino e para os luxemburgueses, mas também para associações portuguesas. E quase que não tinha tempo para a minha vida privada. Mas, apesar de tudo, foram bons tempos...
José Luís Correia
in jornal CONTACTO, 07/01/2000
A Miss Luxemburgo 1993 com a Miss Portugal 1993 Foto: M. Dias |
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