sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

O que é a Grande Região? E para que serve? - entrevista com Carlos Guedes


Carlos Guedes em entrevista com o nosso redactor José Luís Correia Foto: Tessy Hansen 

Carlos Guedes é o Representante do Luxemburgo na "Maison de la Grande Region". O jovem, de 29 anos, formou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais, optou pela nacionalidade luxemburguesa, mas não esqueceu as suas raízes portuguesas (os seus pais são do Gerês).

Começou por trabalhar no Parlamento Europeu, depois no Ministério do Estado, onde foi Assistente da Conselheira Diplomática do Primeiro Ministro. E foi o próprio Jean-Claude Juncker que o nomeou, em 1999, para o posto que agora ocupa. Guedes diz que, para ele, esta nomeação foi um novo desafio que aceitou com prazer, além de lhe proporcionar trabalhar ao nível inter-regional, quando já o tinha feito a nível nacional e internacional.

É, aliás, na "Maison de la Grande Region" (14, rue Zithe, na capital), que está sob a tutela dos Ministérios do Interior e de Estado, que Carlos Guedes nos acolheu para falarmos deste conceito que é a Grande Região, do qual fazemos parte, geográfica e economicamente, mas que, muitos de nós, ainda conhece mal, tanto nos objectivos, como na sua influência na nossa vida de todos os dias.

A "Grande Região" (GR) é uma cooperação transfronteiriça, que existe há cerca de 22 anos, entre as regiões alemãs da Sarre e de Trier/Renânia-Palatinato Oeste, a Lorena (França), a Valónia, incluindo a Comunidade Germanófona da Bélgica, e o Grão-Ducado do Luxemburgo. Um acordo assinado em 1980 entre as Embaixadas de França e Luxemburgo em Bona (Alemanha) estabeleceu as regras dessa cooperação e as liberdades para as colectividades territoriais.
Fonte: "L'Entrepreneuriat dans la Grande Région"

Segundo nos disse Guedes, historicamente, há mais de 1200 anos que existe um sentimento de pertença a uma região comum nestas latitudes, "mas o elemento que despoletou a cooperação transfronteiriça destes territórios foi a crise da siderurgia nos anos 70.

Em conjunto, começaram a pensar na melhor maneira de conversão da sua indústria comum. Enquanto que na Sarre e na Lorena os pólos fabris se converteram na indústria automóvel, o Luxemburgo optou por apostar no sector terciário .

"O interesse do Luxemburgo na GR é precisamente ter notado que se essa cooperação funcionou numa altura de crise, então há que continuar a desenvolvê-la para garantir o futuro", defende Guedes.

Guedes explica o conceito: "Os 100.000 trabalhadores que nos chegam, diariamente, do outro lado da fronteira, são fruto dessa colaboração: o Luxemburgo precisa dessa mão-de-obra, essas regiões fronteiriças vêem o seu desemprego baixar e, simultaneamente, aumenta o nível de vida de ambos os lados."

"Entre 1997 e 2002 foram criados 60.800 empregos no Luxemburgo, dos quais cerca de 63% foram ocupados por fronteiriços, 26,5% por residentes não-nacionais e 7,2% por luxemburgueses. Se não houvesse esses fronteiriços, onde iríamos encontrar a mão-de-obra necessária a esse crescimento?", pergunta.

Contrariando quem pensa que já são demasiados os trabalhadores fronteiriços no Luxemburgo, Guedes afirma mesmo que o "stock" de mão-de-obra da GR está a esgotar-se e a população a envelhecer.

"Uma das soluções", diz, é "a região, o Grão-Ducado incluído, ter que, num futuro próximo, 'importar' mão-de-obra extra-comunitária". Guedes revela mesmo que, no caso específico do Luxemburgo, se fala (ainda que muito oficiosamente) em favorecer a vinda de trabalhadores da Polónia. Porquê da Polónia? "Pessoalmente penso que por se tratar de um país católico e que isso poderá facilitar a integração dessa população na sociedade luxemburguesa", considera Guedes, acrescentando que isso seria, muito naturalmente, numa sequência da lógica do que o Governo luxemburguês já tinha feito com a imigração italiana e portuguesa.

A Grande Região foi, de certa maneira, precursora do que hoje se convencionou chamar "a Europa das Regiões". Regiões transfronteiriças europeias que cooperam entre si existem igualmente entre a Bélgica e a Holanda, entre a França, a Alemanha e a Itália.

"A GR não é a maior, mas é que vai mais longe a nível institucional", revela Guedes, adiantando até que a GR é vista em Bruxelas como podendo servir de modelo para outras cooperações inter-regionais na Europa", provando "que a UE se consolida não só a nível nacional, mas também ao nível das regiões", afirma o cidadão europeu convicto, Carlos Guedes.

E acrescenta: "Em conjunto, as entidades geográficas da GR, podem também ter mais peso na UE, nomeadamente junto do Comité das Regiões. E como o Luxemburgo é o único Estado soberano da GR, torna-se naturalmente o porta-voz junto de Bruxelas e mesmo a nível mundial".

Resumindo, Carlos Guedes enumerou, para nós, as vantagens de pertencer à GR: estabilidade e desenvolvimento económica, fluxo de mão-de-obra transfronteiriça, oportunidades comerciais, possibilidades turísticas, intercâmbios culturais (no caso da GR, aproveitando a sua situação geográfica na confluência das culturas latina e germânica), entre muitas outras.

"Queremos uma GR que pense 'panem et circens' para a sua população", remata Guedes. E aproveita para nos dar uma boa notícia: Em 2007, o Luxemburgo será, pela segunda vez, Capital Europeia da Cultura e, nesse ano, por iniciativa de Juncker, o título será alargado à Grande Região, estando, desde já, todas as Cidades dentro dessa área convidadas a participar no evento. Uma ideia, no mínimo, original de Juncker, mas que passa pela vontade assumida de promover uma imagem forte da GR.

"Uma região que se projecta culturalmente, também terá projecção económica", afiança Guedes, acrescentando que "o objectivo da GR também é promover-se como uma cooperação-modelo, e desenvolver políticas a todos os níveis, por forma a fortalecer as políticas locais, de modo a que estas se insiram numa política global. Enquanto GR queremos, acima de tudo, situarmo-nos no coração da Europa como uma região produtiva, economicamente viável, onde haja um bom nível de vida, bem estar social e intercâmbios culturais", concluiu Guedes.

o ano passado, os chefes do Executivo das entidades membros da GR concluiram que se devia encontrar uma nova denominação para esta, "um nome dinâmico, mas baseando-se nas características geográficas das entidades parceiras". No dia 1 do corrente, os representantes da GR escolheram entre 32 propostas e o nome definitivo deverá ser revelado durante a 7a Cimeira da Grande Região, em Junho de 2003. Para mais informações, consulte o site internet da Grande Região (em www.grande-region.net).

José Luís Correia,
in CONTACTO, 03/01/2003

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