sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 29 de abril de 2017

QUERO LER-TE



Quero ler-te
mas por enquanto é só braille à distância.
Quero ler-te
mas não me vires as costas da tua lombada
deixa-me passar os lábios ao de leve
pela seda da tua pele
deixa-me enfiar as mãos nas tuas páginas
senti-las por dentro
deixa toda a tua literatura
encharcar-me os dedos
afastar os teus medos e eu desfolhar-te,
despir-te, ler-te toda, ter-te inteira.

Vem. Agora é hora!
A noite foi-nos concedida
esquece a despedida...
Eu sei, eu sei, quantas vezes te disse adeus
mas hei-de dizer-te adeus e adeus repetidamente
e será sempre mentira porque te quero e este querer não tem fim.

É hora, agora ou nunca.
E eu o nunca rejeito e enjeito.
É hora e é agora, vou despir-te toda do teu preceito,
do teu trejeito e preconceito
vamos esquecer o bem ser e o bem parecer
e simplesmente foder
como se não houvesse amanhã.

É hora de eu correr com a minha boca
todo o teu corpo e sorver o sal do teu suor
lamber o desejo do teu despudor
e a minha língua abrir-te para mim,
meu livro dos desejos
eu quero que os meus beijos
te abram toda para mim,
eu quero segurar-me aos teus cabelos
quando entrar em ti e repetidamente,
em golfadas profundas, mais e mais,
cada vez mais dentro de ti
eu quero que te dobres e grites
apenas para receber mais prazer,
eu quero foder-te como um animal
que fode a sua fêmea
eu quero foder-te como um danado
à espera que o inferno se apague
eu quero possuir-te e dar-me a ti
no mesmo gesto total e completo
dos nossos dois corpos penetrando-se, pertencendo-se.

Vem. É hora! Vem-te!
É a hora da nossa desforra
não há mais destino nem desfado nem desfoda
nem desculpas nem nada.
Agora é hora!
É hora de vires e de nos virmos um no outro,
é hora de atearmos fogo a isto tudo
e de ardermos bem no meio,
os nossos corpos em combustão,
consumindo-se em ânsia, fundindo-se um no outro,
fodendo como deve ser, como sempre foi suposto ser.
Quero-te, desejo-te como nunca
desejo-te e quero-te aqui e agora, é hora!

O nosso sexo há-de deflagrar
chamas intensas pelos oceanos e derreter os pólos
O nosso fogo há-de elevar-se aos céus
como tu sobre as labaredas do meu corpo
e extinguir as nuvens num só sopro.
O chão há-de fugir sob os nossos pés
e a terra desaparecer sob o nosso desejo no vazio sideral
e nós continuaremos um dentro do outro a foder.
E o sol, e todas as luas e todas as estrelas
hão-de ficar abrasadas até rodopiarem,
colapsarem em si e rebentarem em supernovas,
mas os nossos orgasmos serão ainda mais incandescentes
e lançarão filamentos brilhantes de galáxias pelos universos,
e isso serei eu a derramar-me finalmente e à bruta
em ti, em ondas de prazer em catadupa
e o teu corpo contorcendo-se em espasmos de dor,
e prazer e suor
e tesão no meu.

AGW 28042017

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