Emmanuel Macron toma posse no domingo como oitavo Presidente da V República francesa, tornando-se o chefe de Estado mais novo de sempre do Hexágono.
Muitos veem nele a evolução e a revolução de que o país precisa, outros temem o resvalar num ultraliberalismo desenfreado.
Uma leitura rápida do seu programa eleitoral dá-nos um vislumbre das suas linhas políticas nos próximos cinco anos.
A nível europeu, Macron quer ser o “desfibrilhador” da UE e relançar o bater do coração da Europa, i.e., o eixo Paris-Berlim, como resposta ao infarto que foi o Brexit, defende ainda a criação de um parlamento para a zona euro e a constituição de um fundo europeu para a defesa.
A nível doméstico, Macron quer: baixar os impostos às empresas, cortar no subsídio de desemprego, deixar de tributar as horas extraordinárias, “flexibilizar” a contratação e dispensa de trabalhadores, abolir o imposto predial para 80% dos lares, investir 15 mil milhões de euros na transição ecológica para reduzir a “dependência” do nuclear, contratar dez mil polícias, atribuir 15 mil milhões de euros à formação, criar cinco mil postos de docentes, reduzindo o número de alunos nas turmas a dezena e meia, cortar 120 mil empregos na administração pública, “ajustar” o sistema de pensões da Função Pública ao do setor privado, e, simultaneamente, aumentar a idade da reforma.
Mas, para isto tudo, Macron precisa de um Governo de maioria do seu lado. Depois do resultado que obteve domingo deverá, sem surpresas, alcançar essa maioria confortável nas legislativas de junho.
O seu movimento “En Marche” transformou-se em partido na segunda-feira com o nome de “La République En Marche!” e a ele deverão aderir membros dos partidos tradicionais da esquerda e da direita. Se não o fizerem mostrar-se-ão incoerentes com o que defenderam entre a primeira e a segunda volta.
A França de Macron está em marcha. A pergunta é: que tipo de marcha? Os sindicatos franceses dizem-se atentos e prontos a lutar contra qualquer recuo a nível social.
Entretanto, na Frente Nacional (FN) respira-se um ar de pólvora, de implosão ou, pelo menos, de contestação da líder. Marine Le Pen não é afinal tão consensual como parecia desde o afastamento do pai, Jean-Marie.
No domingo à noite, vozes no partido começaram a elevar-se e a criticar o seu exercício falhado no debate de quarta-feira frente a Macron, onde Marine perdeu a eleição, acusam. E aventam já o nome da sua sobrinha, Marion, por quem Marine nutre um ódio visceral, como em todas as boas famílias com egos sobredimensionados, para lhe suceder na liderança.
Marine, que no domingo disse que a FN é já “o maior partido da oposição”, quer mudar o nome do partido, chegar a mais “patriotas” e provar que o resultado das presidenciais se pode refletir e até ampliar nas legislativas. Desse resultado pode depender o seu futuro na FN e a estratégia do partido para as presidenciais de 2022.
José Luís Correia, in Contacto, 10.05.2017
quinta-feira, 11 de maio de 2017
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