sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 8 de março de 2017

Oito de março

Hoje, 8 de março, assinala-se o Dia Internacional da Mulher. Apesar dos progressos de que tanto nos regozijamos nos países ocidentais, ainda estamos longe da igualdade de direitos.

A palavra japonesa “shufu” designa a doméstica, a mulher que casando, renuncia a trabalhar e fica em casa para tratar dos filhos, do marido e do lar. Shufu é cada vez mais na sociedade nipónica sinónimo de “josei”, a palavra japonesa para mulher. A mulher subalterna, obediente e serviçal. Se o Japão é considerado um dos paises mais evoluídos do mundo, então deveríamos reconsiderar o seu grau de civilização pela forma como trata as mulheres. Seria interessante ver o novo ranking do país do sol nascente.

Não caiamos num etnocentrismo fácil e reflitamos no papel das mulheres na nossa sociedade, onde muitas delas trabalham oito horas ou mais por dia, mas depois chegam a casa e têm a lida da casa à sua espera, o jantar, a loiça, a roupa, porque o marido está na “bricola”, no sofá a ver futebol ou no café a relaxar. Porque muita gente ainda pensa assim: o homem trabalha, a mulher trata da casa, é assim desde Matusalém.

Questionemo-nos então se é mais iníquo ser como os japoneses ou condenar a mulher a um “duplo dia”? O Japão é apenas um exemplo, porque infelizmente na maioria dos países as mulheres efetivamente não gozam dos mesmos direitos que os homens. Nem falemos no caso de muitos países muçulmanos, que se apoiam na religião para justificar a forma como a lei (des)trata as mulheres.

Por vezes, a discriminação de que as mulheres são vítimas existe quase de forma velada, senão invisível, nos “territórios” que já parecem conquistados à causa, como nos nossos países ocidentais na questão das tarefas domésticas não partilhadas. Ou na questão da diferença salarial que parece resolvida, depois de tantos países europeus terem legislado na matéria. Mas não.

Portugal foi um dos países onde a diferença salarial entre homens e mulheres mais aumentou na UE entre 2010 e 2015, segundo um estudo do Eurostat divulgado esta terça-feira. O Luxemburgo está no top-3 dos bons alunos neste estudo.

Mas até no Luxemburgo, onde podíamos pensar que a luta das mulheres pela igualdade de tratamento parece evoluir, damo-nos conta que ainda falta percorrer um longo caminho. Sobretudo quando algo tão anódino como o preço de acesso a uma casa de banho pública na estação central dos caminhos de ferros da cidade do Luxemburgo desmente esses progressos e, longe de ser anedótico, se torna sintomático e revelador.

A luta das mulheres pela igualdade de direitos remonta ao século XIX, mas só em 1945 a ONU adotou uma carta de princípios que estabelecem a igualdade entre os géneros. Entretanto, já passaram 72 anos! Setenta e dois! E, infelizmenre, só se continua a falar da igualdade de géneros uma vez por ano, por ocasião do Dia Internacional da Mulher. A verdadeira vitória será quando deixar de haver Dia da Mulher.

José Luís Correia
in Contacto de 08/03/2017

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