sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Os portugueses querem um novo 25 de Abril!

Portugal festeja hoje os 40 anos da Revolução dos Cravos. O sentimento hoje deveria ser de festa, para comemorar uma revolução que ficou na história como um golpe militar pacífico, em que praticamente não houve efusão de sangue, uma revolução à portuguesa, levada pelo povo dos brandos costumes, feita com flores nos canos das espingardas. Brandos, pacíficos, mas firmes na decisão de retirar do poder a ditadura opressora e obscurantista que tiranizou o país durante quase meio século, o enlameou numa guerra colonial que deixava o país exangue das suas finanças e da sua juventude, o isolou internacionalmente e quase extinguiu a faísca de democracia que tinha nascido com a Primeira República (1910-1926).

No entanto, para muitos portugueses, o sentimento no dia de hoje é de desilusão, perante o que muitos consideram uma traição aos ideais do 25 de Abril de 74. A austeridade imposta pela troika não se deveu à leviandade económica com que muitos portugueses teriam vivido nos anos 90 e início dos anos 2000, como chegou a acusar o gestor de um grande grupo económico português. Quem incentivou o crédito irresponsável a torto e a direito (até para passar férias na República Dominicana) foi Vitor Constâncio, que era governador do Banco de Portugal e é hoje um dos vices-presidentes do BCE.

O país está no estado em que está devido a essas e outras derivas do poder politico nos últimos 20 anos, quer seja de direita como de esquerda (cavaquismo, guterrismo, socratismo). Muitos deputados estão bem mais atarefados a defender os seus próprios interesses, os das empresas e os dos poderosos gabinetes de advogados a que pertencem e para os quais trabalham, paralelamente às suas funções no Parlamento, do que em servir o povo que são suposto representar.

Hoje o povo é livre, mas muitos não têm pão. "Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação", já cantava Sérgio Godinho em 1974. A paz é a única que é garantida... para já. As outras conquistas têm vindo a sofrer de erosão, e vão escapando a cada vez mais portugueses. A fome e a miséria voltaram às ruas. Às ruas de um país da UE, que é considerada um exemplo civilizacional e político.

O povo exaspera-se e protesta: os três D - democratizar, desenvolver e descolonizar - do 25 de Abril, os portugueses substituiram-nos por três novos “D”: desobedecer, “destroikar” e demitir [o Governo]. O povo manifesta-se, mas acaba por emigrar. Não havia tanta emigração (mais de 100 mil por ano) desde os anos 60. Fugiam da ditadura e da miséria, hoje fogem em busca de um futuro que o seu próprio país lhes quer negar.

José Luís Correia
in Luxemburger Wort, 25/04/2014 (Der Kommentar, seite 3)
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(version française)
Les portugais veulent un nouvelle révolution! 


Le Portugal fête aujourd’hui les 40 ans de la Révolution des Oeillets. Les esprits devraient être à la fête, pour commémorer une révolution qui est entrée dans l’histoire comme un coup d’Etat pacifique, sans presque aucune effusion de sang, une révolution à la portugaise, menée par le peuple aux “moeurs douces”, fleurs aux fusils. Une révolution pacifique donc, mais dans la détermination à se défaire d'une dictature oppressante et obscurantiste qui a tyrannisé le pays pendant presque un demi-siècle, qui l’a embourbé dans une guerre coloniale le laissant exsangue de ses finances et de sa jeunesse, l’a isolé sur le plan international et a presque éteint l’étincelle de démocratie née avec la Première République (1910-1926).

Cependant, pour beaucoup de Portugais, le sentiment aujourd’hui est de déception, face à ce que beaucoup d'entre eux considèrent comme une trahison des idéaux du 25 avril 1974.

L’austérité imposée par la Troïka n'est pas due à la frivolité économique avec laquelle beaucoup de Portugais auraient vécu pendant les années 90 et au début des années 2000, selon l'insinuation du p.d.g. d’un grand groupe économique portugais. L'homme qui a encouragé le crédit irresponsable et à tout crin (même pour passer des vacances en République Dominicaine), c’est Vitor Constâncio, qui fut gouverneur de la Banque Centrale portugaise et est aujourd'hui un des vice-présidents de la BCE.

Le pays se trouve dans l’état qui est le sien aujourd'hui à cause de dérives comme celle-ci et d’autres encore du pouvoir politique des 20 dernières années, qu’il soit de droite ou de gauche (Cavaco Silva, António Guterres et José Socrates).

Beaucoup de députés portugais sont bien plus affairés à servir leur propres intérêts, ceux des entreprises et des puissantes études d’avocats pour lesquels ils travaillent parallèlement à leurs fonctions au Parlement, qu’à servir le peuple qu’ils sont appelés à représenter.

Aujourd’hui le peuple est libre, mais beaucoup manquent de pain. “Il n’y aura de vraie liberté que lorsqu'il y aura la paix, du pain, des logements, la santé et l'éducation”, chantait déjà Sérgio Godinho en 1974. La paix seule est acquise... pour l’instant. Pour le reste il s'agit de conquêtes qui souffrent une érosion, et qui échappent à chaque fois à plus de Portugais. La faim et la misère sont à nouveau dans les rues. Dans les rues d’un pays de l’UE, pourtant considérée comme un exemple civilisationnel et politique. Le peuple s’exaspère et proteste: les trois D du 25 avril 1974 – “démocratiser, développer et décoloniser” – ce peuple les remplace désormais par trois nouveaux “D”: désobéir, “dé-troiker” (sortir de la troika) et démettre (le gouvernement). Le peuple manifeste, mais finit par émigrer. Il n’y avait pas autant d’émigration (plus de 100.000 par an) depuis les années 60. Les Portugais fuyaient alors la dictature et la misère, aujourd’hui ils fuient à la recherche d’un avenir que leur propre pays leur refuse.

José Luís Correia
(in wort.lu/de, 25/04/2014)

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