Forçar o I-Ching a falar
Outra fonte que anunciaria o fim do mundo para 2012 é o mais antigo livro escrito na China, o I-Ching (literalmente "Clássica das Mutações"), utilizado desde o terceiro milénio antes de Cristo, para fazer adivinhações. Faz-se uma pergunta (ao Universo/ao oráculo) e atira-se três moedas. Se caírem duas moedas com cara, faz-se um traço descontínuo, se caírem duas com coroa, desenha-se um traço contínuo, até formar seis linhas (hexagrama). Cada um dos 64 hexagramas possíveis dá uma resposta à pergunta que foi feita. Os psicólogos explicam que cada pessoa verá na previsão algo que aproximará da resposta que pretende. É o que chamam "o sistema de validação subjectiva", ou seja, cada um verá aquilo que quer ver.
Nada no I-Ching aponta para 2012. Foi um matemático new age , Terence McKenna (1946-2000), que juntou as seis linhas e os 64 hexagramas num gráfico informático para representar a cronologia da Humanidade desde o terceiro milénio a.C. até aos dias de hoje. Segundo McKenna, o gráfico, que mostra os períodos altos (progressos e descobertas) e baixos (guerras e crises) da Humanidade, termina em 21 de Dezembro de 2012. Cálculo absconso e teoria desconhecida para os praticantes do I-Ching.
________________________________
Prognósticos do web-bot
Há quem acredite que o web-bot, programa informático criado em 1997 para indicar flutuações bolsistas, tenha previsto o fim do mundo para 2012.
Se para prognosticar as tendências da bolsa a ferramenta já é falível, pois analisa simplesmente os temas, produtos e negócios mais pesquisados na internet, quando se trata de datar o fim do mundo é-o ainda mais, pois que outro assunto tem sido mais propalado na internet este ano do que o apocalipse?
Querem números? Googlando (em francês) a data do 21 de Dezembro de 2012 há cerca de um ano, o CONTACTO obteve quase 7 milhões de referências, mas há dias encontrou quase 80 milhões de resultados (10 vezes mais), 60 milhões se for em português, e 3 mil milhões de referências (!!!) em inglês.
O web-bot teria previsto o 11 de Setembro e o furacão Katrina, mas essas previsões vieram na realidade depois desses catástrofes. Quando questionado sobre a III Guerra Mundial há uns anos, o web-bot tê-la-ia anunciado para 2011. Prova que os softwares também erram.
___________________________________
Apocalipse, o regresso
Anote na sua agenda o próximo fim do Mundo: 13 de Abril de 2036. É o dia em que o asteróide Apophis passa perto da Terra. Os astrónomos acreditam que há 1 hipótese sobre 250 mil (o que é incrivelmente baixo à escala do cosmos) de este colidir com a Terra.
Outra data é a de 2126, quando o cometa Swift-Tuttle, que passou perto do nosso planeta em 1992, regressa e se arrisca dessa vez a colidir connosco.
Porque não se fala nestas datas? Porque as seitas apocalípticas e os pseudo-científicos (ainda) andam entretidos com o 21 de Dezembro de 2012. Depois de sexta-feira, vão logo acaparar-se dos novos medos, das novas datas, dos novos fins.
O relógio dos 10 mil anos
Em 1986, o engenheiro americano Daniel Hillis teve a ideia de construir um relógio de dois metros de altura que funcionasse durante 10 mil anos. O relógio "Clock of the Long Now" começou a funcionar a 31 de Dezembro de 1999. Nesse momento, o relógio, que afixava o número 01999 passou a mostrar 02000. Montado com materiais resistentes à corrosão e situado dentro da caverna de uma montanha no Nevada (Ely), seria curioso perguntar o que pensarão os homens do futuro se encontrarem ainda intacto e a funcionar esse relógio dentro de 100 séculos. Pensarão, por ventura, que o mundo vai acabar quando o ponteiro parar nos 10 mil anos. Não é o que estamos a fazer com o calendário maia?
Para acabar com o fim do Mundo
Uma coisa é certa, o 21 de Dezembro marcará o fim… do Outono. Como acontece todos os anos.
As as profecias e teorias que anunciam o apocalipse para 21 de Dezembro de 2012 são contadas de forma a coincidir com a data, para sustentar os argumentos de quem as propala.
Com que objectivo? Vender livros, vender esperança, vender ilusões, como alertava já em 2011 a Missão Interministerial Francesa de Vigilância e Luta Contra as Derivas Sectárias (Miviludes), denunciando os "charlatães do apocalipse ".
Há quem viva com o fim como princípio, porque o fim pode representar um novo princípio. É nisso que se apoiam as seitas, aproveitando a credulidade de muitas pessoas.
Para cada época há duas coisas óbvias: se o Mundo teve um princípio, terá um fim. Alguns vivem na angústia desse fim e na ilusão de se poderem preparar para esse momento. Em cada geração, sempre houve quem vivesse com o sentimento íntimo de que “isto já não é o que era", "isto está mesmo mal", "o Mundo já não dura muito tempo". Além disso, todas as predições do fim são interpretadas com as angústias e a realidade de cada época. Quando deixam de encontrar respostas na religião e na espirtualidade, as pessoas procuram respostas e sinais do fim dos tempos em tudo, nas profecias, nas estrelas, nas catástrofes naturais, nas guerras, nas crises, nas pandemias que, dizem, têm aumentado de frequência, o que é um sinal explícito do final dos tempos. Facto é que catástrofes, conflitos e pandemias sempre existiram. Mas nunca foram tão mediatizados como hoje. Como as previsões do fim do Mundo, aliás.
Todos os textos são da autoria de
José Luís Correia
e foram publicados no jornal CONTACTO, 19/12/2012
Luxemburgo
Pesquisa e redacção: JLC
Fotos: Shutterstock/Arquivo Luxemburger Wort
(as fontes bibliográficas podem ser fornecidas, sob pedido)
Sem comentários:
Enviar um comentário