Adoro ler, ando sempre com livros, revistas e jornais debaixo do braço ou dentro da mochila ou da bolsa. Leio em qualquer parte, na praia, numa esplanada de café, à beira-mar, à beira-rio, à beira-lago, num banco sossegado na orla de uma floresta...
Mas, bom, quando é aqui por casa, prefiro ler deitado no confortável sofá da sala de estar. O problema é que, assim refastelado, não posso tirar notas. Então mudo-me para a escrivaninha, no escritório, afasto o laptop, as facturas, as lapiseiras desarrumadas, os papéis caóticos, e instalo-me. Quando sentado no escritório passo pelos artigos e nada digno de registo aparece para eu guardar na minha sebenta.
Passados uns minutos, doem-me as costas da posição desconfortável ou da cadeira desengonçada, reconsidero, pego nas revistas e nos jornais e volto à sala. Escolho uma posição cómoda mas, após folhear novamente as mesmas páginas, encontro logo ali um pensamento interessante, uma frase bem torneada, uma expressão bem formulada, quero apontar e o caderno de notas ficou no escritório.
Volto ao escritório, aponto a frase, trago o bloco-notas comigo para a sala, mas assim deitado não dá mesmo jeito nenhum para tirar apontamentos, e as canetas entram em greve assim que as ponho a fazer o pino.
Regresso ao escritório mais uma meia-dúzia de vezes, aproveito a desculpa para voltar a encher a minha chávena de café, para ir à casa-de-banho, para ver se lá fora já chove, se o Outono começou mesmo, e nisto faço umas incontáveis idas e voltas entre a sala e o escritório.
Quem disse que ler era uma actividade tranquila?
Bom, às tantas, fico franca e fisicamente cansado, já não me doem só as costas, doem-me também as pernas, e o excesso de reabastecimento em cafeína está a pôr-me demasiado nervoso para ficar simplesmente tranquilo e a ler.
Vou voltar a fazer como fazia antes: vou dobrar os cantos das páginas das revistas e dos jornais que me chamaram a atenção, para apontar para mais tarde... o que nunca acontece, porque entretanto a vida continua.
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