Portugal vai emprestar 770 milhões de euros à Grécia para salvar aquele país da crise orçamental em que este se encontra. O Luxemburgo anunciou, por seu lado, o envio de 100 milhões de euros. Os montantes representam a dimensão económica e financeira de cada país, bem como o seu peso no capital do Banco Central Europeu e fazem parte do envelope global de 30 mil milhões que o Eurogrupo decidiu, no domingo, enviar ao governo de Atenas.
Quando Teixeira dos Santos disse em 16 de Março que afastava a hipótese de Portugal "acudir" à Grécia porque o nosso país já estava a braços com uma crise, fiquei surpreendido e lamentei a declaração. Felizmente, Sócrates, mais consciente dos deveres europeus de Portugal (ou terá recebido um lembrete de alguém?), veio desmentir o seu ministro das Finanças alguns dias mais tarde. Este foi mais um lamentável episódio (passou quase despercebido) na telenovela tragicómica de um governo que se ignora moribundo e a quem nada mais resta do que usar como armas de arremesso contra a oposição submarinos comprados por um governo da mesma cor 12 anos antes. Mais que dessintonia, trata-se de acefalite aguda.
Um homem de esquerda (mas que esquerda, afinal?) como Teixeira dos Santos esqueceu (ou, pior, nunca o soube? ignorância, portanto!) um dos preceitos que estiveram na base da construção europeia: a solidariedade, a cooperação e a entreajuda entre estados. Como bem resumiu o ministro das Finanças luxemburguês, Luc Frieden, em 26 de Fevereiro: "a Europa é uma comunidade solidária!" Frieden lembrou aos mais esquecidos que a UE e o euro têm sido um dos garantes para que algumas economias europeias não tivessem sofrido ainda mais com a onda de choque financeira que abalou o mundo e levou à bancarrota da Islândia.
Pensemos apenas nisto: e se Portugal estivesse na mesma situação da Grécia? Com os ignaros que governam o país, já estivemos mais longe, não?
Mas não se trata apenas de solidariedade e Frieden também explicou isso. Agora que estamos todos no mesmo barco, "não podemos deixar que a Grécia se torne um risco para a zona euro", explicou.
Vem-nos à memória a velha máxima de "a união faz a força", mas é muito mais do que isso: pertencer à UE encerra direitos mas também deveres, oportunidades mas igualmente responsabilidades. Foi o que permitiu no pós-Segunda Guerra Mundial criar uma "comunidade" (CECA, CEE e depois UE) com inimigos ancestrais, o que fomentou até hoje uma paz duradoura no nosso velho continente, algo nunca antes conseguido. E o mesmo preceito leva a que os estados-membros da UE continuem ainda hoje a apoiar, através dos fundos estruturais, de coesão e de outras ajudas, os novos países que aderem à União, de modo a que estes possam elevar-se aos mesmos patamares de desenvolvimento comunitários. É o que faz da UE a UE. É a sua força, a sua essência, a sua dinâmica.
Também a Hungria foi salva da falência em Outubro de 2008 por um empréstimo cedido pelo FMI, Banco Mundial e União Europeia. Mas, no domingo, os húngaros "ejectaram" do poder o governo pró-europeu do MSzP, preferindo-lhes os eurocépticos do Fidesz e o partido de extrema-direita Jobbik, que vai, pela primeira vez, ter assento no parlamento. É a reacção dos eleitores húngaros à política de austeridade imposta a Budapeste por Bruxelas e pelas instâncias financeiras internacionais. Medidas necessárias e preferíveis a uma situação de eventual bancarrota e caos. Mas a democracia é assim mesmo, o povo é quem mais ordena. Mesmo quando se engana.
Esperemos que os gregos não bebam do mesmo rio Lethes do olvido que, como já acreditavam os seus antepassados, conduz apenas ao Hades. E escrevo isto sem arrogâncias de pítia. É que a Europa não é um destino, mas uma oportunidade.
José Luís Correia
in CONTACTO, 14.04.2010
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário