sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
-
cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escritor Urbano Tavares Rodrigues acredita que futuro vai trazer "movimentos de revolta" e "uma sociedade mais igualitária"

O escritor Urbano Tavares Rodrigues defendeu recentemete que virão movimentos de revolta e surgirá uma nova sociedade mais igualitária e ecológica.

O escritor falava durante a apresentação do seu mais recente livro, "Assim se esvai a vida", que reúne além desta novela ainda os textos, "O cornetim encarnado" e "Os olhos do demónio e Outros contos".

"Assim se esvai a vida" é uma narrativa que começa antes do 25 de Abril de 1974 e se estende até à actualidade.

Tavares Rodrigues, que fez parte da resistência ao Estado Novo e foi preso por três vezes, disse acreditar que "novos tempos" surgirão em breve.

"O capitalismo neo-liberal atravessa uma crise estrutural que é uma espécie de suicídio, vai autodestruir-se e vão surgir movimentos de revolta e sociedades novas que têm de ter uma feição ecológica e uma divisão mais igualitária dos bens", vaticina o escritor.

"Vivemos problemas gravíssimos de destruição do meio ambiente, da natureza, do mundo em que vivemos".

No futuro "a divisão dos bens terá de ser equilibrada, terá de haver uma grande liberdade de expressão e de crenças religiosas, e será tendencialmente mais igualitária".

"Assim se esvai a vida"


A novela "Assim se esvai a vida" foi escrita "num impulso, apaixonadamente, quase sem pensar, num mês apenas", disse, reconhecendo "haver perigo" no convívio narrativo entre personagens ficcionais e reais.

Natália Correia, Nikias Skapinakis, Francisco Sousa Tavares são algumas personagens aludidas, tal como o próprio escritor que na "conjura da Sé" estava destinado a dirigir o jornal O Século.

"O Nikias substituiu o Vasco Gonçalves no comando da brigada de assalto. Isto é História de Portugal", sublinhou.

Outras personagens reais acabaram por se autonomizar e tornar-se ficcionais, como "é o caso de Pedro Manuel de Athaíde pensado no início como sendo o Luís de Sttau Monteiro, mas que no fim evolui de outra maneira”. Já Augusto Mozart “é claramente o Augusto Abelaira", disse.

Urbano Tavares Rodrigues reconhece "muito de autobiográfico" na personagem do escritor Felisberto Roxo, até pelos seus rompantes amorosos.

"Gosto muito de mulheres, em tudo, como namoradas, amantes, amigas, e fiz das mulheres as personagens dos meus romances e dei-lhes uma visão do mundo", disse.

"O cornetim vermelho"

"O cornetim vermelho" é claramente autobiográfico, são apontamentos do dia-a-dia, reflexões do escritor.

"É o ver o mundo para lá do meu terraço, a partir de acontecimentos a que assisti ou que me chegam através da televisão", explicou.

Tavares Rodrigues sempre registou apontamentos, reflexões e, mesmo preso sem direito a ler e escrever, arranjou forma de o fazer.

"Pedi para ler a Bíblia, já que me recusavam tudo, e o director veio ter comigo dizendo que sabia que eu não era católico, mas talvez me fizesse bem", recordou.

Conseguiu uma carga de esferográfica e escreveu em papel higiénico duro. Estes escritos fê-los "passar" quando saiu da cadeia e deram origem a três títulos, entre eles "A estrada de morrer".

Em "O cornetim vermelho", afirmou, "há algo de combativo, até pelos poemas que tem e que são vozes de combate".

"Os olhos do demónio e outros contos"

O terceiro título reúne contos, a que o autor chama "micro narrativas".

"Através de um grande poder de síntese consigo contar uma história ou definir uma personagem", explicou. "Alguns podem ser mote para um romance, não sei, a ver vamos", confiou.

Ainda longe de pensar no próximo romance, Urbano Tavares Rodrigues editará no Outono o terceiro volume das obras completas, um ensaio - "A natureza do acto criador", um livro de contos e a poesia completa.

Sem comentários: