Ainda é apenas uma eventualidade, mas a possibilidade de o primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker poder vir a ser nomeado esta quinta-feira para presidir a UE faz com que nos bastidores da política luxemburguesa, se perfilem já dois sucessores ao seu cargo: François Biltgen e Luc Frieden.
O assunto será oficialmente discutido na direcção do partido cristão-social CSV a partir de quinta-feira. É nesse dia que os chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros da UE decidem em Bruxelas quem querem como primeiro presidente do Conselho da UE. Um presidente que pode assumir funções em Janeiro de 2010, caso assim os líderes europeus o decidam.
Se Juncker for o escolhido pelos 27 - e o chefe de Governo luxemburguês já disse que aceitaria o convite se este lhe fosse dirigido - o Luxemburgo fica sem o seu carismático primeiro-ministro dentro de pouco menos de mês e meio.
Enquanto alguns analistas consideram a nomeação de François Biltgen (à direita, na imagem) para chefe do Governo luxemburguês pouco provável e vêem Luc Frieden (à esquerda) como o favorito da população e de Juncker, outros pensam precisamente o contrário.
Aceitam-se apostas!
Mas quem se perfila desde já como provável delfim de Juncker?
Biltgen, de 51 anos, assume de momento pastas tão importantes como a Justiça, as Comunicações, o Ensino Superior e Investigação, e a Função Pública. Com pastas que são verdadeiros estaleiros de obras, Biltgen é um super-ministro difícil de substituir. Fosse ele nomeado para chefiar o Executivo, isso implicaria uma remodelação no Governo, uma redistribuição das pastas ou mesmo novas nomeações.
Biltgen entrou um ano depois de Frieden no Governo, em 1999, e tem sido um ministro com uma carreira linear e autor de políticas mais ou menos consensuais. Um dos seus (únicos) sucessos políticos foi, enquanto ministro do Trabalho, decidir tornar a ADEM – claramente ultrapassada pelo número crescente de desempregados –, numa agência com mais meios e outro tipo de gestão. Mas essa agência só será uma realidade, na melhor das hipóteses, no Verão de 2010, e o sucesso desta restruturação ainda está para provar.
Outro sucesso seu foi conseguir renovar a lei da imprensa em 2004 (datava de 1869!), enquanto ministro das Comunicações. Mas, em contrapartida, com o caso das buscas no CONTACTO que a Justiça luxemburguesa não considerou ilegais, é de questionar a sua autoridade como ministro da Tutela, na aplicação dessa mesma lei.
Biltgen é um ministro bem visto pelos estrangeiros e sobretudo pelos portugueses, simpatia granjeada durante o tempo em que foi presidente da associação Amizade Portugal-Luxemburgo (APL).
Mas junto dos luxemburgueses, Luc Frieden é bem mais popular. Cinco anos mais novo do que Biltgen, Frieden, a quem Juncker atribuiu apenas dois ministérios, mas dos mais importantes, o do Tesouro e o das Finanças, pode vir perfeitamente a cumular essas pastas com o cargo de chefe do Governo, sem que seja necessária uma remodelação governamental. O que seria do agrado dos eleitores luxemburgueses, diz quem conhece as idiossincrasias deste povo.
A seu favor, Frieden tem o facto de a opinião pública luxemburguesa o ver como um bom governante e um gestor sábio das contas públicas. Foi alvo de duras críticas por cumular, na última legislatura (2004-2009), a pasta da Justiça e a tutela da Polícia. Sobretudo quando se tratou de lidar com o famoso "Caso Boomeleeër" (bombista que assolou o Luxemburgo nos anos 80), em que polícias eram suspeitos de estar directamente envolvidos nos atentados bombistas.
Mesmo assim, a sua popularidade não baixou. No último inquérito sobre o político mais popular do país ("Politmonitor", publicado no "Luxemburger Wort", em Maio), Frieden foi o terceiro preferido dos luxemburgueses e o segundo do seu partido, logo depois de Juncker. Biltgen era sétimo na sondagem.
Outro dos sinais de que Frieden pode ser o "delfim" de Juncker é o facto de as carreiras políticas dos dois homens serem muito semelhantes. Frieden foi nomeado ministro muito cedo, aos 34 anos (Juncker aos 30 e Biltgen aos 40), e viu-se logo confiar uma pasta tão importante como a do Tesouro, pasta que Juncker também ocupou. Daí foi para as Finanças, seguindo as pisadas de Juncker. E como Juncker o fora antes (1989-1995), Frieden assume desde 1998 o cargo de governador do Banco Mundial.
Juncker e Biltgen têm em comum o facto de terem sido ministros do Trabalho, presidentes do CSV e de terem um temperamento popular e comunicativo. Frieden é um político mais reservado e grave.
Mas parece muito mais óbvio que a carreira de Frieden foi de certa forma "pilotada" por Juncker, numa intenção nada dissimulada de o preparar para a sucessão.
Sábado, o presidente cessante do CSV, Biltgen, disse apenas que, como a questão da sucessão de Juncker ainda não se coloca, não deve ser discutida. "Mas o partido dispõe de candidatos suficientes", ironizou.
José Luís Correia
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário