sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 7 de novembro de 2009

Cartas inéditas de T.S. Eliot desmentem fama de marido cruel e insensível

Cartas até agora inéditas que o poeta Thomas Stearns Eliot (1888-1965) escreveu nos anos 20 reflectem a sua preocupação pela mulher doente e desmentem a fama de marido cruel e insensível, pelo menos até ao internamento daquela numa clínica psiquiátrica.

Essas cartas, a que "The Sunday Times" se referiu na sua última edição, mostram um Eliot crescentemente desesperado com os problemas médicos de Vivien, com a qual se tinha casado em 1915, aos 26 anos.

Numa das cartas, enviada ao romancista e crítico John Middleton Murry, Eliot conta que a mulher passara tão mal que durante três dias ela tivera a sensação de que a mente lhe abandonara o corpo.

Eliot descreve a sua própria angústia: "Matei deliberadamente os meus sentidos, matei-me deliberadamente, para poder continuar com esta vida que é apenas exterior".

A fama do marido insensível que acabaria por internar a mulher num asilo psiquiátrico deve muito à obra de teatro "Tom e Viv", de Michael Hasting, estreada em 1984 e transposta para o cinema com Willem Dafoe no papel de Eliot e Miranda Richardson no de Vivien.

As cartas, compiladas com a ajuda da segunda mulher do poeta, Valerie, serão publicadas esta semana no Reino Unido.

Eliot, empregado no banco Lloyds de Londres, continuou o seu trabalho, de que não gostava, porque necessitava de ganhar dinheiro para manter na clínica a mulher doente, e ao mesmo tempo escrevia poesia e ocupava-se da revista literária "The Criterion".

O responsável da publicação das cartas, John Haffendon, disse não estar seguro de que as cartas possam ser tomadas "à letra", mas reconheceu que "estas e muitas outras deixam bem claros o seu desespero e a sua angústia".

Há também cartas da própria Vivien em que expressa ao poeta a sua preocupação e o seu amor por ele. Numa delas, datada de 1925, Vivien pede-lhe que a desculpe por o torturar e enlouquecer.

Um mês mais tarde, Vivien escreveu à criada do casal, Ellen, a pedir-lhe que dissesse ao marido que o amava e o amaria sempre.

Segundo o editor das cartas, tanto Eliot como a mulher estavam doentes, mas o certo é que ele e o cunhado acabaram por a internar num asilo psiquiátrico, onde permaneceria entre 1938 e 1947, um ano antes de o poeta ser distinguido com o Prémio Nobel de Literatura.

Sabe-se também que Eliot nunca a visitou na clínica, embora continuassem casados.

O segundo lote de cartas será publicado dentro de dois anos, e uma das principais revelações, assinalou o editor, é a de que Eliot, considerado um anti-semita, tinha amigos judeus.

A correspondência cruzada com um dos seus amigos, o académico norte-americano Horace Kellen, mostra que, durante a Segunda Guerra Mundial, o poeta ajudou refugiados judeus a fugirem para os Estados Unidos.

"Não há provas de anti-semitismo algum na correspondência que examinei", asseverou Haffenden.

Opinião diferente tem Anthony Julius, autor de um livro em que analisa os alegados sentimentos anti-semitas na obra Eliot e concretamente em poemas como "Gerontion", "Burbank with a Baedeker: Bleistein with a Cigar" e "Sweeney among the Nightingales".

Eliot - disse Julius ao 'The Sunday Times' - "fez-se eco dos lugares comuns existentes sobre os judeus e utilizou-os criativamente na sua poesia. Mas claro que é possível ter, ao mesmo tempo, amigos judeus. Todos temos as nossas contradições".

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