Presentemente, estou a ler a última recolha das crónicas políticas do talentoso Timothy Garton Ash, jornalista inglês do The Guardian: "Facts are subversive - Political writing from a decade without a name" (Atlantic Books, 2009, London).
A década dos anos 2000 contada com o olho crítico e a pena afiada de alguém que viveu por dentro alguns dos acontecimentos históricos e políticos que marcaram os últimos dez anos na Europa e no Mundo.
Desde a instalação difícil da democracia e da economia de mercado nos países do Leste europeu até a assuntos da política doméstica britânica. (N.B.: Prefiro usar a noção anglo-saxónica de "política doméstica" do que a portuguesa de "política interior" ou "interna". "Doméstico" torna-me a coisa mais ..."familiar" ou mesmo, ...hum, domesticada! Topam?).
TGA evoca todas as questões actuais de sociedade, as das migrações para a Europa-muralha, bem como a do Islão a querer vingar no Mundo e mesmo no coração do velho continente. Mas o jornalista foi também testemunha, enquanto enviado especial do The Guardian, da vida nas favelas de São Paulo ou da eleição de Barack Obama como primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
Pequenos excertos (tradução livre):
"A primeira missão do historiador e do jornalista é encontrar factos. Não a única missão, talvez até nem a mais importante, mas a primeira. Os factos são os marcos a partir dos quais construímos estradas de análises, mosaicos de telhas que encaixamos para compor quadros do passado e do presente. Haverá discordâncias sobre onde conduz a estrada ou que realidade ou verdade é revelada pelo quadro. Os próprios factos devem ser verificados com base em todas as provas disponíveis. Mas alguns são duros e redondos - e os líderes mais poderosos do Mundo podem tropeçar neles. O mesmo pode acontecer a escritores, dissidentes e santos.
(...)
Actualmente, as fontes que fixam os factos encontram-se sobretudo na fronteira entre a política e os media. Os políticos têm cada vez mais desenvolvido métodos sofisticados para impor uma narrativa dominante através dos media. A tarefa dos conselheiros políticos (spinmasters) em Londres e Washington, e ainda mais a dos 'tecnolgistas políticos' da Rússia, é sistematicamente desfocar até tornar indistinta a linha entre realidade e realidade virtual. Se suficientemente pessoas acreditarem em algo durante suficientemente tempo, então fica-se no poder. O que mais importa?"
"'O comentário é livre, mas os factos são sagrados", é a mais célebre máxima do lendário chefe de Redacção do Guardian, C.P. Scott. Actualmente, no sector dos media, a máxima variou: 'O comentário é livre, os factos são caros!'"
"O nosso velho continente passou a maior parte destes anos sem nome (os anos 2000-2009) a falhar a consolidação e o alargamento dos seus negócios com um cada vez maior Mundo não-Europeu. E por isso, teve menos importância, para o bem como para o mal, do que nos anos 1980, quando ainda era o teatro central de uma guerra fria global, ou nos anos 1990. A não ser que nós Europeus acordemos para o Mundo do qual fazemos parte - mas não temos feito nada que aponte nesse sentido - ou a nossa influência vai continuar a diminuir nos próximos anos."
Photo from Timothy Garton Ash's official site (will be removed if the author asks so)
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