Coffee-Lounge, o melhor cappuccino do país
Nove e pico, a manhã está fria, como sempre. Um tecto cinzento de nuvens luxemburguês tapa o sol. Como sempre. Apetece mesmo um cafezinho. Entramos num simpático café há muito recomendado por hordas histéricas de conhecidos e amigos, o "Coffee Lounge". Na verdade, temos encontro com o Peter Runge, o proprietário do pequeno café situado no n°28, rue de la Poste, na capital. Este alemão radicado há meia dúzia de anos no Grão-Ducado havia-nos explicado que vir antes das 9h era má ideia para a reportagem do CONTACTO, porque é rush hour, hora de ponta, e não tem como largar o balcão com a multidão de adictos da cafeína que tomam literalmente de assalto o estabelecimento, assim que abre, às 6h30, e até à hora de entrada em muitas firmas.
Logo à entrada compreendemos que Peter não tem mãos a medir, prova de que o local é procurado mesmo nas horas mais calmas do dia. "Caffè Latte to go" (para levar), "Um grande cappuccino para o primeiro andar", "Um espresso e um Latte Machiatto para o segundo", as encomendas não param. O ritmo é frenético. Não fosse a simpatia contagiante de Peter e dos seus empregados, bem dispostos e sorridentes enquanto servem os clientes e nos pedem para escolher o que queremos tomar, teríamos desistido da reportagem. Mas queremos perceber porque tanta gente acorre diariamente para beber os cafés ali preparados.
O Coffee Lounge abriu há três anos e meio e hoje é um dos cafés mais frequentados do centro da capital. A localização, entre a place Aldringen e a place d'Armes, ajuda. Mas há mais. Há o serviço sempre esmerado e simpático. Há o local em si, um prédio com três pisos, estreito como um gaveto, mas decorado com charme e inteligência, com muitos espelhos e luz, mesas em madeira, assentos apoltronados. Dá vontade de ficar ali o dia todo, a bebericar café com leite, provando o bolo de cenoura caseiro e folheando a imprensa.
A arte do cappuccino
E depois há, claro, o cappuccino. Foi a sua fama que aqui nos trouxe. Enquanto conversa connosco, Peter prepara-nos um. Numa chávena pré-aquecida deita-se um espresso dopio (duplo), leite quente, com uma capa de espuma de leite. O acabamento é feito com perícia: uma flor desenhada na espuma quando o leite lhe é adicionado. "Tem que ser à primeira, se estivermos com muitas tentativas, o café fica frio e o cliente queixa-se", explica-nos o proprietário. A arte do cappuccino, revela-nos, foi-lhe transmitida por um torrefactor de Florença, que ainda hoje lhe fornece o café que ali comercializa.
Ao provarmos, compreendemos a insistência de tanta gente para que aqui viéssemos. Está delicioso! Um grande, genuíno e generoso cappuccino à italiana, com uma compacta camada de espuma de leite e um café bem encorpado.
"No cappuccino, o importante é dominar os três 'M': Máquina, Mistura e Mão", desvenda Peter. "É preciso conhecer a máquina e saber manipulá-la para tirar o melhor café. Depois, é preciso saber que quantidades de café e espuma de leite misturar. A mão que prepara tem de saber fazer o resto, a espessura da espuma, por exemplo", mostra-nos.
A dose de espresso que o cappuccino leva também tem o seu segredo. "As pessoas pensam que espresso quer dizer 'feito à pressa', mas a verdade é que significa feito 'espressamente' [expressamente] para uma pessoa ou ocasião, ao contrário do café, que antigamente era feito em grande quantidades", explica. E mais não quer dizer, ou não fosse o segredo a alma do negócio. Mas deixa escapar que usa sempre água filtrada para o café, nunca demasiada mineralizada, e leite fresco, gordo, sem ser reaquecido. "Tudo isso influencia o sabor", frisa. Depois há as preferências: cappuccino polvilhado com pó de cacau, chocolate ou xarope de caramelo, piccolo cappuccino, marocchino e por aí fora, num cardápio que parece nunca mais acabar de variedades de café misturado com tudo o que se possa imaginar de saboroso. Como o "white moccha" (leite quente, espresso, com chocolate branco no fundo do copo) ou o "monte bianco" (leite quente, espresso, pó de cacau, servido num cálice), verdadeiros "pecados" que tivemos também a oportunidade de descobrir.
"Fazem o melhor mocchaccino da cidade", diz-nos uma cliente americana habituée. "As saladas e sopas também são deliciosas", afiança-nos. Sim, porque a outra altura de grande afluência do Coffee Lounge é à hora de almoço, com um prato do dia diferente todos os dias, sendo o mais apreciado o risotto com scampis e espinafres (às quartas-feiras).
É a essa hora que se pode igualmente saborear o outro grande "achado" da casa para atrair clientes: o bagel, especialidade famosa na América do Norte e no Reino Unido. Trata-se de um pão anelado, ainda algo cru e elástico por dentro, com uma crosta estaladiça e salpicado com sementes de sésamo. O Coffee Lounge tem uma dúzia de variedades, do bagel indiano (com frango grelhado, caril e ananás) ao bagel vegetariano (com legumes grelhados, creme de queijo e tomate).
O Coffee Lounge, aberto de segunda a sábado, das 6h30 às 18h30, propõe ainda bolos caseiros, queques, muffins suculentos, além de pequenos-almoços irlandeses.
José Luís Correia, in Contacto, 01.10.09
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1 comentário:
Tu és um mestre da pena e esta reportagem prova isso mesmo! bjs
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