"Nada é mais sério que o riso. (...) Aparentemente o riso, não só vale um bom bife, engordando apenas (momentaneamente) as bochechas, como fornece anticorpos a todas as tristezas do mundo e atesta um distanciamento salutar do 'homo hilaratus' relativamente a si mesmo, ao seu ego, à sua posição social, e até ao seu sucesso. A sociedade está assim actualmente dividida entre aqueles que se tomam demasiado a sério e que não conseguem ter uma visão humorística da sua pequena pessoa (...) e aqueles que, após Beaumarchais, se apressam a rir de tudo, por temor de não dever chorar. Encabeçando o batalhão dos discípulos de Heraclito, os políticos, que nunca se desmancham em público (...). O cómico profissional, esse, tendo em conta os seus rendimentos, já não leva as coisas à ligeira. A sua popularidade transformou-o em tribuno, em profeta. Passou do estatuto de perito em risota ao de mestre em pensar. Ele estima ser o último reduto de uma sociedade em vias de decomposição. E a esse título, estigmatiza os nossos desvios e baixezas, prega os poderosos ao pelourinho, vitupera, fulmina, denuncia as nossas incoerências e propõe - fora de brincadeiras - as suas soluções geniais. Entre um serão de gala e um repasto, carrega nos ombros o fardo da miséria humana. Porque a miníma das suas macaquices é um acto pensado e que os seus trocadilhos servem para escrever a história da nossa época, deixou de ter tempo para rir a bandeiras despregadas. (...)"
O jornalista, humorista e apresentador de rádio e televisão Philippe Bouvard,
in Le Figaro Magazine, 14.06.08
(tradução: AGW)
quarta-feira, 18 de junho de 2008
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