sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 19 de abril de 2008

cadafalso

Desta vez, o deserto não há-de vencer,
não há-de engolir-me os pulmões com pó.
O que foi depois daquela tempestade,
quando o rio desfez o convés antes de chegar à foz?
Já não queria lembra-me desse dia de mau augúrio,
o apóstolo mentiu, o fim do mundo voltou.

Avisto da torre de vigia,
as nuvens negras do juízo final
engordarem o céu ao horizonte
e anunciarem a trovoada.
Vale a pena enfunar as velas para salvar o navio?,
ele já viu tantas!

Hoje não sinto medo,
eu sabia que este dia ia chegar,
os meus dedos impávidos ainda cheiram a sangue e pólvora,
fiz demasiado mal para me safar daqui assim,
desta vez é a minha vez.

A onda de choque não me há-de arrancar do chão,
fecho as goelas ao maremoto, os olhos ao tufão,
a electricidade há-de correr-me o corpo,
e eu hei-de ficar de pé,
rindo patibular dos meus algozes e carrascos,
mesmo se a multidão em delírio de espectáculo,
já não escutar as minhas derradeiras palavras:
"25 men on a dead man's chest,
yo ho ho and a bottle of rum!..."

Tenho sede, mas nem o céu há-de vir em meu auxílio.

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