sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ainda o caso " Bommeleeër"

Romper a lei da omerta

Depois de muitos anos amodorrado, o caso Bommeleeër – o bombista que perpetrou 18 atentados com explosivos entre 1984 e 1986 no Grão-Ducado – tem vindo a avançar com novas revelações desde 2005, em solavancos parcos, mas sucessivos.

Os anos vão passando, velhos rumores vão-se desfazendo e dando lugar a novos boatos, os vultos que ocupavam cargos na época vão sendo substituídos nos seus postos, as testemunhas vão perdendo o temor em falar e as línguas vão-se soltando.

Refutando toda e qualquer teoria do "complot" ou lei da omerta (lei do silêncio) que pesasse sobre este caso e que o interditasse de agir livremente, o ministro da Justiça já insistiu, visivelmente agastado, que na altura dos atentados era um jovem estudante em Paris e que não tem assim qualquer interesse em impedir que se aplique o maior rigor e a mais completa transparência na conclusão destas investigações. Muito pelo contrário, Luc Frieden parece mesmo estar a cansar-se das meias-medidas tomadas ao longo de 22 anos de investigações mornas.

É que o que está em causa é mais do que uns "meros" (desculpe-se o eufemismo!) atentados terroristas: é a confiança dos cidadãos em duas das mais importantes instituições nacionais, que são a polícia e a justiça luxemburguesas.

Na quarta-feira, numa decisão sem precedentes na história do país, o mais recente episódio da saga Bommeleeër levou Frieden a demitir os dois mais altos responsáveis da hierarquia policial. Em causa, a decisão tomada por estes em 27 de Maio de 1985 de interromper a investigação que estava a ser efectuada ao principal suspeito da altura, horas antes de uma nova bomba eclodir, o que pareceu mais do que uma coincidência suspeita ao ministro e ao procurador de Estado.

E agora?, o que nos aguarda nas cenas dos próximos capítulos?, está ou não a polícia envolvida nos atentados?, quem ou em nome de que interesses foram cometidos estes actos de terrorismo?

Assim como os Estados Unidos da América arrastam atrás de si há décadas a sempiterna polémica sobre quem assassinou/mandou assassinar o presidente John Fitzgerald Kennedy, em 1963, e Portugal deixa pairar há quase 28 anos o caso nunca completamente elucidado da trágica morte de avião (acidental/criminosa?) em Camarate do primeiro-ministro Francisco Sá-Carneiro (1980), o Luxemburgo tem a sua "novela" Bommeleeër .

Resta saber se também este é um enigma que nunca virá a ser esclarecido, em que a lei do silêncio resistirá às pressões da opinião pública e da justiça, que exigem que a verdade seja descortinada.

A subsistirem, as teias obscuras deste mistério nacional apenas contribuirão para alimentar, entre a população e os media , o descrédito das instituições nacionais e as mais diferentes teorias de uma conspiração que protege vultos poderosos ou interesses que ainda hoje permanecem na sombra.

José Luís Correia (in Contacto, 06.02.2008)

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