sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

domingo, 6 de janeiro de 2008

Dos sacerdotes zoroástricos da Pérsia e de como interviram na génese dos cadernos do gaspar

Com o raio de nome com que meus progenitores e minhas tias me deram na pia baptismal, nunca me ocorreu falar do outro meu ilustre homónimo, senão o primeiro Gaspar de uma grande linhagem. A origem de meu digníssimo antecessor é dúbia e a primeira referência que se lhe faz não é na Bíblia, como se possa pensar. O Evangelho de S. Mateus (Mt 2,11) é aliás o único dos quatro evangelhos reconhecidos a evocar uns vagos "magos", sem dizer quantos eram nem revelar nomes. Um outro Evangelho, o texto apócrifo de S. Tiago (séc. II), também se refere a estes, mas sem acrescentar nada de novo ao texto de Mateus.

A primeira referência biográfica aparece num documento escrito por São Beda em inícios do século VIII. É ele quem tece uma biografia de Gaspar e dos seus dois companheiros de viagem. Estes teriam trazido do Oriente mirra, incenso e ouro ao menino Jesus. Talvez daí se tenha depreendido que eram três. É a estas ofertas que se deve a tradição da nossa troca de presentes no Natal.
Gaspar é descrito como o mais moço dos três. Uns textos dizem-no asiático, outros persa. São Beda diz que Gaspar seria originário de uma das regiões montanhosas nas margens do Mar Cáspio. Seria mago ou sacerdote zoroástrico. É ele quem traz o incenso ao menino.

Tenho em comum com esse ancestral homónimo o continente (Os Weytjens são originários de Goa) e o deleite de deixar-me, em serões zen, guiar pelas constelações e seduzir pelas fragrâncias tranquilizadoras desse extracto de terebintácea que é o incenso.

Ah, mas o ponto comum mais importante: mesmo se segundo algumas teorias, não há maior crime do que a libertinagem para a religião de Zaratustra, segundo estudos recentes de investigadores universitários franceses, alguns contos femininos zoroástricos teriam estado na origem dos contos eróticos de Sherazade. E não foram "As Mil e Uma Noites" (que o meu amigo Luís Castro - quando ele ainda morava no Montenegro - guardava entre a televisão e a velha consola Amiga Commodore) os primeiros livros a fazerem-me mergulhar, a puxarem-me, que digo, a sugarem-me para esses fabulosos mundos onde tudo era permitido e os tabus derretiam como neve ao sol.
Eu..., um adolescente borbulhento e intimidado...deparava-me de repente em plenos lupanares assistindo aos faustos e caprichos sexuais desses califas impotentes, por debaixo de clarabóias onde espreitava a lua crescente, os coitos arrebatados nos haréns das alas secretas dos palacetes ou nos jardins interiores floridos, junto à fonte de todos os amores, as princesas sófregas, as odaliscas mouriscas, os alcoices nos oásis perdidos, os prostíbulos nos dédalos dos souks, os eunucos aparentemente inofensivos mas de dedos prodigiosos e línguas hábeis...
Nesses tempos acneicos serviam-me essas leituras, heu, ...voluptuosas, de inspiração para as minhas poluções nocturnas. Nunca pensei eu próprio vir a escrevê-las.
Desenhos: "Point of Eternal Light" de Brian Whelan, "Odalisque Slave" de Dominique Ingres e "Odalisque" de Mariano Fortuny

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